No texto anterior, falei sobre Neymar, sua condição de meme
ambulante e a mídia tentando apagar o incêndio ao mesmo tempo que o
patrocinador que abre o espaço já usa o gancho pra uma nova campanha
publicitária. Graças a uma parceria (dizem) entre Neymar e a agência que alimenta
a publicidade da Gillette, surgiu, no último domingo (29) o texto (lido em off,
diante de imagens do jogador na Copa da Rússia) e eu comento a seguir.
Texto comentado
"Trava de chuteira na panturrilha, joelhada na
coluna, pisão no pé. Você pode achar que eu exagero, e, às vezes, eu exagero
mesmo.
(Acho que foi o momento mais sincero do
texto. Só não sei se foi criação do jogador)
Mas a real é que eu sofro dentro de campo. Agora, na boa,
você não imagina o que eu passo fora dele.
(Momentos como este que eu falo, aposto que
ele que pôs as gírias pra personalizar. No mais, veja o que Neymar sofre fora
do campo)
Prosseguindo:
Quando eu saio sem dar entrevista, não é porque eu só
quero os louros da vitória, mas porque eu ainda não aprendi a te decepcionar.
(Deve estar falando com a mídia ou com os
patrocinadores. Até porque, com 26 anos, rico e famoso, pode ser verdade, mas
não é comportamento de um ‘ídolo’ projetado como esse)
Quando eu pareço malcriado, não é porque eu sou um
moleque mimado. Mas é porque eu ainda não aprendi a me frustrar.
(Isso é exatamente o que caracteriza o ‘moleque
mimado’: Ter 26 anos, ser pai e ser blindado de uma coisa tão comum na vida que
é saber lidar quando se é contrariado)
Dentro de mim ainda existe um menino. Às vezes, ele
encanta o mundo. E, às vezes, ele irrita todo mundo. E minha luta é para manter
esse menino vivo. Mas dentro de mim, e não dentro do campo.
(Esse é o trecho mais enche lingüiça de
todos. Ainda forçando o conceito de que é um menino. Já pensou, na próxima copa
o cara com mais de 30 ainda falando que é um menino?)
Você pode achar que eu caí demais. Mas a verdade é que eu
não caí. Eu desmoronei. Isso dói muito mais que qualquer pisão em tornozelo
operado.
(Essa é a parte mais fácil de explicar: A
verdade é que você não caiu, se jogou)
Eu demorei para aceitar as suas críticas. Eu demorei a me
olhar no espelho e me transformar em um novo homem. Mas hoje eu tô aqui, de
cara limpa, de peito aberto.
(Essa é a parte mais institucional. Repare
como fica muito fácil interpretar que o texto é, na realidade, para os
patrocinadores, ao mesmo tempo que já lança o conceito da campanha)
Eu caí. Mas só quem cai pode se levantar.
(O melhor mesmo é se manter de pé. Mas como
cair é coisa da vida, ele aqui força aquela barra que falei, de que brasileiro
adora um herói sofrido pra torcer por sua jornada. A Disney faz isso há décadas)
Você pode continuar jogando pedra. Ou pode jogar essas
pedras fora e me ajudar a ficar de pé. Porque quando eu fico de pé, parça, o
Brasil inteiro levanta comigo".
(Esse final é pretensioso num nível que só o
pessoal do marketing pode ter escrito. Talvez com a participação incisiva do
jogador, já que foi muito mal lançada pra profissionais da área. Como assim ele
se acha o salvador da auto-estima do Brasil?)
Conclusão:
Esse texto vazio só serve pra usar mesmo o fiasco de Neymar na copa (e na
carreira) como motivo de propaganda de renovação do ser que a Gillette tá
fazendo. Ele não se justifica, não se desculpa... apenas pega os tópicos mais
criticados e tenta aliviar sua barra com a galera que investe pesado em grana,
equipamentos, acessórios, roupas e na venda de sua imagem como ídolo. Não deu
em nada e gerou mais memes e burburinhos. Um livro de auto-ajuda cruzou com um
de comunicação social e deu essa coisa aí. Como eu já disse, ele não tem
calibre pra ser ídolo e nem liderança de uma geração. Mas tá tudo nivelado por
baixo no nosso país, então... Só lamento.
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