O mundo é louco e a prova disso é que eu concordo com
Luana Piovani em algo de nível ideológico. Vou explicar. Há algumas semanas, li
uma notícia dessas, de celebridades e seu mundinho de nárnia, e a referida
atriz falava sobre essa imagem desnecessariamente difundida de perfeição do ‘ator’
e apresentador Rodrigo Hilbert.
Independente de ela já ter namorado o rapaz, antes de ele
se casar com Fernanda ‘só por que eu sou branquinha’ Lima, o que ela falou dá
para uma bela reflexão. Ok, a linha de raciocínio que vou abordar não é bem a
mesma que Piovani indicou mencionar, mas até aí, não atrapalha. Vamos lá?
Vamos.
Primeiro, o mais óbvio: Não existe perfeição. O conceito
é, nitidamente, um... er... conceito! Uma teoria, um ideal imaginado, algo tão
subjetivo que seria impossível de se aplicar a todos de maneira padronizada. E
se formos olhar de modo genérico, dizer que o tal é o... er... o tal, o ‘homão
da porra’, teremos que avaliar os valores da sociedade que contribuíram para a
construção desse mito moderno-contemporâneo/meme de internet. Vamos lá? Denovo:
Vamos.
Vamos começar pela arte: Não é um grande ator, visto que
fez umas figurações e comerciais antes da fama. Dizer que é bonito, segundo os
padrões estéticos também é muito tendencioso e esse escopo ‘família’ e tals é,
muito possivelmente um personagem feito pra vender a imagem do cara perfeito,
confiável, o garoto-propaganda ideal. E isso tudo diz alguma coisa da sociedade
que vivemos e da sociedade que a mídia quer impor e manter. Mas o que não é
dito também transmite e reforça esses ideais.
Vamos pelo óbvio: A propaganda funciona de verdade em
cima de paradigmas, ou seja, de ideias já pré-concebidas (tipo creme dental e
balas de menta que são vendidas com a ideia de que o bom hálito vai atrair
beijos), então, os anunciantes precisam segurar o senso comum nesse gesso
mental. A mídia não ia funcionar e nem formar opinião se todos mudassem de
ideia sobre o que é ‘normal’. E se mudar, eles mudam junto. Por exemplo, há
alguns anos, seria inimaginável um casal gay ser representado numa novela sem
ser uma caricatura, conforme parte da sociedade abriu a mente, hoje, gays
aparecem como pessoas normais e não estereótipos do Casseta & Planeta.
Sendo assim, vemos que Rodrigo Hilbert, o belo, perfeito,
educado, família... é um estereótipo também, só que do tipo ‘positivo’. Aquele
que a sociedade foi acostumada pela TV a achar o mais confiável. Ele é branco,
casado, hétero, não se fala em religião, o que conota não ser de algum culto ‘alternativo’
e, parece, sabe ciudar bem da parte gastronômica da casa.
Veja bem, Lázaro Ramos é tudo isso, além de ativista de
causas sociais, canta, dança, representa, apresenta e... cadê? Só há espaço pro
boneco de cera? Lázaro Ramos é tudo que se admira em Rodrigo Hilbert e
significa muito mais no campo artístico, que é o que deveria interessar
primordialmente, mas é negro, né? Não se faz alarde com seu lado família. E
olha que sua esposa famosa é igualmente mais relevante em nossa cultura
contemporânea. Pra começar, combate o racismo em vez de se colocar no lugar ‘não
tenho culpa de ser branca’ e não fica ostentando babás negras como mucamas da
vida moderna enquanto se faz de sonsa (lembra quando preteriram Lázaro e Camila Pitanga pelo casal loiro no sorteio da copa?).
Tem gente que acha que esse tipo de observação é inveja ou insegurança da auto-estima masculina, mas vamos lá... seria como se sentir inseguro por causa do Thor ou do Superman... Um modelo de perfeição europeu (sim, os EUAsis foram colonizados e povoados pelo velho e invasor continente). Um molde euro-ariano-cara-de-rato que não deveria ser tão bajulado no país de maior população negra fora do continente africano. Esse é só UM dos traços de desigualdade e desvantagem que nós, negros, passamos, frente aos privilégios dos brancos. Reflita.
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