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segunda-feira, 30 de julho de 2018

Texto de Neymar comentado e ‘traduzido’


No texto anterior, falei sobre Neymar, sua condição de meme ambulante e a mídia tentando apagar o incêndio ao mesmo tempo que o patrocinador que abre o espaço já usa o gancho pra uma nova campanha publicitária. Graças a uma parceria (dizem) entre Neymar e a agência que alimenta a publicidade da Gillette, surgiu, no último domingo (29) o texto (lido em off, diante de imagens do jogador na Copa da Rússia) e eu comento a seguir.

Texto comentado

"Trava de chuteira na panturrilha, joelhada na coluna, pisão no pé. Você pode achar que eu exagero, e, às vezes, eu exagero mesmo.
(Acho que foi o momento mais sincero do texto. Só não sei se foi criação do jogador)

Mas a real é que eu sofro dentro de campo. Agora, na boa, você não imagina o que eu passo fora dele.
(Momentos como este que eu falo, aposto que ele que pôs as gírias pra personalizar. No mais, veja o que Neymar sofre fora do campo)



Prosseguindo:

Quando eu saio sem dar entrevista, não é porque eu só quero os louros da vitória, mas porque eu ainda não aprendi a te decepcionar.
(Deve estar falando com a mídia ou com os patrocinadores. Até porque, com 26 anos, rico e famoso, pode ser verdade, mas não é comportamento de um ‘ídolo’ projetado como esse)

Quando eu pareço malcriado, não é porque eu sou um moleque mimado. Mas é porque eu ainda não aprendi a me frustrar.
(Isso é exatamente o que caracteriza o ‘moleque mimado’: Ter 26 anos, ser pai e ser blindado de uma coisa tão comum na vida que é saber lidar quando se é contrariado)

Dentro de mim ainda existe um menino. Às vezes, ele encanta o mundo. E, às vezes, ele irrita todo mundo. E minha luta é para manter esse menino vivo. Mas dentro de mim, e não dentro do campo.
(Esse é o trecho mais enche lingüiça de todos. Ainda forçando o conceito de que é um menino. Já pensou, na próxima copa o cara com mais de 30 ainda falando que é um menino?)

Você pode achar que eu caí demais. Mas a verdade é que eu não caí. Eu desmoronei. Isso dói muito mais que qualquer pisão em tornozelo operado.
(Essa é a parte mais fácil de explicar: A verdade é que você não caiu, se jogou)

Eu demorei para aceitar as suas críticas. Eu demorei a me olhar no espelho e me transformar em um novo homem. Mas hoje eu tô aqui, de cara limpa, de peito aberto.
(Essa é a parte mais institucional. Repare como fica muito fácil interpretar que o texto é, na realidade, para os patrocinadores, ao mesmo tempo que já lança o conceito da campanha)

Eu caí. Mas só quem cai pode se levantar.
(O melhor mesmo é se manter de pé. Mas como cair é coisa da vida, ele aqui força aquela barra que falei, de que brasileiro adora um herói sofrido pra torcer por sua jornada. A Disney faz isso há décadas)

Você pode continuar jogando pedra. Ou pode jogar essas pedras fora e me ajudar a ficar de pé. Porque quando eu fico de pé, parça, o Brasil inteiro levanta comigo".
(Esse final é pretensioso num nível que só o pessoal do marketing pode ter escrito. Talvez com a participação incisiva do jogador, já que foi muito mal lançada pra profissionais da área. Como assim ele se acha o salvador da auto-estima do Brasil?)

Conclusão: Esse texto vazio só serve pra usar mesmo o fiasco de Neymar na copa (e na carreira) como motivo de propaganda de renovação do ser que a Gillette tá fazendo. Ele não se justifica, não se desculpa... apenas pega os tópicos mais criticados e tenta aliviar sua barra com a galera que investe pesado em grana, equipamentos, acessórios, roupas e na venda de sua imagem como ídolo. Não deu em nada e gerou mais memes e burburinhos. Um livro de auto-ajuda cruzou com um de comunicação social e deu essa coisa aí. Como eu já disse, ele não tem calibre pra ser ídolo e nem liderança de uma geração. Mas tá tudo nivelado por baixo no nosso país, então... Só lamento.







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