Ultimamente, me vi numa situação complicada. Primeiro, há
meses, foi lançado o clipe de Me Solta, de Nego do Borel e, como tento fazer
sempre, deixei o barulho inicial passar pra assistir e tirar minhas próprias
conclusões sem ruídos de opiniões no calor do momento. Só que em 2018 aconteceu
de tudo e nunca me sentia no momento pra poder dar (UIA!) um parecer sem ter
palavra ofuscada por algum acontecimento mais urgente. É só ver que teve virada
de mesa no carnaval, copa de futebol, eleições e suas respectivas campanhas
tomando tempo e abalando relacionamentos e por aí foi...
Virando o ano, continuo assistindo eventualmente o tal
clipe pra chegar num momento como este, onde finalmente vou poder falar alguma
coisa sobre Nego do Borel e a polêmica ‘gay’ que ele se meteu... na verdade,
ele acaba de se meter em outra roubada e foi isso que me fez ver o momento mais
oportuno pra opinar publicamente.
Vejamos, quando Me Solta saiu, a galera caiu de pau em
cima dele porque ele estaria se apropriando do lugar de fala de gays e trans
pra ganhar o chamado ‘pink money’ (lucrar e se tornar mais popular às custas da
comunidade lgbt). Confesso que sobre isso não posso falar muito, não sou dono
desse lugar de fala. Apenas achei mais um personagem visando a.... er...
visibilidade que essas situações acarretam. Enfim, por ideologia ou puro oportunismo,
achei que ele só queria chamar atenção e ganhar likes, views e se manter na
boca do povo, nessa sociedade de assuntos cada vez mais velozes e efêmeros.
Ok, Pink Money, pegou mal com a galera arco-íris e eu
saquei cada lado que falou sobre. Mas também gerou muita homofobia, afinal, é
nesse clipe que ele dá o famigerado beijo (é, só beijo, porque beijo gay não
existe, existe beijo e quem tá beijando. Idoso beijando é beijo idoso? Então...).
Admito que quando finalmente assisti, não entendi porque de tanta falação, ódio
e piadinhas preconceituosas. Se ele é gay, se era uma brincadeira que ele levou
a sério ou se ele apenas foi um ator, problema dele. Um beijo que não dura 5
segundos, num contexto musical em que ele se (tra)veste de uma personagem que
se afirma querendo dançar sem intervenções e deixando claro que pode sim parar
pra ‘pegar’ alguém e voltar pra curtição. Se a tal ‘Nega da Borelli’ é um
personagem clichê, estereótipo, se já existia antes ou o escambau a quatro, não
me interessa. Tá acompanhando até aqui? Personagem gay, provável oportunismo
midiático, preconceito, homofobia, beijo entre homens e ele conseguindo ser
notícia. Ok? Ok.
Eu já tinha preparado uma defesa há tempos,
principalmente pelos artistas que participam do clipe. Numa sociedade hipócrita
que não se queixa da falta de negros na TV do país com mais negros fora da
África, ninguém fez notícia em cima do fato de que os figurantes e dançarinos
do clipe são maioria negra. Aliás, tem negros, gordos, sei lá, possivelmente
gays, enfim, vários tipo, estando meio que na cara que ou são moradores da
própria comunidade onde se passa o clipe, ou pelo menos, são artistas de
companhias e grupos de classes sociais menos abastadas, ou seja, gerou emprego
pra preto e pobre e isso conta ponto a favor do cara...
Como Seu Sandoval Quaresma (do saudoso Brandão Filho, em
A Escolinha do Professor Raimundo), entre erros e acertos, tudo indicava que
pelo menos midiaticamente, Nego do Borel ia ganhar um 10, por saber chamar
atenção nos tempos em que a internet dispersa pensamentos e por empregar preto
pobre na mesma mídia que enxerta brancos em todo canto de funk, hip hop e
samba/pagode. Popularesco, representativo e empreendedor. Parabéns, certo?
Errado! O Sandoval pretim acertou antes, com alguma polêmica, certo, mas no
último sábado deu um vacilo que jogou bem contra a questão com lgbts.
A travesti Luisa Marilac - a dos 'bons drink', famosa na internet pelo
meme/bordão ‘se isso é tá na pior, porran!’, foi lá no instagram de Nego do
Borel elogia-lo por uma foto. Com emotis, carinhas e elogios, ela demonstrava
seu carinho e admiração de fã do funkeiro. E o que ele faz? Responde com ironia
transfóbica, se referindo à Luísa como homem, numa óbvia reação ‘machinho da
mamãe’, que não aceita ser elogiado por um gay/trans. Ele acjhou o quê? Que se
só respondesse ‘obrigado pelo carinho’ estaria se queimando? Logo ele, a Nega
da Borelli daquele clipe que comecei falando lá no alto do texto? Pô, Nego!
Vacilo, hein!
Já li recentemente que Luísa perdeu trabalho por causa
da ‘treta’, pois o anunciante não gosta de ‘barraco’, Nego já veio a público se
desculpar (como de praxe, pra apagar incêndios com a opinião pública, fãs,
patrocinadores e contratantes) e a coisa deve ficar por isso mesmo. Luísa,
aliás, mandou um papo reto, sugeriu que o artista (o qual ela deixou de seguir
nas redes sociais) amadureça e aprenda a respeitar o próximo. E não tá errada
não, hein! A pessoa conseguiu deixar de se prostituir pra viver como digital
influencer (é assim quem chama hoje?) e isso tudo sendo quem é e vem um meninão
fazer piada com uma parte da personalidade que compõe aquele ser humano?
Faça-me o favor, né?
Como eu disse, Sandoval Quaresma era aquele personagem que ia respondendo tudo bem até a hora que oe professor lançava a pergunta final 'pra ganhar o 10' e ele inventava um monte de baboseira (que, no caso dele, era a graça do personagem) e acabava, com muito custo, ganhando um 4, ou um 6... Mas no caso do nosso querido Nego Quaresma, essa última dele foi 0, tão grande quanto o tamanco que ele usou no clipe de Me Solta. Enquanto isso, que Luísa não deixe esse mal-estar lhe derrubar o psicológico, que disseram que ela estava na pior, mas se isso é tá na pior...
Tem que fazer igual menina Maísa Silva. Silvio Santos perguntou à jovem atriz se ela sabia o que é uma 'bicha' e a resposta da moça foi simplesmente: "É uma designação muito antiga e inadequada para homossexuais masculinos". Aprendeu, Nego, como é que se faz?
Porran, Nego tem que se desconstruir!
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