Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

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terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Flavio Rico e o politicamente correto

Existe uma questão que quando começou a se popularizar na boca da galera, já nesses tempos em que a internet no celular , pra muitos, é fonte incontestável da verdade, não teve o devido desenvolvimento conceitual e já foi tão banalizado que as pessoas que ainda usam o termo, não fazem ideia de como explicar ao certo o que significa. Eu vou tentar dar (UIA!) meu parecer.

Primeiramente fora temer,  estabelecendo o mote deste texto: O blogueiro Flávio Rico, muito experiente no ramo televisivo, tendo trabalhado em grandes emissoras de hoje e de outrora, já deixou claro, em seu blog, que não viu racismo na declaração 'é coisa de preto', de William Waack. Tendo defendido, inclusive, que houve um exagero, que conhecendo o jornalista há muitos anos, ele não teria demonstrado racismo, apenas um mal entendido que, segundo Rico, seria só uma questão de um pedido de desculpas público e segue o baile.

Não apenas isso, Rico esteve recentemente no Altas Horas e foi perguntado por um jovem da plateia sobre o que ele achava do 'politicamente correto', sendo respondido prontamente com um 'muito chato'. E é aí que eu começo a fazer das minhas e vou discorrer sobre o assunto com uma análise do lado que sofre o racismo e que não se vê na TV em 95% das situações mostradas. Vamos lá? Vamos.

A começar pela defesa de William Waack, ele defendeu de forma mais amena (e igualmente corporativista) um argumento que Rachel Sheherazade falou. Segundo a moça que defende linchamentos e justiçagens de playboys delinquentes, Waack foi vítima do 'hipocritamente correto', numa nítida alusão ao termo que, hoje, sem muita descrição conceitual, significa, pra 'eles', ter que segurar a língua pra não falar besteira e tocar um processo. Ou seja, neste caso, demonstra ser "Flávio Rico = Sheherazade". Ponto muuuito contra ele, mas prossigamos.

William Waack, pra quem ficou por fora no fim do ano passado, foi filmado - e vazado - declarando ser 'coisa de preto' quando alguém passa na rua buzinando, incomodando sua atuação no estúdio de jornalismo. Essa atitude, para Rico, não é racismo e por quê? Porque eles se conhecem há décadas e nesse tempo de amizade, ele nunca viu racismo da parte do amigo de olheiras. Oras, se você nunca reparou racismo nele em décadas, só pode significar duas coisas: Ou você é tão racista quanto ele e lhe parece normal atribuir julgamentos e comentários pejorativos a nós, negros (e sabe lá mais quem); ou você pode até ter se surpreendido só agora, mas não isenta 'é coisa de preto' de ser racista.

Ou foi enganado por muito tempo, ou foi distraído por muito tempo. Mas o que vai te ajudar, leitor internauta amigo, a formar sua opinião, vai ser o seguinte: Aquele 'muito chato' que Rico respondeu pode ser interpretado até como uma crítica justa, porque existe muita coisa aí que é exagero e moralismo (que sempre é falso, no máximo, hipócrita). Primeiro, a gente tem que entender que 'politicamente correto' é um termo antigo e significava, basicamente, fazer o tipo 'piada de salão', ser moralmente adequado ao contexto geral da sociedade.

De uns anos pra cá, principalmente no humor, algumas pessoas forçaram tanto a barra, que o termo 'politicamente correto' passou a se chamar de 'patrulha', como se fosse uma perseguição aos 'pobres coitados' comediantes que só queriam fazer suas piadas preconceituosas sem serem processados. Dito isso, o que Flávio Rico quis dizer com 'muito chato'? Bem, no complemento de sua resposta, ele falou que era muito chato ter que ficar se policiando sobre o que falar, pra não dar confusão lá na frente...

Então, eu, particularmente, concluo que o que incomoda a ele é o mesmo que incomoda a Danilo Gentili ou Rachel Sheherazade, por exemplo... É um cara branco, rico (perdão pelo trocadilho) que trabalha num meio onde uns 90% dos contratados e privilegiados são brancos e ricos, sendo que esse meio trabalha sustentado pela maioria negra/parda da sociedade. Deve ser muito chato pra esses caras quererem tornar públicas suas piadas internas preconceituosas e se verem diante de um paredão de opiniões opostas. Pra eles, é patrulha, pra gente é justiça.

Antes de fazer minha reflexão conclusiva, deixa eu dizer o que seria, de fato, politicamente correto: Seria ser parte do grupo que defende os costumes do senso comum, o 'moralista', aquele que quer tudo tão certinho que chega a ser forçado, correto? Então, meus amigos, pra mim, quem realmente tenta manter os costumes como sempre foram há décadas, séculos, é justamente essa turma do preconceito aí, que quer estar acima do bem e do mal pra falar e ofender quem quiser, sem se importar com sentimentos alheios. Na minha visão, ELES deveriam ser chamados de politicamente corretos. O que fazemos ao nos tornarmos militantes de causas sociais, é justamente propor e promover a revolução dos costumes que atrasam a sociedade, buscando mudanças mais justas para todos.

Enfim, defender uma atitude racista já é se tornar, no mínimo, cúmplice, pois racismo é crime, não é só uma opinião. Aliás, crime e desvio de caráter, pois se a opinião carrega essa ideologia cruel e retrógrada, além de criminoso, boa gente não é... não para negros. E se um homem branco e rico acha que o politicamente correto é chato, só pode estar incomodado com a falta de liberdade absoluta de expressão... Sem perceber - ironicamente tendo experiência de anos na TV - qual o limite da comunicação.

E quando um cara - com tantos anos na TV - acha chato ter que escolher melhor o conteúdo que vai publicar, ou ele não é tão bom assim ou ele é tão preconceituoso que não poder ofender um grupo socialmente oprimido lhe causa urticária. Não sabe filtrar pra se expressar ou é do mal. Se não vai falar com respeito aos outros, se não se coloca no lugar do outro pra entender o que ofende, então era melhor abandonar esse meio e fazer alguma outra coisa pra viver, que não dependa de informar coisas ao público.

"Nada descreve melhor o caráter dos homens do que aquilo que eles acham ridículo." - Johann Goethe.

terça-feira, 16 de julho de 2013

É só uma piada? Tem certeza?



Algumas tiradas do documentário: 




E esse "grand finale" nada mais é do que o que eu falei o texto inteiro, sobretudo na parte da sexta série mental em que muitos vivem se achando comediantes. Público, tem até pro crack, então, audiência não determina qualidade, ainda mais, quando pensamos na parte conservadora que essa gente defende por tabela.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Clarice Falcão faz o bom humor


Eu sempre friso o quanto há gente estúpida no mundo. Gente que se acha muito rpa frente e não passa de conservadores jr's. São retrógrados até com pouca idade defendendo que você - ou melhor eles e sua turminha - têm o direito de serem desrespeitosos desde que chamem seus preconceitos de humor. E ainda completam dizendo que não é pra se levar a sério, mas todos sabemos que falamos brincando o que pensamos justamente pra amenizar o impacto e não ganhar implicações mais sérias, ou seja, é uma hipocrisia e um preconceito descaradamente velado.

Mas, nem todos os humoristas da nova geração fazem essa escola da sexta série mental e nos presenteiam com piadas e conceitos perfeitamente plausíveis, pois, assim como é importante você criticar uma atitude ruim de uma criança, em vez da pessoa, você pode fazer piada com todas as situações do mundo sem ter que ofender aqueles que passam pela situação. E nem vou falar das piadas auto-depreciativas, pois elas expressam a falta de dignidade do ser humano que decide viver de fazer piada. esforcem-se pra serem engraçados sem precisarem dessas muletas e vocês serão engraçados, pois fazer rir é coisa séria, não pode ser banalizado e transformado em escolher um alvo e fazer todo o resto rir da cara de alguém. Isso é bullying, babaquice ou sei lá mais o quê.

Clarice Falcão, um dos nomes responsáveis pelo sucesso de internet Porta dos Fundos é uma dessas mentes que não precisam ridicularizar um pra arrancar risadas de apoio preconceituoso dos outros. Se ela vai sempre pensar assim, não sei, mas por enquanto, fico com a pureza da resposta dessa criança, que, em entrevista à Marie Claire, falou sobre preconceitos sofridos por ser mulher num mundo predominantemente machista - além do mundo todo, com exceção de Temiscira, a ilha Paraíso da Mulher-Maravilha - e sobre a suposta detestada e alardeada patrulha do politicamente correto. LEIA A ENTREVISTA AQUI. Particularmente, quando abri minha mente para as muitas piadas que se pode fazer com situações e não com pessoas, vi que muita piada é só desrespeito, mas se é falta de ofender alguém, porque nunca ofendem seu próprio tipo? Humor bem feito é pra quem pode.

Por exemplo, já viu como os ateus-modinha praticamente tentam provar que não existe nada além de terra e água no mundo? Aliás, se não há provas da existência de Deus, também não há prova de que não existe. Assim como a ciência não prova que o universo começou a sei lá quantos anos ou mesmo que o universo é finito ou infinito, enfim, deu pra saca, né? Mas não vejo ateu levantando essa questão de que eles podem estar enganados tanto quanto acusam os "crentes" de estar alucinados. Não vejo branco fazendo piada com a história do seu povo escravizando outros e depois tentando apagar suas participações na história, vamos lá, gente, humor é pra criticar, é sua melhor aplicação. Mas porque não se critica os verdadeiros ridículos? Os preconceituosos, a mídia que esconde o mundo real pra fabricar ilusões e placebos açucarados... Nããão, os revolucionários e polêmicos fazem piada com religião, cor de pele, gênero e orientação sexual. Ah, vá... Fique com uma musiquinha relax de menina Clarice pra desanuviar a tensão.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Politicamente correto X Piadas auto-depreciativas

Danilo Gentili, ao contrário da maioria, usou devidamente a
expressão, já que fez um espetáculo em Brasília pra
falar dos políticos. Genial
O politicamente correto é uma realidade das mais bocós já feitas. Você não pode falar nada porque a interpretação das pessoas chega no nível do recalque. Há que se fazer um equilíbrio, pois o politicamente correto soa hipócrita, mas buscar a outra ponta da questão já soa babaca. Aquele que não pensa em ser engraçado, mas em causar constrangimento. Você não ri por que se identificou, você ri de nervoso, ou melhor, de sem jeito, já que a ação rir é um reflexo do sistema nervoso.

Eu não sou totalmente contra, porque quanto mais certinha a sociedade, mais vai atrair os rebeldes (a famigerada teoria do pêndulo que eu sempre uso). Assim é com religião, política, sexualidade, etnia e tals. O problema dessas piadas é que criam uma cultura de que o auto-referente tenha direitos de tratar diferenças nas pessoas como defeito. "Eu sou negro, então eu posso fazer piada de negro". E não é assim, eu sou irônico, falo de questões racistas com sarcasmo, mas nunca ajo como se fosse um defeito que eu evidencio pra ser aceito.

O negócio foi o seguinte: Com o fim da ditadura, acharam
que se podia falar e fazer qualquer coisa. 
Muitos fazem isso. O gordo que faz todas as piadas clichês sobre seu peso e forma, por exemplo, é aquele que usa daquela filosofia "vou me depreciar antes que me depreciem, assim fica engraçado e não bullying". O negro que zoa seu próprio cabelo, seu nariz, seus lábios e tals... Isso mostra o quanto uma auto-estima pode ser ignorada em troca de umas risadas de vergonha alheia.

Então, qual o limite do politicamente (in)correto? Claro que é a noção - ou falta de - por parte de quem faz o comentário, piada e tals, mas não se pode simplesmente atribuir recalque a quem é contra. Não é porque você não vê nada de mais numa piada que as pessoas têm que aceitar numa boa. Aliás, sabe quem é a raça mais sensível neste ponto? O comediante. Você faz uma piada sobre negros, gordos, mulheres, sertanejos, gays, deficientes e qualquer outra camada discriminada da sociedade. O primeiro a reclamar é um recalcado que não entende uma piada. Mas sabe porque ele contesta isso? Porque não aceita que seu trabalho - de ouro, que vale mais que dinheiro - seja contestado.

É o papo do religioso que condena todo mundo ao inferno, mas faz isso justamente contrariando o princípio primordial de não julgar o próximo. É quando as pessoas falam que críticas são por inveja, por burrice do público. Eles brigam entre si, quando acham que o outro roubou a piada (como se algum tema não existisse antes deles falarem). Ou todo mundo combina de aceitar qualquer coisa como piada, ou aprendemos que pessoas diferentes têm pensamentos diferentes. Aquele seu alvo de piada tem uma família, tem gente que vai defendê-lo e você não pode banalizar uma pessoa ou um grupo numa piada. Se você não sabe ser engraçado falando de uma situação, não é atacando um grupo e se sentindo intelectual demais pra ser compreendido que você vai comprovar sua superioridade.

Hipérbole acerca dos estereótipos que eu falei, mas essa
discussão não está longe de se concretizar.
Quando algum tipo de censura ataca a teledramaturgia, por exemplo, eu rio deles (dramaturgos) sabe porquê? O que eles acham que é um exagero é a perpetuação de estereótipos idiotas que, não deveriam - mas acabam fazendo - educar e alienar o público. Você compra esse Brasil branco, rico/emergente e feliz da vida que todas as ditaduras aqui implantadas nos empurraram? Já que não refletem a realidade, tô pouco me lixando se são censurados ou não. Eu não assisto. Mas gosto de acompanhar na internet pra comentar. Afinal, o Brasil que eu vejo da porta da minha casa pra fora não é bem o que eu vejo da porta pra dentro, na TV.
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