Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

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quarta-feira, 29 de julho de 2015

KIDS: 20 anos



Dia 28 de julho de 1995, estreava Kids, do diretor Larry Clark. Já tem 20 anos, gafanhoto. Estamos ficando velhos, Magneto. Lembro que do alto de meus 13, 14 anos, assisti esse filme (dublado e com cortes) na TV aberta. E... caras, foi chocante. Choque parecido eu só teria de novo, dali a 7 ou 8 anos, assistindo a Cidade de Deus, mas estou me adiantando.


Primeiramente, o filme trata do cotidiano de adolescentes de rua em Nova York. "De rua" não é no sentido 'abandonados', mas no sentido de 'vida loka'. Sim, aquele clima marginal de sexo, drogas e rock n' roll era o que chamava à atenção. Toda a violência e a crueza com que aqueles garotos eram mostrados fizeram com que muita gente achasse que tratava-se de um documentário e não uma ficção. Na verdade, há um pouco dos dois ali, mas, definitivamente, é uma ficção. O que digo como documentário é que os "atores" Harold Hunter e Justin Pierce, por exemplo, eram apenas garotos daquele universo que o diretor queria entrar pra mostrar do lado de dentro, chegando a aprender a andar de skate (no mínimo 30 anos mais velho que a rapaziada de 15, 16 anos).

Rosario Dawson (suspiros) e Chloe Sevigny. 





Assim como o já citado Cidade de Deus, parte do elenco além de não profissional, nunca tinha nem atuado. Pelo que lembro de ter lido, apenas Chloe Sevigny (Jennie) tinha uma carreira ligada à moda, como modelo e até participando de um clipe do Sonic Youth. Afora isso, Rosario Dawson (obrigado universo por esse filme, por tê-la revelado ao mundo) era uma ótima estudante de 15 anos que dava aulas particulares e foi convidada enquanto estava parada do lado de fora do conjunto habitacional em que morava e é quem mais tem destaque na carreira até hoje.

Harold Hunter (esq), Justin Pierce (de mochila) e Jon Abrahams (dir), também visto co-protagonizando Todo Mundo em Pânico, como namorado de Cindy (Anna Faris).

Infelizmente, quando se fala em usar atores sem base, a veracidade que dão a seus paéis é muito legítima e muito natural, mas também gera fatores colaterais, como a falta de preparo para lidar com a vida real depois disso, ou administrar o que poderia (ou não) se só uma fase. Falo dos já citados Harold Hunter (Harold) e Justin Pierce (Casper). Ao mesmo tempo que eram cativantes em seus papéis de desordeiros carismáticos, tiveram seus destinos encerrados bem cedo fora da doideira em que viviam tanto no filme quanto fora dele. Justin se enforcou em 2000, aos 25 anos, no hotel em que morava e Hunter teve um ataque cardíaco, provavelmente em decorrência do uso de cocaína, em 2006, aos 31 anos.


No saldão geral, Kids foi uma explosão de realidade em um mundo cinematográfico mais acostumado a galãs de rebeldia controlada e bem direcionada. Quando surgem adolescentes que você aprende a gostar mesmo sabendo que eles se metem em brigas por nada, se drogam e transam sem qualquer cuidado, aí sim, estamos falando de realidade. "Você podia ter nos avisado antes de falarmos para nossos amigos da igreja", disse a avó de Rosario Dawson (suspiros) ao ver o filme, onde sua netinha adolescente virgem fazia papel de uma tagarela e promíscua jovem que, num golpe de sorte, não tinha contraído HIV nas inúmeras relações que teve e nem se lembrava direito.



Kids foi um marco no cinema e dificilmente haverá outro, até porque não chegou a mudar a história do cinema, apenas trouxe uma novidade que era a realidade, uma interpretação muito sutilmente entre a vida real dos atores e o que o diretor queria mostrar, que, no final das contas, eram a mesma coisa. E já que falamos em Kids, em juventudes transviadas, vamos de The Kids Aren't alraight (The Offspring) pra descontrair com tom de reflexão.

http://www.dailymotion.com/video/x1lxgi_the-offspring-the-kids-aren-t-alrig_music

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Resenha: Uma História de Amor e Fúria (2013)


É a história de um homem de uns 600 anos que se vê às voltas com duas constantes em sua vida imortal. A primeira é Janaína, sua amada, que ele sempre reencontra em outras encarnações, e a outra é sua eterna luta por justiça. Sempre lutando do lado mais fraco, o protagonista iniciou como um índio tupinambá em 1566 e chegou a um distópico futuro onde uma dose de água vale mais que uma garrafa de scotch, e a segurança é feita por particulares milícias exterminando qualquer um que ameace o poder do grupo dominante... Pensando bem, não é tão futuro assim, né? Rá!

Enfim, voltando ao que interessa, o protagonista (que eu só chamo assim por ter tido diferentes nomes ao longo da história) nem passa formalmente por toda a famosa ‘jornada do herói’. Ele aprende desde o começo que é o escolhido e só hesita uma vez quanto a isso, e nem demora muito pra perceber que foi só um lapso. Janaína também tem seu valor histórico, pois se é certo que sempre se reencontrem, também o é que sempre estarão lutando juntos em nome dos desfavorecidos. “Meus heróis não viraram estátuas. Morreram lutando contra aqueles que viraram”. Essa é a declaração emblemática do protagonista e que todo mundo que almeja justiça social e conhece algo de sociologia e história, já percebeu, de saída.


A história é muito pontual, tem bastante ação, romance e uma boa dose de história reflexiva, tudo muito bem dosado de modo a não ficar piegas nem recortado. Você sabe exatamente o que o filme te diz e não precisa de didatismos. Fico imaginando como seria para alguém desligado da história perceber que alguns dos personagens mais sanguinários de nossa terra são homenageados como heróis pacificadores, como o próprio filme faz. Ele deixa só pro final de uma das sequências pra te avisar que um determinado herói de guerra tem seu nome gravado na história, nomeando cidades e, no entanto, fez isso em cima de uma montanha de cadáveres de pobres e flagelados pelo governo que ele defendeu.


O protagonista foi índio contra portugueses, esteve na balaiada e testemunhou o nascimento do cangaço, foi preso político na ditadura até chegar a uma posição de conforto na sociedade (momento em que pensa duas vezes sobre sua missão), mas lá está também Janaína e o destino deles é lutar lado a lado. É emocionante ver essa linha do tempo narrada pela visão de quem sempre perdeu a batalha. Dá outra perspectiva no sentido moral. Será que a maioria defenderia tanto assim o sistema se soubesse que não passa de gado para a classe dominante? Será que os capitães-do-mato de nossa sociedade tentariam ser aceitos como heróis da moralidade se soubessem que não passam de escravos domesticados? Acho que sim, mas a luta continua, muito tem a se fazer até que nossa sociedade seja realmente consciente do mundo à sua volta.


Sendo assim, eu mais que recomendo Uma História deAmor e Fúria, como entretenimento, filme de ação e...er... amor e fúria (dahhh!!!) e também como um tostãozinho de lição história pelo ponto de vista contestatório. Se você é leitor da Veja ou tem uma foto do Bolsonaro no seu criado-mudo, passe longe, você não vai querer saber mais do que ‘Brasil é campeão’ em nossa sociedade. Mas se você tem um cérebro atento e gosta de pensar, vá e não tenha medo. Eu, na verdade, fiquei até com a sensação de que uma hora e quinze foram muito pouco. Tinha que virar série regular, fazer uma HQ, continuação, vídeo game, sei lá... Foi uma grata surpresa ver o cinema nacional produzir algo de tão bom gosto, bem feito e ainda com um conteúdo histórico e reflexivo sobre nossa sociedade.



sábado, 23 de março de 2013

Resenha: Vai que Dá Certo



Um rápido apanhado sobre a história



Vai que Dá Certo é a história de Rodrigo e seu fracasso financeiro. Ele é um músico de barzinho casado, em torno dos 30 anos que se vê na pindaíba total quando falta ao trabalho pra farrear com seus amigos de colégio no futebol de final de semana. Sua esposa descobre e o expulsa de casa. Ele percebe que está completamente no vermelho, algo muito diferente do que sonhava em sua adolescência. Assim, ele tenta arrumar um emprego de motorista na transportadora de valores em que trabalha seu primo, Danilo (Lúcio Mauro Filho).

Acontece que Danilo também está insatisfeito com sua vida financeira e planeja um golpe, mas precisa de gente de confiança pra perpretá-lo. É aí que entra (UIA!) Rodrigo, que por sua vez, traz Tonico (Felipe Abib) e os irmãos Amaral (Fábio Porchat) e Vaguinho (Gregório Duvivier) para o grande intento. Danilo tem tudo muito bem planejado, mas não contava com seus comparsas de meia tigela pra executarem seu plano de forma extremamente inesperada. Agora eles vão ter que se virar na frigideira quente pra pagar dívidas com um cara barra pesada, se esgueirar da polícia e tentarem resolver suas vidas. Até mesmo recorrer a seu amigo das antigas, o rico deputado Paulo (Bruno Mazzeo).

Percepções acerca do filme


É um filme de humor nonsense, muito puxado pra Os Normais 2, pelo menos, no que diz respeito a ser uma sequência de acontecimentos inesperados e piadinhas, com o mérito de investir numa comédia de ação. Aliás, o filme é muito movimentado, então, não necessariamente você vai gargalhar o tempo todo, mas ele te instiga a ficar ligado com o pensamento "caracoles, como eles vão sair dessa?" e isso, amigolhes, pra mim, é o mais importante num filme: Manter o interesse do espectador curioso pelo final.

Não vá achando que vai ser só mais uma comédia romântica ou um episódio extenso de Porta dos Fundos, o filme é um thriller com humor (cruel até, às vezes) mas de forma leve, nada que se tenha pena ou raiva, é uma comédia assumida, não leve lenços. E, particularmente, eu acho que o que vale muito positivamente no longa é a fuga do lugar comum, claro, o elenco é todo conhecido da Globo e o humor físico é gritante é uma característica pulsante nessa nova geração de comediantes (menos os americanizados incorretos incorrigíveis), mas é uma comédia doida com sequências inesperadas e quase que gratuitas.

Gosto muito do modo como o diretor Maurício Farias leva a produção de um jeito que parece até que os personagens existem mesmo. O elenco, de uma forma geral, soa muito natural e convence como uma turminha dos tempos de colégio. Clichês, há, como os personagens masculinos serem imaturos ao extremo com uma minoria feminina centradad e madura mentalmente pra fazer o contra-ponto, mas é muito divertido o modo como o filme lida com isso. Quase uma auto-sátira.

O problema mais gritante, pra mim, na verdade, é uma questão de ponto de vista. Eu sou carioca, da capital e sei que meu sotaque é característico, mas não há só um tipo por aqui. Não ficamos no balanço entre o carioca funkeiro e o surfista, temos nuances diferentes, então, acho que o público paulista ou quem conhece bem o sotaque de São Paulo, pode não se sentir tão à vontade quanto o jeito de falar do elenco. Eu, como carioca que sou, não me incomodei, mas é perceptível que cada um deu um caminho pro seu "paulistês", ficando o resultado bem caricato, mas não achei que fosse uma provocação de carioca contra paulistas, como vi em outra resenha.
Na verdade, há uma explicação, Maurício Farias teria mudado o cenário do filme do Rio de Janeiro pra São Paulo porque percebeu que desde a concepção do roteiro, em 1994, até sua conclusão e filmagem, muitos e muitos filmes já se passaram na Cidade Maravilhosa, então houve a mudança. Nada que desabone o filme e não há piadas sobre o estado, pra se concluir que é uma zoação, na minha opinião, mas respeito quem se sinta incomodado, afinal, cada um tem um ponto de vista, mas tento me colocar no lugar alheio pra imaginar.

Conclusão: Essa bagaça é boa?


É, não é de se rir o tempo todo, mas é de se rir muito. "Ah, mas eu sou chato e pra mim comédia tem que fazer rir por duas horas seguidas, e aí?", simples, peça à sua mãe pra fazer cócegas em sua barriguinha. O importante a ser frisado aqui é que mesmo nos momentos mais parados, você se diverte, porque logo depois vem uma piada ou uma cena de ação desembestada, ou até algum diálogo corriqueiro de amigos nerds que não têm assunto. É sem noção como O Homem que Copiava. Repito, o mais legal do filme é sua torcida pra que eles consigam se acertar na vida e sua adrenalina vendo como a bola de neve de trapalhadas te deixa sem imaginar o final. Aliás, o final deixa um gancho pra uma possível continuação. Será que eles têm coragem pra fazer tudo de novo?

Nota 8    

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Big: Quero Ser Grande


No filme de 1988, Josh Baskin é um garoto de 13 anos que não agüenta mais passar pelas “dificuldades” de um rapaz recém adolescente. Ele resolve usar uma misteriosa máquina chamada Zoltar para fazer um pedido e pede pra ser “grande” (claro, se ele fosse já adulto ali, teria pedido em outro sentido, mas vamos ao ponto). Surpresa! A máquina funciona e ele se torna adulto. Depois de passar por uns perrengues com sua mãe – que pensa que ele é um invasor em sua casa – ele convence seu melhor amigo, Billy Kopecki, de que realmente é seu chapa ali naquele corpo de Tom Hanks.

Ainda com a ajuda de Billy, Josh consegue alugar um apartamento e arrumar um emprego executivo para testar novos brinquedos antes de chegarem ao mercado (sonho). Ele desperta atenções por seu jeito inocente de ser (só naquela época, hoje a criançada já levaria pro paredão e chamaria de lagartixa ao som de funk pagonejo mela-cuecatário). Assim, uma colega de trabalho se apaixona por ele, mas seu amigo quer aproveitar dessas vantagens de adulto pra curtirem a tão sonhada liberdade infanto juvenil. Aí é que o bicho pega, pois, Josh percebe que não dá pra conciliar as coisas. Você não pode ser um livre ser vivente sem prestar contas e responsabilidades ao mesmo tempo.

De um lado, todos se admiram com aquele jovem de 30 anos tão entusiasmado, pois, não sabem que ele pulou uma etapa importante para a vida adulta: Justamente a adolescência, onde gradativamente se veria conciliando responsabilidades e prazeres. É interessante notar paradoxos no filme, pois, quando uma mulher conhece um cara com a mente de 13 anos, ela até se apaixona, mas critica sua imaturidade, considerando que ele não passou daquela etapa. Já com Susan foi diferente, ela amou a espontaneidade daquele cara, o desprendimento e pureza que um yuppie da idade dela não teria, sempre preocupado com negócios, esportes e sexo. Talvez ela tenha sido atraída pelo fato de Josh não ser um gavião, vai saber.






O importante do filme é a lição de que você não pode pular fases sem sofrer as conseqüências no futuro. Saca, a metáfora da borboleta que precisa juntar força por conta própria para sair do casulo, pois, se ajudarmos, ela não voa, pois, não estará preparada e com asas fortes. Quantas pessoas se negam a assumir responsabilidades e acabam por prejudicar a si mesmas por não saberem como lidar com situações, porque estavam muito preocupadas em justamente não crescer. Admiro a pureza de uma criança, mas não dá pra levarmos isso pela vida adulta sem a “poluição” externa, pois, somos muito complicados com nossas regras sociais. E não esqueçam: Nunca deixamos de ser crianças, os brinquedos é que custam mais caro.  
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