Fernanda Gentil causou alvoroço alguns anos atrás quando
se revelou homossexual e chegou a enfrentar a homofobia na internet de forma
elegante, sutil, porém firme. Quem não lembra do: “Sapatão!”/“Oi, fala!” e de
quando ela explicou que a criação de um filho não depende da sexualidade de
quem o cria e sim do caráter que vai ser passado. Pô, eu achava isso de uma
lindeza tamanha! Tava no mesmo nível de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank enfrentando
racismo por ofensas sofridas pela filha. Só que o tempo passa e como diz Harvey
Dent – umas mil vezes, em Batman: O Cavaleiro das Trevas – “Ou você morre cedo
como herói ou vive o bastante pra se tornar um vilão”. Era algo assim, não lembro,
mas estou divagando...
Digo, Tiago Leifert, por exemplo, parecia ser uma cara
nova e legal no esporte da Globo, do tipo que falava não esquentar a cabeça com
nada porque no ano seguinte, começava tudo de novo e não tinha porque brigar
por time de futebol, por exemplo. Aí, ele começou a criticar atletas que
levavam para os campos, quadras e pistas suas manifestações sociais. Pegou mal,
já que um homem branco, rico e famoso não tem o direito de onde e quando negros
devem fazer seus protestos pelo que sofrem na vida. Até porque, se esporte e política
não se misturam, porque se canta o hino nacional antes de competições? Então,
Tiaguito ainda aprontou mais. Criticou ferrenhamente participantes do BBB que
levaram para a casa vigiada suas questões de militância até que passou a levar
seu discurso aberto e pessoal de que ‘representatividade não leva a nada’ (te
falei que ele só criticou os negros, né?). Já pensou se eu, homem, começasse a
dizer às mulheres que exigir respeito e igualdade é perda de tempo? Que tipo de
babaca tendencioso eu seria? Mas, graça Olodum, eu não! Já outros...
Então, Tiago não só foi grosseiro com uma jovem militante
como usou argumentos fracos e pouco educados de que ela deveria falar dela e
não de sua militância. Ela explicou bem que sua militância era por algo que
fazia parte dela, que é ser negra. Mas o sinhozinho não gosta do descendente do
povo escravizado no passado reclamando, né? Vai atrapalhar seu jogo de vídeo game.
A cereja do bolo é que em uma edição seguinte, Leifert – lembra que ele era o
descolado e cuca fresca há menos de dez anos? – elogiou uma vencedora do BBB
com o discurso de que ela tinha coragem e coisas do tipo... A saber, era uma
participante que passou a edição falando livremente que duvidava que um morador
de favela não usasse drogas, que a religião afro era algo pra se temer ou que
um playboy criminoso não o parecia por ser branco. Tiago defendeu a pessoa que
falou isso na noite da premiação. Entendeu o padrão? Negros, calem-se e
racistas, parabéns! Provavelmente as congratulações foram por ganharem dos negros.
Aí, aparece Fernanda Gentil e, recentemente, sem revelar
em quem votou na última eleição presidencial, que ninguém vai impedi-la de usar
essa ou aquela camisa (numa clara referência à camisa da CBF). Disse também que
seu partido é o Brasil. Mas esse nem é o pior. Ela apoiar Luciano Huck (bolsominion
assumido) em dizer que não votou no PT e nunca votaria? Tranquilo, o PT
governou por um bom tempo e trouxe coisas boas e ruins, como toda administração,
mas não é o único partido. E gente rica geralmente não vota em quem ajuda o
pobre. Eles querem ajudar lá de suas salas confortáveis, prestando algum
assistencialismo em troca de audiência, mas não querem um desenvolvimento social
real. No apagar das câmeras, é só voltar à sua mansão e sua boa vida. Nada
disso me incomoda tanto hoje... HOJE! Mas realmente me gerou inquietação ela,
gay assumida, dizer que respeita quem acha beijo gay um crime e quem é racista,
desde que o preconceituoso não agrida os alvos do seu ódio.
Existe um mundo de coisa errada nessa fala que, pra mim,
é o mesmo que dizer ‘estupra, mas não mata’. Vou tentar enumerar as implicações
de uma fala tão desastrada e condescendente com crimes de ódio:
1) O
primeiro e mais básico é que racismo e homofobia são crimes, portanto, você
dizer que respeita, está, basicamente respeitando criminosos. É o mesmo que
dizer que respeita sequestradores, traficantes, estelionatários, feminicidas e
grande elenco.
2) Ao
dizer que entende essa galera, você embasa seus discursos que, no mínimo, podem
começar com ‘a Fernanda Gentil concorda, então tá certo’, assim como usam
negros comprados por racistas com ‘ele é negro e fala isso, então você que te errado’.
3) Fernanda,
pra ser realmente Gentil, precisa – URGENTEMENTE – entender que discurso de
ódio também é crime e também afeta as pessoas. Só de ouvir ou ler alguma
ofensa, ameaça, etc, o psicológico das pessoas fica afetado. Palavras também transmitem
crimes. Veja que ameaçar alguém pode te levar pra cadeia pelo perigo que
oferece à vítima.
4) Já
que falamos em palavras e vítimas, é muito fácil para ela defender o discurso
de criminosos porque é branca, rica e famosa. Dificilmente ela sente o ódio violento
físico. Ela não faz parte do grupo mais vulnerável, aquele que não vai adiantar
pedir pra não apanhar. Tem gente morrendo aos montes na rua só por ser negra,
só por ser gay.
Enfim, é isso. Não me interessa se ela votou no bolsomala
ou se ela odeia o PT só porque sim. Mas validar discurso de ódio e tentar se
passar por moralmente consciente ao pedir que ‘não vai bater’ é um desserviço à
sociedade. Se era pra chamar atenção, valia muito mais o fazer em defesa e não
ao respeitar que não respeita um grupo do qual ela mesma faz parte.
Às vezes, ao tentar ser isento demais, o ser humano comprova que defende o lado opressor. Mas tem vergonha de falar e receber críticas mais pesadas. Era melhor que ficasse quieta seguindo seu próprio conselho "é só não bater". Ela chegou a fazer uma retratação pelo Instagram. Não vou julgar, esse texto é uma reação à publicação que gerou a polêmica, mas o velho papo de que a edição desfavoreceu é aquilo, né? Sempre é possível, nem sempre provável.
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