Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

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terça-feira, 8 de outubro de 2019

Phellipe Haagensen, assédio sexual e masculinidade tóxica


Nem vou enrolar pra dar o recado deste texto: Phellipe Haagensen, recém-expulso do reality A Fazenda (da emissora do bispo/rei/cavalo), envergonha a todos nós, homens. Sobretudo, os negros de regiões periféricas. Mas vou ficar atento, aqui, ao plano geral 'homem/mulher': Ele deu muita sorte que a sociedade é machista e passa o pano legal para as atitudes que teve durante sua - graças - curta participação na telinha desta edição.

Ele se focou em Hariany Almeida, ex-BBB, para assediar com tudo que aquele babaca da balada faz em todo carnaval, festinha de rua ou boate da moda: Olhou para ela e sussurrou como quem se masturba mentalmente, distorceu a realidade em sua mente tacanha pra parecer que ela é que estava "pedindo" ou provocando seus sentidos e, culminou com um selinho roubado durante uma discussão que nem tinha qualquer apelo afetivo/sexual. Ficou na cara que se não roubasse o beijo ali, poderia ter se esfregado ou até agarrado a moça a qualquer outro momento.

Ele já tinha falado de outras participantes, insinuando que os caras deveriam ter cuidado com tal participante por ter ficado com não sei quantos antes de entrar ali, fez comparações grotescas entre mulheres e galinhas e qualquer outro comportamento nocivo à sociedade. Seu irmão, o também ator, Jonathan Haagensen, inclusive fez postagens no twitter e conversou com a imprensa, no Rock in Rio, sobre o ocorrido. Nessas oportunidades, o eterno Cabeleira, de Cidade de Deus, criticou o eterno Bené (personagem mais legal que seu intérprete).

Jonathan disse que as atitudes de Phillipe são típicas de um bolsominion, aquele machistão legitimado pelo discurso do atual presidente do Brasil, que justifica qualquer atitude autoritária do homem sobre a mulher, do rico sobre o pobre, enfim, um amante/viúva sodomita da ditadura que quer compensar sua mediocridade humilhando e oprimindo quem já é historicamente oprimido. É aquela criancinha babaca que faz tudo que quer porque o pai deixa e os coleguinhas ganham um alvo pra odiarem até a fase adulta.

E, a exemplo do babaca do final do parágrafo anterior, o babaca da vida real continua sua vida tal qual o conceito do pombo enxadrista. Aquele que diz que não importa quão talentoso e esforçado você seja pra jogar xadrez contra um pombo. A ave vai cagar tudo, derrubar tudo e sairá voando de boas sem noção da merda que fez. E você lá, estressado que a performance não foi apreciada. Deixa eu falar o que eu entendo disso em relação a assédio e masculinidade tóxica.

É assédio porque ele agiu como se fosse dono de um corpo que não é o dele mesmo. Atacou a moça. Não importa se foi com um simples selinho ou se fosse com um facão coagindo-a a se curvar às suas neuroses. É violência contra a mulher. Atacou, configurou o assédio, tal qual seria, nas próprias palavras da Record, se fosse o caso de uma encoxada, mão boba, etc... A mulher não é um brinquedo que o cara se aproveita de estar perto pra usar sem permissão.

Isso aí, é o típico bombado da balada, puxando cabelo, braço e tentando beijar à força. Já vi muita amiga até ceder na hora só pra não acabar agredida pelo bêbado com sentimento de rejeição. Já vi também algumas que foram agredidas depois de darem negativas a esses monstros. É covarde e demonstra a sensação de poder que o machismo dá ao homem. Ele acha que pode mexer com a mulher, tocar seu corpo e obter seu prazer imediato sem culpa ou sem medo de punições. "Vai lá, denuncia lá" e "que polícia?" foram comentário de Phillipe diante das ameaças de denúncia que Hariany fez, ainda em choque pelo gesto abusivo que acabara de sofrer.

Depois, correu pra pedir que fosse o mais votado pra sair do programa sem ter que desistir. Como se já não previsse a bola de neve que acabara de iniciar, tentando infantilmente parecer que tinha feito tudo de propósito. Babaca, babaca, babaca! E ainda tem mais, o cara meses antes, ainda esse ano, já foi denunciado pela ex por agressão na Delegacia de Apoio à Mulher. O cara ameaçou a ex-mulher na frente do filho mais velho pra não ter que pagar pensão. Já sentiu o drama, né? O padrão estabelecido.

Um cara que fica reduzindo a mulher a um objeto sexual pra sua própria masturbação assistida já é bem pouca coisa na vida. Agora, tem o padrão que ele segue. Ele diminui a mulher pra ela não ter condições psicológicas de perceber que ele é que não vale nada. A sensação de que a pessoa consegue coisa melhor fácil deixa o cara em desespero e ele faz aquele jogo mental doentio: Primeiro, faz ela gostar dele e na chantagem emocional, começa a manipular sua mente. Depois de ser claramente abusivo, faz o papel do coitado, vítima das circunstâncias e que vai melhorar.

Mas não melhora. E estamos vendo o tipo por aí, toda hora um feminicídio, um desaparecimento, uma separação que não é aceita, uma DR que termina mal, toda hora uma família diferente falando que o cara sempre parece perigoso ou que a mina tinha medo do companheiro e essas coisas... Não estou dizendo que todo babaca assediador é um assassino em potencial, mas a sociedade legitima a muitos pensarem que isso está certo. Inclusive, o jovem Haagensen, chegou a dizer, ao sair da produção, que nem todas as mulheres merecem flores, deixando claro que em algum nível, acha justificável que se destrate ou degrade uma mulher, porque, pra ele, tem as que merecem respeito e as que não.

Quem não merece respeito é esse rato doente.


Fontes:








quinta-feira, 25 de abril de 2019

Machismo: Quadro do Aeroporto (Zorra Total)



Um dia, não muito tempo atrás, relativamente (em torno dos anos 2000), achou-se engraçado criarem um quadro no Zorra Total onde seguranças de um aeroporto simulavam o som de um detector de metais pra forçar alguma modelo a tirar suas roupas para se "certificarem de que não havia risco de armas".

Não bastasse o chefe da segurança levar a modelo para uma área de nítida conotação sexual do lugar, a modelo, além de passar a gostar da proposta (porque é assim que funciona, na cabeça deles, né?), o esquete ainda é seguido de uma mulher gorda, mal maquiada e de aparência de mais idade (ou seja, tudo o que eles acham menos atraente) se oferecendo pra uma revista. Preciso dizer que isso é um passo pro "pensamento" de que mulher feia tem que agradecer assédio/estupro?

Nem cabe dizer que "naquele tempo era assim", porque em termos gerais isso não tem nem duas décadas. E tempo é algo fluído, não tem um ano específico em que algo era aceito ou que era questionado. E mesmo que não fosse questionado, é ruim mesmo.

Se não houvesse o mal gosto de tornar mulheres meros objetos sexuais (ou tentando ser), era sem graça mesmo. Isso que dá basear um conceito deturpado de humor em programas de décadas antes com mentalidades de séculos anteriores.

E nem mencionei ainda o pai que pergunta inconformado onde foi que errou na criação do filho por este ser gay. Mas eu volto nesse assunto outra hora.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Susana Werner e o peso de ser mulher na sociedade


Júlio César, ex-goleiro da seleção brasileira de futebol, aceitou voltar para o Flamengo, time que o projetou, ainda na década de 1990. Essa é a notícia da seção esportiva dos noticiários. Mas, a situação envolve uma questão social aí. Ao aceitar, Júlio demonstrou fazê-lo por si só, por um desejo, uma vaidade de encerrar a carreira onde tudo começou. Sabe, aquele capricho de homem chegando à meia-idade? Então, tem o cara que arranja uma namoradinha novinha, tem o que compra um carro novo possante e, entre outros, tem o que quer se aposentar nos braços da torcida que levantou sua bola, há algumas décadas.

Mas isso trouxe consequências. Susana Werner, ex-modelo, atriz e atual empresária, fez um vídeo onde desabafa sobre a situação. Ela afirma estar bem, mas 'tristinha', enquanto a torcida do 'mais querido' está feliz. Ela informa que a decisão de retornar ao Brasil, foi unilateral, pois, segundo ela, não seria possível pensar em mudar tanto de vida depois de estabelecer a família em Portugal, onde o goleiro atuava até há bem pouco tempo. São seus negócios (ela é dona de loja lá), são as atividades dos filhos (um deles é jogador de futebol), além da própria educação dos garotos, que vivenciam um calendário diferente para o ano letivo, se compararmos o ano brasileiro com o lusitano.

Nitidamente abalada ainda com a reviravolta, Susana deixa claro que segura a barra dos negócios e da criação dos filhos enquanto o 'homem da casa' vai viver seus desejos particulares para conquistar suas vontades imediatas. O que acontece daqui a três meses? Júlio volta pra casa com um troféu de 'conjunto da obra' e avisa que agora sim, vai poder se dedicar à família? Depois que satisfizer seu ego e simbolicamente 'gozar' de seu desejo viril, ele volta? Ou ainda acharia legal que a família é que se deslocasse inteira da Europa para cá (RJ)? Ou, ainda, será que ele está feliz assim? Tipo, cachorro muito tempo na coleira (que é coo muitos veem o casamento e as responsabilidades com a família).

Enfim, o recado foi dado, Susana mostrou ser a mente pensante da família e a pessoa que leva em consideração as vidas e opiniões de quem está à sua volta. Só sinto muito por ela, que ela peça 'desculpas' no vídeo ao dizer que 'homens são egoístas', ainda tentando explicar não ser feminista (como se ser feminista e dizer que homens supervalorizam seus egos fosse algo errado). Sim, nós homens, somos egoístas e isso não é só isoladamente comportamental, é um hábito, um senso comum, uma tendência cultural. E precisa mudar. E é aí que entra o feminismo, também.

Vamos lá, quem é acostumado, desde criança, a brincar como se cuidasse de uma criança (boneca) ou emulando afazeres domésticos (casinha)? Sim, a menina/mulher. O menino/homem que brinca assim, será alvo de olhares e comentários estranhos da maioria dos adultos e de muuuitas outras crianças que vão aprendendo cada um em suas casas a reproduzir essa bizarrice travestida de normalidade. Então, não me surpreende que aprendamos que as meninas têm que tomar conta de casa, lavar, passar, cozinhar, cuidar de filho e que os meninos devem ir para a rua, brincar de bombeiro, astronauta, policial, cowboy ou qualquer coisa que não seja 'de menina'. A noção do brincar para meninas sempre envolve a responsabilidade que herdará da mãe, já o menino, esse é pra sair e se divertir. No caso do exemplo do texto, é pra largar tudo em Portugal e jogar bola com os amigos no Rio de Janeiro.

Fico pensando que Susana é até uma sortuda. Não, não vou relativizar sua vida com a de ninguém, porque apesar de não ser o fim do mundo, ver uma pessoa tão próxima simplesmente mandar um 'valeu, vou ali fazer o que eu quero e você segura as pontas por aqui' é pra devastar um coração. Mas só vamos tirar um minutinho pra lembrar de todas as moças periféricas, pobres, negras, que nem tiveram a oportunidade de construir um patrimônio com seus companheiros e já foram abandonadas com os filhos e, talvez, a casa para cuidar. Muitas vezes essas moças já cresceram nessas condições, ajudando mães a criar irmãos e filhos e vendo marmanjos indo embora geração após geração... Enfim, só pra meditar mesmo, mas entro nesse assunto outra hora.

No mais, fiquemos solidários a Susana Werner e seus filhos e nossos votos de que tudo é uma lição na vida. Ela supera. Como eu disse, muitas não conseguem nem montar uma casa pra criar seus filhos sem marido, então, ter negócios e um patrimônio em Portugal deve ajudar, pelo menos, na parte material. Que bom que ela tem pelo que ficar onde está. Não está sem eira-nem-beira, a dor é no coração e na confiança em quem deveria zelar pelos seus. Mas não tiremos a responsabilidade de Julio Cesar, muito menos vamos amenizar o peso de suas atitudes com o clássico 'ele é homem, é assim mesmo'. Lembrem-se que o maior ídolo do futebol mundial, Pelé, tem uma terrível mancha dessas na vida, ao abandonar uma filha que ele não reconheceu nem com exame de DNA comprovando a paternidade. A mulher já faleceu e nem os netos o cara enxerga. Vergonhoso.

 Julio Cesar pode ser egoísta e isso pode ser muito influenciado pela cultura machista em que vivemos. Nem todos se desconstroem, e nem todos se conscientizam, mas o machismo não mata apenas na parte da violência. Será que se Susana é quem fosse tentada a satisfazer um desejo imediato do ego e largasse o cara com as crianças e o emprego, ela seria vista como um motivo pra festejar? Não! Ela seria execrada por ser uma mãe que não pensa nos filhos antes de tudo. Assim deveriam ser os homens também. Na hora de posar de macho-alfa, todo marmanjo parece ter entre as pernas a razão da própria criação do universo. Na hora de declinar um convite inútil simbólico pra continuar ganhando em euro na cidade onde sua família é estabelecida e bem sucedida... aí, bem, aí, o meninão quer brincar com aquele seu carrinho de bombeiro na rua, enquanto a menina 'brinca' de casinha.


Agora veja o que essa atitude do goleiro pareceu:



Fontes: https://noticias.r7.com/prisma/tres-pontos/o-pito-publico-de-susana-em-julio-cesar-e-uma-licao-para-os-homens-30012018

http://www.virgula.com.br/famosos/susana-werner-chora-e-reclama-que-goleiro-julio-cesar-abandonou-a-familia/


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Assédio não é uma inocente cantada


A cultura do assédio é tão naturalizada que muitos nem sabem diferenciar um flerte de um assédio.
É só se questionar se você está dando opção à pessoa de dizer não e seguir com a vida.
Se você tenta controlar a decisão de modo a parecer que a pessoa te deve obediência... Já passou do flerte no primeiro não. É assédio há tempos essa 'conversa.'

Homens têm muito isso programado pela sociedade, essa ideia de que o não quer dizer sim e que a mulher só diz não pra fazer o cara persistir até ela ceder. Olha, num flerte, há troca, a coisa é correspondida, as cantadas vêm dos dois lados. Se um cara acha que precisa puxar o braço da mulher, mexer em seu cabelo ao passar por ela numa balada ou ficar ‘sufocando’ a garota, então, esse cara é um assediador – e possivelmente um sociopata.

Vemos sempre notícias do tipo que um cara agride uma mulher porque ela disse não, aí, o cara se ‘justifica’ dizendo que ela que provocou (com roupas, gestos e supostos olhares) e não sabe que muito antes da agressão, ele já agia feito um opressor/agressor/predador. O corpo é dela e a cabeça é dela, parceiro. 

Se ela não quer, não rola. Imagine um machão desses sendo assediado por um outro homem, por exemplo. Rapidamente o machinho quer até brigar, porque acha um absurdo. São origens diferentes, mas é a mesma situação: Alguém querendo ser dono de você quando você quer continuar com sua vida sem esses malas incomodando.

A cultura do estupro, a cultura do machismo, do assédio, é tudo página diferente do mesmo livro social que condena a mulher a tudo e safa o homem de tudo desde de imemoriáveis tempos, porquestão de religiões que enaltecem homens como os grandes provedores da humanidade e as mulheres como as que ou traíram ou foram submissas.


Precisamos combater isso e precisamos também – muito – falar isso entre nós, homens. Questione-se se você se incomoda e porque esse assunto te incomodaria, pois, se você não vê necessidade de se achar soluções para lidar e punir o assédio, talvez seja parte do problema. Reflita!

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Feminismo não é o contrário de machismo





“Machismo significa a concepção de que mulheres são subordinadas aos homens. O feminismo, por sua vez, não é o contrário de machismo. O feminismo não supõe que homens são subordinados às mulheres, mas que homens e mulheres são iguais.”
-Mario Sergio Cortella


Se você acha natural que haja ‘tarefas masculinas’ e ‘tarefas femininas’, moçx, você é machista. “Ah, dirigir é coisa pra homem”, ‘ah, cuidar dos afazeres domésticos é pra mulheres’... olha, isso tudo, sinto muito te diagnosticar com péssimas notícias: Você é machista.

Bem, não fica muito pra se explicar depois das sábias, simples e diretas palavras do intelectual Mario Cortella (não á toa, é um dos mais respeitados do Brasil). Mas eu sou teimoso e vou falar mesmo assim, porque tem pontos que as pessoas simplesmente não entendem, ignoram e mesmo assim querem sair por aí cuspindo opiniões. Opiniões, óbvio, sem a menor base de conhecimento pra tanto. Mas como eles não se envergonham, a gente ajuda a diminuir o constrangimento alheio.

Algumas das questões que mais vejo por aí, vou responder, até porque , enquanto homem de uma sociedade machista, não passei imune por alguns desses exemplos que vou citar, ou seja, conhecimento de causa na ignorância que o senso comum me proporcionou e, graças ao bom universo, mandei pro caixa-prego. E tudo começa numa mesma frase:

Feminismo é machismo ao contrário?


Essa é a mais clássica. É dessa raiz que saem aberrações do pensamento humano como ‘negros são os mais racistas’ ou ‘usando essa saia curta, depois não reclama de ser assediada’. É o ser humano maldoso que não quer se ver no lugar questionado, acha que está certo colocando o erro no coleguinha. Mas vamos lá:

Machismo é um sistema. Há milênios, a humanidade era repleta de sociedades comandadas por mulheres, sociedades matriarcais, sobretudo na África. O que aconteceu, foi que em algum momento, o patriarcado (domínio de homens) subjugou as mulheres e assumiram na base da força o comando das decisões da sociedade e, pra isso, diminuíram, ou melhor, rebaixaram a mulher de qualquer posto de comando.

Aí, entrou em vigor o tal sistema. Não é só uma opinião quando você acha que mulheres lavam e passam roupa melhor, é fruto desse sistema de condicionamento da mulher a uma posição subalterna. Quem nunca viu uma mulher ser questionada ao chegar a um cargo de supervisão, presidência e afins? “Tinha que ser mulher”. E esse sistema questiona a mulher em posição de liderança, coloca ela como a barraqueira, quando é contestadora, atribui seus problemas emocionais à TPM, diz que ela não pode assumir muitas responsabilidades fora de casa porque seus hormônios a farão passional e isso prejudicará suas decisões... Enfim, deu pra sacar, né?

O machismo, por outro lado, favorece o homem em questões inúteis e estúpidas. É como se o machismo fosse aquele grupinho de meninos formando um clubinho onde não entra meninas, mas como se trata de toda a sociedade, então, o homem percebe que não pode viver num mundo sem mulheres, mas formulou um jeito de fazer isso sem admitir que elas podem ser melhores na administração do clubinho gigante. Aí, reduz a mulher a tarefas domésticas, sexo e companhia calada ou fazendo elogios à masculinidade do marmanjo. E quando aceitam – ou precisam sem admitir – que elas trabalhem fora, pagam menos. Porque? É o mesmo trabalho!

As pessoas veem aqueles grupos ditos feministas de mulheres seminuas fazendo algazarra em manifestações e acham que aquilo é feminismo. Ou seja, a mulher é uma histérica, essa é a diferença pra eles, né? Sabe quando a gente não quer que a criança se arrisque a se machucar então diz que ela não vai conseguir e proíbe? É isso que o machismo faz com as mulheres. Coloca a culpa de tudo nelas. Se elas andarem um milímetro fora do que o machismo quer, o machismo as culpa.


A sociedade machista, por exemplo, aceitou que elas usassem roupas curtas, mas se usarem, estarão pedindo por assédio, estupro e não são moças direitas pra casar. Porque o caráter da mulher é medido  na seguinte maneira: Quanto mais ela fizer o que o machismo quer, mais valor ela vai ter pra ser a secretárias de cama, mesa e banho de algum marmanjo que só vai substituir a mãe pela esposa, numa das maiores ironias do mundo, que é provar ser um completo dependente de quem se quer oprimir. Mulheres se tornam receptáculos de descendentes, com direito a cozinhar e lavar nos intervalos e só.

Agora, quando uma mulher defende seu direito de ocupar o lugar que quiser (ou que não quiser, como filhos, casamento, etc), ou mesmo nem defende, mas age dessa forma, independente, aí, ela estará sendo julgada e, mesmo que não perceba, estará sendo feminista. Essa é a diferença entre machismo e feminismo:

Machismo é a dominação do homem sobre a mulher. Feminismo é a reivindicação da mulher por igualdade. Por isso, nunca existirá, na minha opinião, uma sociedade feminista, porque o feminismo é a defesa da mulher contra a opressão, enquanto o machismo sim, quer reduzir as possibilidades da mulher e torná-la mera figura decorativa.

Feminismo não prega estupro pra homem sem camisa, não diz que ele está pedindo por assédio quando bebe, se homem falar palavrão, não dizem que ele não tem modos, não defende mulheres agredindo parceiros adúlteros, não diz ‘ela não resistiu à cantada, mas ela é mulher e mulher é assim mesmo’, não prega que lugar de homem é na cozinha e outros.

Aliás, perceba como o machismo é um sistema e não uma força da natureza criada por deus (sim, religiosos conservadores medievais, estou apontando pra vocês nessa frase). O machismo é tão escroto que ele despreza o homem gay, numa visão de que um homem se comportar ‘como mulher’ é humilhante e também despreza a mulher gay, porque é uma mulher cometendo o abuso de se portar ‘como homem’. O mesmo vale para homens e mulheres trans. Ou seja, só o homem cis e hétero é que é realmente superior.

E até para homens ele é opressivo. Se o cara não agir como se estivesse num comercial do AXE, ele é desdenhado pelos outros homens-pica grossa-superior-das-galáxias. Ou seja, é bem excludente, se parar pra pensar. Reduza o grupo e você terá mais chances de ganhar a liderança um dia. E nem toquei no assunto racial, hein! Porque entre um homem branco e um homem preto, sabemos quem tem cara de médico e de presidente e quem tem cara de jogador de futebol e de bandido, né? Mas isso vai ficar pra outra hora. Por enquanto fico com minhas explanações ‘for dummies’ para homens que ignoram assuntos, mas querem falar. Mulheres também fazem isso, mas me incomoda mais homens falando. Deve ser porque eu me vejo no passado reproduzindo essas b8stas e me sinto envergonhado. Vou consultar meu psicólogo enquanto você reflete neste texto.

E se algum teimoso ainda insistir em morar na areia movediça da ignorância... Só lamento. Não discuto.


quarta-feira, 19 de julho de 2017

Hollywood e o Machismo nosso de cada dia


Moça, pode ficar na frente, eu tô ganhando mais que você mesmo.

Cada vez mais e mais mulheres estão abrindo a boca para denunciar a covardia do machismo. Seja por vias físicas (assédio/agressão), seja por vias indiretas (tratamento diferenciado) e todas com o impacto no psicológico. E é bom que mais mulheres tomem coragem para se manifestarem, pois assim servem de exemplo para outras que estejam em condições de botarem a boca no trombone também, mas podem estar oscilantes entre o silêncio e o protesto.


Para dar exemplo na importância de se expor esse mundo convenientemente escondido (para o machista), vou citar duas matérias que li recentemente sobre escândalos de denúncia de machismo em Hollywood... Sim, a terra encantada do entretenimento e da fantasia é um porão cheio de sujeira que muito se preza em esconder pra manter as aparências e ‘parecer’ legal. Bem, eu poderia apenas citar o tanto de aspirantes a artistas ou artistas falidos que apelam para drogas, prostituição e produções de procedência altamente duvidosas, mas não... vamos aos ‘faCtos’.


Hollywood, como um espelho do resto do mundo, é um antro de desigualdade para mulheres, gays, negros, idosos e outros grupos que fogem a seu ideal veladamente ariano. Veja bem que o ideal ariano é tão absurdo e descarado que até nos países onde esse tipo é minoria (cof Brasil, cof) esse tipo é adorado como o exemplo de beleza enquanto que nós, ‘outros’, somos os exóticos, feios, porém curiosos, mesmo sendo maioria... coisas de um sistema criado pela minoria e empurrado mente a baixo como quem conta uma mentira a uma criança para controlar seu pensamento, comportamento e ter sempre uma carta na manga, mas estou divagando...

A questão é que, voltando ao assunto, a mulherada tá jogando no ventilador mesmo e eu vou falar sobre isso já, já. Várias atrizes, assim como a figurinista brasileira, Su Tonani (no caso ‘Zé Mayer’), abriram o verbo sobre os abusos que sofreram. E tem de tudo, tem atriz alegando que não consegue muitos papéis porque não aceita fazer os ‘favores’ que são pedidos, têm aquelas que afirmam terem sido abusadas sem exatamente perceber – testes com exigência de nudez ou simulação de sexo – e até ameaças diretas depois de negativas femininas para os assédios.


Foi o caso de Mila Kunis (Cisne Negro) que ouviu uma ameaça de que nunca mais trabalharia naquela cidade depois de se negar a passar por uma situação humilhante. Ela denunciou e viu que não foi esse fim de mundo todo, que voltou sim a trabalhar e que não tem que se sujeitar a essas situaçõies vexatórias e degradantes para agradar a machista. Estão tão acostumados a se sentirem donos da mulher que acham que é só dizer depois que era uma piada, que era carinho e tudo segue, a mulher silenciada e devastada no psicológico e eles sorridentes que por mais uma vez sua covardia passou batida como mera ‘coisa de homem’.

Isso nos leva a outra situação que ocorre muito ali e no mundo: Diferenças salariais e de tratamento. Zoe Saldaña afirmou que ao fazer sugestões em uma produção de que participava, ela ouviu que era pra ficar calada e ser gostosa em trajes provocantes, que era pra isso que fora contratada, enquanto os homens envolvidos na situação davam seus pitacos e eram ouvidos na hora. E outros casos envolvendo estrelas também deram esse ‘mal contato’. E algumas das diferenças são absurdas, se prestarmos atenção nas mulheres com remunerações baixas, comparadas a seus companheiros de cena homens.

Dr, sinto como se houvesse um abismo entre nós... se chama diferença salarial. 

Veja só, Charlize Theron teve que brigar pra ter o salário equiparado ao de Chris Hemsworth, em O Caçador e a Rainha do Gelo. Podem me dizer que Chris é uma estrela de visibilidade por estar sob os holofotes como o Thor, da Marvel, mas É a Charlize Theron, cara! Ela ter que brigar pra equiparar um salário é tão absurdo quanto Tom Cruise e Brad Pitt ganharem o dobro que suas companheiras de cena em De Olhos Bem Fechados e Sr. E Sra Smith, respectivamente. Ainda mais se lembrarmos que suas companheiras de cena eram suas esposas, na época. Tá, no caso de Brangelina ainda era só o começo, mas... né?

Outros exemplos existem e muitos outros ainda vão acabar existindo entre A Senha: Swordfish, onde Halle Berry, mesmo com um bônus pra mostrar os seios em uma cena, ainda não chegara à metade do que John Travolta ganhou, e a recente notícia de que Gal Gadot (Mulher-Maravilha) teria ganho uns 2% do que Henry Cavill (Homem de Aço) teria ganho. A questão é: Será que essa rapaziada não poderia chegar e dizer ‘ei, porque elas vão ganhar menos pelo mesmo trabalho?’. Sei lá, não sei dos bastidores, mas é muito estranho haver diferenças milionárias entre pagamentos a homens e mulheres, eelas reclamarem, mas seus colegas não.

Linda, deixa que eu pago a sua comanda na boate. 
Concluindo: Não adianta as, relativamente poucas, mulheres abrirem o palavreado sobre o 
machismo e os colegas não assumirem a postura de apoiadores, Elas acabam falando sozinhas e muitas ficam inibidas, com medo do julgamento da sociedade e de retaliações profissionais, parecendo as chatas e os caras que deveriam dar suporte a isso, ficam ali, não sei se com medo de parecer chato junto com elas ou se estão compactuando. Aliás, acabam compactuando, não se sabe bem se conscientemente (de forma sonsa pra se manter bem com contratantes), involuntariamente (por omissão) ou se nem se interessam nessa parte do processo... Particularmente, acho que é um pouco de tudo e mais do primeiro, ficando aquela sensação de ‘farinha ‘pouca’ meu pirão primeiro’.

Fontes:

http://revistamonet.globo.com/Listas/noticia/2017/06/diferencas-salariais-entre-homens-e-mulheres-em-hollywood.html

http://revistamonet.globo.com/Listas/noticia/2017/07/atrizes-que-denunciaram-episodios-de-assedio-e-machismo-em-hollywood.html

segunda-feira, 10 de abril de 2017

José Mayer, machismo e os panos quentes da globo



Uma figurinista da Globo denunciou o ator José Mayer por assédio sexual/moral e o assunto tem ganho as manchetes, chamadas, redes sociais e Marte (ou melhor, Vênus). Ok, foi muito legal ela ter aberto o verbo sobre a situação, principalmente contra uma pessoa famosa de uma emissora mais famosa ainda. Ocorreu tudo que a gente espera, como a parte denunciada amenizando suas ações, coleguinhas defendendo e depois desmentindo o apoio quando a proporção fica um pouco maior e mais séria, a emissora dando um gelo no funcionário abusado e, por fim, o afastamento dele pra gente ver que a emissora toma atitudes corretas e éticas, mas só depois que a bomba estoura e não satisfaz mais o basicão da resposta pré-fabricada padrão: “Somos contra o que é feio e errado, somos legais e continue ligado em nós”.

Acontece que um outro funcionário famoso da emissora fez lançar uma nova luz sobre o assunto. Aguinaldo Silva, autor de novelas como Tieta, A Indomada e Senhora do Destino entre muitos outros sucessos, também abriu o verbo. Segundo o blog de Keila Jimenez, o escritor veio a público afirmar que muitos outros casos como o de Zé Mayer ocorrem na surdina e são abafados, não só pelo interesse da emissora em evitar escândalos que manchem (mais ainda) seu nome, mas também por chantagens das partes assediadas. Numa postagem recente, Silva chega a dar dicas de como se respaldar pra não cair nessas armadilhas, de possíveis vítimas ou maliciosos já interessados em fazer seu pé de meia por meios pouco ortodoxos.

Aguinaldo Silva, autor. 

Sinceramente, não sei se o autor falou em tom de denúncia ou se ele se viu no lugar do denunciado, já que muita gente tem lembrado de notícias de alguns anos sobre diretores propondo os famosos testes do sofá (saca, aquele lance de arranjar um pistolão, e não estou falando de currículo favorável), mas pouco importa neste momento. O fato é que existem mais casos por aí, como é de se imaginar numa emissora que prega subliminarmente racismo, homofobia, machismo, etc. Provas? Eu não tenho nada, só o que leio pra fazer minhas reflexões. A questão é que sim, concordo que tenham usado Mayer como bode expiatório, mas nem de longe isso faz dele algum tipo de vítima. Ele é tão vítima por ter sido afastado das produções globais quanto Sergio Cabral é vítima por ter tido a cabeça raspada quando preso por corrupção, estelionato e aquelas coisas de Paris.

Agora, o que é meio curioso é que a Globo foi prontamente afastar Zé Mayer da grade da emissora, mas não promoveu uma real punição, afinal, se fosse um Zé das couves apalpando uma funcionária de serviços gerais no trem, seria até linchado. Além de não punir exemplarmente, o que mostra que o afastamento do ator foi puramente uma medida de proteção à imagem dele e da própria globo, a emissora comprova que está cagando para a figurinista. Veja bem, a globo é tão contra o assédio sexual de seus funcionários que não pune o culpado e ainda mantém em um de seus programas mais assistidos um participante abusivo que demonstra estar a um passo de partir para a agressão física. Lembrando que dedo na cara, ameaças e gritos já são, por si só, formas de agressão.

O BBB17 está mais dando notícias do casal abusivo do que outra coisa e a globo não intervém, ou seja, está gostando do circo de horrores e da venda barata de escândalo ‘doméstico’ pra reter audiência. Nem vou cogitar ser uma tática, porque está explícito que isso é o que está movimentando o programa e a audiência, já que nada mais sai de interessante dali, numa edição que já tentou de tudo pra bombar  alcance de público e retorno de patrocinadores. Perceba que um participante usa de todos os procedimentos opressivos pra cima de uma jovem e ninguém da emissora faz nada.

BBB17: Marcos em franca atitude opressiva abusiva machista pra cima de Emily.

Vai que assim, se concretiza a profecia de que Emily seja a campeã, pra compensar a opressão que está vivendo na casa mais preconceituosa do Brasil, mas ainda seria pouco. Veja bem,  eu não assisto globo, SBT, Record nem ninguém desses, mas leio muito sobre cultura pop, acesso noticiários e muitos esbarram nessas mídias, então, acaba que não dá pra eu ficar muito longe desse universo, nem me interessa, porque nesses momentos a gente precisa ter alguma informação pra analisar.

E a minha é essa: Novelas possuem cerca de 80 atores no elenco, onde de 4 a 8 são negros e apenas uns dois desses conseguem ser escalados para protagonistas e/ou personagens com alguma representação positiva, de resto, é empregada sem passado e sem futuro, alívio cômico, amiga burra de protagonista branca (até quando a história se passa em favela) ou bandido. Também vemos que mulheres, geralmente, vivem pra arranjar um marido, por amor ou por dinheiro, gays não possuem vida normal, sendo apenas amigos escalafobéticos de heróis e vilões e por aí vai.


Então, a globo não me surpreende em apenas descansar a imagem de um ator acusado de assédio sexual. Ela mesma vem protegendo todo tipo de preconceito porque isso faz parte de sua própria postura. Sabe quando você acha que o pai vai castigar o filho levado e ele apenas diz ‘que feio, não tem viagem pra Disney esse ano’? Pois é. Protegem aos seus que protegemos os nossos. Eles são parte e apoio do sistema opressivo que vivemos.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Estudante de medicina da Bahia denuncia machismo em material de cursinho


Uma estudante de medicina tem acesso ao material de estudo de um curso para formandos que buscam prestar o concurso de residência médica e se especializarem. Ao se deparar com o tal material, ela considera que o conteúdo da matéria de ginecologia e obstetrícia é extremamente sexista, associando características da saúde da mulher com comportamento libertino e até ilustrações indicando 'nojinho' de médico em relação a um problema de saúde na região íntima feminina.



A Deputada Fabíola Mansur, movimentou moção de repúdio ao material. Já o curso respondeu à estudante, Heloísa, que sua abordagem apelaria ao 'lúdico' e não acataria a "agenda do politicamente correto" e que não iria pedir desculpas pelo material, considerado ofensivo. Apenas iriam tomar cuidado pra não utilizar esses exemplos novamente, para evitar mais "mal entendidos".


O conteúdo foi considerado machista porque associa comportamento de mulheres a doenças e o modo como pessoas se relacionam - ou não - com elas em decorrência dessas condutas que levariam a doenças e reações de terceiros.



Fontes:





segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Malandramente, ela não é obrigada a nada, mané!



Malandramente, de Dennis DJ, Nego Bam e Mc Nandinho é um sucesso instantâneo, não há como retrucar. Beleza. Mas se você parar pra analisar a letra (eu sei, parece inútil num hit que só visa o entretenimento imediato), vai notar que há um forte traço cultural do velho costume machista do homem achar que a mulher deve-lhe alguma coisa por ser cortejada, ou mesmo sua mera atenção, qualquer coisa, enfim, e, nesse contexto, a tal coisa seria o sexo em troca da balada bancada pelo machinho de mamãe.

Explico. Quem não conhece - ou não é ele próprio - aquele tipo que acha que a mulher que aceita um convite pra sair, deve retribuir a 'honra' cedendo aos anseios sexuais do dono da carteira? Aliás, eu já conversei com amigas que admitiram não dizer nem sim nem não pra continuarem obtendo regalias, justamente, deixando o bonitão naquela expectativa de que a qualquer momento seria agraciado com um favor sexual. É o machismo fazendo o que faz de melhor: Mostrando que ele se desenvolveu por uma necessidade do homem de se sentir no controle (o que pra mim só prova que o homem é o fraco quando precisa disso).





Vamos analisar a letra?

"Malandramente / A menina inocente / Se envolveu com a gente / Só pra poder curtir "
Acho que ele está sendo irônico nessa parte ou foi mais inocente que menino descobrindo de onde vêm os bebês. Pensa comigo, gafanhoto, ele tava crente que ia se dar e nem cogitou que a mulher pudesse realmente só querer sair. Tá,eu sei que o mais comum é a malícia, mas estamos falando de costume social e não do que a mídia induz.

"Malandramente / Fez cara de carente / Envolvida com a tropa / Começou a seduzir"
Aí, bem possível que tenha acontecido uma deturpação de intenções pela vontade do cara... Fácil deduzir que neste momento foi outra parte do corpo dele que assumiu a atividade primária de pensar (se é que vocês me entendem). Tipo um conhecido meu que, num carnaval perdido em Cabo Frio - RJ, associou o fato de sua namoradinha da época ter aparecido de saia pro encontro, o que pra ele já era a legenda pendurada no pescoço de que estava pronta 'pro abate'. Ele se frustrou muito, mas isso é papo pra outra hora.

Malandramente / Meteu o pé pra casa / Diz que a mãe tá ligando / Nós se vê por aí
A maldade já se alastrou há tanto tempo pelo mundo que sair pra se divertir sem envolver sexo já tá fazendo algumas pessoas parecerem hipócritas (naquela distorção de significado que já escrevi aqui no blog) e até dissimuladas. Tipo, 'não quer dar? Pra que veio, então? Só pra gastar meu dinheiro?'. Vejo muito isso por aí. Tenho amigos homens e nem todos são engajados na missão da igualdade e respeito. Acham que perdendo os privilégios do machismo vão 'dar moral' pra mulher.

Ai Safada! / Na hora de ganhar madeirada / A menina meteu o pé pra casa
E mandou um recadinho pra mim / Nós se vê por aí...
E aí, viemos à cereja do bolo, quando Nego Bam resume (cantando muito bem, diga-se) toda a frustração do taradinho. Quer dizer, o cara gasta uma grana, dá atenção, chama pra sair, ela aceita e não vai dar? Cuma?! Assim não tem machinho que aguente! Fora que pela expressão popular, ele já associou que sua 'madeira' é uma dádiva concedida às sortudas que ele convida pra sair, já que ela ia 'GANHAR' a tal madeirada. Desfeita tamanha que não teve outro jeito se não xingar a 'SAFADA'.



Tem homem que é carente, tão carente, que precisa de uma afirmação feminina pra se sentir menos carente... aí, finge que se acha, porque não pode parecer que dependeu de uma mulher pra se sentir bem. 

Por falar na personagem, obrigado, meninos, por trazerem para a produção bailarina Pamella Gomes.




Peraê, só mais um pouco de Pamella Gomes...



Tá, já podemos prosseguir...

Esse texto é uma brincadeira? É. Porém, vale a análise, pois a gente acha que música é mero entretenimento, mas suas letras são retratos fiéis de nossos hábitos, culturas e da nossa sociedade em si. Quer mais fiel retrato de um tempo do que aquilo que é feito enquanto ele acontece?

Fica o alerta duplo: Primeiramente, crie o hábito de prestar atenção numa letra de música - seja qual for, sem preconceito - enquanto texto, enquanto a mensagem que é e não só um pretexto pra ter batida e instrumentos tocando. Se possível, repasse a letra falada, sem a divisão melódica... melhor ainda se for lida como um texto. Assim a gente pode perceber esses detalhes de conteúdo ou mesmo os reflexos de nossos costumes sociais. Por exemplo, tem letra que traz mensagens mais complexas em suas entrelinhas, como Vinícius de Moraes em Canto de Ossanha: "O homem que diz sou, não é, porque, quem é mesmo, é não sou" . Captou o tanto de conteúdo que o poetinha deixou numa frase aparentemente redundante e prolixa? Percebeu que se ele fosse esmiuçar esse trecho dentro da letra, ficaria um verdadeiro testamento? Uma bíblia!

Segundamente, não é porque a mulher dá atenção pra um homem que ela tem a obrigação de dar algo mais em retribuição a qualquer convite. Dá se quiser. Faz se quiser, faz o que quiser. Não, não sou um homem desertor, traidor da espécie. É que não gosto de sistemas de opressão, muito menos os que naturalizados a se passarem por obra da natureza. Além de ter sido criado essencialmente por mulheres, o que me faria muito mal pensar que estou tratando a 'espécie' que me criou como seres inferiores, meras reprodutoras. E tem muita jovenzinha com quem convivo, né? Mais do que motivo pra ter responsabilidade de ensiná-las que não é obedecendo vontades machistas que vão ser valorizadas... é bem o contrário. 

Malandramente, vamos desconstruir esses hábitos boçais de escala de valores sociais diferentes entre piupius e pepekas. A mulher não obrigada a servir aos anseios masculinos pra mostrarem valor ou parecerem descoladas. Se quiserem, fiquem à vontade pra escolher isso por sua própria vontade. Aliás, é outro problema do machismo: Negar à mulher o direito natural de sentir desejo, tesão sem aquele costume religioso de apenas aceitar o sexo para reproduzir depois do casamento pré-programado desde o nascimento. Enfim, vamos lá que o jogo segue e a coisa não pode terminar em pizza... ou pode?.

Bom mesmo é pedir pizza malandramente. Rá!





Admito que a música é divertida e depois da décima nona vez que você ouve ela na festinha fica contagiante (e a cachaça ajuda), mas... Ela tem todo direito de ir embora sem "ganhar" "madeirada", ok?

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Kara: Uma mulher-robô que pensa diante do machismo


Bem, vamos falar de machismo (Ain, Saga, achei que fosse algum assunto legal). Calma, gafanhoto, que o assunto é legal e ainda te dou um plus: Vamos usar o fio condutor da maravilhosa computação gráfica aplicada a games (hooraaay!). Melhorou? Melhorou. Então, deixe-me lhe fazer uma introdução (UIA!). Estamos falando aqui da Quantic Dreams, um estúdio francês de desenvolvimento de games que, entre outros, é o responsável por Heavy Rain (que eu não joguei, mas minha filha número 3 jogou e disse que é muito bom). Bem, o papo é que há alguns anos, o estúdio fez um trabalho de curta duração, segundo um camarada me falou à época, apenas pra testar uma nova engine (tecnologia que permite construir toda a ‘magia’) e o nome desse trabalho foi chamado de Kara. Deixe eu te colocar por dentro (UIA²).

 Bem, Kara é um robô com inteligência artificial sensível capaz de falar vários idiomas, cantar, conversar e interagir como qualquer pessoa (qualquer pessoa poliglota e de dons artísticos apurados) e isso tudo pra quê? Pra ser comercializada, afinal, ela é um objeto criado pra servir a homens que queiram uma empregada, uma secretária, uma amante, enfim... Ela vem com todas as capacidades de uma mulher comum (repito, comum, mas poliglota... poliglota, cara!) pra servir ao propósito que seu futuro dono bem entender. E é aí que o bicho pega. Todos os testes são realizados com sucesso enquanto seu corpo vai sendo montado a partir da cabeça já pré-programada de fábrica, ela vai demonstrando uma satisfação genuinamente humana em estar viva.


Daí, então, o, digamos, cientista que fala com ela pra ir realizando os testes de voz, canto, locomoção e tudo, dá um comando às máquinas que, estando tudo legal e chuchu beleza, ela já pode ser preparada pra ser embalada e vendida. Ela dá pra trás e questiona o porquê do procedimento e diz ‘É que eu pensei...’. O interlocutor fica chocado com a atitude dela (Oh, shit!) e dá um comando pra ser tudo desfeito, que não era esperado que ela tivesse sentimentos próprios, que ela aceitasse sem retrucar ser mandada pra algum cara por aí afim de uma companhia cibernética. Ao passo que ela vai sendo desmontada, seu coração artificial começa a disparar e num momento de desespero humano, ela implora para continuar ‘viva’, promete não questionar mais.


Então, mesmo demonstrando preocupação na voz, o cientista permite que ela seja remontada e, estando pronta, manda que ela se junte às outras. Quando ela se vê perfilada com as outras, repara que todas são iguais e cada uma vai pra um lugar diferente, ao gosto de cada freguês.

Olha, pra apenas um teste de engine nova isso é muito mais que um teste drive, né? Só de olhar como o troço foi feito com cuidado, você quase compra a ideia de que é uma atriz real sendo alterada por CGI e não uma personagem completamente virtual, mas não é só isso que eu queria falar. Na época, há uns 4 anos atrás, quando assisti pela primeira vez, alguém me falou que isso seria uma analogia perfeita ao modo como o machismo trata a mulher. Veja bem que eu vou destacar no próximo parágrafo.


 O homem queria uma mulher pronta pra servir, então, moldou seu comportamento antes de ela estar ‘pronta’, ou seja, desde meninas inocentes sem se dar conta de suas capacidades. Depois, ela é aprovada enquanto faz tudo que o homem manda. Ela mostra que é obediente. Na hora que contesta aquele que a domina, ela é ameaçada de perder tudo, de ser excluída até do lugar limitado que lhe foi pré-determinado (perceba as mulheres que não servem 'pra casar', são as rejeitadas, prostitutas, as 'solteironas' e todo adjetivo pejorativo). Só faltou as outras intervirem pra censurar a mulher pra que não conquistasse o que elas aceitaram 'conformadas'. E, pra finalizar, somente na hora que promete não falar nada, apenas servir sem falar ‘fora de hora’ é que ela tem permissão para se juntar a todas as outras, iguais a ela, silenciadas e prontas para serem criadas ou objetos dos homens que estão pelo mundo afora aguardando pra usufruir de seus ‘serviços’.

Aula de machismo pra sociólogo nenhum botar defeito, hein? Fiquei com isso na cabeça desde aquele dia que assisti ao vídeo por indicação e muita água rolou por baixo da ponte até que nem sei como, me deparei com o vídeo de novo hoje. Então é isso, caso não tenha percebido a ligação do virtual com o real, apenas ligue seu PS3, gafanhoto, caso não, aprenda que mulher tem todo direito de falar o que pensa, fazer o que quiser e não será diminuída por isso. Criemos consciência nos homens (meninos) pra que as mulheres (meninas) não tenham que ser podadas no psicológico. Só existe machismo, como em todo sistema de dominação, porque homens não se garantem tendo mais que eles mesmos pra dividir responsabilidades.



É isso, não finja, deixe o cara saber que é ruim de cama, não diga que sim só pra agradar, não tenha medo de ser xingada ao falar não (não quer dizer não) e não limite a coleguinha que já escapou dos ‘pudores’ da sociedade cristã falsa moralista da família tradicional brasileira. E quem sou eu pra falar? Ninguém. Sou só um Mané com mulheres fortes o suficiente à minha volta e ao longo da minha vida pra sacar desde cedo que não são criadas pra fazer comida, lavar, passar, varrer e cozinhar e aliviar impulsos masturbatórios no fim do dia. Enfim, sou um homem que não se sente ameaçado por mulheres com personalidade e independência. E gosto disso. Na verdade, tinha que ter mais.


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Skol cria campanha de carnaval e é acusada de incentivar cultura do estupro

"Esqueci o 'NÃO' em casa."

É com essa frase - e outras - que a cerveja Skol lançou uma campanha para o carnaval. As amigas Mila Alves (jornalista) e Pri Ferrari (publicitária) repararam e complementaram: "Esqueci o 'não' em casa" - "E TROUXE O NUNCA". É que as frases usadas na campanha da cerveja redondo reforçam uma cultura muito comum em espaços - abertos ou não - de entretenimento coletivo: A cultura do estupro. Estupro, pode parecer uma palavra forte, que muita gente faz questão de não reconhecer por entender apenas como aquele crime que faz o cidadão virar refeição sexual na cadeia, mas é mais que isso.

Mila Alves e Pri Ferrari protestaram contra campanha de Carnaval da Skol

Cultura do estupro é basicamente o machismo sendo ele mesmo, sendo o sistema de poder e dominação do homem sobre a mulher. É aquele sistema que faz com que muitos caras se incomodem em ter uma mulher independente ao lado por medo que sem a dependência financeira ou emocional, ela resolva que não tem nada a fazer ali, é o sistema que trata como natural os caras passarem pelas mulheres nas festas de rua, shows e demais eventos achando que têm o direito de puxarem braços, cabelos e cinturas já forçando uma barra para beijos, chupões e agarrões. Não é festa se não é consentido, correto?

Agora, mensure o que é uma cerveja incentivar essa ideia às vésperas do carnaval, quando metade do mundo estará bebassa! Sim, mesmo que a campanha não especifique que é a mulher que esqueceu o não, sabemos muito bem que não há mulher puxando braço e torcendo pescoços pra beijar mais um e sair comemorando com a galera, né? E é claro que quem faz isso não precisa de uma cerveja pra dar a dica, mas é o princípio envolvido que chama à atenção. Ninguém gostaria, por exemplo, se a campanha mandasse você beber sapateando sobre o túmulo de entes queridos, não é verdade? Pois bem...

Prefeitura de Curitiba faz campanha contra estupro

Depois de frases como "topo antes de saber qual é a pergunta" e "estou na sua antes de saber qual é a sua" e do protesto das moças, a Ambev prometeu tirar a campanha e jurou que não teve intenção de incentivar a violência contra a mulher (e sabemos que é um carnaval de gente bem intencionada num lugar bem peculiar da cultura judaico-cristã, né?). Essa irresponsabilidade também gerou uma 'contra-campanha' por parte da prefeitura de Curitiba junto à revista Nova, com frases de empoderamento feminino como 'não é não' e 'estar bêbada não é estar disponível' e também 'o tamanho da minha fantasia não dá o direito de realizar a sua'.

Amigolhes, é claro que muita mulher bêbada perde a noção, mas, como eu disse, mulher bêbada não tenta agarrar homens à força, e também não vai agredir o cara se ele não estiver afim, só porque ela se sentiu no direito sobre o corpo dos outros, ok? Não estamos falando em possibilidades físicas, mas de uma cultura que trata a mulher como subordinada ao homem e que faz tanto sentido quanto sacrificar jovens virgens para acalmar uma chuva forte.

Em espécie de resposta à Skol, revista 'Nova' faz campanha de Carnaval anti-estupro

Fonte: F5 e... F5 (é, de novo).

sábado, 30 de novembro de 2013

Lulu no dos outros é refresco

É muito difícil o homem entender o que a mulher passa, é como o branco que não reconhece o racismo ou o hétero que não enxerga a homofobia. Simplesmente não se vê como estranha uma realidade que lhe foi programada como natural. Se o homem é que domina o mundo, logo, é a mulher que vai perceber as desvantagens disso. Muitas, é verdade, acabam se conformando com o machismo por se sentirem intimidadas com a falta de argumentação de que ‘reclama por qualquer coisa’, mas, sabemos também que ‘no dos outros é refresco’. Sabemos que alguém sente dor, mas não tentamos entende-la. Aliás, muito homem – e mulher – defende a igualdade, faz discursos belíssimos sobre respeito, mas sempre tem o preconceito embutido em frases como ‘tem que se dar ao respeito’. A culpa do machismo recai é jogada sobre a mulher.

Sempre que alguém tem uma queixa, vai ser perfeitamente possível haver alguém pra dizer que é um exagero, que a culpa é de quem reclama e, tão naturalmente, pode surgir a resposta a isso “queria ver se fosse com você”. Pois bem, Lulu está aí pra ser o fiel da balança. Uma via de mão dupla. Sim, é escroto, um aplicativo onde mulheres – sob a “proteção” do anonimato – falam dos homens. Mas a questão aqui não é a atitude, mas a inversão de papéis que se dá nessas situações. Antes, eu devo falar que num passado recente, eu – sem ter subsídios de pesquisa – acreditava que o feminismo seria uma espécie de concorrente do machismo. Feita uma devida pesquisa, aprendi que o feminismo é a luta pelo respeito que o homem sempre pensou ter – porque quando se fecha num clube exclusivo, como saber que os de fora te respeitam ou só são resignados? – e sempre fez da mulher seu troféu. Na verdade, o 'poder' do homem no machismo só parece real, mas ele vem de um 'rebaixamento' da mulher, ou seja, não é um sistema justo.


A mulher sempre tem que conviver com acusações contra a moral por fazer o que o homem sempre faz – e ainda é elogiado. A quantidade de parceiros sexuais, estilo de se vestir, jeito de falar, modo de agir, etc. Agora, nada é mais degradante para a mulher do que ser inferiorizada como um brinquedo sexual, como um objeto a ser avaliado, numerado e catalogado no caderninho de algum menino babaca doido por babaquices. Que mulher não ouviu declarações e promessas que só duraram até o orgasmo... dele – porque o dela ficou para a próxima, quem sabe – e depois nem a sombra viu? Um homem talvez nunca tenha a chance de saber o que seja isso, pelo menos a maioria, porque nem tem profundidade emocional pra tanto – lembre-se, a programação machista da sociedade geral. Mas, e se o objeto tivesse o poder de inverter os papéis?

Pois é, o Lulu é um aplicativo que traz para o universo virtual a famosa conversa de banheiro entre amigas. Nele, as mulheres falam de tudo, inclusive, coisificam, menosprezam e disparam tudo mais que os homens estão acostumados a fazer, mas com o aval da sociedade. Não estou justificando que se valha ‘olho-por-olho’, mas isso serve como um baita exemplo de como ‘no dos outros é refresco’ é a tônica da questão. Não estou justificando, friso novamente, e nem vou ser besta de julgar que o rapaz que foi considerado ‘mais barato que pão com manteiga’, por exemplo, tenha feito algo que merecesse tal comparação, mas essa é uma situação nova para muitos. Mulheres tendo o poder de agir feito os homens e mostrando o quão escroto é tratar alguém assim. Parece piada, mas tem homem à beça achando que cantadas são elogios. Agora, torço pra que muita gente abra os olhos.


Não estou justificando – estou falando tanto isso que parece até que tenho alguma intenção de dizer o contrário por ironia, hein – mas, por hora, pode ser bom ter essa ferramenta. Claro, vai estar sujeito a sanções legais, mas o barato disso tudo é que talvez traga alguma consciência, mesmo que num início conflituoso estilo guerra dos sexos. Mas as mulheres têm mais é que sair mesmo do anonimato e mostrar que os homens são tão frágeis quanto a imagem que eles mesmos fizeram delas. Só um homem que repeita a mulher como igual pode ser verdadeiramente realizado, do contrário, vai ter criado a ilusão de superioridade que vai aprisiona-lo lá na frente. Machismo é uma armadilha para o machista e o Lulu é a prova de que a coisa é escrota, mas se não te dói, você não se incomoda que doa nos outros. No fim das contas, esse episódio 'Lulu' pode servir pra um início de conversa do tipo 'tudo bem, entendi, vamos manter a paz e o respeito sem palhaçada daqui pra frente'. Se não, Lulu está aí pra devolver ofensa na mesma medida!
Ops, Lulu errado... Sorry! ;p
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