Tiago Leifert não para de disparar sua metralhadora
giratória de abobrinhas. Na verdade, acho que ele é o novo Lobão, Roger Moreira
ou sei lá... Se em vez de só alienar, ele direcionasse a opinião pra algum lado
ideológico eu diria isso com certeza, mas como ele só quer desligar seu cérebro
e curtir um bom jogo, acho que ele tá mais pro menino de apartamento que senta
no carpete anti-alérgico pra jogar seu PS4/Xbox. E, pelo mau humor que tem
demonstrado, parece que nem com macete tá conseguindo vitórias e tá descontando
nos outros.
A última... ou melhor, mais recente – porque última eu
duvido que seja – é que um atleta estadunidense, ao se manifestar contra a
violência policial pra cima dos negros nos EUAses, tornou o esporte ‘chato’,
porque, segundo o apresentador/colunista, manifestações políticas não combinam
com esporte. Ele, segundo sua tese, só quer chegar em casa e assistir a um bom
jogo sem precisar se incomodar com a desventura alheia. Sim, porque é isso
mesmo que ele passa. Ele não se preocupa com os problemas dos outros, apenas
quer passar imune aos problemas do mundo que não o afetam. Como esquecer do
recente episódio onde afirmou que os participantes do BBB falam em
representatividade estão falando à toa, pois não teriam recebido credenciais da
população para serem representados? Aliás, quem foi que deu credenciais ao
Tiago Leifert pra afirmar que a população não gostaria de ver mais
representaividade?
Bom, como obviamente ou Tiago não tem memória, ou acha
que eventos esportivos com manifestações políticas são tipo legume no lugar do
seu sucrilhos, vamos lembrar rapidamente de alguns momentos que, em vez de
chatos, pro pequeno Tiaguito, tornaram-se marcos históricos e símbolos de
mudanças, mesmo que para gerações seguintes, tendo significado até retaliações
por parte de governos. Afinal, será que a história aconteceria do jeito que
acontece se todos deixássemos manifestações políticas de lado pra assistir
novela, BBB ou jogo na TV? Vamos lá:
Colin Kaepernick – 2016
Primeiramente,
Chupa, Hitler. Nem me viu! |
Naquele ano, o nazismo ainda não tinha estourado em
guerra contra o mundo, mas já tinha bem definidas suas convicções políticas,
inclusive no esporte (olha aí, Tiaguito, muito antes de você pisar sobre a
Terra pra falar asneira). Acontece que o plano de Hitler era usar a olimpíada
de Berlin pra fazer propaganda da superioridade ariana (da qual ele mesmo não
fazia parte) e teve atravessado em seu caminho o negro estadunidense Jesse
Owens. Owens, simplesmente, ganhou 4 medalhas de ouro em provas de velocidade,
incluindo a clássica de 100m rasos. No pódio, ele se recusou a olhar para a
tribuna onde estava o führer, mesmo que o tal já tivesse saído do estádio
desgostoso da vida.
Muhammad Ali – 1967
Aqui, Ali em companhia de Malcolm X |
Só de mudar o nome de Cassius Clay para Muhammad e se
converter ao islamismo, já foi uma tremenda manifestação política, visto que
essa era uma postura muito definida de Malcolm X, que o influenciou com a
ideologia adotada pelos Panteras Negras. Mas, não bastando, Ali ainda protestou
contra a guerra no Vietnã se recusando a lutar (na guerra, não nos ringues),
sendo preso, multado e tudo, mas apelou e foi absolvido, alegando motivos
religiosos. Lenda é pouco pra esse cara.
Tommy Smith e John Carlos – 1968
Nos jogos do México, os atletas celebraram suas medalhas
(ouro pra Smith e bronze pra Carlos) com um dos punhos cerrados para o alto
dentro de luvas negras. Saudação do partido dos Panteras Negras. Lembrem-se,
era época de intensa luta por direitos civis dos negros nos EUAses. Eles foram
expulsos da Vila Olímpica e nunca mais suas vidas foram as mesmas. Segundo
Leifert, isso seria evitado se eles apenas desligassem os cérebros e corressem
pra entreter o público. Mas... será que seria melhor sem isso? Será que seriam
exemplos de luta ainda hoje?
EUA x URSS – 1980
Após a invasão soviética ao Afeganistão, os EUAses se
recusaram a participar dos jogos olímpicos de Moscou. Era guerra fria no seu
momento mais tenso e a terra do Tio Sam expôs seu posicionamento político pra
desespero do recém-concebido Tiaguito, ainda em sua manjedoura dourada, com
Mario Kart e God of War incluídos.
Corinthians – 1981
Pela democracia dentro do clube, jogadores, encabeçados
por Sócrates e Casagrande, exigiram maior participação dos jogadores em
decisões importantes, assim como o movimento ganhou força no clube, por ser um
dos maiores clubes do Brasil, também significou uma luta maior, pela democracia
no Brasil, em tempos de ditadura enfraquecida e o povo clamando nas ruas. Inclusive,
Casagrande, hoje o famoso comentarista de esportes, já deu seu parecer sobre o
equívoco que seria não misturar política e esporte. Tendeu, Tiago?
URSS x EUA - 1984
Aí, foi a vez da retaliação fria da Guerra Fria (hein?!).
A União Soviética decidiu dar o troco e nos jogos olímpicos de Los Angeles,
também não foi. Alegando temer pela segurança de seus atletas, em possíveis protestos violentos, resultado: Boicote dos dois lados, empatou.
Nelson Mandela – 1995
Madiba foi o primeiro presidente negro da África do Sul
após o apartheid. O regime separatista e opressor imposto à raça negra criou
uma secção na hora do rúgbi. É que o esporte era mais querido pela minoria
branca e a maioria negra perigava boicotar. Mandela uniu a população ao trazer
para si os amantes do esporte e fez a ponte para um início de quebra de
desconfiança da população negra. Estava encaminhando para uma sociedade mais
integrada através do esporte.
Coréias unidas - 2018
Então, Tiago Leifert, deixa de falar besteira, porque
afora ter levantado uma questão muito legal de ser debatida, você o fez através
de mesquinharia ou alienação. Foi como levar chuva a uma região de seca, mas
por que tava tentando afogar os outros e seu plano deu errado. Se política e
esporte realmente não combinassem, nem hino nacional era pra se cantar, muito
menos se dividir em países e fomentar disputas nacionalistas, coisa que até
numa guerra se faz.
Não finja se importar com o atleta ‘problemático’, porque
você não liga nem pra ele e nem para toda a população que sofre o que ele
está denunciando com seus manifestos pacíficos. Você só não quer ser lembrado que o mundo tem problemas para os quais você não liga, rapaz branco, rico, famoso e privilegiado. Vai do trabalho pra casa
desligar o cérebro que é melhor. Não precisamos saber o que você pensa
deixa de pensar. Vamos analisar que esporte não é lugar pra manifestação política, programa de TV não é lugar pra ativismo e representatividade... O que ele acha que a população é? Um bando de vegetais que só servem pra ligar o aparelho e dar audiência? É, pois é...
Sabe como usar globo, controle e população na mesma frase? |
Fontes:
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