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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A mulher na ciência de The Big Bang Theory


Há 5 anos, a ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceu o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência em 11 de fevereiro. A data é para celebrar e encorajar mulheres e meninas no maravilhoso mundo da ciência, onde, pasmem, também existe machismo, diferenças salariais absurdas e todo aquele pacote que o mundo ominado por homens traz de desvantagens pra elas e vantagens pra nós (eles, no caso, já que o homem branco se sai melhor nesse mundo do que os negros, mas essa é outra questão e estou divagando mais que o normal...).

A questão é que um grande espelho para a data seria a série, recentemente encerrada (em 2019), The Big Bang Theory (TBBT, a partir de agora). É que a série surgiu com aquela promessa de mostrar ao mundo aberto como era o - supostamente - restrito mundo dos nerds. Não foi. Nem no começo, como já escrevi várias vezes aqui, facebook, instagram e em qualquer outro lugar. A série batia e abusava do estereótipo machista do nerd-menino-grande-sem-traquejo-social e tudo que já vimos em personagens nerds de filmes e séries na história. Sério, todos TODOS os nerds dessa série são esquisitos, multialérgicos, com problemas de relacionamento com os pais e machistas. 

Sério, quantas vezes Howard assediou Penny e na única vez em que teve o que merecia (levou um sonoro fora que o pôs em seu lugar de predador sexual metido a engraçado), Leonard foi lá pedir que ela fosse se desculpar por ter deixado o meninão magoado. Sério? E ela ainda casou com esse cara ao longo da série? E nem vou começar a falar do machismo tóxico do Dr. Hofstadter, que passou 12 anos induzindo sua amada a não ter amigos homens, sempre dar satisfações de sua vida pessoal e se curvar ao que ele achava conveniente pra poder ficar tranquilo e confiar nela. Ah, e Sheldon sempre fazendo questão de ofender sua inteligência e suas vestimentas.

Falei esse tempo todo sobre machismo porque, logo depois, na série, entraram duas personagens, que se tornaram fixas: Bernadette e Amy. Cientistas mulheres para uma melhor representatividade, ok? Not ok! Primeiro, a série (no caso, a produção) sempre subestimou as mulheres. Leslie Winkle era uma cientista independente de homens (na verdade, até virou o jogo e manipulou alguns dos personagens homens) e quantas vezes ela apareceu? Alguém reparou que ela simplesmente sumiu? Teve também aquela cientista-escritora que se hospedou no apê de Leonard e Sheldon e só serviu de objeto sexual de alguns protagonistas. E sem contar as outras que pouco ou nada acrescentaram (incluindo a assistente de Sheldon, sempre sendo explorada e humilhada e a reitora da Caltech, alvo de comentários racistas que, parece, a série empurrou como piada), temos as duas protagonistas. 

Vamos ver, Amy surgiu como uma piada da série, uma resposta ao questionamento de Howard e Raj de se havia algum par perfeito para Sheldon no universo. Ela veio através de um site de encontros e depois foi adicionada ao elenco principal. Mas a neurocientista Amy Farah Fowler passeou de um relacionamento intelectual com Sheldon para uma colegial deslumbrada feliz em ser amiga de Penny, wannabe de BFF com Penny e depois, tarada e louca para casar com Sheldon. Claro, também se tornou a "consciência" de Sheldon, a todo momento repreendendo seu comportamento arrogante e tóxico para/com seus amigos. Não fez o menor sentido, já que ela era tão desligada do trato social quanto ele, e ele que nunca mudou, mas ela evoluiu em tempo recorde num grupo onde ele já frequentava há anos antes dela... mas deixa quieto, os fanáticos vão dizer que a vida tem dessas coisas. E não está errado, só que numa série, é claro que isso foi pré-determinado conforme o roteiro pedia.

Bernadete era a namoradinha de Howard e evoluiu para a mãe dos filhos dele. Até aí, tranquilo, o lance é que ela não pensava em ser mãe e ele insistia (mesmo plto reaproveitado mais à frente por Leonard e Penny). Aí, ela engravida duas vezes. Mas esses dois casos só demonstraram que apenas confirmavam o machismo da série, ao invés de ameniza-lo. Pois, Amy ficou louca para casar e casou, Bernadete era uma proeminente microbióloga e se tornou a mãe dos filhos do engenheiro. E o pior é que no episódio em que tinham a chance de palestrar em escolas para meninas se motivarem a adentrar na ciência, a série colocou os marmanjos na missão e as cientistas vestidas de princesas Disney num parque. Tá de sacanagem, né? Mas isso não foi o pior. O pior eu conto no parágrafo a seguir.

No final, quando já tínhamos certeza de que a primeira mulher do elenco principal nunca teria mesmo um sobrenome próprio, adotando o do marido, ela que deixou bem determinado que não queria filhos, foi engravidada pelo roteiro preguiçoso e apelão, ao passo que Amy ganhou um Nobel. Parece maravilhoso, né? Mas nem tanto. Ao ganhar o prêmio, a preocupação de Amy era de não ser tão bonita quanto as mulheres admiradas pela beleza no mundo. Logo ela que já tinha manifestado seu posicionamento de que uma cientista não tem que usar atributos estéticos para ser admirada. Foi até num episódio em que Bernadete joga na cara dela que ela só pensa assim por não ser bonita. Não teve jeito, Raj (desperdiçado da homofobia racista da série) lea a Senhora Cooper para um banho de loja.

E é isso, a mulher na ciência pode muito mais que ser contador de piadas forçadas, arrogantes e preconceituosas numa série de estereótipos pejorativos. 
  
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