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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

9 Manifestações políticas em eventos esportivos que entraram para a história

Tiago Leifert não para de disparar sua metralhadora giratória de abobrinhas. Na verdade, acho que ele é o novo Lobão, Roger Moreira ou sei lá... Se em vez de só alienar, ele direcionasse a opinião pra algum lado ideológico eu diria isso com certeza, mas como ele só quer desligar seu cérebro e curtir um bom jogo, acho que ele tá mais pro menino de apartamento que senta no carpete anti-alérgico pra jogar seu PS4/Xbox. E, pelo mau humor que tem demonstrado, parece que nem com macete tá conseguindo vitórias e tá descontando nos outros.

A última... ou melhor, mais recente – porque última eu duvido que seja – é que um atleta estadunidense, ao se manifestar contra a violência policial pra cima dos negros nos EUAses, tornou o esporte ‘chato’, porque, segundo o apresentador/colunista, manifestações políticas não combinam com esporte. Ele, segundo sua tese, só quer chegar em casa e assistir a um bom jogo sem precisar se incomodar com a desventura alheia. Sim, porque é isso mesmo que ele passa. Ele não se preocupa com os problemas dos outros, apenas quer passar imune aos problemas do mundo que não o afetam. Como esquecer do recente episódio onde afirmou que os participantes do BBB falam em representatividade estão falando à toa, pois não teriam recebido credenciais da população para serem representados? Aliás, quem foi que deu credenciais ao Tiago Leifert pra afirmar que a população não gostaria de ver mais representaividade?

Bom, como obviamente ou Tiago não tem memória, ou acha que eventos esportivos com manifestações políticas são tipo legume no lugar do seu sucrilhos, vamos lembrar rapidamente de alguns momentos que, em vez de chatos, pro pequeno Tiaguito, tornaram-se marcos históricos e símbolos de mudanças, mesmo que para gerações seguintes, tendo significado até retaliações por parte de governos. Afinal, será que a história aconteceria do jeito que acontece se todos deixássemos manifestações políticas de lado pra assistir novela, BBB ou jogo na TV? Vamos lá:

Colin Kaepernick – 2016


Primeiramente, fora temer, vamos falar do pivô – ou seria quarterback, rá! Sacou o trocadilho esportivo? – da situação toda: Colin Kaepernick. Quem é esse cara? Onde atua? De que se alimenta? Bom, pro texto não ficar tão chato quanto um evento esportvo com manifestações políticas, vou resumir: Kaepernick é um, segundo Tiaguito, ‘criador de problemas’ que está sendoa dor de cabeça de Trump e uma polêmica ambulante. Ele, em 2016, passou a não se posicionar diante da execução do hino estadunidense, sempre se ajoelhando ou se sentando em protesto contra a discriminação racial. Uns apoiam, outros acham que é um desrespeito à bandeira e eu digo que respeitar a bandeira de um país que mata seu povo seria contraditório. Segundo, Leifert, esporte é pra desligar-se da realidade e não para manifestações políticas. Bom, o cara (Kaepernick) fez sua manifestação na hora do hino e não interrompeu partida nenhuma pra discursar, se esse era o medo do menino the voice.

 Jesse Owens – 1936

Chupa, Hitler. Nem me viu!
Naquele ano, o nazismo ainda não tinha estourado em guerra contra o mundo, mas já tinha bem definidas suas convicções políticas, inclusive no esporte (olha aí, Tiaguito, muito antes de você pisar sobre a Terra pra falar asneira). Acontece que o plano de Hitler era usar a olimpíada de Berlin pra fazer propaganda da superioridade ariana (da qual ele mesmo não fazia parte) e teve atravessado em seu caminho o negro estadunidense Jesse Owens. Owens, simplesmente, ganhou 4 medalhas de ouro em provas de velocidade, incluindo a clássica de 100m rasos. No pódio, ele se recusou a olhar para a tribuna onde estava o führer, mesmo que o tal já tivesse saído do estádio desgostoso da vida.

Muhammad Ali – 1967

Aqui, Ali em companhia de Malcolm X
Só de mudar o nome de Cassius Clay para Muhammad e se converter ao islamismo, já foi uma tremenda manifestação política, visto que essa era uma postura muito definida de Malcolm X, que o influenciou com a ideologia adotada pelos Panteras Negras. Mas, não bastando, Ali ainda protestou contra a guerra no Vietnã se recusando a lutar (na guerra, não nos ringues), sendo preso, multado e tudo, mas apelou e foi absolvido, alegando motivos religiosos. Lenda é pouco pra esse cara.

Tommy Smith e John Carlos – 1968


Nos jogos do México, os atletas celebraram suas medalhas (ouro pra Smith e bronze pra Carlos) com um dos punhos cerrados para o alto dentro de luvas negras. Saudação do partido dos Panteras Negras. Lembrem-se, era época de intensa luta por direitos civis dos negros nos EUAses. Eles foram expulsos da Vila Olímpica e nunca mais suas vidas foram as mesmas. Segundo Leifert, isso seria evitado se eles apenas desligassem os cérebros e corressem pra entreter o público. Mas... será que seria melhor sem isso? Será que seriam exemplos de luta ainda hoje?


EUA x URSS – 1980


Após a invasão soviética ao Afeganistão, os EUAses se recusaram a participar dos jogos olímpicos de Moscou. Era guerra fria no seu momento mais tenso e a terra do Tio Sam expôs seu posicionamento político pra desespero do recém-concebido Tiaguito, ainda em sua manjedoura dourada, com Mario Kart e God of War incluídos.

Corinthians – 1981


Pela democracia dentro do clube, jogadores, encabeçados por Sócrates e Casagrande, exigiram maior participação dos jogadores em decisões importantes, assim como o movimento ganhou força no clube, por ser um dos maiores clubes do Brasil, também significou uma luta maior, pela democracia no Brasil, em tempos de ditadura enfraquecida e o povo clamando nas ruas. Inclusive, Casagrande, hoje o famoso comentarista de esportes, já deu seu parecer sobre o equívoco que seria não misturar política e esporte. Tendeu, Tiago?

URSS x EUA - 1984


Aí, foi a vez da retaliação fria da Guerra Fria (hein?!). A União Soviética decidiu dar o troco e nos jogos olímpicos de Los Angeles, também não foi. Alegando temer pela segurança de seus atletas, em possíveis protestos violentos, resultado: Boicote dos dois lados, empatou.

Nelson Mandela – 1995


Madiba foi o primeiro presidente negro da África do Sul após o apartheid. O regime separatista e opressor imposto à raça negra criou uma secção na hora do rúgbi. É que o esporte era mais querido pela minoria branca e a maioria negra perigava boicotar. Mandela uniu a população ao trazer para si os amantes do esporte e fez a ponte para um início de quebra de desconfiança da população negra. Estava encaminhando para uma sociedade mais integrada através do esporte.

Coréias unidas - 2018

 Todos com um mínimo de conhecimento político e histórico, sabemos que as Coréias do norte e do Sul não se dão. Mas as duas formaram uma delegação que competiu sob a mesma bandeira e mesmo não tendo resultados significativos nos jogos de inverno de PyeongChang, o COI (Comitê Olímpico Internacional) já cogita indicar a equipe de hóquei no gelo para o prêmio Nobel da paz, pela atitude de promover a tolerância, aceitando jogadores dos dois países.


Então, Tiago Leifert, deixa de falar besteira, porque afora ter levantado uma questão muito legal de ser debatida, você o fez através de mesquinharia ou alienação. Foi como levar chuva a uma região de seca, mas por que tava tentando afogar os outros e seu plano deu errado. Se política e esporte realmente não combinassem, nem hino nacional era pra se cantar, muito menos se dividir em países e fomentar disputas nacionalistas, coisa que até numa guerra se faz. 

Não finja se importar com o atleta ‘problemático’, porque você não liga nem pra ele e nem para toda a população que sofre o que ele está denunciando com seus manifestos pacíficos. Você só não quer ser lembrado que o mundo tem problemas para os quais você não liga, rapaz branco, rico, famoso e privilegiado. Vai do trabalho pra casa desligar o cérebro que é melhor. Não precisamos saber o que você pensa deixa de pensar. Vamos analisar que esporte não é lugar pra manifestação política, programa de TV não é lugar pra ativismo e representatividade... O que ele acha que a população é? Um bando de vegetais que só servem pra ligar o aparelho e dar audiência? É, pois é...

Sabe como usar globo, controle e população na mesma frase? 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

De 1998 a 2014: O futebol e as teorias pra uma derrota humilhante

Em 1990, como já citei por aqui, eu era um infantonerd juvenil que só se aproximava de acompanhar jogos por uns minutos, pois, a empolgação de criança me jogava logo na rua ou no quintal pra bater uma bolinha e fantasiar que eu era um daqueles jogadores tão festejados, pelo menos, até o pontapé inicial, quando eles poderiam ser heróis ou ser xingados como escória da humanidade. Até hoje lembro de estar na rua quando uma vizinha me gritou do outro lado da rua, eu jogando bola com os coleguinhas da área, e ela dizia ‘Fernando, tira essa camisa do Brasil, deu Argentina!’. Eu corri pra dentro da casa de Vovó Garcia e assisti ao replay de Maradona passando a bola açucarada pra Caniggia tirar Taffarel da jogada e concluir o 1x0 que nos tiraria da Copa nas oitavas de final.


Em 1994 foi diferente, eu já vinha acompanhando jogos desde as eliminatórias de classificação, já colecionava figurinhas e cards por conta própria e até a lei do Impedimento eu já sacava. Assisti emocionado a uma seleção brasileira ser salva no último minuto com dois gols de Romário contra o Uruguai e aquela iniciativa que entrou para a cultura mundial, de ver jogadores adentrarem o gramado de mãos dadas, demonstrando o sentimento de união e vontade de vencer. Fomos campeões e eu lembro de cada lance, comentários de narração, personagens (inclusive a brutalidade do assassinato do colombiano Andrés Escobar, que eu escrevi aqui, por causa de um gol contra). Enfim, foi um deleite pra um moleque pré-adolescente e a memória afetiva ficou pra sempre.


Em 1998, mesmo com o tropeço na Olimpíada de 1996 (Atlanta), saindo pelas mãos (ou seriam pés) de uma Nigéria animada até na prorrogação com ‘morte súbita’, a equipe tinha tudo pra se renovar positivamente, afinal, o discípulo de poeta Ronaldo estava em início inspirado de carreira e os veteranos Bebeto, Dunga, Leonardo e Taffarel. A confiança de trazer o título de 4 anos antes era grande e fomos até o final jogando bem. Aí, disputamos a final contra uma França que tinha um ótimo elenco, mas que vinha tendo muito mais trabalho em suas disputas. Pra encurtar o drama, entrou convulsão de Ronaldo, time apático por levar gols em falhas bobas – pra um elenco estelar e bem patrocinado como tínhamos. Pô, pra ter noção, pintava meu cabelo de verde a cada jogo, solávamos bombinhas, fogos e tudo que tinha direito. Depois do gostinho do ufanismo e a decepção que isso traz, deixei de me referir a um time de futebol como ‘nós’.


De 2002 pra cá, resumo pra você, assisti jogos, vibrei com uns, me entediei com outros, nem o título me fez voltar à adolescência e o que veio em paralelo foi minha própria vida adulta. Descobri os prazeres da boemia, da musicalidade que eu já tinha e futebol foi ficando numa situação estranha. Passou a ser só um esporte, algo comum pra mim. Eu paro pra assistir quando tenho companhia, pra comentar os lances, mas não me empolgo e não me decepciono. Se possível, vira só uma desculpa pra beber umas com a turma. Tudo por causa da Copa de 1998. Confesso, fui um dos que acreditou em teorias conspiratórias de jogo combinado e tals... até que ouvi algo que me perturbou. Um professor falou em sala, no dia seguinte, na escola: “armação nenhuma, brasileiro não aceita perder no futebol”. Discordei mentalmente naquela hora, mas me fez observar uma coisa besta e que me pouparia do sofrimento. Eu aprendi a olhar para o outro lado de um campo e ver que ali também eram jogadores e torcedores e não figurantes em nossas festas.

2002, Brasil bateu a Alemanha na final e ninguém chorou por jogo armado.
2006, a Seleção tinha um elenco bem mais forte que esse, mas insistia em medalhões ultrapassados também.
Em 2010, novamente, um elenco bem mais experiente e forte, mas com um salto alto proporcional ao estrelato deles.

Fiz esse relato nostálgico pra exemplificar como essa derrota brasileira foi pra mim, tanto na – então – disputa do penta como foi nessa disputa do hexa: Um jogo de futebol em que um dos times tem que fazer mais gols que o outro. Quem perde sai. Independente de posicionamento político e ideológico – vou te poupar das analogias entre entretenimento e manobra midiática política por hoje – o que aconteceu foi um time de respeito, com anos de preparação e forte senso de conjunto, jogar pra ganhar de um outro time que teve um ano e meio de estruturação pra elenco e instrução tática. Brasileiro não aprende a perder e começa a achar que a Seleção é que entregou o jogo, que se tivesse rolado umas substituições a coisa seria revertida e todo roteiro típico do processo de perda. Não é assim, como em 1998, eu vi gente falando que aceitaria perder se fossem honrados 3x1, 1x0 e essas coisas. Mas, caras, em ’98, foi 3x0 e a revolta foi a mesma. Dessa vez com menos um: Eu. Rá!

Montagem capas Jornais derrota Brasil (Foto: Reprodução)
Repercussão mundial da lavada histórica que a Alemanha aplicou no Brasil.

Aprendi que treino é treino, jogo é jogo e merda acontece pra todos os lados. Meus respeitos ao time alemão, que em 2006, fez festa com um terceiro lugar estampando ‘danke’ em camisetas pra agradecer sua torcida, que vibrou com eles, em casa e não atirou tomates e cenouras por causa de uma derrota. ‘Ain, Saga, mas SETE gols?!’, é gafanhoto, muita coisa acontece dentro de um campo e levar gols e uma das principais. Este texto foi uma reflexão que tive, pois, hoje eu vejo as mesmas reações inconformadas que tive aos 16 anos. Brasileiro tem que aprender que é só um esporte e ganhar ou perder não estão no controle de só um lado. Num país em que as pessoas enchem a boca pra dizer ‘só importa o primeiro lugar, vice e último são tudo a mesma bosta’, dá nisso. Decepção infantil e estado emocional alterado. Em 1950, o Brasil nem tinha título mundial e já estava nesse oba-oba de ‘a gente pode tudo’. Perderam, colocaram a culpa no goleiro (se fosse hoje, xingariam Barbosa pelas redes sociais) e ignoraram que o outro time fica com os brios aflorados por isso. Acho que é daí que vem a máxima ‘contra o Brasil todo mundo quer crescer’, mas isso é papo pra outra divagação.

montagem capas jornais (Foto: Editoria de Arte)

Você repara como o Brasil não tem mentalidade pra reverter resultados quando tanto em campo – quando jogadores se apagam e outros correm sem objetividade – quanto torcedores entram naquele discurso infantil ‘na próxima vai ser a gente’. Não, gente, o Brasil não precisa de promessas no calor do momento, nem de ser comparado a uma família ou levar a sério essa história de ‘vamos que vamos na superação’. Precisa é de estruturação, tempo de convivência e entrosamento entre atletas e formação tática condizente com condição física. Mais treino e menos comercial de cueca, mais futebol e menos celebridade. Não adianta prometer hexacampeonato pra daqui 4 anos, se vai manter-se a mentalidade de fazer um aglomeradão de jogadores famosos e contar com o ufanismo (você acredita que nossa sociedade muda tão rápido de mentalidade?). O mundo aprendeu a jogar compacto e com objetividade, enquanto o Brasil ainda se baseia em firulas individuais e camisas do avesso, além de outras superstições ‘pé-de-pato-mangalô-três-vezes’. Esporte é fundamento. E troca. Troca, pois, pessoas de diversas nacionalidades trabalham em vários países que não suas terras natais, o Brasil, quando negocia esse tipo de intercâmbio cultural esportivo, é um ou outro já conhecido. Parece que já temos a receita do sucesso e não precisamos aprender mais nada. Sabe de nada, inocente.



Por enquanto, fica a dica: Quer aprender a tratar o futebol como esporte? Finja que é basquete ou tênis, quando você vibra por causa da bandeira que o jogador usa, mas não acha o fim do mundo quando perde. Porque, bem, se seu argumento é que os jogadores ganham muito pra perder assim, todos eles, de qualquer país, também. Um dia, o esporte no Brasil vai ser levado a sério pra não depender tanto de estatísticas passadas pra gerar confiança. Nada mais de 'chutou a bola hoje igual em 2002, quando foi campeão'.

Insisto, não sou eu.
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