Tem gente que acredita que o problema no Brasil não é racial
e sim, social... Bem, eu já escrevi aqui várias vezes que se vivemos em
sociedade, todo TODO problema que afete um grupo inteiro dessa sociedade, É
NECESSARIAMENTE um problema social. E o racismo existe aqui desde que o
primeiro português pisou nessa terra. Primeiro, foram os nativos daqui,
chamados vulgarmente de índios, e depois com o negro, já que o povo africano
não veio pra cá em férias ou pra buscar oportunidades de emprego na região
administrativa mais próxima. Veio pra cá escravizado, ou melhor, foi
sequestrado pra cá para trabalhos forçados e todo tipo de violência física,
psicológica e ideológica existente.
Dito isso, vamos ao assunto principal: Titi. A filha adotiva
do casal branco global Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbanck. Essa última
ocorrência (falo assim, porque racismo é crime previsto em lei) de uma
socialite qualquer aí, ofendendo a menina em sua negritude, é só a mais recente
(até o momento). Lembro que cheguei a escrever um texto duvidando da
autenticidade de Giovanna em fazer uma matéria para o Domingão do Faustão no
Malawi, África. Duvidei da emoção toda com as crianças, o que me soou demagogia
ou aquela emoção que você tem fora e não leva pra casa. Fica meu solene pedido
de desculpas por isso, afinal, vemos tantos brancos ‘bem intencionados’, mas
que não nos respeitam, tratando da própria imagem de bonzinho (quando acontece)
que fiquei com os dois pés atrás.
Aí, o casal adotou uma menina que participou da tal matéria
e eu pensei: “É, me ferrei nessa, mas gostei!”. Gostei porque eu já tinha a
plena noção de que isso ia acontecer. Uma menina negra adotada por brancos
famosos... Já teve de um tudo nesses últimos 2 anos. Teve gente pra dizer que
eles são lindos demais pra adotar uma ‘negrinha’, que a criança deveria ser ao
menos brasileira e outras baboseiras ofensivas. O que Titi vem sofrendo nos 2
anos que vive aqui no Brasil é o que todos nós, da melanina acentuada, vivemos
todos os dias de todos os anos de nossa vida.
Voltando um pouco ao lance do ‘problema
social’, muita gente acha que o Pelé, por exemplo, não sofre racismo porque é
rico e famoso... Mas sabemos que não é bem assim, né? Veja Lupita Nyong’o (12 Anos
de Escravidão), Barack Obama (aquele mesmo) e a própria Titi. Gente rica e
famosa que sofre racismo, porque o ódio não está na classe social ou no recheio
da carteira/conta bancária, está no ranço social histórico de que o negro é
feito pra ser menos, pra ser o serviçal, ou no máximo, o braço forte e o
esportista/artista talentoso (pra ser roubado na apropriação cultural branca
que nos rouba pra ganhar dinheiro, diga-se).
Mas a coisa toda ganha ares bem mais graves quando acontece
com um famoso. Quando somos nós, pretos pobres, periféricos falando, somos os
neuróticos, os ‘malcolm x’, ouvimos coisas do tipo ‘vocês veem racismo em tudo’, ‘é só uma
opinião’ e essas besteiras de quem nitidamente tá defendendo o racista ou por ignorâncias
ou por má fé. Agora, quando é com a filha de um famoso, um lindão colírio
capricho global, aí a coisa muda. Até quem nem sabe o conceito de racismo diz
que ‘é um absurdo em pleno século 21 ainda ter racismo’, como se racismo fosse
uma moda que passa. Racismo é a estrutura da sociedade, desde que trouxeram
negros escravizados, desde que ‘libertaram’ os negros escravizados, mas não
levantaram um dedo pra inseri-los nas sociedade como cidadão, desde que esses
negros largados ao deus dará, formaram moradias irregulares, chamadas depois de
favelas, desde que o governo promoveu a expulsão dessa camada da sociedade dos
centros urbanos pra periferias e subúrbios... enfim, tendeu, né?
Mas não estou reclamando, só acho irônico que precise ser
com a filha de um casal famoso pra ter noticiário amplo. No dia a dia, saem
notícias como essa frequentemente na internet, nos facebooks e blogs da vida...
Nem precisa procurar tanto. E se pensarmos nas vezes que isso acontece no
cotidiano... Olha, esse povo defensor da igualdade de ocasião ficaria tão
enojado que até poderia abandonar a causa pra não ter que ver isso. Mas, ei,
nós não temos essa opção, certo? Mesmo que ignoremos, vamos passar por isso na
pele. E vejo com bons olhos que pelo menos o branco defendendo a filha preta
ganhe visibilidade. Do jeito que estou calejado, ainda desconfio que
futuramente isso vá virar uma parte blindada, tipo, o único espaço onde vão
noticiar, deixando o preto do ‘todo dia’ escondido. Ainda mais a globo, onde um
diretor de jornalismo conseguiu produzir um livro chamado ‘não somos racistas’.
Como fica sua cara agora, Ali Kamel? Percebeu o mundo à sua volta? Vai parar de
ignorar ou fingir que não notou?
No mais, palmas para Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbanck e
que coma todas as porcarias do mundo na cadeia pra aquela inútil que achou que
tava abafando tratando como defeito a lindeza de negritude que a menina Titi é. Alguém mais pensou aí em algum projeto de lei que permite psicólogos e psiquiatras reverterem mentalmente um racista? Porque se alguém pensou em 'cura gay' e muitos defenderam, porque não pensam em 'cura do racista', já uqe racismo sim, mata, violenta e prejudica a sociedade como um todo. É só. Racistas não passarão.
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