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segunda-feira, 15 de abril de 2019
O Rei Leão e a sociedade
Vem aí um remake digital do clássico da Disney, O Rei Leão (1994). Bem, particularmente, até tenho alguma curiosidade em assistir, mas não vou procurar. Verei depois, dublado e com cortes na sessão da tarde (ou alguma outra sessão cinematográfica da TV aberta que não sei qual, já que a piada é que não assisto TV aberta). Enfim, acho desnecessário porque o original já disse tudo que precisava dizer e de forma linda e intensa. Aliás, original... (que nem é tããão original assim, já que foi drasticamente chupinhado da animação japonesa Jungle Taitei/Kimba, o Leão Branco), neam?
Mas a questão aqui não é nem isso, é que lá nos tempos da versão clássica, eu não tinha o poder nem a bagagem de observação da sociedade pra elaborar certas ironias que rodeiam minha periclitante psiquê. Lembro de quando a animação estava pra sair e várias fitas VHS que alugávamos ou comprávamos traziam o trailer com aquela belezura de imagem. Mais tarde eu soube que o estudo de paisagens e comportamento dos animais foi minucioso ao ponto de levarem animais para os estúdios a fim de serem retratados nos mínimos detalhes. Um preciosismo que só!
Mas uma imagem que nunca saiu da minha cabeça, mesmo quando eu, infantonerd juvenil em 1994, ainda não contestava os valores da tradicional família brasileira, foi a cena inicial dos animais da savana africana correndo pra reverenciar o filho do rei que acabara de nascer. Claro, pra ser democrático e representativo, era preciso criar laços e funções para diferentes espécie, se não ia ficar chato um montão de leões se engalfinhando e filosofando sobre a natureza e suas responsabilidades... Mas... caras...
Um passarinho é o conselheiro real, um babuíno é o curandeiro e padrinho do príncipe, zebras e girafas comemorando que nasceu mais uma boca pra morder seus lindos pescocinhos. Sim, O Rei Leão é uma bela mensagem sobre a vida continuar e nós seguirmos o fluxo de nossas vidas e responsabilidades, nosso lugar no mundo e quais, quais, quais... Mas, basicamente, a coisa é retratada como uma grande família, coisa que não é. Aliás, alguém mais reparou que no início, as zebras estão prestando homenagens e algum tempo depois, o tio do guri lança uma perna de zebra para as hienas? Disso que eu to falando.
O normal seria correr pra longe, já que tem mais um predador por perto. O que me fez pensar na sociedade em que vivemos. Quantos pobres defensores de ricos você conhece? Quantas personalidades você não vê por aí sendo adoradas quando demonstram total desprezo pelo público, só aparecendo pra ganhar holofotes e grana? Quantos políticos não são endeusados e até chamados de mitos por gente que faz parte do grupo que eles querem ver pelas costas, na vala ou apenas bancando seu sustento parlamentar? E por aí vai, né? Bolsominion defendendo miliciano, preto adorando celebridade racista, mulher elogiando machista... A presa babando ovo do predador. Síndrome de Estocolmo? (aquela que o sequestrado cria laços emocionais com o sequestrador). Caça e caçador se amando.
É isso. Nas novelas, é frequente alguém rico namorar o pobre com amor verdadeiro e sofreguidão e o mais incrível é que o pobre não tem interesse na grana e o rico não liga para a própria grana. Claro, é muita catarse e vontade de viver nesse mundo idealizado, mas, como diz meu pai, "o dia que o rico convidar o pobre pra sua festa, vai ser pra trabalhar". Assim, finalizo parafraseando a ideia de que uma zebra comemorar o nascimento de um leão, é porque tem pouco amor à própria vida. Mas esse é o ciclo da vida, né? Tem uns que nascem pra morder e outros que nascem pra correr. Se você vai contra sua natureza, não vai ter hakuna matata que te salve.
PS: Ainda acho graça em ver Rafiki erguer Simba em seus braços e eu gritando "NÃO JOGA O LEÃOZINHO LÁ EMBAIXO, CARA!"
PS: Não assistirei. Não vou suportar perder Mufasa em alta definição digital graficamente computadorizada. Nem Animal Planet e Discovery eu aguento ver bicho sofrer.
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