Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Boato: 'Ra Tim Bum!' não contém mensagem demoníaca

Devido ao mais novo meme do momento, o ‘desafio Dele Alli’ já ter despertado a fúria fanática e mentirosa de certos segmentos religiosos (aquele que dizem que tudo que não é inventado por eles é mentira e/ou coisa do diabo), me inspirei a escrever a respeito de outro fake news, sobre o qual já estava muito interessado em pesquisar. Trata-se da origem do trecho ‘RA TIM BUM’ da famosa canção popular de ‘parabéns pra você’.



Bem, basicamente, a segunda parte do clássico do cancioneiro popular diz, em linhas gerais:

‘é pique, é pique
É hora, é hora, é hora
Ra, Tim, Bum!’

A explicação, segundo o  jornal FAPESP, da USP, nº 102 (2004), ‘pique, pique’ vem, na verdade, de ‘pic-pic’, apelido do estudante de Direito da USP, nos idos da década de 1930 (lugar e época onde se popularizou o canto de saudação aos aniversariantes). Ubirajara teria bigode e barba pontiagudos e portava sempre uma tesourinha para apara-los.

“É hora...” seria pelo tempo que o grupo animado de estudantes paulistas esperavam a cerveja gelar (“meia hora, é hora, é hora...”) e a infame expressão do título deste texto viria do rajá indiano chamado Timbum. O nome teria apelo jocoso aos colegas do visitante acadêmico das Índias, o que seria motivo de incluí-lo em seu momento de festividade.

A explicação para a mudança da forma de cantar seria a mesma característica linguística atribuída ao tempo. Como a palavra ‘você’, que vem de ‘vossa mercê’, sendo contraída e abreviada com o passar dos anos.

Há ainda teorias de que ‘RA TIM BUM’ seria a representação vocal dos sons de instrumentos musicais ou ainda o som de balões de festa estourando. Enfim, teorias são teorias... Mas nada tão absurdo quanto as mentiras que inventaram naquele texto tipicamente alarmista do fim do mundo que alguns pseudo profetas adotam pra causar desinformação no melhor estilo fake news.

Questionamentos não param de surgir, por exemplo, a mensagem diz que a expressão vem de bruxas, era medieval e todo aquele cenário típico do Robin Hood ou Rei Arthur, né? Mas porque raios, só temos a canção em português? E outra pergunta pertinente: Com tudo que a cultura pop cria sendo a mensagem do demônio da religião deles, como esse ‘porta-voz’ traduziu tudo isso? De onde essas pessoas que criam esses boatos catam tanta informação?

Por exemplo, temos a FAPESP pesquisando de onde vem o termo, mas não temos nenhum cara com placa de ‘o fim está próximo, arrependa-se e faça ficha na minha igreja’ mostrando fontes de informação. Apenas causam pânico em gente impressionável sem poder de contestação. Onde haveria conhecimento, eles empurram mentiras, lendas e boatos religiosos de internet, pois assim, conseguem dois prêmios ao mesmo tempo:


Criam uma imagem de maldade em um alvo (minha umbanda e o candomblé são alvos constantes dessa monstruosidade) e ainda alienam seu público, impedindo-o de ter independência de pensamento. Exploram a fé alheia como se fazia justamente na era medieval, a que eles falam que os outros é que eram os emissários do anti-cristo.

Fontes:

sábado, 18 de agosto de 2018

Bolsonaro: O meme que virou candidato


Se ficarem perguntando as mesmas 'polêmicas' de sempre sobre racismo, violência e homofobia pro 'professor' bolsonaro, ele sempre vai se tornar meme e vai ganhando popularidade ou por ignorância ou por ódio social interno de seus fãs falsos moralistas...

Isso só serve pra vender jornal e ganhar views em site. Em resumo, é uma safadeza barata da mídia pra gerar burburinho. Uma mídia séria decidiria logo perguntar pro pseudo candidato coisas realmente da alçada de um presidente da república, como planos para a economia, educação superior, política externa, etc.

O que acontece é um bando de comunicador carente querendo seu holofote de momento. Vão ficar igual Marcelo Tas, que colocou Bolsonaro no mapa e criou um meme dos mais monstruosos onde só tinha um imbecil de uma frase só mamando nas nossas tetas quase anônimo desde a ditadura, da qual o 'filósofo contemporâneo' é viúva pensionada até hoje.

Quando perguntarem sobre política mesmo, ele vai se enrolar e aí, vamos ver que até o falecido macaco Tião era melhor candidato e mais bem preparado que ele pra governar um país de proporções continentais e com uma das maiores (se não a maior de todas as) diversidades sócio-culturais do mundo.

Não dá mais pra aturar o palhaço ganhando palanque, microfone e holofote pra defender um monte de coisas que um presidente da república nem chega perto pra decidir. Segurança pública, legislação penal, história... isso não é alçada de um presidente, ele não tem que ser perguntado sobre isso. Assim, ele só prova que é um cidadão débil, não que é um candidato (des)preparado.

Acho sinceramente que dar visibilidade pra um tipo desses com questionamentos pouco objetivos é tão nocivo à comunicação social quanto aqueles jornalistas que ficam em cima de um caso atrapalhando investigações de verdade de quem está lá pra isso, como a polícia.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Um meme que ganhou vida pela raiva da direita


Bolsonaro não tem eleitores, tem leitores... internautas que gostam de repassar um meme como forma de externar seu ódio cotidiano e necessidade de afirmação.

Em suma, graças ao CQC e aquele quadro com a Preta Gil, tiraram ele daquele limbo dos caricatos candidatos inúteis dos zés da pipoca e marias da quitanda.

Ele cresce em marketing porque muitos estão fazendo como diria Arlindo Cruz "o pobre operário que joga seu voto no lixo, não sei se por raiva ou só por capricho".

Bolsonaros são a arma que os revoltoddys usam pra descontar sua frustração social e ignorância política. Pergunta lá, quantos entendiam tanto da política do bolsa antes do face e do zap.

Bolsonaro é o brinquedo que seu filho joga do berço pra fazer birra. A diferença entre ele e a criança manhosa é que se ele consegue toda atenção que quer, MEU filho e eu é que vamos morrer de tiro na esquina e o erro policial numa operação não será nem investigado, coisa que ele defende.

Aliás, vamos nos perguntar porque ele promete tanto sobre segurança pública se esse é um campo para governos estaduais e, no máximo, do legislativo? Pois é, ele fala muito sobre que não terá acesso... a menos que se instale um poder totalitário... Mas aí, né... Pra quem defende ditadura voltando e tem apoio de alas conservadoras religiosas... Pense ou tente não pensar.



segunda-feira, 30 de julho de 2018

Texto de Neymar comentado e ‘traduzido’


No texto anterior, falei sobre Neymar, sua condição de meme ambulante e a mídia tentando apagar o incêndio ao mesmo tempo que o patrocinador que abre o espaço já usa o gancho pra uma nova campanha publicitária. Graças a uma parceria (dizem) entre Neymar e a agência que alimenta a publicidade da Gillette, surgiu, no último domingo (29) o texto (lido em off, diante de imagens do jogador na Copa da Rússia) e eu comento a seguir.

Texto comentado

"Trava de chuteira na panturrilha, joelhada na coluna, pisão no pé. Você pode achar que eu exagero, e, às vezes, eu exagero mesmo.
(Acho que foi o momento mais sincero do texto. Só não sei se foi criação do jogador)

Mas a real é que eu sofro dentro de campo. Agora, na boa, você não imagina o que eu passo fora dele.
(Momentos como este que eu falo, aposto que ele que pôs as gírias pra personalizar. No mais, veja o que Neymar sofre fora do campo)



Prosseguindo:

Quando eu saio sem dar entrevista, não é porque eu só quero os louros da vitória, mas porque eu ainda não aprendi a te decepcionar.
(Deve estar falando com a mídia ou com os patrocinadores. Até porque, com 26 anos, rico e famoso, pode ser verdade, mas não é comportamento de um ‘ídolo’ projetado como esse)

Quando eu pareço malcriado, não é porque eu sou um moleque mimado. Mas é porque eu ainda não aprendi a me frustrar.
(Isso é exatamente o que caracteriza o ‘moleque mimado’: Ter 26 anos, ser pai e ser blindado de uma coisa tão comum na vida que é saber lidar quando se é contrariado)

Dentro de mim ainda existe um menino. Às vezes, ele encanta o mundo. E, às vezes, ele irrita todo mundo. E minha luta é para manter esse menino vivo. Mas dentro de mim, e não dentro do campo.
(Esse é o trecho mais enche lingüiça de todos. Ainda forçando o conceito de que é um menino. Já pensou, na próxima copa o cara com mais de 30 ainda falando que é um menino?)

Você pode achar que eu caí demais. Mas a verdade é que eu não caí. Eu desmoronei. Isso dói muito mais que qualquer pisão em tornozelo operado.
(Essa é a parte mais fácil de explicar: A verdade é que você não caiu, se jogou)

Eu demorei para aceitar as suas críticas. Eu demorei a me olhar no espelho e me transformar em um novo homem. Mas hoje eu tô aqui, de cara limpa, de peito aberto.
(Essa é a parte mais institucional. Repare como fica muito fácil interpretar que o texto é, na realidade, para os patrocinadores, ao mesmo tempo que já lança o conceito da campanha)

Eu caí. Mas só quem cai pode se levantar.
(O melhor mesmo é se manter de pé. Mas como cair é coisa da vida, ele aqui força aquela barra que falei, de que brasileiro adora um herói sofrido pra torcer por sua jornada. A Disney faz isso há décadas)

Você pode continuar jogando pedra. Ou pode jogar essas pedras fora e me ajudar a ficar de pé. Porque quando eu fico de pé, parça, o Brasil inteiro levanta comigo".
(Esse final é pretensioso num nível que só o pessoal do marketing pode ter escrito. Talvez com a participação incisiva do jogador, já que foi muito mal lançada pra profissionais da área. Como assim ele se acha o salvador da auto-estima do Brasil?)

Conclusão: Esse texto vazio só serve pra usar mesmo o fiasco de Neymar na copa (e na carreira) como motivo de propaganda de renovação do ser que a Gillette tá fazendo. Ele não se justifica, não se desculpa... apenas pega os tópicos mais criticados e tenta aliviar sua barra com a galera que investe pesado em grana, equipamentos, acessórios, roupas e na venda de sua imagem como ídolo. Não deu em nada e gerou mais memes e burburinhos. Um livro de auto-ajuda cruzou com um de comunicação social e deu essa coisa aí. Como eu já disse, ele não tem calibre pra ser ídolo e nem liderança de uma geração. Mas tá tudo nivelado por baixo no nosso país, então... Só lamento.







Neymar tenta aliviar a barra...

... faturando uns cascalhos no processo.

Neymar Jr (hiper-valorizado, em minha inútil opinião) é o grande nome de uma geração bem apagada de jogadores de futebol. Ronaldinho gaúcho joga fácil numa seleção pra mim, mas Neymar Jr seria aquele reserva pra incendiar o segundo tempo, talvez. Mas, como o tempo passa e as gerações mudam, essa atual se ferrou. Depois de ser piada e ficar de fora da lista de indicados a melhor do mundo, Neymar(keting) precisava aliviar sua barra (com os patrocinadores, pela desvalorização de sua imagem). Então, ele providenciou um evento beneficente (que sempre pega bem) e narrou um comunicado (constrangedor de forçado). Tudo com muita cara de assessoria querendo apagar incêndio pra que ele continue sendo requisitado pelo público pra continuarem vendendo os produtos que anuncia.

Veja bem, o rapaz é um dos casos mais bizarros de uma combinação explosiva de assessoria descuidada e assessorado sem personalidade. Nem sei se isso é tanta culpa do próprio ou se o pai é que toma as decisões ruins, preparando o filho pra fazer as próprias cagadas quando finalmente crescer. Sim, a base da propaganda em torno de um cara de 26 anos, atleta profissional milionário e pai de uma criança de 6 anos é forçando uma visão de que é um menino aprendendo a viver. Pobre menino rico, né? Deve estar sendo consolado pela namorada atriz famosa em Paris, onde recebe milhões pra realizar o sonho de periferia de jogar futebol e dar festas enquanto seu rosto estampa as mais variadas peças publicitárias, de cuecas a celulares, passando por bebidas e hortifrutigranjeiros. Como disse o coordenador da Seleção, deve ser osso mesmo ser o Neymar Jr. Chega a dar pena, né?

Bem ,eu conheço um rapaz de 26 anos e pai solteiro de um menino em torno dos 5 anos... Ele trabalha a semana toda pra ganhar seu dinheirinho pra ajudar em casa, sustentar o filho (que vive com ele) e quem sabe, curtir um pagode e uma cervejinha no final de semana (que ninguém é de ferro). Esse cara, amigo meu, não é visto como um menino aprendendo a vida. É um homem adulto que sabe muito bem como a banda toca e faz o seu. Trabalha, estuda, se diverte... Se dá um problema ele vai lá e vê como faz pra resolver e nem que quisesse, poderia simplesmente se esconder no seu mundinho de celebridade como Neymar fez após a Copa na Rússia, onde virou piada mundial, se desvalorizou enquanto atleta e enquanto garoto-propaganda de mais de uma dúzia de marcas fortes no mercado.

Aliás, vamos falar sobre esses dois elementos: Propaganda e justificativa. Saiu, na noite do último domingo (29/07/2018), uma peça publicitária onde o Neymar cai-cai, (filho do Neymar pai-pai, Rá! Você não viu essa piada chegando) lê um texto de forma bem forçada. Parece que a criação do texto (com imagens dele na Copa) foi em parceria entre a agência publicitária que serve à Gilette e o próprio jogador. Dá até pra imaginar que sua participação deve ter sido na ‘conversão’ de linguagem formal para gírias, num estilo consultoria. Sabe, quando alguém dá seu toque pra personalizar algo que outro criou de forma mais ‘padrão’? Pra parecer mais pessoal a mensagem, né? Ok, justifica!

Mais uma vez, usou um pretexto pra ganhar dinheiro em cima de drama forçado, porque nós, da área de comunicação, sabemos que o grande público adora uma história triste de superação no final. Pode reparar, todo mundo ama ver mais o ‘herói’ lutar do que propriamente vencer. Coisa de estimular a torcida, tipo novela, filme de herói ou mesmo reality shows. Só faltou Neymar chorar. Aliás, lembram daquele comunicado falando do choro nas oitavas-de-final? Disse que passou muita coisa, sofreu muito e o choro foi seu desabafo... Cara, ele já era rico e famoso antes dos 18 anos. Até o momento, ele tem sido rico e famoso há mais tempo do que foi pobre. E ser pobre é condição normal pra maioria do povo durante a vida toda. Não andamos chorando por aí toda vez que fazemos um gol pela seleção, Ney... vai tratar o psicológico que essa choradeira e vaidade é mais coisa de sociopata do que de trabalhador esforçado.  

O que não justifica é o próprio Neymar. Aliás, ele não se justifica, aquele texto não parece ter saído de seu angustiado coração para a nação brasileira... Em tempo, só vou mencionar que ele recebeu cachê milionário e isso faz parte de uma nova campanha da Gillette, que foca no conceito de ‘um novo homem a cada dia’. Ou seja, mais uma propaganda do patrocinador do jogador, onde ele apenas pega o gancho das críticas que recebe por suas simulações em campo e arroubos de vaidade fora dele. No texto em si, você não vê Neymar dizer que errou, onde errou e como ele fará pra resgatar a confiança que seus patrocinadores precisam pra confiar de novo no produto do marketing que se tornou.

Vamos, antes, lembrar uma curiosidade: Em 2011, meses depois de ter protagonizado o constrangedor episódio da demissão do técnico Dorival Junior (no Santos, em 2010), quando simplesmente deu um chilique daqueles pra fazer valer sua vontade e não o comando do treinador, ele já tinha usado o artifício de se fazer de menino inconsequente ‘sou o baby, você precisa me amar’. Lembra? O patrocinador da vez era a Nextel e ele falava com a câmera como quem tenta cativar o público e logo surge seu pai (o dele, não o seu, internauta leitor, rá!). O discurso era o mesmo, de menino que admite que erra, mas em momento algum ele demonstrou mudança. Só foi sendo cada vez mais supervalorizado, cada vez mais demonstrando vaidade e caprichos, bancado por mídia e patrocinadores, rendimento em campo não correspondendo com tanta marra e a certeza do público de que ele parece mesmo ter parado nos 17 anos de idade.

Agora, ele faz seu evento em sua fundação beneficente (dedutível no imposto de renda) com seus ‘parças’ famosos, é bonito ajudar crianças, pra aliviar sua barra e faz um comunicado desses... Entrevista mesmo, encarando público e jornalistas que é bom, nada. Ele não parece ser muito bom em bater de frente com a responsabilidade que vem com o grande poder que a mídia lhe dá. Ler um texto gravado não resolve, mas permite ele vender lâminas de barbear em troca de muito dinheiro. No fim das contas, além de meme da copa, Neymar vai virar meme pelo texto que leu. Depois de ter forçado a amizade ao ‘explicar’ seu choro diante da vitória sobre o México, ele continua sendo o menino do marketing, mimado e vaidoso estragado pelo dinheiro, fama e possibilidades infinitas que esse status permite.

A seguir: O texto de Neymar comentado e ‘traduzido’.   

Fontes: 






https://esportes.r7.com/prisma/copa-2018/cosme-rimoli/dancando-beijando-festejando-o-luto-de-neymar-durou-13-dias-20072018 

domingo, 22 de julho de 2018

Para os pobres, bolsa-família. Para os ignorantes, bolsonaro



Jair Bolsonaro está há uns 50 anos participando de sucessivos governos como parlamentar e nunca teve uma mínima plataforma de governo pra ser, sequer, considerado candidato à presidência do país. Desde que me entendo por gente que ele sempre foi tipo o Enéas Carneiro, por ser mais conhecido apenas por uma frase de efeito, que com o bordão 'bandido bom é bandido morto'. Plano de matar, ok! Plano de educação, economia, cultura ou qualquer coisa construtiva que é bom, nada, né?

Está na cara que está sendo bancado ideologicamente por grupos conservadores que viram nele o meme perfeito pra desafogo do ódio social cotidiano que o cidadão tem pelas dificuldades da vida. É como lançar candidatura pra Hitler pregando o medo de judeus dominarem o país no senso comum.

Resumindo: É um imbecil de marca maior, mas que era 'inofensivo' antes de virar meme da direita caviar que arrota mortadela. Era um cachorro brabo latindo atrás de um cercado. Agora, com a popularização da internet no imaginário popular, ele se torna perigoso porque vai ser instrumento dos verdadeiros ditadores ideológicos religiosos e interesseiros que vendem vaga no céu através da dominação mental da maioria.

Usam fiéis como massa de manobra pra fazerem do Bolsoleca seu avatar à frente do governo do país. Nem precisamos ir muito longe, quando vemos o que um prefeito/líder religioso faz por sua galera quando chega lá no gabinete maior, né? Fala com a Márcia.

Resumindo ainda mais: Estamos muito ferrados só por esse tipo ser cogitado pra um cargo de tamanha importância nas transformações sociais. Cada um tem o Trump que merece e vai morrer muita gente de tiro ou de desgosto no processo.

E, quer saber? Morrer morreu! Um lado meu fica curioso pra ver uma merda dessas acontecer só pra esfregar na cara dos que hoje se acham entendidos de política por causa de discurso de ódio de internet (aqueles mesmos que antes do face e do zap achavam política uma coisa chata).

segunda-feira, 18 de junho de 2018

O que é Copa do Mundo?


Antigamente, copa do mundo era algo que 'acontecia'. Sim, acontecia no sentido de ser um evento que mobilizava, mudava rotinas, unia pessoas... hoje, tá uma mídia ferrenha, mas que não cativa. Só para aqueles que ainda têm o hábito ou curiosidade de saber quem vai ganhar. Patriotismo não tem, porque vejo a ironia de gente aí falando coisas como 'isso é Brasil mesmo, essa m...', e depois tá torcendo feito louco como se o próprio filho jogasse na seleção com o argumento de 'a seleção não tem culpa' ou ainda 'o Brasil precisa ter alguma alegria'.

Mas, voltando, eu acho que copa, hoje em dia, é algo feito e embalado já pra render o que deu certo e chamou atenção antes. A copa mal começou e já têm milhares de musas da torcida, já elegeram um bicho qualquer como o vidente da vez, colocaram o nome de um jogador popular entre os que acompanham e toda hora é alguma notícia forçada pra pegar aqueles curiosos que ficam atualizando telas de PCs e celulares. É o mesmo efeito da combinação vermelho-amarelo do McDonald's ou de qualquer loja de brinquedos... Coloca-se cores vivas pra atrair a atenção visual imediata... e seleções de futebol juntam tudo isso.

Saudades verdadeiras do tempo que, mesmo sendo um placebo açucarado, como o carnaval, novela ou qualquer outra coisa que a mídia faça pra manter a audiência no alto e a população adestrada, ainda tinha espaço para acontecimentos espontâneos. Vamos ver: da minha memória pessoal, lembro da copa de 1990 e o gol de Caniggia com passe de Maradona em cima do Brasil, em 1994, a torcida pela convocação de Romário contra o Uruguai, o tetra e a homenagem a Ayrton Senna... Era uma mídia diferente, que realmente buscava o sentimento do brasileiro em relação ao futebol. Tremenda ferramenta de alienação na época da ditadura, mas tinha um viés de verdade, digamos, 'inocente'.

Hoje, já estamos na terceira copa em que se espera que o Neymar(keting) salve o país, mas além de vender cueca, desodorante, celular e a ideia ilusória de que minimamente será lembrado como ídolo daqui a 50 anos, como outros o são, não vejo nada de mais. Só a mesma história de ser superestimado pela mídia e parte da população e sua namorada-parceira de publicidade e propaganda. Vender ele vende bem, é um conceito publicitário. Jogar, nhé... pode ser, mas tô falando daquele 'tchan', que acho que morreu no Ronaldo Nazário, Ronaldinho Gaúcho e Adriano.

Hoje tá essa fanfarronice no modo automático. Seleção tem modelos se fazendo de jogadores (por isso que quando se deparam com times organizados levam surras homéricas ou passam inexpressivos por que o adversário ainda respeita o peso da camisa).

E assistir Brasil jogando com camisa da CBF ainda me faz lembrar os paneleiros da vida... Nhé... quem é de curtir que curta, porque quando a gente quer, qualquer pé-sujo da esquina vira uma festa de gala. No mais, eu não sou patriota, não me sinto representado por um país que odeia minha raça, finge que não passou mais de 300 matando e violentando meus ancestrais e hoje me chama de chato porque eu denuncio seus remanescentes ideológicos.

Copa é copa e aquelas que já passaram vão sempre estar na minha memória afetiva. De 1998 pra cá é só marketing, vendas e nem um sonho pra quem quer sonhar.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

9 Manifestações políticas em eventos esportivos que entraram para a história

Tiago Leifert não para de disparar sua metralhadora giratória de abobrinhas. Na verdade, acho que ele é o novo Lobão, Roger Moreira ou sei lá... Se em vez de só alienar, ele direcionasse a opinião pra algum lado ideológico eu diria isso com certeza, mas como ele só quer desligar seu cérebro e curtir um bom jogo, acho que ele tá mais pro menino de apartamento que senta no carpete anti-alérgico pra jogar seu PS4/Xbox. E, pelo mau humor que tem demonstrado, parece que nem com macete tá conseguindo vitórias e tá descontando nos outros.

A última... ou melhor, mais recente – porque última eu duvido que seja – é que um atleta estadunidense, ao se manifestar contra a violência policial pra cima dos negros nos EUAses, tornou o esporte ‘chato’, porque, segundo o apresentador/colunista, manifestações políticas não combinam com esporte. Ele, segundo sua tese, só quer chegar em casa e assistir a um bom jogo sem precisar se incomodar com a desventura alheia. Sim, porque é isso mesmo que ele passa. Ele não se preocupa com os problemas dos outros, apenas quer passar imune aos problemas do mundo que não o afetam. Como esquecer do recente episódio onde afirmou que os participantes do BBB falam em representatividade estão falando à toa, pois não teriam recebido credenciais da população para serem representados? Aliás, quem foi que deu credenciais ao Tiago Leifert pra afirmar que a população não gostaria de ver mais representaividade?

Bom, como obviamente ou Tiago não tem memória, ou acha que eventos esportivos com manifestações políticas são tipo legume no lugar do seu sucrilhos, vamos lembrar rapidamente de alguns momentos que, em vez de chatos, pro pequeno Tiaguito, tornaram-se marcos históricos e símbolos de mudanças, mesmo que para gerações seguintes, tendo significado até retaliações por parte de governos. Afinal, será que a história aconteceria do jeito que acontece se todos deixássemos manifestações políticas de lado pra assistir novela, BBB ou jogo na TV? Vamos lá:

Colin Kaepernick – 2016


Primeiramente, fora temer, vamos falar do pivô – ou seria quarterback, rá! Sacou o trocadilho esportivo? – da situação toda: Colin Kaepernick. Quem é esse cara? Onde atua? De que se alimenta? Bom, pro texto não ficar tão chato quanto um evento esportvo com manifestações políticas, vou resumir: Kaepernick é um, segundo Tiaguito, ‘criador de problemas’ que está sendoa dor de cabeça de Trump e uma polêmica ambulante. Ele, em 2016, passou a não se posicionar diante da execução do hino estadunidense, sempre se ajoelhando ou se sentando em protesto contra a discriminação racial. Uns apoiam, outros acham que é um desrespeito à bandeira e eu digo que respeitar a bandeira de um país que mata seu povo seria contraditório. Segundo, Leifert, esporte é pra desligar-se da realidade e não para manifestações políticas. Bom, o cara (Kaepernick) fez sua manifestação na hora do hino e não interrompeu partida nenhuma pra discursar, se esse era o medo do menino the voice.

 Jesse Owens – 1936

Chupa, Hitler. Nem me viu!
Naquele ano, o nazismo ainda não tinha estourado em guerra contra o mundo, mas já tinha bem definidas suas convicções políticas, inclusive no esporte (olha aí, Tiaguito, muito antes de você pisar sobre a Terra pra falar asneira). Acontece que o plano de Hitler era usar a olimpíada de Berlin pra fazer propaganda da superioridade ariana (da qual ele mesmo não fazia parte) e teve atravessado em seu caminho o negro estadunidense Jesse Owens. Owens, simplesmente, ganhou 4 medalhas de ouro em provas de velocidade, incluindo a clássica de 100m rasos. No pódio, ele se recusou a olhar para a tribuna onde estava o führer, mesmo que o tal já tivesse saído do estádio desgostoso da vida.

Muhammad Ali – 1967

Aqui, Ali em companhia de Malcolm X
Só de mudar o nome de Cassius Clay para Muhammad e se converter ao islamismo, já foi uma tremenda manifestação política, visto que essa era uma postura muito definida de Malcolm X, que o influenciou com a ideologia adotada pelos Panteras Negras. Mas, não bastando, Ali ainda protestou contra a guerra no Vietnã se recusando a lutar (na guerra, não nos ringues), sendo preso, multado e tudo, mas apelou e foi absolvido, alegando motivos religiosos. Lenda é pouco pra esse cara.

Tommy Smith e John Carlos – 1968


Nos jogos do México, os atletas celebraram suas medalhas (ouro pra Smith e bronze pra Carlos) com um dos punhos cerrados para o alto dentro de luvas negras. Saudação do partido dos Panteras Negras. Lembrem-se, era época de intensa luta por direitos civis dos negros nos EUAses. Eles foram expulsos da Vila Olímpica e nunca mais suas vidas foram as mesmas. Segundo Leifert, isso seria evitado se eles apenas desligassem os cérebros e corressem pra entreter o público. Mas... será que seria melhor sem isso? Será que seriam exemplos de luta ainda hoje?


EUA x URSS – 1980


Após a invasão soviética ao Afeganistão, os EUAses se recusaram a participar dos jogos olímpicos de Moscou. Era guerra fria no seu momento mais tenso e a terra do Tio Sam expôs seu posicionamento político pra desespero do recém-concebido Tiaguito, ainda em sua manjedoura dourada, com Mario Kart e God of War incluídos.

Corinthians – 1981


Pela democracia dentro do clube, jogadores, encabeçados por Sócrates e Casagrande, exigiram maior participação dos jogadores em decisões importantes, assim como o movimento ganhou força no clube, por ser um dos maiores clubes do Brasil, também significou uma luta maior, pela democracia no Brasil, em tempos de ditadura enfraquecida e o povo clamando nas ruas. Inclusive, Casagrande, hoje o famoso comentarista de esportes, já deu seu parecer sobre o equívoco que seria não misturar política e esporte. Tendeu, Tiago?

URSS x EUA - 1984


Aí, foi a vez da retaliação fria da Guerra Fria (hein?!). A União Soviética decidiu dar o troco e nos jogos olímpicos de Los Angeles, também não foi. Alegando temer pela segurança de seus atletas, em possíveis protestos violentos, resultado: Boicote dos dois lados, empatou.

Nelson Mandela – 1995


Madiba foi o primeiro presidente negro da África do Sul após o apartheid. O regime separatista e opressor imposto à raça negra criou uma secção na hora do rúgbi. É que o esporte era mais querido pela minoria branca e a maioria negra perigava boicotar. Mandela uniu a população ao trazer para si os amantes do esporte e fez a ponte para um início de quebra de desconfiança da população negra. Estava encaminhando para uma sociedade mais integrada através do esporte.

Coréias unidas - 2018

 Todos com um mínimo de conhecimento político e histórico, sabemos que as Coréias do norte e do Sul não se dão. Mas as duas formaram uma delegação que competiu sob a mesma bandeira e mesmo não tendo resultados significativos nos jogos de inverno de PyeongChang, o COI (Comitê Olímpico Internacional) já cogita indicar a equipe de hóquei no gelo para o prêmio Nobel da paz, pela atitude de promover a tolerância, aceitando jogadores dos dois países.


Então, Tiago Leifert, deixa de falar besteira, porque afora ter levantado uma questão muito legal de ser debatida, você o fez através de mesquinharia ou alienação. Foi como levar chuva a uma região de seca, mas por que tava tentando afogar os outros e seu plano deu errado. Se política e esporte realmente não combinassem, nem hino nacional era pra se cantar, muito menos se dividir em países e fomentar disputas nacionalistas, coisa que até numa guerra se faz. 

Não finja se importar com o atleta ‘problemático’, porque você não liga nem pra ele e nem para toda a população que sofre o que ele está denunciando com seus manifestos pacíficos. Você só não quer ser lembrado que o mundo tem problemas para os quais você não liga, rapaz branco, rico, famoso e privilegiado. Vai do trabalho pra casa desligar o cérebro que é melhor. Não precisamos saber o que você pensa deixa de pensar. Vamos analisar que esporte não é lugar pra manifestação política, programa de TV não é lugar pra ativismo e representatividade... O que ele acha que a população é? Um bando de vegetais que só servem pra ligar o aparelho e dar audiência? É, pois é...

Sabe como usar globo, controle e população na mesma frase? 

Tiago Leifert: Esporte e política não se misturam? Sério?

 
Se o apresentador playboy não fosse alienado, lembraria de momentos como esses acima, antes de falar besteira.
Tiago Leifert só refletiu uma impressão que eu já tive com William Waack e todo o sistema midiático do Brasil.

Veja bem, quando Maju Coutinho, Taís Araújo e Cris Vianna sofreram ataques racistas, a globo já foi lá com a hashtag 'somostodosfulana', mas aí, a gente nota que 95% de seu quadro é de gente branca - e não negros, como descendentes de árabes, japoneses, etc.

Então, vem um William Waack da vida, que já tinha destilado veneno para outras situações de forma igualmente leviana e sem caráter, e diante de uma buzina incômoda fora do estúdio, diz que só podia ser coisa de preto. Nem viu quem foi, mas pra ele, só uma pessoa de etnia negra/afro poderia ser tão incômodo.

Tiago Leifert sendo o poeta que é. #sqn
Depois da demissão/afastamento, a primeira coisa que eu falei foi que isso só ocorreu porque se tornou público, pois as conversas de corredor mais divertidas da emissora - e das outras - deve ser o fino da bossa do machismo, racismo e homofobia. Imagina quantos não estão se borrando de medo de ter um flagra desses publicado?

Enfim, não deu muito tempo, e Tiago Leifert já deu duas tropeçadas dessas e em mídias diferentes. Numa, diz em rede nacional, na TV, para uma participante negra ativista social que o BBB não se interessa por seu lado jornalístico, que só queria vê-la. Argumento idiota, pois uma pessoa formada em qualquer faculdade, vai trazer em si sua formação, como parte de sua identidade social. Metralhadora giratória de impropérios.

Aí, Leifert, aquele branco, rico, famoso e que provavelmente deve ter tido como maior desafio na vida, zerar Super Mario Bros sem macete, escreve para uma revista que esportistas não deveriam misturar esporte e política, porque torna o esporte uma coisa chata. Isso, no país que despreza seus esportistas e só valoriza aqueles que podem se tornar garotos-propagandas de desodorante, cueca e celulares e atrair audiência quando tem alguma competição perto.

Leitor que eu abraçaria depois
de aplaudir se eu presenciasse
essa conversa.
Enfim, depois de dizer 'esse negócio de representatividade não leva a nada' para Nayara, do BBB, ele já deixou claro que ironicamente, ele mesmo representa algo: A cultura alienante da classe rica sobre a classe pobre, através dos meios de comunicação que controlam e seus programas que mostram a realidade como eles querem e não como ela é. Vai por mim, eu trabalhei na central de atendimento da globo intermediando público e emissora.

Leifert não surpreende em nada com seu "posicionamento" de não querer se chatear com problemas sociais que não o atingem. E não contente, ainda 'justifica' a demissão de um jogador de futebol americano que usou o momento do hino pra manifestar-se contra a violência policial sobre negros nos EUAses. Tipo, 'se sofrer uma injustiça, cale-se, ou você perde o emprego' e 'não me venha com raciocínio, eu não quero pensar, só gritar com a tv na hora do futebol'.

Ainda é mais sincero do que muitos aí que se fingem de revoltados com a corrupção e trabalham pra uma máquina gigante de apoio a empresários e políticos descendentes/viúvas da ditadura. Mas não se engane, não estou elogiando o apresentador. Ele só é junior onde a cambada é sênior.

Ps¹: Falando em não misturar esporte com política, já repararam que Pelé, o esportista negro mais famoso do Brasil faz questão de reforçar esse aspecto 'bom crioulo' e sempre passa de lado, ou até aconselhando a deixar o assunto pra lá com um sorriso, como fez com o goleiro Aranha, ao vê-lo ser xingado de macaco por torcedores do Grêmio? Pelé e Tiago, calados, são poetas da melhor qualidade. Vozes de suas gerações. Rá!

Ps²: Política é exercida até quando se combina em qual momento se deixa ligada ou desligada a TV. Sem política, a sociedade seria apenas um monte de gente andando por aí a esmo. E outra, há momentos em que se misturaram os dois assuntos e foram marcos históricos. Tiago, vai jogar Mario Kart, menino, e deixa quem entende do tema falar.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Pantera Negra e a Representatividade



Pegando ainda o gancho da infeliz - e desprovida de caráter - de Tiago Leifert ("esse negócio de representatividade não leva a nada"), me peguei pensando sobre 'esse negócio de representatividade' ao longo da semana.

Primeiro, que não preciso nem dizer o quão deficitária de um mínimo de lógica foi a colocação débil do referido apresentador, né? Não vou nem levá-lo a sério, branco, rico, famoso e trabalhando para um dos maiores pilares da contra-representatividade no país, afinal, cadê o tal espelho/janela por onde o Brasil se veria na TV - como dizia um famoso slogan da emissora - se a maioria de negros do país não vê nem 10% diante das câmeras e quase nenhum atrás, com a caneta de escritor e a cadeira de diretor? Enfim, vamos falar de representatividade, que além de importar muito, está ganhando um importante capítulo na nossa luta por mais justiça social, igualdade e respeito. Não só do branco rico para/com o negro pobre, mas do próprio negro para/consigo mesmo.

Como tudo começou?

Eu era bem pequeno e, ao contrário do que muitos pensam, crianças veem diferenças sim. Pode ser algo residual da convivência com adultos que reproduzem racismo, mas mesmo involuntariamente, muita criança fala e ouve bizarrices que só vão entender depois de grandes, SE derem sorte. É perfeitamente capaz de alguém passar a vida achando que preto é motivo de piada sem que tenha a oportunidade de aprender a questionar de onde vem isso. Aliás, muito preto passa a vida se conformando com isso e achando que deve ser o coadjuvante cômico da própria vida.

Sendo assim, eu, tendo nascido no início dos anos '80, tinha pouquíssimos personagens de grande apelo público para me espelhar. Sim, tinha os disfarçadamente negros, como Panthro (dos Thundercats e seu visual nitidamente negro, inclusive o estereótipo de mecânico da equipe) e até mesmo He-man (que, ao se transformar, passava de um frágil branco para um viril bárbaro negro, de cabelos loiros (?!)), mas esses não contavam. Não tínhamos muitos personagens que se apresentassem como negros e se colocassem em pé de igualdade.

Tinha a Tempestade nos gibis, ainda não existia o Super Choque e John Stewart, o Lanterna Verde negro do desenho da Liga da Justiça, era pra lá de secundário mesmo nos gibis, nunca tendo aparecido em qualquer desenho antes da série clássica de 2001. Os principais e, mais importante, os que mais chegavam ao imaginário popular, ganhavam filmes, desenhos e linhas de bonequinhos, eram os brancos de classe média Superman, Homem-Aranha, Batman, etc.

Se eu entrasse numa brincadeira para se incorporar em algum personagem, eu sempre era motivo de algum coleguinha parar a brincadeira para ressalvar que eu era o 'Flash depois do incêndio', ou o 'Superman que caiu na lama' e essas baboseiras que ilegitimavam minha humanidade enquanto negro. E a criação de personagens possibilitava esse discurso. A maioria foi criada nos EUAses da década de '30 a '70, um país que a maioria é branca e o público consumidor, idem.

E no Brasil, Saga?

Bem, no Brasil, o referencial na TV era muito pobre. Mussum, Tião Macalé e Jorge Lafond, alegravam vidas nos Trapalhões, mas não de um jeito muito representativo. Eram os alívios cômicos do racismo (e no caso de Lafond, de homofobia). Eram tratados como caricaturas e nós, na vida real, éramos os 'filhos'. Que pretinho crescendo na década de '80 nunca foi chamado de filho do Mussum para gargalhadas histéricas e debochadas? Era nosso lugar na sociedade. Não é?

Ah, tínhamos também o clássico Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato e sua transmissão clássica... Ah, os pretos eram o Saci, uma criatura folclórica brasileira conhecida por só aprontar com os outros, um preto velho conselheiro (Tio Barnabé) e uma preta quituteira (Tia Nastácia) que apesar de ser a cozinheira, até na hora de nomear uma marca famosa de farinha de trigo, perde o lugar para a patroa branca (Dona Benta).

Não vamos esquecer que para a TV, a coisa foi bem amenizada, quando é só a gente pesquisar um pouco da vida e obra de Monteiro Lobato e vemos que ele era um tremendo eugenista, daqueles que acreditam que o 'lugar' do negro é no serviço braçal e submisso e o do branco é nas esferas intelectuais. O típico racista que estereotipa o negro como o burro de carga e o branco como o 'raça pura' (da mistura de cavalo de raça com burro de carga é que nasce o jegue, ou o jumento, ou a mula... sim MU-LA-TO - argh, detesto esse termo).

Ma pera, Saga, e os gibis?

Bem, vamos tentar então na parte dos gibis... Bom, se a coisa não era boa na gringolândia, aqui tínhamos Maurício de Sousa Produções... Nhé... perdemos de novo, negada! Veja que a MSP só tinha dois personagens negros, o Jeremias (um personagem nunca valorizado a ponto de ser visto perto dos protagonistas) e o Pelezinho (criado única e exclusivamente por causa do Pelé, menos representativo para negros que um cone de trânsito). Na verdade, já abordei o assunto aqui, tem mais personagens verdes do que negros na Turma da Mônica.

E hoje, Saga?

Bem, hoje temos muitas referências, embora ainda seja pouco com protagonismo, afinal, de que adianta nos representar sendo o ajudante, igual aquele péssimo Percy Jackson, onde o negro é o guarda-costas não humano do branco semideus? Bem, alguns outros exemplos já estão aí e outros porvir, mas vou resumir tudo em duas palavras: PANTERA NEGRA.

O Pantera sendo o protagonista, rei de uma África que nunca foi colonizada pelo branco, que luta ao lado de mulheres igualmente poderosas e empoderadas e que defende seu povo e sua terra... Caras, isso sim é representatividade. Não é só pegar um ou dois negros e colocar ali no meio dos figurantes pra dizer que se importam. Aliás, o elenco todo é uns 98% negro e isso é inédito de várias maneiras.

Conclusão

Bem, hoje, eu não sei, porque tem muito celular, aplicativo e joguinhos desviando a atenção das crianças em suas brincadeiras, mas se fosse no meu tempo, isso seria uma revolução ainda maior, ser diretamente ligado a um herói poderoso e imponente em vez de caricaturas cômicas. Não ia ter palhaçada de 'você é o herói tal depois do banho de tinta', não! Eu ia ser o Pantera Negra, aquele que pode arrancar essa sua língua suja só por desrespeitar um dos meus. E isso é lindo.

Quer ver como esse filme é, no mínimo, diferenciado em termos de filme de herói, filme da Marvel, filme representativo? Olha a avaliação do Rotten Tomatoes, site de crítica famoso por mostrar a reação do público diante de um filme.


Perceberam? Quase 100% de aprovação. Nenhum outro filme, mesmo os hypados como Batman: O Cavaleiro das Trevas, não teve quase crítica negativa. Aliás, se quiser entrar lá pra ver o que os pouquíssimos críticos falaram, fique à vontade, vou logo adiantando que são críticas rasas sobre o roteiro priorizar a história e não as cenas de porrada ou até dizer que a história é irreal, porque África não é daquele jeito na realidade. Mas, você vai lá por própria conta e risco.

No mais, representatividade importa sim, com certeza não pro BBB e pra emissora que o sedia, afinal, eles não chegaram onde chegaram fortalecendo cada camada social e sim, enganando toda uma população já viciada a assistir sem questionar sua programação. Aliás, a palavra programação tem duplo sentido aqui, reparou? É igual quando falamos em colonização. Colonizar não lembra a vocês também algo de abusivo em relação à anatomia humana? COLONizar? Bom, deixa eu ir, porque já estou divagando demais.


Depois eu desenrolo essas divagações em mais textinhos. Rá!
Powered By Blogger