Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

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quinta-feira, 4 de junho de 2015

Gang e a solidão da mulher negra no dia dos namorados


“Calça da Gang, toda mulher quer, duzentos reais pra deixar a bunda em pé”.

Nossa, essa veio muito antes de se falar em funk ostentação. Provavelmente porque não é do tempo do governo do PT consolidado, quando pobre era miserável e não podia usufruir de vários itens e bens de consumo, mas isso é outra conversa. Estou aqui pra falar desse ano. Deste ano. 2015, a Gang, marca famosa há décadas, fez uma colagem de fotos em que aparece a diversidade no amor. Diversidade? Talvez a diversidade da Boticário, com casais gays, mas nenhum negro (hétero ou gay), ou seja, quis fazer cartaz, parecer descolado e gente boa, mas errou feio, errou rude. Imagina, saganauta (saga-o-quê?!) que você me fale que é vegetariano e, pra ser legal contigo e pagar de muito interado nos paranauê, eu te presenteie com salsicha de frango. É tipo isso, parece que eu to tomando uma atitude diferente, mas não parei pra fazer uma pesquisa mínima sobre o assunto que te agrada.

Eu explico. A gang fez uma colagem em que a única mulher negra que aparece está beijando um manequim. É a única sem um par. Numa pesquisa muito rasa qualquer, você se depara com inúmeros textos onde se aponta a mulher negra como o pé da pirâmide social de relacionamentos. Inclusive aqui e no meu outro blog, o Raiz do Samba em Foco. Pensa comigo, Jeremias, o mundo é racista e o europeu criou isso escravizando povos inteiros, em vez de inimigos de guerra, como fazia antes, assim, o negro e o índio foram escolhidos pra figurar nesse lixo de história que nos impuseram. Daí, o o mundo também é machista, pois, detonaram sociedades matriarcais inteiras pra empurrar essa lei mentirosa de que mulher é sexo frágil... não é, só foi oprimida, assim como o negro. Então, dessa equação, podemos concluir que se você é homem e branco, você tá com tudo, não deve explicação a ninguém... no máximo, vão dizer que você não samba legal. E é verdade. Rá!

Você nota que é um costume não ter negros. Tipo, achei uma ou duas numa página inteira de buscas. Muito pouco pra porcentagem que consome. Quer nosso dinheiro, mas não quer nossa cara? 

Então, concluímos também que se você é homem e negro, você ainda tem um mínimo suporte no machismo, pois, aprendeu com o homem branco a dominar sua mulher, mas ... e a mulher negra? O que sobra pra ela? Pois é, meu nobre, a mulher negra leva porrada duas vezes, pois é oprimida pelo branco e pelo homem. E, na contagem da equação – ainda não acabou, acompanhe – a maioria da população é pobre, logo, se sabemos que a maioria da população é feminina, então temos a maioria da população feita de mulheres negras e pobres. Contando ainda – eu avisei que não tinha acabado – com a referida marca de roupas – sucesso entre funkeiros há umas décadas – podemos concluir que a marca era muito adorada por maioria de mulheres negras. As mesmas que agora são “representadas” se “relacionando” com um manequim. PARABÉNS, GANG! Troféu joinha 2015 pra vocês. Se o Boticário já tinha vacilado na exclusão do negro, vocês conseguiram superar o feito incluindo, mas não reconhecendo que mulher negra também tem namorado, apesar de a sociedade só querer que ela seja uma explosão na cama e excelente rainha de cama, mesa e banho.

Caracas, gente, o que vocês fumam de exótico no café da manhã? Eu até tenho a teoria de que é pura provocação, mas mesmo pensando assim, ainda acho exagero porque há muito dinheiro envolvido só pra trollar um grupo específico na sociedade. Eu poderia ter ido na página da empresa exigir retratação, mas não faço isso porque, como eu disse, não acredito em inocência nesses casos, e muito menos porque já cansei de trabalhar em atendimento a consumidor e sei que essas respostas são tudo texto decoreba já salvo em algum banco de dados Access/Excell/Word (Office ou LibreOffice – Rá!), então, fica meu manifesto. Manifesto de um homem negro que vive com uma mulher negra e é cercado de parentes e amigas negras que não precisam desse deboche na vida, sobretudo, numa data comercial em que se impõe midiaticamente a necessidade de estar em um relacionamento. Não sou dessa gang do descaso e do deboche. E não adianta colocar casais LGBT ogados ali porque fica com cara de forçação pra fazer média, já que não lembrou que a população negra e consumidora é muito maior no mercado. Questão de pesquisa de marketing. Uma empresa faz isso, correto? E pesquisou público pra dar nisso?



Entendeu, Gang? Entendeu O Boticário? Vocês não entenderam que o negro é mais de 50% da população e compra coisas. Não compra besteira... quer dizer, besteiras TAMBÉM, inclusive itens de lojas que não nos vê como gente de verdade. Por mim, eu boicoto mesmo. Faço isso com uma facilidade enorme, e depois apareço na net pra falar mal. É isso que acontece com marcas que mandam mal, a gente fala mal. Exército de difamadores e com razão. Olha pra essa foto e imagine a mãe de vocês. Eu não gosto de apelar pra esse 'e se fosse com você', porque acredito que respeito deva vir de berço, mas pros que - nitidamente - não sabem o que é isso, mando mesmo na lata: Olha pra essa porcaria que fizeram e pensem se iam mesmo ganhar aplausos das pessoas que vocÊs representaram ali. E note, por fim, que o homem negro, pra variar o senso comum, está com uma mulher branca e/ou fazendo parte de um relacionamento a três com brancos. Pode até forçar umas de que isso é reflexo da sociedade, mas um comercial de 30 segundos não é uma peça documental sócio-antropológica, ok? Então, se fizeram esse comercial da cabeça deles, não é pra excluir, é uma marca, uma empresa que lucra com vendas, então, até representar direito, não vou ouvir nem falar bem dessa coisa. "A loja que me entende"? A narradora, com certeza é branca, porque se fosse negra estaria muito enganada. Veja aí pra ter noção:



Não quer mostrar nossa cara direito, mas se entrar na loja, mesmo torcendo a cara, aceita nosso dinheiro, né? Aí, pode?

quarta-feira, 3 de junho de 2015

O Boticário e a diversidade que não é tão diversificada assim


O Boticário lançou uma campanha para o comercializado dia dos namorados. O comercial gerou um burburinho – pra não dizer estardalhaço – por parte da família tradicional brasileira (quê?!?!?). Sim, defensores da ‘moral e dos bons costumes’ (aquela gente hipócrita que acha que vive numa série suburbana estadunidense antiga) vieram a público e, diretamente, se reportaram à empresa repudiando a iniciativa de mostrar casais gays sob o fundo musical ‘Toda forma de amor’. Sempre vou achar muito revoltante que, segundo a lógica retrógrada conservadora, um comercial com gay vai te tornar gay, mas um amigo próximo bom em matemática, não passe o dom das exatas por osmose... Enfim, vai entender... acho que é muito medo de soltar a tarraqueta e ter que explicar a seus amigos igualmente conservadores, igualmente encubados. Quanto a isso, já me manifestei bastante sobre essa promessa de boicote pobre de espírito, mas o contexto aqui é outro, pois sobre respeitarmos e aceitarmos as pessoas como são, como sabemos, não é favor, é direito de cada um (claro, não estou falando em aceitar um psicopata, você me entendeu, né?).

Como puderam pensar em diversidade e não ter negros? Parece que alguém chegou e falou 'vamos mostrar grupos discriminados... vai põe gay aí que dá ibope'.

A coisa aqui passa por uma linha tênue entre a polêmica e a ironia trágica da exclusão. Enquanto todos estão ocupados brigando entre si sobre mostrar casais gays, acabar com a família tradicional brasileira e o mundo virar gay porque existem gays nele, muita gente tá deixando passar a exclusão do negro. E o negro? E, neste contexto, mais especificamente, e o gay negro? Oras, como em tudo que tem apelo popular, se somos mais de 50% da população, como que não conseguiram pensar em um casal afrocentrado? Lógico, a resposta óbvia seria ‘porque eles provavelmente não convivem com negros’, o que seria a mesma resposta para nossa ausência em lugares diversos em novelas (que não apenas cozinhas de ricos e favelas), comerciais, capas de revistas e por aí vai.

Campanha Make B, onde, segundo a descrição, seria pra mostrar a beleza da mulher brasileira. Talvez, as nascidas na Áustria, né?

Lembraram que há gays no dia dos namorados, então, por associação, sinto que vamos ser representados numa campanha lá pra novembro, já que fomos contemplados no mês passado com a campanha de dia das mães, por dedução minha, ser uma data que sempre cai próxima ao 13 de maio. Enfim, essa é um sarcasmo da minha parte, porque o fato é que não há negros na campanha e eu não posso aplaudir a diversidade se ela não me contempla, mas veja bem... Não é porque não ME contemple pessoalmente, mas por que me exclui enquanto grupo social. Oras, eu e minha mulher somos negros, usamos perfumes, mas na hora da empresa mostrar que sabe disso, ela não bota nossa cara lá? Assim, penso, seriamente, se essa diversidade toda do comercial não é uma muleta pra chamar atenção, uma média pra gerar o barulho e atrair olhares para a marca. Sacou? Criar a guerra “homofobia x gays e o restante de gente legal que só de sacanagem vai apoiar a empresa”.

Campanha de dia das mães este ano. Lembro que achei muito legal a inclusão... mas já voltaram ao 'normal'.

Imagino que poderá haver uma adesão gay significativa, sobretudo quando líderes político-religiosos se metem pra criticar, aproveitarem seus 15 minutos de fama pra incitar aqueles que não pensam como eles. Mas, como expliquei pra Sra. Sagatiba – que não vive na net como eu: NÃO ME VEJO NÃO COMPRO. Então, gente, não há gays negros? Não há um casalzinho só pelo país inteiro que não gostaria de se ver ali e pensar ‘taí, eles sabem que eu existo, essa marca é legal’? Jura? Por enquanto, tenho as barbas de molho, vou me manter nessa de oportunismo sobre diversidade porque não é só fazer um agrado e ogar um biscoito que se ganha confiança, muito menos com uma mancada dessa de que TODA forma de amor não contempla a maior parte da população (negra) pra figurar na telinha.



Palmas para campanha que mostrou diversidade.
Vaias para a campanha que falhou em mostrar diversidade.

Segue UM dos comentários que fiz lá no facebook d’O Boticário:


Desde o fatídico Make B que eu falo, aquela resposta genérica que alguns receberam, no melhor estilo 'recebemos sua mensagem, valeu, mas vamos fazer do nosso jeito' nunca foi engolida. Espero que ouçam a voz do retorno imediato à campanha, pois, em vez de diversidade, isso vai acabar ficando com cara de muleta pra chamar à atenção. Aí, vai acabar gerando divulgação negativa. Repito, muito legal o 'toda forma de amor', mas ver que TODA forma de amor não inclui negros no país com mais negros fora da África é, no mínimo, miopia social. Racismo não precisa vir dando porrada, a exclusão também é violência.
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