Bem, pro título não ficar muito comprido, explico que estou me
referindo ao universo cinematográfico e não à equipe de mutantes em geral,
muito menos especificamente no material-fonte, ou seja, HQs. E, sim, sei que
ficou um titulozinho safado, dando a entender que eu falaria até, quem sabe, do
aspecto fictício de alguma aventura específica. Ou não, sei lá.
Aliás, se quiserem saber mais sobre o que eu acho dos
mutantes dos quadrinhos, já falei do fantástico arco Deus Ama, O Homem Mata (Conflitode Uma Raça), onde William Stryker quer provar que mutantes não são humanos e
sim, aberrações ameaçadoras enquanto ele mesmo defende essa monstruosidade de
preconceito, já citei as linhas gerais da criação do núcleo mutante diante das
causas sociais de grupos discriminados, e até num texto antigão, de 2009,
quando eu ainda assinava Fernando Garcia (de onde vem o nome desse infame,
porém honesto blog - Rá!), sobre o que se perdeu com o tempo na série (e suas
milhares de revistas banalizadoras de causas). Mas, vamos à questÃ.
No cinema a questão mutante fica muito restrita apenas ao
fato de os personagens serem mutantes, não dando muita profundidade às
analogias que a série faz nos quadrinhos, como homossexualidade,
antissemitismo, racismo, etc. Um lampejo de profundidade, vemos algo que se
aproxima dos quadrinhos quando Wolverine, Vampira, Homem de Gelo e Pyro (UIA!)
conversam com os pais de Bobby e sua mãe reage como se o filho estivesse saindo
do armário (“Filho, já tentou não ser isso?”). Até que a cena é maneira, nada
pesada, mas um tanto intensa, o que compensa – quase – o primeiro filme, onde
Magneto tem um verdadeiro plano Power Rangers de transformar todos em mutantes
pra que não discriminem mais uns aos outros... Sério? É algum vilãozinho das
Três Espiãs Demais?
Além de a humanidade acabar inventando outro motivo pra
discriminar, onde esse plano retrata a luta diária contra discriminações? Se
Magneto fosse real, ele ia transformar todo mundo em judeu? Em gay? Enfim, to me
fazendo entender? Não se luta pra tornar o outro em semelhantes, se luta pra
que haja respeito ao diferente, catzo! Nisso, os filmes falham, já que focam
demais no Wolverine e aquele passado escroto – que já desvendaram, mas eu
gostava quando era só um mistério de um cara esquisitão. Aliás, se o primeiro
bota Magneto como o vilão da semana e o segundo é um revezamento de explosões,
com outra vez, Xavier sendo posto fora de combate e, outra vez, Wolverine
lutando pra descobrir seu passado. E no 3º filme então, são só cenas de ação,
diálogos estranhos e outra vez Xavier fora de combate e outra vez, Wolvie sendo
o Charles Bronson com garras.
Nada muito representativo se lembrarmos que X-Men foram
criados na década de 1960 e Magneto com Xavier representam Malcolm X e Martin
Luther King Jr, na luta pelos direitos civis dos negros nos EUAses daquele
tempo. Enquanto Magnus/Malcolm tem a visão radical de que estamos em guerra e
precisamos defender os nossos como for, Xavier/Luther King prega a harmonia
entre as raças diferentes num mundo de paz. Ok, num primeiro momento, os
quadrinhos vacilaram trazendo apenas jovens brancos estadunidenses entre os
protagonistas, ou seja, mutante pode, mas nada muito ‘étnico’ (o que foi
melhorado na segunda formação com integrantes de vários países do mundo, mas
não é sobre gibi aqui).
Nos primeiros filmes, apenas Tempestade é preta, e é a Hale
Berry, então, seria como ver uma novela com uma negra só sendo a Taís Araújo,
saca? Não é desafio à diversidade quando o nome já vem brilhando. Aliás, muito
pouco se diversificou. Aí, veio o reboot, que na verdade, virou prequel – e que
teve seu próprio prequel na continuação (hein?!) – Primeira Classe. Tinha um
negro no elenco principal. E adivinha só? Não só foi o primeiro a morrer, como
foi o único! Parabéns, jovens diversificadores! Vocês criam uma franquia
cinematográfica para uma série que representa lutas sociais de aceitação contra
a discriminação e o único preto morre antes que a verdadeira aventura comece.
X-Men - Dias de um futuro esquecido |
Tá, tenho dois adendos, você, se assistiu atentamente feito
eu, notou que tem outra pessoa negra ali, mas além de se encaixar no exemplo ‘Taís
Araújo’ (pois é filha de Lenny Kravtz com Lisa Bonet), ainda se bandeia pro
lado do vilão. A outra questão é que o personagem morto tem o codinome de
Darwin, porque seu poder é se adaptar para sobreviver. Tipo, cria guelras se
estiver embaixo d’água, tem a pele de pedra ou metal para suportar temperaturas
muito altas, etc... Aí, o que acontece... Ele explode com uma ‘bomba’
implantada pelo vilão na sua boca... Tipo... Cara, nenhum poder dele poderia
cuspir a energia fora ou ficar altamente resistente a uma explosão?
Enfim, X-Men, do diretor Bryan Singer falha terrivelmente no
que diz respeito a grupos excluídos socialmente. Na verdade, pelo fato de o
diretor ser gay assumido, pesa ainda mais, já que seria o primeiro a saber como
é isso bem na pele. Juro que até gosto da franquia, mas essa deturpação de
valores me incomoda. Nem a troca de trajes individuais e coloridos (o que
reforça, nos quadrinhos, as identidades próprias e características de cada um) por
genéricos casacos de motoqueiro me importariam tanto se o roteiro tivesse uma
linha mais simples de ‘temidos e odiados pelo mundo que juraram proteger’. E
ainda dava pra colocar ótimas sequências de ação e humor, afinal, foi isso que
tornou os personagens queridos nas HQs: Um novelão com aventura, romance e
humor, no melhor estilo ‘essas feras vão aprontar as maiores confusões no maior
clima de azaração’, da Sessão da Tarde. Rá!
X-Men - Apocalipse |
Ps.: Tentaram esboçar um arrobo de diversidade no Dias de Um Futuro Esquecido com Tempestade e Bishop negros, a Blink chinesa, além do Apache (nativo estadunidense) e Mancha Solar (que é brasileiro e preto, ou deveria, tendo sido criado assim no gibi)... Mas a grande verdade é uma só: Tem mais personagens azuis do que negros. Tipo Maurício de Souza que tem mais personagens animais antropomórficos do que negros.
Ps²,: Sim, eu notei que Alexandra Shipp (sempre linda) é negra e apareceu nesse mais recente Apocalipse, mas aí, no máximo, voltaram ao status quo 'Taís Araújo', tipo, tem uma negra de novo, ela é a Tempestade.
Bryan Singer, o diretor. |
O X-man Darwin virou até piada na web, como o que tem o grandioso poder de se adaptar pra sobreviver e é o único que morre. Na dúvida, morre o preto. Repare em outros tantos filmes que quando não é o preto é o latino, é o japonês... enfim, o recado deles é nítido, né?
"Se adapta para sobreviver a qualquer coisa... único x-man que morre" |
Um comentário:
X Men Dias de um Futuro Esquecido é o melhor da franquia, especialmente pelo ator Peter Dinklage. Sempre achei o seu trabalho excepcional, sempre demonstrou por que é considerado um grande ator, também quero ver seu talentono filme Meu Jantar com Hervé vai fazer uma grande química com todo o elenco, vai ir além dos seus limites e vai entregar ao personagem para fazer um dos seus melhores filmes de drama até agora. Parece uma historia cheia de incríveis personagens e cenas excelentes.
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