Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Susana Werner e o peso de ser mulher na sociedade


Júlio César, ex-goleiro da seleção brasileira de futebol, aceitou voltar para o Flamengo, time que o projetou, ainda na década de 1990. Essa é a notícia da seção esportiva dos noticiários. Mas, a situação envolve uma questão social aí. Ao aceitar, Júlio demonstrou fazê-lo por si só, por um desejo, uma vaidade de encerrar a carreira onde tudo começou. Sabe, aquele capricho de homem chegando à meia-idade? Então, tem o cara que arranja uma namoradinha novinha, tem o que compra um carro novo possante e, entre outros, tem o que quer se aposentar nos braços da torcida que levantou sua bola, há algumas décadas.

Mas isso trouxe consequências. Susana Werner, ex-modelo, atriz e atual empresária, fez um vídeo onde desabafa sobre a situação. Ela afirma estar bem, mas 'tristinha', enquanto a torcida do 'mais querido' está feliz. Ela informa que a decisão de retornar ao Brasil, foi unilateral, pois, segundo ela, não seria possível pensar em mudar tanto de vida depois de estabelecer a família em Portugal, onde o goleiro atuava até há bem pouco tempo. São seus negócios (ela é dona de loja lá), são as atividades dos filhos (um deles é jogador de futebol), além da própria educação dos garotos, que vivenciam um calendário diferente para o ano letivo, se compararmos o ano brasileiro com o lusitano.

Nitidamente abalada ainda com a reviravolta, Susana deixa claro que segura a barra dos negócios e da criação dos filhos enquanto o 'homem da casa' vai viver seus desejos particulares para conquistar suas vontades imediatas. O que acontece daqui a três meses? Júlio volta pra casa com um troféu de 'conjunto da obra' e avisa que agora sim, vai poder se dedicar à família? Depois que satisfizer seu ego e simbolicamente 'gozar' de seu desejo viril, ele volta? Ou ainda acharia legal que a família é que se deslocasse inteira da Europa para cá (RJ)? Ou, ainda, será que ele está feliz assim? Tipo, cachorro muito tempo na coleira (que é coo muitos veem o casamento e as responsabilidades com a família).

Enfim, o recado foi dado, Susana mostrou ser a mente pensante da família e a pessoa que leva em consideração as vidas e opiniões de quem está à sua volta. Só sinto muito por ela, que ela peça 'desculpas' no vídeo ao dizer que 'homens são egoístas', ainda tentando explicar não ser feminista (como se ser feminista e dizer que homens supervalorizam seus egos fosse algo errado). Sim, nós homens, somos egoístas e isso não é só isoladamente comportamental, é um hábito, um senso comum, uma tendência cultural. E precisa mudar. E é aí que entra o feminismo, também.

Vamos lá, quem é acostumado, desde criança, a brincar como se cuidasse de uma criança (boneca) ou emulando afazeres domésticos (casinha)? Sim, a menina/mulher. O menino/homem que brinca assim, será alvo de olhares e comentários estranhos da maioria dos adultos e de muuuitas outras crianças que vão aprendendo cada um em suas casas a reproduzir essa bizarrice travestida de normalidade. Então, não me surpreende que aprendamos que as meninas têm que tomar conta de casa, lavar, passar, cozinhar, cuidar de filho e que os meninos devem ir para a rua, brincar de bombeiro, astronauta, policial, cowboy ou qualquer coisa que não seja 'de menina'. A noção do brincar para meninas sempre envolve a responsabilidade que herdará da mãe, já o menino, esse é pra sair e se divertir. No caso do exemplo do texto, é pra largar tudo em Portugal e jogar bola com os amigos no Rio de Janeiro.

Fico pensando que Susana é até uma sortuda. Não, não vou relativizar sua vida com a de ninguém, porque apesar de não ser o fim do mundo, ver uma pessoa tão próxima simplesmente mandar um 'valeu, vou ali fazer o que eu quero e você segura as pontas por aqui' é pra devastar um coração. Mas só vamos tirar um minutinho pra lembrar de todas as moças periféricas, pobres, negras, que nem tiveram a oportunidade de construir um patrimônio com seus companheiros e já foram abandonadas com os filhos e, talvez, a casa para cuidar. Muitas vezes essas moças já cresceram nessas condições, ajudando mães a criar irmãos e filhos e vendo marmanjos indo embora geração após geração... Enfim, só pra meditar mesmo, mas entro nesse assunto outra hora.

No mais, fiquemos solidários a Susana Werner e seus filhos e nossos votos de que tudo é uma lição na vida. Ela supera. Como eu disse, muitas não conseguem nem montar uma casa pra criar seus filhos sem marido, então, ter negócios e um patrimônio em Portugal deve ajudar, pelo menos, na parte material. Que bom que ela tem pelo que ficar onde está. Não está sem eira-nem-beira, a dor é no coração e na confiança em quem deveria zelar pelos seus. Mas não tiremos a responsabilidade de Julio Cesar, muito menos vamos amenizar o peso de suas atitudes com o clássico 'ele é homem, é assim mesmo'. Lembrem-se que o maior ídolo do futebol mundial, Pelé, tem uma terrível mancha dessas na vida, ao abandonar uma filha que ele não reconheceu nem com exame de DNA comprovando a paternidade. A mulher já faleceu e nem os netos o cara enxerga. Vergonhoso.

 Julio Cesar pode ser egoísta e isso pode ser muito influenciado pela cultura machista em que vivemos. Nem todos se desconstroem, e nem todos se conscientizam, mas o machismo não mata apenas na parte da violência. Será que se Susana é quem fosse tentada a satisfazer um desejo imediato do ego e largasse o cara com as crianças e o emprego, ela seria vista como um motivo pra festejar? Não! Ela seria execrada por ser uma mãe que não pensa nos filhos antes de tudo. Assim deveriam ser os homens também. Na hora de posar de macho-alfa, todo marmanjo parece ter entre as pernas a razão da própria criação do universo. Na hora de declinar um convite inútil simbólico pra continuar ganhando em euro na cidade onde sua família é estabelecida e bem sucedida... aí, bem, aí, o meninão quer brincar com aquele seu carrinho de bombeiro na rua, enquanto a menina 'brinca' de casinha.


Agora veja o que essa atitude do goleiro pareceu:



Fontes: https://noticias.r7.com/prisma/tres-pontos/o-pito-publico-de-susana-em-julio-cesar-e-uma-licao-para-os-homens-30012018

http://www.virgula.com.br/famosos/susana-werner-chora-e-reclama-que-goleiro-julio-cesar-abandonou-a-familia/


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Justiceiros, Fascismo brazuca e a inocência de justiça social humilhando um pivete


Menor com histórico de infrator é espancado e preso nu, pelo pescoço a um poste no Flamengo. Artista plástica que o encontrou – assim como todos nós que prezamos pelas vias judiciais definidas em código legislativo soberano – resistência por parte daquele tipo de conservador que lambe as botas da ditadura, aquele que segue alinha Bolsonaro “bandido bom é bandido morto”.

Bem, Yvonne Bezerra de Melo, que fundou e coordena o Projeto Uerê – escola modelo para crianças e adolescentes com problemas de aprendizados originários de traumas – encontrou o jovem – que aparenta 16 a 18 anos – e chamou os bombeiros. Ao fazer as fotos do rapaz e publicá-las denunciando os maus tratos a um ser humano – que pode ou não ser inocente neste caso, mas quem decide isso não é você ou eu, é a justiça – ela recebeu desaforos e até ameaças.


Isso demonstra como os tais ‘justiceiros do Flamengo’ têm apoio na própria classe social, a elite e sua puxa-saco (ou seria puxassaco?) direta, a classe média, que já usavam a voz do fascismo e do ódio ao pobre em diversos meios de comunicação (com total credibilidade desde o boimate e outros), agora também têm um braço armado com soco inglês, os tais justiceiros. Como eu disse no Facebook, amarrar “bandido” juvenil pé-de-chinelo na marimba e jogar por cima do fio do poste é mole, atacar pitboy em área nobre, quadrilha de estelionatário de condomínio de luxo ou traficante fortemente armado, eles não vão, então, são mais uma extensão do velho hábito de queimar mendigo numa certeza elitista de que ninguém vai se importar. Ninguém comprovou se o garoto estava mesmo praticando NAQUELA HORA algum crime, mas foi alguém se levantar pra defender e a vontade de exterminar o pobre explodiu.

Veja bem, a questão aqui não é defender direitos humanos pra humanos direitos (tenho visto muito conservador fazendo seu papel de replicar o pensamento de seus meios de comunicação engessados), é uma questão de prática. Comprovaram que o jovem tem passagens pela polícia? Ok, mas passagem pela polícia não fez de ninguém um eterno suspeito, do contrário atletas e artistas soltos aí estariam levando dura e cadeado de bicicleta no quengo a cada aparição na TV. Agora, me diz: O que esse ato “simbólico” fez pela segurança pública, além de destilar o ódio ao pobre, ao miserável? Os justiceiros poderiam ir lá até o governador e cobrar um trabalho efetivo da polícia na região do Flamengo? Não, preferem alimentar o ódio cego que faz os imbecis acharem que querer um pouco de justiça é tratar os outros como coitadinho, como se seu ódio é que fosse o natural. Aberrações.

Tenho certeza de que essa tchurminha esnobe estilo “rolezinho é o caralhx, adolescente pobre é vagabundo”, que adora ver a morte de um marginal não pensou nisso. Já veio com o discurso pronto de que tem que matar o meliante, mas não tem cérebro pra pensar na aplicação prática disso sobre a segurança pública. Se isso fosse algum tipo de solução, eu apoiaria, se fosse em confronto com a polícia, eu nunca iria contra a autodefesa, mas foi um ‘arrocha’ pra cima de um garoto, nada que as gangues de valentões de filmes adolescentes estadunidenses não façam. “(...) Eu só ando com a galera e nela eu me garanto / só que quando estou sozinho, eu só ando pelos cantos (...)”. Essa é uma ilustração feita por Gabriel, O Pensador em Retrato de um Playboy, de 1992, acho. Confira mais:

“(...) Não tenho cérebro, apenas me enquadro no sistema
Ser tapado é minha sina, ser playboy é meu problema
Faço só o que os outros fazem e acho isso legal
Arrumo brigas com a galera e acho sensacional
Me olho no espelho e me acho o tal
Mas não percebo que no fundo, eu sou um débil mental”.

Agora me diz, isso vindo de um cara que nasceu em berço de ouro, mas andava com a rapaziada da favela, não foi certeiro? Essa canção me faz pensar naquela minha teoria particular de que politicamente correto é justamente o conservador, que faz e fala tudo que seu mestre mandar. Mestre, entenda por sistema dominante. Se ele fosse contra o sistema, como nós, aí, ele seria INcorreto, pois estaria propondo modificações nos velhos paradigmas.

Bem, a questão é que as pessoas conservadoras, como era de se esperar, reduzem a discussão a algum ponto genérico e acéfalo, a ponto de não chegar a lugar algum. Pra trollar mesmo a conversa, por falta de quórum intelectual de sua parte. Talvez, por saber disso, no fundo do coração, elas se contorçam feito vampiros, diante de uma gorda cabeça de alho, quando alguém tenta explicar que a questão social tem mais camadas. Se tentar contestá-las, prepare-se para uma enxurrada de impropérios do tipo “tá com pena, leva pra casa”, “bota ele pra namorar sua filha” ou “militante de esquerda nojenta” (sobre essa última, eu nem sou filiado a partido político, apesar de saber que o que eu faço também é política... social e não aquele jogo de interesses).

Então, as pessoas vão se tornar a menina do Exorcista quando você tentar levar a conversa para um debate sobre como resolver a criminalidade na Zona Sul carioca ou em qualquer outra região do Brasil, mas eles não têm profundidade intelectual pra isso, lembra? Então gritam, esperneiam e conseguem confundir a defesa pelos trâmites legais e a cobrança da Administração Pública para isso com “peninha de bandido”. Eu não tenho pena de bandido, mas também sei que aquele tipo agredido é bem o que o sistema faz, não é o frio e calculista corrupto, nem é o matreiro golpista, ou a galera organizada que pratica fraudes em você. Pena de morte resolveria? Não, se resolvesse, não haveria criminalidade em diversos países. E matar bandido faria exemplo para  os outros, mas não faz, então não é falta de porrada, nem de tiro, percebe?

Vai adiantar mais a gente cobrar efetivamente policiamento e orientação educacional ou cortar pescoços por aí? Muita gente que se diz pobre – mas é de classe média – é teleguiada inconscientemente a odiar o pobre, só esperando ele fazer uma besteira pra dizer “olha lá, tem que morrer mesmo”. Agora não se fala em “SOMOS TODOS HUMANOS”, começa uma cagação de regra sobre o que é humano direito, vindo de gente que, com certeza, já praticou alguma merdx por aí. Seja um adultério, um uso de algo ilegal (drogas, produtos piratas), já desejou o mal a alguém, já deixou de ajudar um necessitado, enfim... Quem decide quem é direito? O critério é apenas a independente opinião da grande mídia? Quem vigia os próprios vigilantes? Quem julga os justiceiros?

Continuamos a acender uma vela pra deus e outra pro diabo, quando se critica o governo por não atender ao pobre, mas deseja-se a morte desse pobre, quando não anda na linha. Nenhum morto em favela tem ficha limpa, já repararam? Até que se comprova depois a inocência de alguns, mas aí, a tática Veja de “melhor pedir desculpas do que pedir permissão” já faturou uns trocados sobre o sangue do pobre. A quem interessa que o pobre vá para o presídio ou para a cova cada vez mais jovem? Redução de idade penal? Resolve a criminalidade também? Cadê o Amarildo? O genocídio pelo gene social da pobreza está acontecendo, então eu te pergunto: O fascismo naturalizado do brasileiro está surgindo, ou só ficando visível?


Aí, eles vêm com o papo de que ninguém chora a morte de policiais, ou outros trabalhadores. Caras, que babaquice! Claro que se mobiliza também, mas também não se vê esse povo fascista lá. Isso porque só falei no âmbito do fascismo, se eu falasse a palavra R, ia ter mais gente vindo só pra desqualificar isso, como se eu não percebesse as tentativas de se desviar da visão ampla da coisa. E o pior, é que tem um monte aí que adora O Rappa, por exemplo, Bob Marley, Plebe Rude e mais inúmeros artistas que cantam a necessidade de justiça social, mas estão cuspindo fogo nesse momento pra que se extermine, pegue, mate e esfole a pivetada. Analistas do nosso sistemas, huh?

Nota de última hora: Raquel Shaerazzade falou mesmo que o acontecido foi um símbolo de autodefesa coletivo? Caras, essa moça é o Gentilli do jornalismo... Agora que o SBT tem os dois em seu cast, bem que poderiam combinar de um deles usar voz de homem pra destilar seus preconceitos. 


quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O Abomineve Tiago das Naves


Todo mundo sabe que certas coisas ainda são empurradas para a população mascaradas pelo romantismo de tempos - e situações - que não vão voltar. Assim é com o carnaval, que as pessoas ainda acham que depende exclusivamente da beleza e organização do estilista que comanda as escolas de samba, ou os blocos de rua que estão virando micareta sem muita relação com a cultura popular, enfim... deu pra entender, né?

Assim é o futebol, que a população pegou esse maldito hábito de idolatrar pessoas que correm para chutar bolas (UIA!), a publicidade - e os clubes - vão transformando boa parte dessas pessoas em milionários sem humildade, mas com muita vontade de esbanjar e ostentar aquilo que não tiveram em suas pobres infâncias e é aí que vemos como alguém se revela diante do brilho do ouro.

Tiago Neves, o "herói" (vejam, aspas se amigando à ironia) recém-anunciado pelo Fluminense é um exemplo claro de como o antigo amor à camisa é variável de acordo com o peso da sacola de moedas que se chacoalha.

Começa assim, o referido jogador, em plena concentração com a seleção olímpica, dá uma entrevista onde explica como se sente diante de tantos colegas que atuam na Europa. Ele explica algo como "os caras falam de Real Madrid, Barcelona, Milan... vou falar de Fluminense?". Mesmo não torcendo pelo tricolor, isso me incomodou bastante.

Depois, uma vez que trocou para o Flamengo - após esnobar o Fluminense, ir para o exterior, não se firmar e voltar, de novo - aí, o bravo guerreiro da bola lança a suave tijolada: "Com o outro time, só batia na trave (...) E o Flamengo é um time acostumado a vencer (...)".

Agora é comemorado depois de o tricolor se valer de uma brilhante atuação no papel de mulher de malandro (apanha, mas sempre volta a procurar o gostosão que lhe humilhou), mas sempre há o argumento do amadurecimento, que a cabeça é outra, que está disposto a melhorar e toda aquela baboseira - que é bem melhor do que o desdém citado anteriormente. Então, O Fluzão fez de novo, e ninguém agora chora. Certo? ERRADO! Dessa vez é o Flamengo que reclama, tipo como foi com o Ronaldo Empresário, promessas e fugas pela porta dos fundos.

Eu ainda poderia ficar divagando sobre o paradoxo de se dizer que um clube é maior do que uma pessoa, mas clubes são paredes e equipamentos feito por pessoas, mas as pessoas acabam indo embora por interesse, questões de saúde, política ou qualquer outra coisa. Mas isso fica para outro post.

Beijos no cérebro!
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