Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

Mostrando postagens com marcador recalque. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador recalque. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Hipocrisia, inveja e recalque: Novos conceitos?


Já repararam como algumas palavras são usadas para muitas situações diferentes? O vocabulário limitado tem uma conseqüência esquisita: A lógica simplista. Coisas, por exemplo, como a palavra discriminação. Fora de contexto, qualquer idiota se vê contrariado e acusa discriminação. Não importa o caráter excludente e os grupos a que estão sujeitos. A pessoa pode ter tudo de bom de material em sua vida, mas se não tiver um negócio a mais: DISCRIMINAÇÃO! Lembre do Quico (aquele mesmo, da Dona Florinda), que fica injuriado por sua mãe permiti-lo comer ”apenas” 18 dos 20 biscoitos habituais. Percebe a lógica simplista? Pois bem, essa tendência, em tempos de redes sociais, meios de comunicação, internet e informação über-rápidas, essa prática corre mais rápido que gírias da moda. Vamos a algumas dessas palavras banalizadas e de significados simplificados (algo deturpados também), na verdade, as principais e mais usadas pela galerinha que mais posta na net.


Hipocrisia: Hipócrita é a pessoa que caga regras para os outros que ela mesma não segue. O moralismo caminha agarrado, por exemplo, quando você diz que é preciso amar ao próximo, mas pragueja qualquer um que te contrarie. Mas, hoje, hipocrisia se tornou apenas discordar de alguém que se acha dona da razão. A pessoa falou, não importa que merda de senso comum e você discordou. HIPOCRISIA! Recebi uma resposta recentemente quando defendi que Pitty está certa ao falar que a mulher é quem decide sobre si e o julgamento do homem não pode interferir. Li algo como ‘não sejamos hipócritas, a mulher tem que se dar ao respeito sim’. Caras, eu não sou hipócrita, eu realmente acredito que a mulher é dona de si e o machismo que se rasgue. Vou concordar com esse senso comum ultrapassado pra ser aceito por quem eu nem respeito a opinião? Minha jiromba que eu vou! Então, cai o mito, hipocrisia não é discordar da mente rasa, também não é aceitar se rebaixar aos senso comum pequeno pro hipócrita se sentir identificado. Próximo.

A carência é tanta, que se sentir invejada é um elogio para muitos.

Inveja: Invejar costumava ser aquele incômodo que muita gente sente por achar que deveria ter algo que outrem tem. Seu vizinho comprou aquele carro maneiro e você não, você se incomoda com isso como se ele tivesse feito pra te provocar, pra te humilhar, mostrar que você é menos que ele... INVEJOSX! Só que, olha a surpresa, basta você estar no lado oposto a alguém e já se torna invejoso. Se fulano quer julgar os outros e você critica essa tendência moralista, você já ganha a alcunha de invejoso. Se duas pessoas discutem e se xingam, é natural imaginar que as duas vão se xingar velada ou abertamente de invejosas. Pessoas que te criticam, todas invejosas... não importa se você esqueceu a auto-crítica no porta-malas do carro novo do seu vizinho.


Opinião: Essa é das boas. Opinião é um conceito que você forma diante de uma situação, experiência, enfim... uma reação sua. E isso é direito seu. Mas o fato de você ter direito à opinião não desobriga o restante do mundo de ter a sua própria, nem obriga a todos concordarem contigo. É comum ver pessoas falarem, depois de uma opinião contestada, “mas é minha opinião”, como se fosse uma carteirada do tipo ‘agora você não pode questionar’. Ela é sua, mas pode ser uma bosta mesmo assim. Não se engane se usando como referência do que há de mais legal no mundo. E uma diferenciação, enquanto é tempo, direito à opinião é universal, mas sua opinião, a peça pronta, essa não é livre de contestação só porque você quer. Aprenda a contra-argumentar, pois é aí que você mostra seu conhecimento e certeza do assunto. Só falar e ficar agredindo é sinal de que você decorou algo e não soube desenvolver.


Recalque: Recalque era pra ser, popularmente, algo relacionado a uma reserva quanto a algo. No melhor estilo ‘gato escaldado’. Mas, a banalização – sempre ela – transformou isso num xingamento quase que exclusivo da mulherada. Uma variante da ‘invejosa’. Chegou a dona se achando diva (outro termo utilizado sem limites ultimamente) e você não deu a mínima, ou comentou que aquilo era desnecessário? RECALCADA! Você não pode não achar uma pessoa o máximo só por ela precisar disso em sua auto-estima, você precisa enaltecer as pessoas só porque elas querem ser estrelas de redes sociais. Caso não, seu recalque te impediu de ver a luz. Aceita que dói menos. Rá!


Fato: Fato é fato. Dah! Um acontecimento consumado. Essa até que já tá meio que fora de moda, mas vale a menção. Contra fatos não há argumentos, ou seja, fato é um registro da realidade, é a própria verdade concretizada. Pegou um ônibus e ele quebrou? FATO! Pegou o copo com pressa e ele caiu? Fato? Sacou? Mas, há algum tempo, muita gente perdia a noção e emitia bizarrices como: “Amanhã é sexta e eu vou me divertir #fato”. Mas hein?!? A brincadeira é só amanhã e já é fato? Fato futuro? Minority Report? Gente, vamos combinar, fato só pode ser passado, né? Do contrário ainda não é fato ou nem vai ser. E quando tinham as variações #fatão, #fataço e essas coisas? Prefiria beber água.


As pessoas estão tão rasas e imediatistas que não aceitam procurar saber um pouco mais sobre um assunto. Reproduzem as palavras, muitas vezes, nem esbarrando em seus significados originais. É o que eu falei no Facebook outro dia. Não existe, na minha opinião, moralismo, nem falso moralismo, existe carência afetiva e identificação dessa gente com seus pares por meio do que lhes é comum: O julgamento daqueles que não os paparicam.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A Grande Pensadora Valesca Popozuda e o Preconceito Social

Num futuro fascista (não, não é hoje, ainda!) a sociedade é programada a se comportar do mesmo modo monótono e produtivo que deixa a camada dominante da sociedade tranqüila e despreocupada. Esse é o cenário de Equilibrium (2002), filme que traz o ‘Bátema’, Christian Bale, como John Preston, um policial do sistema que se rebela e vai tirar satisfações com o líder (uma espécie de Hitler), que é inacessível e só aparece fazendo longos discursos de obrigações sociais por telões nas ruas. A verdade é que o líder já morreu há tempos e um membro do governo mantém as aparências pra que a sociedade não mude.

 

Assim é a nossa sociedade, não é? Qualquer manifestação que fuja ao que a elite determinou como certo é rechaçada e criticada com eufemismos ofensivos como ‘coisa de pobre’, ‘favelado’, entre outros. O Funk está nesse grupo. Já reparou que se falar em Funk, as pessoas já torcem a cara e não enxergam nada de bom? Pois é, ignoram que se as pessoas falam errado ou citam realidades de violência e alienação sexual é porque ali o Estado não chegou, ou seja, a conclusão óbvia é que a exclusão daquela camada da população por parte do governo gera esse tipo de manifestação. Você não veria nem uma Anitta da vida cantando Funk (e depois renegando até o Mc do nome artístico) se não fosse a grana que isso dá. Até porque a menina má parece ser aquele tipo de pobre que odeia pobreza e despreza o passado no apagar das câmeras.


Mas o papo aqui não é Anitta, é Valesca, essa sim, uma autêntica funkeira e assunto na internet recentemente, mas não só pelo Beijinho no Ombro, ou melhor, também por isso. É que Popozuda foi citada numa questão de prova como ‘grande pensadora contemporânea’. Antes, eu friso, pra mim, pareceu mais um deboche do que uma homenagem daquele professor de filosofia da rede pública no Distrito Federal (barbas de molho MODO ON), mas a questão toda é a repercussão nas redes sociais. Aliás, esse é o grande mérito do professor, conseguiu levantar o debate (sendo deboche ou não) e não entrou em didatismos. Apenas jogou o assunto na berlinda. 

Todo mundo se escandalizando com a diva funk na prova e eu injuriado que escreveram seu nome com W e não V.
Como era de se esperar, todo mundo adora criticar o Funk associando-o à evasão escolar, gravidez na adolescência, violência e causa da IV Grande Guerra (aquela que virá em 2056 e que unirá a antiga União Soviética a Marte). E, além do preconceito social inerente, pessoas acham impensável que um artista do Funk seja considerado pra uma questão de prova – e que não é como exemplo negativo a NÃO ser seguido. Pois bem, Valesca pode não ser a mais poética das cantoras e a questão nem pareceu ter um propósito, estando mais para modelo ‘receita de miojo no ENEM’ do que uma bola levantada para reflexões existenciais, mas o que é gritante é a necessidade de se esculachar o Funk, a ‘coisa de pobre’.


Por exemplo, Gilberto Gil e Caetano Veloso, dois dos maiores nomes de nossa música, já admitiram que ouvem Funk, que gostam de elementos ali presentes. Tom Zé, já fez até análise de estrutura métrica de um funk e também são contemporâneos de muita gente da ‘boa música’, argumento dos intelectualóides que separam gosto musical por classe social de origem. Provavelmente apoiados por aqueles que ouvem todas as mazelas gramáticas, mentais e sociais em outros idiomas e acham que porque não entendem o que estão cantando e ouvindo, estão isentos de críticas.



Isso nos faz voltar ao início do texto, quando esperamos John Preston (Bale) aparecer pra destronar esse líder morto que deixou um legado de comportamento mental que não nos pertence, apenas foi imposto de maneira sutil pelos meios de comunicação em massa, como se fosse nossa vontade, mas é a deles. Identificação com um gênero musical ou outro é uma coisa, agora, cagar regra para o que é certo ou errado na música, só vale se você for corrigir um cara que promete tango e toca valsa, ok? Certo e errado na construção de gosto não cabe, pois é como dizem: Gosto é como umbigo, cada um tem o seu.

Powered By Blogger