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sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O homem perfeito é o produto da mídia que reflete a sociedade em que vivemos



O mundo é louco e a prova disso é que eu concordo com Luana Piovani em algo de nível ideológico. Vou explicar. Há algumas semanas, li uma notícia dessas, de celebridades e seu mundinho de nárnia, e a referida atriz falava sobre essa imagem desnecessariamente difundida de perfeição do ‘ator’ e apresentador Rodrigo Hilbert.

Independente de ela já ter namorado o rapaz, antes de ele se casar com Fernanda ‘só por que eu sou branquinha’ Lima, o que ela falou dá para uma bela reflexão. Ok, a linha de raciocínio que vou abordar não é bem a mesma que Piovani indicou mencionar, mas até aí, não atrapalha. Vamos lá? Vamos.

Primeiro, o mais óbvio: Não existe perfeição. O conceito é, nitidamente, um... er... conceito! Uma teoria, um ideal imaginado, algo tão subjetivo que seria impossível de se aplicar a todos de maneira padronizada. E se formos olhar de modo genérico, dizer que o tal é o... er... o tal, o ‘homão da porra’, teremos que avaliar os valores da sociedade que contribuíram para a construção desse mito moderno-contemporâneo/meme de internet. Vamos lá? Denovo: Vamos.


Vamos começar pela arte: Não é um grande ator, visto que fez umas figurações e comerciais antes da fama. Dizer que é bonito, segundo os padrões estéticos também é muito tendencioso e esse escopo ‘família’ e tals é, muito possivelmente um personagem feito pra vender a imagem do cara perfeito, confiável, o garoto-propaganda ideal. E isso tudo diz alguma coisa da sociedade que vivemos e da sociedade que a mídia quer impor e manter. Mas o que não é dito também transmite e reforça esses ideais.

Vamos pelo óbvio: A propaganda funciona de verdade em cima de paradigmas, ou seja, de ideias já pré-concebidas (tipo creme dental e balas de menta que são vendidas com a ideia de que o bom hálito vai atrair beijos), então, os anunciantes precisam segurar o senso comum nesse gesso mental. A mídia não ia funcionar e nem formar opinião se todos mudassem de ideia sobre o que é ‘normal’. E se mudar, eles mudam junto. Por exemplo, há alguns anos, seria inimaginável um casal gay ser representado numa novela sem ser uma caricatura, conforme parte da sociedade abriu a mente, hoje, gays aparecem como pessoas normais e não estereótipos do Casseta & Planeta.

Sendo assim, vemos que Rodrigo Hilbert, o belo, perfeito, educado, família... é um estereótipo também, só que do tipo ‘positivo’. Aquele que a sociedade foi acostumada pela TV a achar o mais confiável. Ele é branco, casado, hétero, não se fala em religião, o que conota não ser de algum culto ‘alternativo’ e, parece, sabe ciudar bem da parte gastronômica da casa.
 
Veja bem, Lázaro Ramos é tudo isso, além de ativista de causas sociais, canta, dança, representa, apresenta e... cadê? Só há espaço pro boneco de cera? Lázaro Ramos é tudo que se admira em Rodrigo Hilbert e significa muito mais no campo artístico, que é o que deveria interessar primordialmente, mas é negro, né? Não se faz alarde com seu lado família. E olha que sua esposa famosa é igualmente mais relevante em nossa cultura contemporânea. Pra começar, combate o racismo em vez de se colocar no lugar ‘não tenho culpa de ser branca’ e não fica ostentando babás negras como mucamas da vida moderna enquanto se faz de sonsa (lembra quando preteriram Lázaro e Camila Pitanga pelo casal loiro no sorteio da copa?).

É isso. Lázaro Ramos e Taís Araújo são muito mais que um casal de comercial de margarina, preparados para ser os queridinhos brancos da sociedade racista em que vivemos. São artistas talentosos e seres humanos admiráveis. Mas a sociedade de mentalidade provinciana brasileira ainda não tem capacidade geral pra entender ou mesmo perceber isso. Em grupos, até conseguimos ver, mas quando o tal do gigante adormecido é quem tem que abrir os olhos... aí, é pura bagunça.

Tem gente que acha que esse tipo de observação é inveja ou insegurança da auto-estima masculina, mas vamos lá... seria como se sentir inseguro por causa do Thor ou do Superman... Um modelo de perfeição europeu (sim, os EUAsis foram colonizados e povoados pelo velho e invasor continente). Um molde euro-ariano-cara-de-rato que não deveria ser tão bajulado no país de maior população negra fora do continente africano. Esse é só UM dos traços de desigualdade e desvantagem que nós, negros, passamos, frente aos privilégios dos brancos. Reflita. 

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