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terça-feira, 11 de março de 2014

Rodriguinho e o pensamento infantil

Por Jean Wyllys — publicado originalmente em 07/03/2014, no site Carta Capital.

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Pode notar: Quem tenta descrever o mundo com sua visão simplista e
ignóbil, deixa bem explícito seu posicionamento ideológico... Ou falta de.
Em desenhos de super-heróis animados destinados às crianças, a vida é dividida de maneira simples e esquemática: há o Bem e o Mal; heróis e vilões: de um lado, Esqueleto; do outro He-Man, ou, de um lado, a Legião do Mal; do outro, a Liga da Justiça. Nesse esquema montado para estruturas cognitivas de uma criança em formação, o mundo é o cenário de uma guerra entre dois lados perfeitamente definidos, sem contradições nem interseções. Contudo, quando a gente cresce e começa a conhecer o mundo como ele é de fato, a vida se apresenta em sua complexidade e precisamos nos esforçar mais para compreendê-la fora do esquema simplista dos desenhos animados de nossa infância: é o que chamamos de amadurecimento. Há, no entanto, pessoas que, mesmo depois de adultas, continuam analisando o mundo com as estruturas cognitivas e emocionais de uma criança e, por isso, têm sérias dificuldades em lidar a complexidade da vida. É o caso de Rodriguinho, aquele colunista da revista marrom e enfant terrible que distrai a corte de reacionários brasileiros sem discernimento, mas com muita indigência intelectual. Em seu novo desabafo macartista, ele responde ao meu texto - "Desonestidade intelectual" - publicado nesta sexta-feira em O Globo, tentando enquadrar meu pensamento em seus esquemas infantis por não conseguir ir além: quem é o "bom" e quem o "mau"? Oriente ou Ocidente? Negros ou brancos? Gays ou héteros? Feijão preto ou o caviar?

Vou tentar ser didático e espero que dessa vez ele consiga compreender. E passarei ao largo de suas referências ao BBB, porque estas são frutos de sua inveja mal-disfarçada do sucesso alheio. Deve ser mesmo frustrante para alguém criado a Toddy e Ovomaltine em bairros nobres e formado em escolas papai-pagou-filhinho-passou ter de ver um gay assumido, mestiço, nordestino, sem apadrinhamentos nem capitanias hereditárias, vindo das camadas mais pobres da população na posição que eu ocupo hoje. Também não comentarei outras pérolas da estupidez que não valem a pena.

No primeiro texto que Rodriguinho publicou em O Globo, ele dizia que o movimento gay é de esquerda; odeia Ocidente — e, portanto, os brancos — e gosta da África; e que, por isso, não critica a lei homofóbica aprovada em Uganda, já que, para fazê-lo, o movimento gay precisaria dizer que os negros são homofóbicos. Vejam como sua simplificação é burra — e racista — ao ponto de não diferenciar "negros" de "africanos" e "brancos" de "ocidentais". Ele precisa colocar um grupo inteiro do lado dos bons e o outro  — porque, em sua percepção como na das crianças, o mundo é binário e só tem dois grupos de pessoas — do lado dos maus.

E precisa imaginar que eu faço o mesmo, só que no sentido contrário ao dele: Uganda aprovou uma lei anti-gay porque os negros africanos esquerdistas são homofóbicos, mas nós, gays, não criticamos essa lei porque somos de esquerda e, portanto, gostamos dos negros e detestamos os brancos, que são ocidentais judeus e cristãos, e, por isso, inimigos da esquerda...

Harvey Milk era negro, Obama é branco e Karl Marx era oriental. Não é mesmo? (Aviso que isto é uma ironia, já que a claque de Rodriguinho tem as mesmas estruturas cognitivas que a dele e, por isso, pode não captar a ironia de um texto.)

Além de informar o colunista sobre tudo o que os movimentos gays do mundo inteiro têm feito para denunciar a lei homofóbica de Uganda e outras semelhantes, eu tentei explicar para ele algumas questões básicas que ele parece desconhecer sobre a história da África. Tentei que ele compreendesse que as primeiras leis homofóbicas desse continente (as chamadas leis "antissodomia") foram levadas pelo Império Britânico quando dominava vastos territórios por ali; e que a onda de preconceitos anti-homossexuais que infelizmente tem se espalhado por lá nos últimos anos não tem raízes nas culturas africanas, como o colunista imagina, mas na religião dos conquistadores e, mais recentemente, na ação política de igrejas evangélicas fundamentalistas dos EUA que investem milhões de dólares na "evangelização" desses povos, usando o preconceito contra os homossexuais como estratégia de marketing e financiando campanhas de políticos homofóbicos.

São dados da realidade, comprováveis com uma mínima pesquisa histórica. Há livros, documentários e teses que se debruçam sobre esse fenômeno e estão disponíveis para quem quiser ler. E, afinal de contas, não deveria ser difícil de compreender, porque no nosso próprio país, a força do discurso homofóbico vem, também, do fundamentalismo evangélico (que não é a mesma coisa que o evangelismo ou o cristianismo, mas uma versão fanática, extremista e preconceituosa dele, da mesma maneira que o islamismo dos aiatolás do Irã ou dos terroristas de Al-Qaeda não é a mesma coisa que a religião de Maomé, mas uma versão fanática, extremista e preconceituosa dela).

Contudo, sua estrutura cognitiva infantil --que divide a vida entre bons e maus-- precisava adaptar minha resposta à sua visão do mundo. Então, o que ele entendeu é que eu estava dizendo que a culpa da homofobia na África é "do Ocidente", da Grã-Bretanha e dos EUA, e não, como ele acha, "dos negros".

Ele diz: para Jean Wyllys, a culpa é "do homem branco ocidental". Não, menino, você não está entendendo nada! Há fatos históricos, como a implantação das leis antissodomia britânicas nas colônias africanas, e há fatos mais atuais, como a ação das igrejas fundamentalistas dos EUA que desmentem a sua burra e racista teoria de que a homofobia é um "traço cultural dos negros africanos"; porém, nem uma coisa nem a outra dizem respeito ao Ocidente como um todo uniforme e atemporal: nem as leis dos britânicos daquela época dizem respeito à sociedade atual desse país, que tem até casamento igualitário — de fato, os gays britânicos, que também são ocidentais, foram vítimas dessas leis, como testemunha a história do cientista Alan Turing —, nem a ação das igrejas neo-pentecostais americanas dizem respeito ao povo americano como um todo.

E nada disso tem a ver com a esquerda e a direita — afinal, da mesma maneira que o Império Britânico levou leis homofóbicas à Índia e às colônias africanas, o estalinismo soviético levou homofobia e outras calamidades aos países socialistas. A história da humanidade vai além, muito além, do esquema mental e da indigência intelectual que a divide em Legião do Mal e Liga da Justiça.

É fato que a homofobia — o nome que hoje adotamos para se referir à interdição e aversão à relação sexual entre pessoas do mesmo sexo — é um fundamento das religiões abraâmicas — as chamadas "religiões do livro": o judaísmo, o islamismo e o cristianismo; e está ligada à exortação "crescei e multiplicai-vos" feita pelo Deus de um povo (as tribos patriarcais semitas) que precisava sobreviver à fuga do cativeiro até a "Terra Prometida".

Essa exortação fez, do sexo para procriação, o único legítimo, e se converteu num valor reproduzido e transmitido ao longo dos séculos, pela língua e demais regimes de representação, nas culturas engendradas e influenciadas por essas religiões. E as sociedades ocidentais ainda carregam o legado dessa história, embora muitos teólogos e líderes religiosos já não façam a mesma leitura desses fatos (um exemplo é o arcebispo anglicano Desmond Tutu, da África do Sul, ativo militante contra o racismo e a homofobia, mas também tem outros exemplos nas igrejas protestantes dos "ocidentais" EUA e Grã-Bretanha). Também é fato que as sociedades ocidentais, capitalistas e com democracias liberais (nem todas as sociedades capitalistas são ocidentais, nem todas são democráticas), no último século, avançaram mais (e mais rápido) no reconhecimento dos direitos humanos da população LGBT e outras minorias, do que outros regimes.

E é fato, também, que os países africanos mais subdesenvolvidos e com regimes pós-coloniais que ainda nem chegaram ao capitalismo liberal têm condições de miséria (tanto no acesso aos bens de consumo quanto aos bens culturais e à educação formal) e carência de regras democráticas que fazem com que eles sejam mais permeáveis à ação dos fundamentalismos religiosos. A própria Igreja católica tem começado a olhar mais para a África e a América Latina, ao tempo que perde influência na Europa, que já foi seu berço e seu império. Para entender tudo isso tem que estudar e pensar um pouco mais!

Eu poderia continuar enumerando outros fatos, mas o fundamental é compreender que o mundo é bem mais complexo do que os desenhos animados e não há blocos estáticos, uniformes, atemporais, essenciais. A luta contra a homofobia, o racismo, o machismo, a intolerância religiosa e outras ameaças contra a liberdade e a dignidade humana é um desafio no capitalismo e no socialismo, em Cuba e nos EUA, no Oriente e no Ocidente, em Roma e em Teerã, no judaísmo, no islamismo, no cristianismo e até entre os ateus. E tem dado passos e recuos em cada canto do mundo. Os preconceitos se entrecruzam das maneiras mais diversas — há gays racistas, negros homofóbicos, mulheres antissemitas, judeus xenófobos, etc. — e atravessam nossa cultura das mais diversas formas, em diferentes regimes políticos e econômicos.

Quem quiser derrotá-los e construir uma sociedade mais justa e mais livre, precisará se livrar dos dogmatismos e deixar de ver o mundo como uma guerra entre o Bem e o Mal, como o vêem as crianças e os indigentes intelectuais (tenho pena dos conservadores que adotaram o enfant terrible como seu mentor intelectual). Precisará fazer política, no melhor dos sentidos, que é o que eu tento fazer cada dia da minha vida.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Na época da ditadura era melhor?

Sabe, na época da ditadura, falar em fome, justiça social e distribuição de renda era motivo suficiente pra ser tachado de comunista - sendo ou não o caso. Reaças domesticados existem com esse pensamento até os dias de hoje e ainda têm a pachorra de passar esses (des)valores a suas gerações imediatamente seguintes... Aí, eu penso seriamente que seria mais fácil conviver com um tiranossauro.
 Tiranossauros... Tão fofinhos e determinados... Além do mais, sempre fui fã de Herson Capri).
O golpe de '64 não foi bem um golpe, quer dizer, foi... E não foi. Na verdade, seria uma revolução (como também é comumente chamado). A ligação essa a subserviência ao capital estrangeiro, principalmente dos EUAses, que mantinham atenções sobre o Brasil para que não se tornasse mais uma ilha político-econômica feito Cuba (e essas modas que Cuba lança - ta da tchiss!). Precisamos voltar um pouco no tempo, até a década de 1930. Primeiro houve o tal Plano Cohen, um suposto documento que alertava para o "perigo vermelho" (já que os EUAses, capitalistas, se encontravam em rivalidades com os soviéticos, sócio-comunistas), tendo como solução emergencial a permanência de Gegê (vulgo Getúlio Vargas) na presidência, mas, em estado de guerra (WTF? Pra não ficar repetitivo?). Daí, vêm as consequências como a constituição de 1937 e o fatídico Estado Novo (que é assunto muito recorrente em www.raizdosambaemfoco.wordpress.com, já que foi um evento histórico de suma relevância para o Samba como conhecemos, mas estou divagando).
Representei o Samba alçado ao patamar de cultura oficial do país, mas sendo perseguido pelas esquinas e morros.
Alguns anos depois - aí, sim - veio a revolução de 1964, que na verdade, era um golpe nos mesmos moldes do tal Cohen (tipo o hi-fi de antigamente, que hoje virou gummy). Não houve insurgência popular (não mais que resmungos falando de lado e olhando pro chão) pra justificar tal ato extremo. Guerra Fria é Guerra Fria e o Brasil também participou (diz que não!). O gigante só estava fora de forma de tanto ficar em frente à TV iolatrando o futebol e o carnaval (de sambas ufanistas e controlados, com cito também no supracitado site). Porque até aí, vá lá, o carnaval e o futebol não têm culpa da acomodação e cultura de medo de levante popular, né? NOT! A bomba atômica também não tem culpa por dizimar meio Japão, foi um dedo que fez (UIA!). Bem, a escravidão e a ditadura ainda estão aí, só se ampliou o cercado e pintou-se a gaiola com cores mais vibrantes, mas tá tudo aí.

João Goulart, o famoso Jango, era um populista da escola de Getúlio Vargas - e da mesma de Tancredo Neves - que propunha mudanças na sociedade como a reforma agrária e nacionalização das refinarias de petróleo particulares, por isso, assustava a ala conservadora, que usou de todo artifício pra criar na população o pânico/histeria anticomunista contra ele.Meteram (UIA!²) de CIA até marinha estadunidense (US. NAVY) na parada só pra manobrar a população - que não pesquisa nada sobre si mesma - contra os "vilões devoradores de criancinhas" (não preciso dizer que isso vem desde a pressão e ameaça de bombardeio ao Brasil, caso não apoiasse os EUAses em suas guerras, já que não foi coincidência a entrada do Brasil - simpatizante do fascismo de Mussolini e do nazismo de Hitler, entrar justamente contra o EIXO na 2ª Guerra).
Um dos símbolos da política de boa vizinhança entre Brasil e EUAses: Zé Carioca. 
Tá, o capitalismo e o comunismo são só modelos sócio-econômicos e o fato de serem o que são hoje, não quer dizer que não possam ser diferentes, não nasceram assim  na natureza, só depende da intervenção humana contra os interesses de uma minoria. Enfim, o presidente Jango fugiu e, novamente, os militares vieram em '64 para nossa própria proteção (lembrei das milícias e da Plebe Rude agora...). Ou você aceitava ou ia ter uma morte muito dolorosa tendo gritos abafados somente pelos gritos de gol e de carnaval. Cantar Chico Buarque, nesse contexto, era o que restava para a maioria (Geraldo Vandré curtiu isso), mas ainda há muitos que conseguem emitir "na época da ditadura não tinha essa bagunça que tá aí!"... Putz, cara... Mas eu tenho uma teoria mais ou menos embasada pra essa pseudo-opinião. Fique aí para o próximo parágrafo.

Ainda aqui? Bem, durante os anos de chumbo, o Brasil teve injetado uma grande quantidade de capital (cof EUAses cof), alavancando o crescimento econômico do país, mas a festa durou o tempo de orgasmo de um coelho e o que restou foi esse abismo sócio-econômico absurdo (que a Globo e a Dilma cismaram de empurrar que diminuiu e está prestes a acabar). Ser politicamente incorreto agora parece um conceito bem mais amplo e paradoxal, né? Diga isso a um amigo reaça. Aí, o que veio foi uma dívida externa grande como o ego de algumas sub-celebridades e o pagamento lento entre eles mesmos lá em cima com o seu dinheiro. Na verdade, isso tá rolando... agora... mesmo!

A ironia é que pra chupar os bagos dos empresários que os sustentam, os políticos conservadores se valeram justamente do populismo, ou seja, de elementos que têm fácil aceitação para mentes não contestadoras. Você foi educado e programado pra achar que tudo na vida é questão de trabalhar, estudar e querer pra poder... Ou seja, você é Xuxa em Lua de Cristal e eles são o Baixo Astral (que eu tinha um tremendo dum medo). Vai dançando seu funk sexual e seu som da modinha, rebole bastante, mas use camisinha e lubrificante, porque a p*ica vai entrar sempre no mais pobre.
Viu? Se você quiser com muita vontade, até o Sérgio Malandro vira príncipe.
Ps.: Não sou contra o futebol nem o carnaval, só acho que são muito pouco pra manter o pensamento "a vida e tão dura, que a gente precisa de uma distração". Não, não tá nada bem e ainda tem pobre que defende esse sistema classista que faz do Brasil uma novela sem preto, sem pobre e que tudo fica pra dar certo no final, quando todo mundo se casa e vie feliz pra sempre. Brasil, um país de tolos. E o futuro? Ah, deixa pra amanhã.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil É REAÇA!

Estava dando umas pinceladas nesse tal Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (ou algo assim) e percebi que ele deveria se chamar Guia Politicamente Reacionário, pois, ele tem um viés de contestador, uma aura transgressora e quebradora de velhos conceitos engessados, mas ele só vem confirmar preconceitos. Não é um livro de história “verdade doa a quem doer”, é só uma forma pseudo-jornalística de se incitar o leitor a manter seu pensamento (?!) do jeito que o sistema quer. Sistema? Que sistema? Esse que está aí e te faz enxergar a vida como normal, como se tudo que está do jeito que está tivesse nascido no universo assim, como se os fatos narrados nos livros fossem uma historinha do passado que não deixou lembrança nem herança. Sim, REACIONÁRIO, amigolhes, é um reaça de marca maior. É o Eike Batista dos reaças: É muito menos poderoso do que pensa, acha que domina o mundo, não é lá essas coisas, para uma mente que filtre o que lê com o raciocínio realmente contestador, além dos frutos que gera, que, na falta de um argumento de defesa plausível, protege e alega “é preconceito porque eu sou RICAAAA!”.

Quem aprendeu na escola tudo como a titia cocota ensinou, com aqueles clichês como ‘descobrimento’, ‘abolição’ ou ‘democracia’, realmente vai achar que esse livro mete o pé na porta, põe o pau a faca na mesa e diz a verdade que ninguém teve coragem de dizer. Mas, só ataca um lado e defende outro. Pensa bem, Zumbi ganhou escravos e uma ascendência tribal de um clã de saqueadores escravagistas afro-africanos (era um ninja silencioso, com certeza, não?); os índios é que acabaram com a Amazônia desmatando e vendendo tudo, o europeu/português foi o povo bem intencionado que tentou alertá-los quanto ao mal que estavam fazendo contra ao meio-ambiente (say: WTF?!) e por aí vai. Deu pra ver a inversão de valores? NÃO?! Vamos um pouco mais adiante, então: O que se passa por transgressor e acidamente sincero é, na verdade, um mantenedor de preconceitos que já vêm arrastados pela sociedade desde sempre. É tipo o papo imbecil que alega que não há porque lutar contra o racismo ou que cotas são preconceito invertido, como se o negro tivesse regalias e não um resgate histórico por ter saído das senzalas de mãos abanando enquanto o europeu veio e ganhou terras pra cultivar (fator básico pra você não conhecer muitos fazendeiros negros).

Aí, fica assim, quem já não achava que existia racismo no Brasil, agora, já pode começar a “defesa” de seu ponto de vista com ‘Ah, mas o negro é que tinha escravos, o negro é que é racista’. Estou falando sério, dê uma olhada no artigo sobre escravidão ou sobre Zumbi no Wikipédia, por exemplo, que serve de ponto de partida pra muitas pesquisas por aí. Vai estar lá falando majoritariamente que Zumbi foi um escravagista que se mantinha conivente com comunidades próximas a Palmares e subjugava sua própria raça. Percebem? Minando a simbologia de Zumbi para a luta negra contra o racismo, muitos racistas latentes e ignorantes de rebarba se sentem representados pra culpabilizar o negro pelo racismo e pela escravidão - desde Mamma África. O velho papo de que racismo existe, mas ninguém vê, porque o negro é paranóico, recalcado e preguiçoso, porque prefere roubar do que trabalhar. Além dos já citados índios matadores da natureza e até Jango, sim, João Goulart, em quem muita gente levou fé na presidência da república foi acusado de não ser tão bonzinho assim como se diz nos livros. Engraçado é que o corsário Cabral (o Pedro, não o Sérgio) não chegou e iniciou toda a dominação, colonização, as agruras e desagruras a que a igreja católica infligiu aos nativos, verdadeiros donos dessa terra. Outros povos estiveram por aqui e não tentaram espremer as riquezas naturais do chão pra enriquecer a coroa (portuguesa, com certeza), fora a cisma com qualquer coisa que lembre comunismo.

Sim, comunismo parece ser o verdadeiro alvo desse jornalista Narloch. Não exatamente o negro, mas ele acusa Palmares de ser um modelo de comunidade marxista defendido pelos comunas ao longo dos tempos, então, parece ter se sentido na missão de “abrir os olhos” da nação quanto a esses facínoras comedores de criancinhas (pensei que seria a próxima ‘verdade’ a ser abordada, mas não veio... fiquei frustrado). Pensando bem, os índios também viviam em configurações parecidas, autônomos e cagando para o sistema europeu que se impunha pela força. Claro, a história mostra que nem todo índio lutou pelos seus, tribos se aliaram aos dominadores, assim como muito negro preferiu viver uma ilusão de regalias sob as botas de seus senhores do que refugiado no meio do mato, mas daí a inventar essas figuras de ‘bicho-papão’? Pera lá, é só ver quem está no comando do país até hoje e quem é escondido da mídia -apanhando e morrendo pelas ruas e favelas - como se fosse mesmo minoria e não mais de 50% da nação. E dizer que isso é resultado de um comportamento errado (chato, feio e bobo, ai, ai, ai) e criminoso? É como escrever revelando que não existe Papai Noel, ou que índios e negros não vão ganhar presentes, empregos ou casas porque fizeram bagunça e não obedeceram a mãe pátria durante o ano.


Enfim, isso parece uma grande piada à toa, pois, como os comediantes da ‘nova geração’ (que soltam pipa e jogam bola), se traveste de revolucionária, mas mantém o senso comum exatamente onde está, com toda mesquinharia e preconceitos. E, como os porta-vozes de uma nova geração sedenta por sinceridade (cof falta de criatividade e educação cof), a primeira defesa é “não pode me contestar, isso é censura”, como se ‘piada’ fosse a senha para “estou acima do bem e do mal”. Oras, se eu der uma porrada na cara de alguém, vou ser preso e responder por agressão, no mínimo vou pagar por isso e ficar proibido de chegar perto de minha vítima, logo, se palavras também ofendem, como que um tipo desses não quer sanções disciplinares cabíveis? Os tempos mudaram e a noção de respeito só evolui. Não é transgressor defender preconceitos e posar de revolucionário. Ser politicamente incorreto é, na verdade, ser reacionário, é fazer pose de pobre orgulhoso que acha que tudo é assim mesmo e um dia vai melhorar. Ou pior, é algum abastado que quer fazer a cabeça de sua classe e o povão vai na onda. É um direitista, com certeza. Carochinha pra chamar atenção, mas nenhuma aplicabilidade social se você nasceu depois de 1945 e não tem Hitler num poster no quarto. 

E, no próximo volume, já espero a verdade sobre os Smurfs. Sim, eles são comunistas também. Small Men Under the Red Father. Papai Smurf está de olho, hein, REAÇA!!

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