Martin Luther King Jr e Malcolm X. Ideias diferentes na luta contra o racismo. |
Há coisa que se tornam senso comum e a partir daí, a
maioria nunca mais para pra observar. A sociedade em geral entende aquilo como
um conhecimento fixo e não volta mais naquela situação pra analisar se mudou,
se era aquilo mesmo, se impressões não deram a ideia errada e tals... E o tal
do conhecimento engessado abordado neste texto é a questão racial nos EUAses (é,
eu falo assim da sigla deles, sorry).
A questão é que lá, como aqui, a camada colonizadora e
exploradora, europeia e euro-descendente, viveu nas costas de índios e negros
escravizados pra seu sustento aristocrático. Mesmo o branco mais pobre ainda
era ‘melhor’ que o negro mais inteligente, por exemplo. Sabemos que eles
disputam entre eles o poder, mas têm por certo que negros não entram nessa
equação. Seria como eles perderem seus privilégios que eles mesmos criam por
puro protecionismo e corporativismo.
Mas, enfim, ouço muito defensor velado de racismo
alegando que nossa luta aqui é exagero, porque racismo mesmo é lá nos EUAses,
com KKK (Ku Klux Klan, não é uma risada de internet) e toda aquela palhaçada.
Acontece que aqui, pode não ter um grupo assumidamente racista, mas a ideologia
funciona em nível subconsciente. Mas mesmo lá sendo acusado de ser um país
racista (e é, estruturalmente), ainda temos diferenças gritantes que não
necessariamente são desvantagens.
Veja bem, lá teve uma guerra civil pelo fim da escravidão
em todo o território nacional. Tudo bem que não foi por puro humanismo, mas por
mudanças nos padrões de produção e desenvolvimento industrial e tecnológico,
mas ainda assim, teve algo. Aqui a gente é calado até por ‘amigo’ do lado, só de
mencionar algum caso de racismo. Isso hoje em dia. Lá também teve uma série de
conflitos físicos e violentos em nome da conquista de direitos civis para os
negros. Aqui, cotas raciais ainda são um tabu que muita gente fala sem nem
saber do que se tratam, de onde vem a ideologia ou o efeito que isso deve
causar na sociedade.
Vale lembrar, sim, que lá, negro é minoria étnica na
composição da população do país. Um povo dentro de uma sociedade multiracial.
Aqui, somos mais miscigenados e não crescemos com tanta noção étnica, cultural
e ideológica enquanto povo. Somos programados a achar que o Brasil foi feito da
união pacífica, consensual, harmônica e sorridente. Tipo, o branco, o índio e o
negro se juntaram e fizeram filhos e netos ‘mulatinhos’ (argh!) pra tudo acabar
em samba. Pura mentira, né? Amigo não escraviza amigo e não faz filho fora de
casamento dentro de senzala pra demonstrar carinho. Essa ideia de que a casa
grande é a tutora legal e cuidadora da senzala é um dos maiores caôs do país.
Sendo assim, o negro estadunidense tem uma noção de
identidade cultural bem mais apurada. Além disso, há produtoras de mídia e
cultura inteiramente negras. Veja pelas séries, filmes e mesmo nas produções
predominantemente brancas, ainda vemos negros encarnando médicos, advogados,
pilotos de avião, presidente do país (muito antes de Obama na vida real, Morgan
Freeman já tinha comandado o país em Impacto Profundo) e até o deus bíblico o
próprio Freeman já encenou. Não estou ignorando que muitas produções só colocam
negros lá pra ser o primeiro a morrer, fazer piadas ou carregar peso. Mas há
uma diversidade maior.
Aqui? Existem uns 5 medalhões que podem, a cada 10 anos,
protagonizar alguma novela, talvez um filme sobre favela (talvez, porque na
hora do protagonismo, eles botam favelado branco pra todo lado). Aqui não temos
uma mídia própria, que nos dê espaço. Ficamos disputando com a camada dominante
onde eles tanto mandam que nem se importam em excluir os outros. Lá você vê Eu,
a patroa e as crianças, Fresh Prince of Bel Air (Um Maluco no Pedaço), Elas e
Eu, filmes como Vizinhança do Barulho e outros... Aqui, quando o negro é
abordado é o pobre sofrido, tipo Antonia, Subúrbia, sem contar naquele
miserável Sexo e as nega (que sofra no inferno, série bizarra, machista e
racista).
Quero dizer, cadê o negro sendo o negro brasileiro? Somos
só esses bandidos ou pobres submissos que eles veem na gente? E a caneta? Não
vamos evoluir nem um passo enquanto quem comanda atrás das câmeras não for
preto também. Aí, na frente da telinha, vamos continuar sendo mal
representados. Mais de 50% da população aqui é preta ou parda, mas parece não
ter a disposição ideológica pra desligar a TV se essa não lhe fizer justiça.
Não liga que a TV seja a casa grande, desde que tenha seu programa favorito
passando para a senzala. Até no campo da música. O samba e o funk hoje são produtos rentáveis pra midia branca, mas o maior público é o preto, que se acha representado porque não é educado pra contestar, só pra aceitar o que é massivamente empurrado mídia afora.
Então, não é lá que é racista, aqui é muito mais, se você
pensar que lá a população negra é pouco mais de 10% do país e ainda assim
possuem uma cultura própria e coesa. Aqui negamos o racismo mas não deixamos de
praticá-lo. É só abrir os olhos. Quem foge do assunto é porque tá devendo e tem
medo de acabar se entregando.
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