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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018
The Big Bang Theory envelhece mal e passou muito da hora de acabar
The Big Bang Theory é um marco na TV mundial. Ponto. Mas está muito longe de ser algo perfeito, nem mesmo irrepreensível.
O primeiro choque que tive, foi quando a série, ainda em suas primeiras temporadas, me foi apresentada como 'a sua cara', nerd que sou, desde os tempos em que isso era uma droga, um mundo paralelo dos anti-sociais e adoradores de culturas fora do padrão pop da sociedade.
Pois bem, fui assistir e gostei de muita coisa ali. Ok, teve muito clichê de tevê estadunidense, como as idas e vindas irritantes do casal principal, o integrante da galera que não é branco e vira alvo de piadas racistas, os exageros das características mais marcantes de cada personagem...
Sério, a falta de sentido no casal Penny-Leonard me fez pegar implicância e torcer pra que ficassem separados, era muito mais interessante pra mim que fossem um ex-casal mal resolvido, porém que se ama do que aquela rotina Ted-Robin, de How I Met Your Mother, ou ainda o primordial 'Ross-Rachel', de Friends. Detesto do fundo do coração essa 'muleta' de roteiro que é o casal que fica se desencontrando.
A caricaturização dos personagens também não me apetece. A partir do momento que se viu o sucesso da falta de traquejo social do Sheldon, ele passou a falar 'bazinga' até pra dar bom dia. As batidas na porta deixaram de ser um TOC pra ser uma mania. E nem vou falar em como ele perde toda a coerência quando o roteiro manda que seja um retardado mental diante de piadas dos amigos ou faz as vezes de um 'vilão' arrogante, sendo desprezado pelos amigos. Hoje, confortável e meio de saco cheio, Jim Parsons apenas interpreta ele mesmo.
Note como Sheldon deixou de ser o frio, calculista, porém irritantemente brilhante amigo da ponta do sofá para um afetado vizinho chato e cheio de manias. Há quanto tempo você notou que os próprios atores já estão com cara de 'velhinhos', do tipo, cansados dos papéis, mas ainda querendo manter o contracheque. Parsons que foi o responsável pelo anúncio do fim da série. Imagine se ele não se cansa da coisa, quanto tempo mais iam explorar o público cativo em nome de uma série que foi inovadora e fez seu nome há 10 anos, e hoje é apenas rentável.
Por fim, não posso deixar de dizer que tudo passa (até Jim Parsons - Rá - horrível essa) e toda série tem lá seu momento de pouca inspiração (menos Seinfeld, a única comédia que não apelou para romances e caricaturas que desviassem do foco), mas o que me incomoda mesmo em TBBT é justamente o que muitos acham que é seu charme e até seu mote.
Explico: Não é uma série nerd. Juntaram um monte de clichês do senso comum e forçaram a amizade. É um Friends composto por uma dúzia de 'Ross' e algumas 'Rachel'. Não bastava eles serem cientistas, ainda são aficcionados por cultura pop, amam Star Trek, Star Wars e todas as séries de ficção científica e metade do tempo não sabiam como se portar em público. Ou seja, é como assistir um filme dos anos 80/90 composto apenas pelo núcleo de humor. Mas não é nerd. Ou melhor, é nerd, mas não é um elogio, é condescendente.
Basicamente, a série trabalha com o mundo nerd mas pelo prisma de que não é nerd. Vivemos num momento da sociedade que não existe mais o nerd. Porque, por exemplo, aquele tipo ligado em tecnologia, filmes e séries, quadrinhos e ciências, que era o nerd, hoje é qualquer um. Todo mundo fica ligado no novo celular/TV/PC, etc... todo mundo tem e não tem traquejo social, devido aos facebooks, instagrams e whatsapps da vida... tendeu? todo mundo hoje tem as características que apontavam facilmente para os nerds de 20, 30 anos atrás.
Então, a série mostra um mundo pouco conhecido e injustiçado, certo? ERRADO! A série faz piadas frequentemente com a falta de vida social e mostra os protagonistas como pobres coitados fora do mundo real, vivendo como se acreditassem nas histórias que assistem e leem. Toda hora sobram piadas ridicularizando o nerd, como se fosse o máximo viver da cultura padrão pop. Community era muito mais nerd na essência (lembra do episódio feito em CGI ou aquele que a história se passa como um jogo de 32 bits?). TBBT é apenas mais um Friends, aquela série que rende, dura muito, poderia ter acabado como uma pérola há mais de 5 anos, mas o dinheiro que dá é maior que a dignidade artística e o mundo é de quem paga boletos em dia.
Não foi de todo ruim, mas não acho essa pressão toda de boa. É uma série ok, que foi se modificando conforme o mercado respondia, como qualquer produto, deu pra deixar seu nome na história televisiva gringa, mas não se mostrou o que tentou vender. Mas como fazer série ainda não mata, então o mundo permite essas coisas do marketing. O desgaste depois que apelou-se pra fórmula mais rentável é natural. Quem não lembra de Smal(hação)lville e suas intermináveis temporadas que iam a lugar algum? Ou a atual Supernatural que é mais velha que parte de sua audiência? Mais do mesmo. Só quem lucra com isso que tá amando (o dinheiro, não a produção).
Enfim, é coisa do Chuck Lorre também, né? Ele é mestre em fazer produções de gosto duvidoso que não mantém a coerência nem na primeira temporada. Vamos aos exemplos? Além de TBBT, são dele Mike & Molly, Mom e a supervalorizada Two and a Half Men. O que têm em comum? São produções com um mote original e criativo, mas que parece já planejado pra virar um amontoado de piadas repetitivas e recicladas assim que cham a atenção do público.
Se você, como eu, já assistiu regularmente a todas as séries citadas, já percebeu a repetição de piadas sobre sexo, problemas de relacionamento com os pais (e entre os pais), bebedeiras e momentos sincerão seguidos de vômito, ressaca, gordofobia, exclusão e estereótipos de negros e gays tarados, além de, porque não, peidos. Até alguns atores circulam nos mais diversos papéis, mostrando que nem os roteiros e nem os testes de atores variam muito. É como assistir à obra de Adam Sandler. Mais do mesmo, que às vezes nos pega desprevenidos e acabamos dando uma risada ou outra.
Vá em paz, The Big Bang Theory! Os atores já estão murchando pela idade, não tá convencendo mais como um grupo de amigos que não se desgruda. Ainda agem como os originais de 12 anos atrás, quando Jim Parsons já tinha uns 40 anos no papel de um cientista de 27. Sheldon casando e ainda usando camisas sobrepostas de super heróis é estranho como Roberto Bolaños fazendo o Chaves com mais de 60. Chega! Tem uma hora que tem que parar e partir pra outra.
Os roteiros ficam dando voltas, toda hora as situações são recicladas com atores diferentes (as já citadas idas e vindas, as situações de relacionamentos, empregos, trewta com os pais, etc), além das incongruências, como Sheldon viver falando que seu pai era um bronco bêbado e mal educado, ao passo que na série Young Sheldon ele é apenas um pai dedicado que está aprendendo a lidar com o filho gênio. Mas sobre isso eu falo mais em um outro texto.
Ps: Gosto muito do modo como Raj evoluiu no momento em que percebeu que vivia numa relação tóxica com Howard. E o próprio Howard, evoluindo e deixando de ser o filhinho da mamãe, apesar de isso ter tirado um pouco de sua graça, mas é mais coisa da série do que do personagem especificamente. E Leonard, você não sabia nem falar com a Penny e depois passou a ser disputado por Penny, Pryia e ainda pegando outras no processo... Sai dessa, você não é o Zé Mayer. Rá!
Ps²: Chuck Lorre não deve conhecer muitos negros para fazerem pontas em seus dramas de gente branca. E o Raj, então, coitado...
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