Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Pathy Dejesus é alvo de comentário racista na Playboy


Pathy Dejesus é a primeira negra a estampar uma capa de aniversário (agosto) da Playboy. Escrevi, quando a bailarina e coreógrafa Ivy Pissotti foi a capa da vez, que em 41 anos de playboy, não tivemos nem 10 capas negras. O país não parou por isso, ninguém chorou pela falta de prestígio que a pele preta tem na mídia (a menos que seja carnaval, óbvio, onde somos objetos baratos pra 'eles'). Vai vendo por aí onde quero chegar.

Aí, vem Suzy Cortez (quem?) Miss Bumbum 2015 (ah, tá...), capa da playboy mexicana e solta: “Eu sabia que a coisa estava feia no Brasil, mas não tanto. E vocês, o que acharam?”

Até aí, nada de mais, né? Só uma questão de implicância gratuita de uma subcelebridade falando de uma atriz, modelo e apresentadora, né? Né? Antes de concluir essa parte, vejamos o que Pathy comentou:

“A coisa não tá feia, flor, tá preta mesmo. Beijos de luz e sucesso pra você”.

Linda de viver, não? Mas, como é o protocolo básico do racista invejoso (perdão pelo pleonasmo), a pessoa faz igual aos biel da vida, igual aos arthur nory da vida e tantos outros que depois que percebem que o veneno ficou visível, lançam um 'FOI SÓ UM MAL ENTENDIDO': Tá na cara que ela jogou Pathy aos possíveis leões pra que comentaristas falassem abertamente o que ela evitou, pra ter essa saída de 'não foi bem isso, você é que exagerou'. Necessidade de auto-afirmação em níveis patológicos. Mas a carreira e a postura da moça já denotam uma carência de compensar o que sente que pode estar fazendo falta: "talento", pois corpo bonito padrão um dia desmorona e aí, comadre? O que faz? Mas estou divagando... Aí, a dona tenta se defender:

Fiz apenas uma comparação afirmando que a minha Playboy é bem mais bonita, mas não que ela seja feia. Achei a foto de mau gosto, com fundo escuro, podia ser algo mais claro, achei que ficou feia. E ela levou para outro lado, levou para o preconceito. Não falei nada de racismo. Escrevi que a coisa estava feia, mas não por ela, pela capa que não achei bonita”, explicou Suzy, que ainda completou: “Eu tenho direito de achar a capa feia ou não, a minha é mais bonita”. Ninguém perguntou, flor. Sorte aí no Mexico.

Típico. Quer aparecer? Faz o gentili e fala umas merdas bem preconceituosas e disfarça de opinião pra que o acusador pareça um exagerado histérico. Ela continuou dizendo que só achou sua capa mais bonita, mas o que ainda não entendi é que se ela só achou sua capa mais bonita, porque foi falar que a da outra é feia e depois disse que não é que achou feia? Tá nervosa com alguma coisa, fia? Tá ruim de justificar a merda lançada? Merda lançada não volta. Pegou mal, errou feio, errou rude.

Quer referências nesse embalo? Nayara Justino e Lupita Nyong'o. A primeira foi eleita pelo público como globeleza num concurso do Fantástico e depois criticada por não ter os traços de Valéria Valensa ou Aline Prado, ou seja, aqueles traços mais 'finos', pele não tão preta, ao passo que a segunda foi eleita a mulher mais bonita do mundo por uma revista de fama internacional, mas invejosos racistas alegaram que era caridade pra revista posar de boazinha. Também falaram isso de Leila Lopes, a Miss Angola que ganhou o Miss Universo em 2011, enfim, tendeu, né? Se é preto não pode ser bonito. Sempre falo que o branco mais mais ou menos é tido como bonito, o preto mais lindo só pode ser eleito bonito por peninha, na cabeça do racista. 

Já reparou que se tirar o foco do racismo, essas "opiniões" não fazem sentido? Tipo, se ela não se incomodou com o - na cabeça dela - "desespero" da playboy Brasil em colocar "até" uma negra na capa pra chamar atenção, o que sobra? Inveja? Maldade? Porque esse papo de 'só uma opinião' não cola, afinal, opinião a gente dá quando pedem, pra falar besteira, é melhor se calar. Muito mais deve ter doído nela ter que ir pra uma playboy onde vão saber menos ainda quem ela é, e no próprio país, "perder" pra Pathy. 

Ainda temos o próprio retrospecto social que restringe a beleza negra ao padrão "globeleza", onde a pele não é tão escura, o nariz não é lá muito largo, enfim, a preta ideal do racista é uma branca de pele escura, "da cor do pecado", ou seja, a preta é uma branca que a sociedade se sente menos culpada em objetificar. Essa laia quando diz 'feio' está tentando dizer 'preto'. Está na cara que a insatisfação da dita cuja se deu por uma negra estampa uma playboy, que até pouco tempo, era domínio de subcelebridades como ela, que só pode exibir o corpo. Imagina, em seu ambiente comum, aparece uma negra, multitalentosa e ainda chama atenção por outros atributos que não falas pseudo-polêmicas de opiniões desnecessárias e mal explicadas? Aff...  

Pathy Dejesus é atriz, modelo, apresentadora, DJ, primeira negra em rótulo de xampu e de protetor solar, primeira negra em campanha impressa de cerveja e agora, aceitou ser a primeira negra numa capa de aniversário da playboy. Porquê, Pathy? "Ser a primeira (a estampar a capa comemorativa)? Isso é a minha cara!”.

Suzy Cortez é Miss Bumbum 2015. Torçamos por ela também.

Um pouco mais de Pathy Dejesus porque nunca é demais. Ela é demais, mas nunca é demais, sacou? Rá! Enfim...























sexta-feira, 6 de março de 2015

Mariah Carey e o Colorismo

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Linda, né? É negra. Ela mesma que diz.
Chupem, racistas e coloristas raciais!

Basicamente, temos que traçar dois paralelos aqui. Brasil x EUA.

No Brasil, temos a cultura do embranquecimento, o que faz com que a etnia negra seja vista como um defeito, um resquício do passado ‘ruim’ do Brasil (e, na minha opinião, uma atitude subliminar de esquecer o quanto tentaram dominar o negro e se viram cercados. Então, parabéns, colonizador, se somos maioria da população neste país, é graças a VOCÊ! #chupaopressor). Dada a escravidão e a resistência da população em geral de querer se identificar com o grupo social que foi escravizado e depois largado pelas ruas e favelas, temos esse quadro negro pálido de giz.

Daí, muito negro quer ser 'moreno', 'mulato', ‘pardo’ e essas coisas, já que a miscigenação permite vários tons de pele e texturas de cabelos convivendo. E também muito ‘não-negro’ acaba usando esses termos como quem acha que chamar de negro seja atribuir defeito, feiura ou pouca evolução ao coleguinha. Mas existe um problema nisso tudo: A maioria enxerga apenas a cor da pele e não pensa na etnia, na genética da coisa. A biologia é parte importante pra essa discussão, mas não é tudo. Não sejamos simplistas de achar que racismo é apenas olhar a cor e falar um eufemismo condescendente e hipócrita. Vamos pegar o avião e chegar chegando nos EUAses.

Nos EUAses (gosto mesmo de falar assim) não, lá, se tiver um dos pais negro, você é negrx. Não sei de onde vem - tenho a teoria particular de que pra separar mesmo, na cultura da escravidão deles - por isso, a própria Mariah se assume como negra, mesmo tendo mãe branca de origem irlandesa e pai negro, de origem venezuelana. Cheguei a assistir a uma entrevista dela, há muitos anos (cof – velho - cof), descrevendo como ficava branca perto da mãe, curtindo todos os privilégios, ao passo que virava negra, quando com o pai, notando toda a resistência dos racistas em ver um negro andando pela rua sem arrastar correntes. Lá, 'uma gota' de sangue negro torna a pessoa negra de origem (não esqueça aquele relato sobre Paris Hilton, dizendo que ao perceber que Vin Diesel – sim, ele também - tem parte genética negra, correu dele como quem quisesse comprar uma câmera com captação noturna de imagens). Olha essas fotos do ator (não sei se por truque, mas essa prática de raspar a cabeça e esconder a raiz crespa é muito utilizada por aqui, tipo o esticamento de ferro químico).

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Por falar em biologia, não existe etnia 100% biologicamente, já que o mundo dá muitas voltas e a humanidade já tem séculos e séculos de história. A coisa passa por uma questão ideológica também. Ué, Saga, você não ia falar de biologia? Tá falando agora em ideologia? Sim, meu pequeno gafanhoto. Vem daí que vem a crítica ao colorismo, essa ideia de que apenas um tom de pele determina que a pessoa é negra. Tem a questão biológica e a ideológica. Tem a crítica ao colorismo, como forma de desqualificar a autenticidade da negritude na maioria da população, como se negro fosse apenas o que nasce na África. Eu mesmo, por exemplo, já fui chamado de ‘marrom-bombom’ (foi uma cantada, mas você percebe o que eu disse lá no início, de elogiar não chamando de negro), ‘mulato’, ‘moreno’, ‘moreno-escuro’ (dá pra acreditar nessa?) e afins.

SOU NEGRO! Tenho sangue espanhol? Tenho. Mas tenho sangue angolano também. Olha pra mim e veja só como NÃO sou europeu. Pense em como eu seria recebido na terra dos meus bisos (trisos, tataras... sei lá o nome). Acha mesmo que eu ia chegar lá e ser recebido como um autêntico europeu do clã dos Garcia? PATAVINAS QUE IA! Lembra do que Diego Costa sofreu na Copa 2014? A seleção espanhola inteira fracassou, mas foi o brasileiro naturalizado espanhol que virou ‘macaco’ nos twitteresses da vida. “Volta pra África, então!”. Eu nunca estive lá, que eu me lembre – infelizmente e por enquanto – mas creio que seria muito melhor recebido lá do que na Espanha, mas estou divagando. 

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Voltemos ao assunto. Colorismo e esses eufemismos são tentativas de se diluir a negritude, desde sempre, da escravidão e desenvolvida como política de Getúlio Vargas, que criou a ideia de que somos todos mestiços por uma cultura de que não há negros. Era uma medida política e ideológica de se criar uma identidade própria, pegando carona na inegável mestiçagem que rolou e rola por aqui. Mas o negro está por aí, miscigenando sim, mas mantendo sua cultura, suas origens. É nessa parte que entra a ideologia. Por exemplo, como eu poderia ser ‘mulato’ sendo da mesma ‘cor’ que Malcolm X, Martin Luther King Jr. e Nelson Mandela? É por aí.

Este texto me fez lembrar de uma passagem futebolística do passado. Um narrador se referiu a um jogador de sobrenome Rincón dizendo não se tratar daquele colombiano que jogou por Corinthians e Palmeiras ‘aquele é moreno’. E ao ser corrigido por um comentarista ‘mas ele é negro’, disse ‘você que está dizendo’. Como quem diz ‘você que xingou ele’. Uma outra teoria que tenho sobre isso é a subconsciência que a população aceita pela grande mídia. Se não há nem 10% de negros numa novela – que não seja sobre escravidão – então, a população não se reconhece lá. Fica fácil não querer se associar a um grupo invisível, não é? Nessa levada, também atribuo a isso a tal auto-declaração, pra concursos e outros certames. Muito negro não se vê negro, porque aprende que isso é um estereótipo, uma caricatura, um mote de piadas e violências.

Fred Rincón, o 'moreno', na descrição do narrador.

Assuma-se, diga não ao colorismo. Quem se esconde dá munição ao preconceito. REFLITA!

Ah, e sobre as gêmeas que deram o que falar essa semana, não tem como a filha de um negro, mesmo com mãe branca, ser branca. Ela é negra de pele clara. Há até quem defina esse tom como sarará. Eu mesmo tenho um caso assim em família.


Tem também o caso de Camila Pitange, que disse já ter cansado de ouvir 'mas você é tão bonita, como pode dizer que é negra?', porquê? Porque o raio do maldito colorismo quer escalonar negritude de acordo com textura de cabelos e tom de pele. Tipo, se ela é 'clara', tem cabelo mais puxado pro liso natural e nariz fino, logo, o que ela está fazendo assumindo um defeito que poderia ser escondido, né? Isso que é o tal do famoso racismo velado. Ele não se assume, nem sabe que está lá, muitas das vezes. Mas, chega de papo, já dei o recado. Agora vamos falar de coisa boa. Camila.

Camila, com o pai, Antônio e o irmão, Rocco.



E mais um pouco de Mariah.



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