Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.
Esse texto, na verdade, é um ensaio sobre Lado Oposto, canção gravada por Baia & Rockboys - que eu conheci há anos; e tocada até hoje por Maurício Baia. Coloquei o link para a letra da música, pois, se eu juntar aqui, ficaria um texto tão grande que muita gente nem ia tentar acompanhar por ver muitas palavras e poucas figuras. Enfim, sociedade na era da informação e as pessoas ainda não gostam de ler nem nos livros... Não sou eu que vou tentar entender como não gostam de ler no computador.
Enfim, vamos lá. A letra já começa dizendo que sempre tem um pra dizer qual é o certo a se fazer. Sempre um padrão apresentado a seguirmos para estarmos em perfeita harmonia com o que se criou e o que foi aceito pela massa na sociedade. Gentilmente, Baia diz que sabe o que ´'pra fazer", mas conscientemente quer experimentar outras alternativas de ser sem ter que ir pelo caminho fácil do que já foi criado por outros. Ele quer fazer algo que todo mundo espera só pra passar despercebido na multidão usando de um pré-determinado "bom gosto". Quem escolheu a referência para esse gosto genérico ser considerado bom? Esse gosto padrão é tão perfeito que não sobra espaço pra nenhum outro que seja bom, só que de outro jeito? Pessoas são tão iguais assim?
Galileu e a "Santa (?!) Inquisição.
A segunda "fase" da letra já vem com um tapa de luva de metal na fuça da sociedade. Ele cita Galileu Galilei e a atribulada carreira do cientista. Galileu saiu do cômodo pensamento imposto pela igreja católica e reviveu uma hipótese anterior, de que o Sol era o centro do universo, não a Terra. Passou por problemas com o Santo Ofício (inquisição) por heresia. Mas ele é lembrado e respeitado até hoje por seus feitos pela física e astronomia. Ele só se tornou relevante para a sociedade quando usou seu conhecimento e opiniões em frente. Viu que precisava dizer e disse. A lei e a ordem mudam conforme os tempos, até onde somos desobedientes simplesmente e a partir de quando deixamos de ser rebeldes para sermos inovadores em valores ultrapassados? Vale pensar diferente pra ver opções interessantes.
Maurício Baia, hoje em dia, em carreira solo.
Antes de falar na terceira estrofe, registro qui que não sei exatamente se Baia teria usado a palavra "desapercebido" por hábito de linguagem ou se foi metódico em sua ironia. "desapercebido" é diferente de "despercebido", quando o primeiro significa alguém desatento e o segundo é, de fato, algo ou alguém que passou sem percebermos. Enfim, ele fala que "desapercebido", um sujeito passa pela vida, no bolo de pessoas que estão por aí o tempo todo e trabalha, se diverte, faz e acontece em coisas que não foram determinadas por ele mesmo. Acaba procurando alternativas dentro do que foi convencido a achar que era liberdade, casos extraconjugais, ilegalidade, subversão... Se quem canta a música é louco por querer ver algo além do que é 'permitido', o que é o cara que aceita viver sem ter decidido o que seria da própria vida?
Na última estrofe, ele já diz abertamente que não aceita como certo o que as pessoas dizem por que todo pensamento chega por meio de um interlocutor. Se um pensou e os outros concordaram, beleza, mas isso não cria uma obrigação de que só aquele pensamento seja o certo. É UM pensamento, não dá pra se conformar que no meio de 7 bilhões (disse BILHÕES!) de pessoas, só aquela "meia dúzia" é que sabe como tudo deve funcionar (talvez o erro seja esse, menos gente entrando para o clube da opinião própria do que deveria... hmm... talvez cotas obrigatórias para este contingente, mas estou divagando). Tendo essa liberdade de pensamento, é natural que se desconfie de autoridades - e seus seguidores - que acham prepotentemente que são a referência social do mundo, mas são tão passíveis de erros quanto qualquer um. Baia diz, no finalzinho, que abre mão da felicidade corriqueira, fácil de se seguir pra poder pensar de forma autônoma e escolher o que lhe cabe por conta própria.
Claro que a indústria do entretenimento não tem nada a ver
com a situação política do país. Isso deve ser coisa nova, deve ser modinha
desses comunistinhas de faculdade que querem ver conspiração em tudo. Entretenimento
é um campo muito diferente da chata política. É feito por pessoas que só querem
te divertir. São empresários, sem vínculos externos, como patrocinadores ou
associados, e sem interesse algum além de te fazer sair dessa realidade triste
e dura. Sorria. Rir é o melhor remédio. Entretenimento está em tudo, política
não.
O que tem a ver a Carminha e a Rita, da novela, com as
greves de professores, policiais e outros profissionais do setor público? NADA!
Não é culpa da novela ou da música que exista gente insatisfeita no mundo. Nem
que o governo não se importe. Talvez estivessem mais satisfeitos se assistissem
à novela. Se ao menos saíssem mais pra beber e cantar, não gastariam tempo
fazendo passeatas e demais manifestações de protesto. Política sim é um troço
chato Aproveite a greve pra ver novela. O resto não merece atenção. Político nenhum presta e você não vai querer se meter
com isso.
Faça como Cypher, aquele traidor em Matrix, e abandone seus
companheiros de luta pra viver confortavelmente no mundo em que os dominadores
da informação e do sistema pensam por você. Talvez não seja o que você pensaria
pra você e os seus, mas e daí? A vida é boa com todas as qualidades e defeitos.
No ruim de tudo, você não “vive” na rua, não precisa pedir esmola, não está
entrevado na fila de um hospital, nem está numa prisão esquecido por todos.
Você pode ir à escola, entrar numa faculdade e arrumar um bom emprego.
A indústria do entretenimento não é um modelo padronizador de
opinião. A massa não é manobrável, tanto que democraticamente escolhe que canal
assistir. Não é como na época de Getúlio Vargas, quando Gegê incentivou o
desenvolvimento do Samba, durante o Estado Novo, para criar a utopia do povo
carnavalesco, alegre e trabalhador, se aproximando das classes mais pobres. Não
é como na ditadura militar, quando o futebol campeão mundial abafou com fogos e
música os gritos de seus vizinhos seqüestrados, torturados e mortos pela
repressão política e ideológica.
Nada disso. Se todos parassem diante da TV pra assistir à
novela, não haveria conflitos. E você não pode culpar o entretenimento. São
poucas “famílias” tomando conta de jornais, revistas, canais de TV e rádios,
mas são tão bem intencionadas. Imagine se eles relaxassem. Você teria que
procurar algo pra fazer e pensar por conta própria. Mito da caverna pra você.
Dá medo de sair do conforto, né? Fazer o quê? Algo que não está na TV não
existe. Tudo já estava aí e é mais fácil seguir o líder (mesmo que ele seja um
personagem).
Fique aí e não ataque os lobos. Mesmo que o cordeiro acabe
condenado por isso. Faça o que dizem e seja Homer Simpson com dignidade. Dino
da Silva Sauro trabalhava para a We Say So (Nós dizemos que é assim – em livre
tradução). Faça isso. Só não se iluda, você demandou a responsabilidade de suas
decisões a outros. Não pense que você é livre e que faz o que quer. Não reclame
“essas m... só acontecem no Brasil”. Meu país não é uma droga. O povo é que não
o honra. País é o que fazemos. Se não fazemos...
Gabriel, o Pensador diz assim em “Até Quando?”: A TV existe
pra manter você na frente... na frente da TV. Que é pra te entreter, que é pra
você não ver que o programado é você. Aliás, vou deixar o clipe aqui, porque a música inteira é tão rica em letra que só um trecho não faz justiça.
Fenômenos paranormais sempre dão o que falar. Sempre. Pode
ser um ET, pode ser uma assombração, pode ser um político comprovadamente
corrupto se reeleger, enfim, este tipo de coisa que a gente não sabe explicar,
mas que dá o maior cagaço de qualquer forma. E sempre tem uma ou duas
emissoras de grande alcance de massa para divulgar essas tranqueiras como se
houvesse possibilidade de vivermos nesse mundo sci-fi da vida.
Até porque, uma coisa que nunca me explicaram é: Por quê
toda manifestação sobrenatural veiculada nos meios de comunicação sempre são algo que já aconteceu em filmes? Porque não tem ET em outra forma que não no
cinema? Porque os fantasmas só fazem o que outros já disseram ter presenciado? Roswell vai ser a fantasia original pra sempre? Originalidade, gente! Aliás, muito me admira, por exemplo, o Fantástico (não
tão Fantástico, hoje em dia) fazer esse tipo de matéria de vez em quando,
quando o próprio semanal já teve um quadro justamente desvendando essas lendas
urbanas. Whatever... Um dia faz uma matéria pra dar audiência, no dia seguinte faz uma desmascarando pra dar mais audiência. Não vou dizer que confio, nem que não confio... mas não confio.
Estou aqui para falar do paranormal Padre QuevedoThomaz Green
Morton. Sim, se você não esteve numa ilha deserta em 1995 (mais ou menos) e
assistia ao Fantástico, você se lembra daquelas matérias toscas pra pegar o
lado supersticioso do Homer Simpson. Numa dessas, estava Thomaz, conhecido como
“Homem do Rá!”. Porquê? Porque ele gritava essa palavra para energizar (sabe lá
o quê), e teria o significado de luz, e esse papo hippie. O fato é que Thomaz
era um ilusionista muito bom para quem queria acreditar, mas uma rondada muito
básica pela internet e você encontra facilmente matérias desmascarando seus
feitos. Ou seja, muito bom pro leigo que não espera a esperteza, como o público de qualquer ilusionista. Mas pra quem estuda isso e entende, não dá pra pagar de curandeiro das estrelas pra sempre, né? Rá!
Luzes misteriosas que surgem onde ele quer mostrar, perfume
brotando da mão, cura de doenças, entortamento de talheres e moedas sem mesmo
tocá-los... Enfim, eu o chamaria de raspa do joá se ele prometesse também curar
caspa e seborreia, além de preparar um bom suco de tangerina, mas estou
divagando. Só pra não terminar a divagação em vão, ele convenceu Tom Jobim e Hildegard Angel de seus poderes... Até aí, ele era mentor de Baby do Brasil, antiga Baby Consuelo (aquela senhora que afirmou que Jesus é um surfista de cabelo azul).
No mais, nada disso importa. Importava em 1995, quando um
colega de sétima série me ensinou os caminhos gloriosos do ‘Rá!’. Nada de
mágica, era ligando e desligando os interruptores da casa mesmo. Só pra fazer
palhaçada. Mas o fato, é que eu faço isso até hoje, num tom jocoso, talvez um
deboche, mas para mostrar simpatia. Gesto esse que inspirou outros a usar para
mim também, gerando uma rede social de ‘Rá!’. Ha-ha. Por isso eu faço ‘Rá!’,
porque, no fim das contas, o charlatão anda recluso, mas a palavra realmente me
gerou boas energias de empatia com meus amigos e parentes. Rá!
E ainda assim, das mais queridas. Senti falta de críticas sobre a série que não fossem preconceituosas por ser feita nos EUAses, nem essa babação dos fanboys/girls que não enxergam defeitos no que eles gostam. Primeiro
de tudo, é uma série adolescente. Sim, embora os personagens sejam adultos, seu
modo de lidar não condiz muito com a “regularidade” de jovens a caminho dos 30.
Isso está mais para quem está a caminho dos 20 (no geral, não se trata de um
documentário). Mas estou psicanalisando, nada de compromisso com a verdade ou pesquisas de opinião.
O que
comprova a teoria do parágrafo anterior é a imaturidade dos personagens. Mesmo
Ross, que fora casado e já começa a série se preparando pra ser pai, age feito
um nerd de escola de filme dos anos ’80, vivendo um amor patético platônico com
quase 30 anos. E esquece isso assim que Chandler e Joey dizem: Cara, siga em
frente com sua vida. Ah, tá bom. Estabilidade emocional pra quê, né? Logo depois (situação comum na série) tudo vai por água abaixo, quando Chandler
deixa escapar para Rachel que Ross era apaixonado por ela desde a adolescência. Rachel agora está gamada nele. Hein?! E resolve ir recebê-lo no aeroporto, pois Ross havia viajado para uma pós-graduação
na China. Só que ele retorna com uma namorada chino-americana.
Rachel
demonstra uma característica, a partir dali, que será uma constante em seu
comportamento: o egoísmo típico de uma patricinha mimada (como a invejinha dos amigos que chegam perto de casar e tals). Ela fica praguejando
pelas costas porque queria estar com Ross. O que depois a gente vê que era só o
capricho de uma maluquete que chora pelo que não tem. Mas quando engatou (UIA!) o namoro
não agüentou ter que dar atenção a ele. Se deslumbrou com o novo emprego – aliás,
muito bom, hein! Vivia à custa do papai rico e foi ser garçonete porque não
tinha qualificação nenhuma, além de entender de roupas caras. O próximo passo? Óbvio: Consultora de moda para
ricos na Ralph Lauren.
Ross,
enciumado com o deslumbramento de Rachel pelo cara que lhe arrumou o emprego,
acaba estragando o clima e Rachel pede um tempo. Eles “terminam” (não, estavam
ON A BREAK!) e Ross se relaciona com outra. Aí, Rachel resolve que devem voltar
e se zanga por ele ter dormido com outra. Ela quis terminar, beleza. Ela quis
voltar e ele deveria estar esperando. Ok. Ok? E depois o chefe ainda admite que
gostava dela, mas não falava por1que ela namorava outro e ela nem pra se tocar?
Ê, Rachel, ê, Rachel!
Isso
se repete quando Ross se apaixona pela inglesa Emily e resolve se casar. Phoebe
não pode ir até a Inglaterra porque está prestes a parir os trigêmeos de seu
meio irmão (isso sim é originalidade!). Rachel resolve ir até a Inglaterra pra dizer a Ross que ainda o ama só pra
ser honesta. PQP, Rachel? A série é sua, né? Ficou amiga dos produtores cedo!
Um adendo, um momento genial foi a participação de Hugh Laurie (o pai do Stuart
Little eterno Dr. House), em que ele é colega de voo de Rachel e joga na cara
dela o quanto ela é egoísta e péssima amiga por ir atrapalhar o casamento do
cara. Além de tudo, pelo que o passageiro invocado entendeu, sim eles estavam
ON A BREAK! Mágico.
Rachel
chega, não se declara, mas Ross estraga tudo dizendo seu nome no lugar do nome
da noiva. O casamento acaba e Rachel ainda quer passar por cima da fossa dele
pra perguntar se o acontecido significava que ele ainda a amava. Mas o mais legal não
foi isso, vamos falar de coisa boa vamos falar da tekpix, foi nessa sequência
que Chandler e Monica iniciaram seu relacionamento – que termina em casamento com
gêmeos adotivos – esse sim o relacionamento legal da série. Adulto e sem idas e
vindas de ciuminhos, joguinhos de “pros x contra” ou intriguinhas de terceiros
interessados. Outra coisa, a série não só é da Rachel, como é feminista. Uma série
tão clichezenta e a mulher termina como mãe solteira e bem sucedida que deixou de ir a Paris pra ficar, claro, na última
hora, com seu grande amor, Ross. Aposto que terminaram de novo depois de uma semana.
Agora
como tanto clichê tornou Friends uma das séries mais rentáveis e carismáticas? Mérito
de tudo isso é pro elenco. Sem dúvida, um achado. A química entre eles e o
carisma salvaram a série de ser só mais um besteirol americano. No geral – e hoje,
à distância – dá pra perceber nas eternas reprises da Warner que a série não
ficou datada (fora os penteados e figurinos das primeiras temporadas, bem
fincadas nos anos ’90). Friends é sim um produto de qualidade, mas não pela
criatividade do roteiro ou originalidade. É uma preciosidade sim, porque soube
remexer clichês mais do que batidos da dramaturgia estadunidense de forma a
organizar de modo interessante. Tanto é, que a trilha sonora da abertura do
piloto da série era Shinny Happy People (do R.E.M). Tem até a ver, mas você
acha que poderia ter sido diferente?