Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

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segunda-feira, 14 de julho de 2014

Postura Campeã da Alemanha

Os "frios" (muitas aspas) alemães, com um terceiro lugar em 2006, jogando em casa e com grandes chances de vencer, "invadiram" o estádio olímpico, palco da final entre Itália e França.

Saudaram a torcida com camisas escrito, no peito, "Danke Deutschland" (Obrigado, Alemanha) e "Teamgeist 82 Millionen" (Espírito de equipe 82 milhões) nas costas. Sendo que já era a base pra hoje estarem com a taça na mão.

Algumas confederações sul-americanas bem que poderiam aprender com o profissionalismo e postura humana deles. É muito bonito ver uma equipe de longa data entrosada, com grandes talentos em todas as posições e ainda assim conseguir não ter exatamente um 'jogador-estrela'.

Souberam ser perdedores no campo, mas tiveram talento e planejamento pra superar suas próprias dificuldades e os adversários com o mesmo estilo. Sem afobação.Venceu uma equipe no melhor sentido da palavra. Faço muito gosto.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

De 1998 a 2014: O futebol e as teorias pra uma derrota humilhante

Em 1990, como já citei por aqui, eu era um infantonerd juvenil que só se aproximava de acompanhar jogos por uns minutos, pois, a empolgação de criança me jogava logo na rua ou no quintal pra bater uma bolinha e fantasiar que eu era um daqueles jogadores tão festejados, pelo menos, até o pontapé inicial, quando eles poderiam ser heróis ou ser xingados como escória da humanidade. Até hoje lembro de estar na rua quando uma vizinha me gritou do outro lado da rua, eu jogando bola com os coleguinhas da área, e ela dizia ‘Fernando, tira essa camisa do Brasil, deu Argentina!’. Eu corri pra dentro da casa de Vovó Garcia e assisti ao replay de Maradona passando a bola açucarada pra Caniggia tirar Taffarel da jogada e concluir o 1x0 que nos tiraria da Copa nas oitavas de final.


Em 1994 foi diferente, eu já vinha acompanhando jogos desde as eliminatórias de classificação, já colecionava figurinhas e cards por conta própria e até a lei do Impedimento eu já sacava. Assisti emocionado a uma seleção brasileira ser salva no último minuto com dois gols de Romário contra o Uruguai e aquela iniciativa que entrou para a cultura mundial, de ver jogadores adentrarem o gramado de mãos dadas, demonstrando o sentimento de união e vontade de vencer. Fomos campeões e eu lembro de cada lance, comentários de narração, personagens (inclusive a brutalidade do assassinato do colombiano Andrés Escobar, que eu escrevi aqui, por causa de um gol contra). Enfim, foi um deleite pra um moleque pré-adolescente e a memória afetiva ficou pra sempre.


Em 1998, mesmo com o tropeço na Olimpíada de 1996 (Atlanta), saindo pelas mãos (ou seriam pés) de uma Nigéria animada até na prorrogação com ‘morte súbita’, a equipe tinha tudo pra se renovar positivamente, afinal, o discípulo de poeta Ronaldo estava em início inspirado de carreira e os veteranos Bebeto, Dunga, Leonardo e Taffarel. A confiança de trazer o título de 4 anos antes era grande e fomos até o final jogando bem. Aí, disputamos a final contra uma França que tinha um ótimo elenco, mas que vinha tendo muito mais trabalho em suas disputas. Pra encurtar o drama, entrou convulsão de Ronaldo, time apático por levar gols em falhas bobas – pra um elenco estelar e bem patrocinado como tínhamos. Pô, pra ter noção, pintava meu cabelo de verde a cada jogo, solávamos bombinhas, fogos e tudo que tinha direito. Depois do gostinho do ufanismo e a decepção que isso traz, deixei de me referir a um time de futebol como ‘nós’.


De 2002 pra cá, resumo pra você, assisti jogos, vibrei com uns, me entediei com outros, nem o título me fez voltar à adolescência e o que veio em paralelo foi minha própria vida adulta. Descobri os prazeres da boemia, da musicalidade que eu já tinha e futebol foi ficando numa situação estranha. Passou a ser só um esporte, algo comum pra mim. Eu paro pra assistir quando tenho companhia, pra comentar os lances, mas não me empolgo e não me decepciono. Se possível, vira só uma desculpa pra beber umas com a turma. Tudo por causa da Copa de 1998. Confesso, fui um dos que acreditou em teorias conspiratórias de jogo combinado e tals... até que ouvi algo que me perturbou. Um professor falou em sala, no dia seguinte, na escola: “armação nenhuma, brasileiro não aceita perder no futebol”. Discordei mentalmente naquela hora, mas me fez observar uma coisa besta e que me pouparia do sofrimento. Eu aprendi a olhar para o outro lado de um campo e ver que ali também eram jogadores e torcedores e não figurantes em nossas festas.

2002, Brasil bateu a Alemanha na final e ninguém chorou por jogo armado.
2006, a Seleção tinha um elenco bem mais forte que esse, mas insistia em medalhões ultrapassados também.
Em 2010, novamente, um elenco bem mais experiente e forte, mas com um salto alto proporcional ao estrelato deles.

Fiz esse relato nostálgico pra exemplificar como essa derrota brasileira foi pra mim, tanto na – então – disputa do penta como foi nessa disputa do hexa: Um jogo de futebol em que um dos times tem que fazer mais gols que o outro. Quem perde sai. Independente de posicionamento político e ideológico – vou te poupar das analogias entre entretenimento e manobra midiática política por hoje – o que aconteceu foi um time de respeito, com anos de preparação e forte senso de conjunto, jogar pra ganhar de um outro time que teve um ano e meio de estruturação pra elenco e instrução tática. Brasileiro não aprende a perder e começa a achar que a Seleção é que entregou o jogo, que se tivesse rolado umas substituições a coisa seria revertida e todo roteiro típico do processo de perda. Não é assim, como em 1998, eu vi gente falando que aceitaria perder se fossem honrados 3x1, 1x0 e essas coisas. Mas, caras, em ’98, foi 3x0 e a revolta foi a mesma. Dessa vez com menos um: Eu. Rá!

Montagem capas Jornais derrota Brasil (Foto: Reprodução)
Repercussão mundial da lavada histórica que a Alemanha aplicou no Brasil.

Aprendi que treino é treino, jogo é jogo e merda acontece pra todos os lados. Meus respeitos ao time alemão, que em 2006, fez festa com um terceiro lugar estampando ‘danke’ em camisetas pra agradecer sua torcida, que vibrou com eles, em casa e não atirou tomates e cenouras por causa de uma derrota. ‘Ain, Saga, mas SETE gols?!’, é gafanhoto, muita coisa acontece dentro de um campo e levar gols e uma das principais. Este texto foi uma reflexão que tive, pois, hoje eu vejo as mesmas reações inconformadas que tive aos 16 anos. Brasileiro tem que aprender que é só um esporte e ganhar ou perder não estão no controle de só um lado. Num país em que as pessoas enchem a boca pra dizer ‘só importa o primeiro lugar, vice e último são tudo a mesma bosta’, dá nisso. Decepção infantil e estado emocional alterado. Em 1950, o Brasil nem tinha título mundial e já estava nesse oba-oba de ‘a gente pode tudo’. Perderam, colocaram a culpa no goleiro (se fosse hoje, xingariam Barbosa pelas redes sociais) e ignoraram que o outro time fica com os brios aflorados por isso. Acho que é daí que vem a máxima ‘contra o Brasil todo mundo quer crescer’, mas isso é papo pra outra divagação.

montagem capas jornais (Foto: Editoria de Arte)

Você repara como o Brasil não tem mentalidade pra reverter resultados quando tanto em campo – quando jogadores se apagam e outros correm sem objetividade – quanto torcedores entram naquele discurso infantil ‘na próxima vai ser a gente’. Não, gente, o Brasil não precisa de promessas no calor do momento, nem de ser comparado a uma família ou levar a sério essa história de ‘vamos que vamos na superação’. Precisa é de estruturação, tempo de convivência e entrosamento entre atletas e formação tática condizente com condição física. Mais treino e menos comercial de cueca, mais futebol e menos celebridade. Não adianta prometer hexacampeonato pra daqui 4 anos, se vai manter-se a mentalidade de fazer um aglomeradão de jogadores famosos e contar com o ufanismo (você acredita que nossa sociedade muda tão rápido de mentalidade?). O mundo aprendeu a jogar compacto e com objetividade, enquanto o Brasil ainda se baseia em firulas individuais e camisas do avesso, além de outras superstições ‘pé-de-pato-mangalô-três-vezes’. Esporte é fundamento. E troca. Troca, pois, pessoas de diversas nacionalidades trabalham em vários países que não suas terras natais, o Brasil, quando negocia esse tipo de intercâmbio cultural esportivo, é um ou outro já conhecido. Parece que já temos a receita do sucesso e não precisamos aprender mais nada. Sabe de nada, inocente.



Por enquanto, fica a dica: Quer aprender a tratar o futebol como esporte? Finja que é basquete ou tênis, quando você vibra por causa da bandeira que o jogador usa, mas não acha o fim do mundo quando perde. Porque, bem, se seu argumento é que os jogadores ganham muito pra perder assim, todos eles, de qualquer país, também. Um dia, o esporte no Brasil vai ser levado a sério pra não depender tanto de estatísticas passadas pra gerar confiança. Nada mais de 'chutou a bola hoje igual em 2002, quando foi campeão'.

Insisto, não sou eu.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Todo Mundo Ama NeyMártir



A imagem de um jogador de futebol, jovem e habilidoso, no chão foi dolorida até pra mim que não gosto desse menino do pessoal do marketing. Não gostei de quando ele provocou a demissão de Dorival Jr, ainda pelo Santos (por tê-lo substituído), não gostei quando ele fugiu à sua negritude alegando ter um tom de pele que só se encontra na paleta de cores do Photoshop e não gostei de quando ele fez uma foto comendo uma banana como se fosse um oportunista solidário ao racismo sofrido por um colega (já tendo sido vítima das mesmas ofensas). Mas também não gostei de vê-lo caído e chorando de dor. Mas, tenho coisas a falar que não são o convencional, não ligo pra esse ufanismo futebolístico e também não sou de revanchismo. Pra mim, Neymar apanhou como você leva aquele golpe da porta que um colega abre pelo outro lado sem ver você.



Claro, isso não tira a brutalidade do golpe, e minha comparação foi pouco mais que medíocre, só pra enfatizar a potencialidade que ela tinha de ser provocada/sofrida por qualquer um. 'Futebol é esporte de contato, não 'guenta, vai jogar vôlei'. Essa é uma das máximas que mais gosto, pois se é errado se agarrar e se acotovelar na área esperando um cruzamento - e quase ninguém reprime isso - não dá pra fugir a um tropeção ou empurrão na disputa por posse de bola. Sabemos também que o jogo, dadas as estatísticas sobre equipes faltosas, só poderia dar nisso. Digo, porque se o Brasil tem a seleção mais caçada em campo, sofrendo 95 faltas até o momento, já cometeu 96. Isso, porque a Colômbia é a segunda mais agredida (84) e a terceira mais faltosa (empatada com a Holanda, com 91).

Isso reforça minha inútil teoria de que o que aconteceu com Neymar aconteceria com qualquer um. Neymar, já no primeiro jogo, deu uma cotovelada num croata enquanto a bola estava no alto. Foi desleal, levou cartão amarelo e causou pânico contra Camarões pela possibilidade de levar outro e ficar suspenso nas oitavas de final. Ninguém chorou naquela oportunidade. Ele é leve e tem o hábito de se jogar, provocar e responder provocações, como qualquer outro jogador, então, gente, sem martirização. Ele é garotão, é só cuidar da saúde e da imagem que ele sai dessa novinho em folha. Vai continuar sem caspa, vendendo desodorante, cueca, carro, celular e sorvete de tamarindo na propaganda.



Dureza é aturar o fato de que o racismo à brasileira se manifesta novamente, ofendendo e até ameaçando, não só Zuniga, como sua família. Num momento de desaforo, vem esse pessoal que se acha superior e começa a usar a negritude de uma pessoa como defeito pra ofender e diminuir a dignidade dele e da família dele. Caras, ele tem uma filha pequena e ela já entrou na roda das ofensas. Perdeu-se qualquer razão de reclamar, esse povinho aê. É a pior ironia do mundo ver que a vontade de defender um jogador, esse suposto amor à pátria de chuteiras demonstra justamente o ódio à etnia que compõe mais de 50% da própria população. Essa gentinha ainda usa os mesmos textos decorados pra xingar até jogador brasileiro quando comete erros (lembra do gol contra do Marcelo?). Tentam dizer que não somos gente, mas eles não são humanos. Não moralmente.

zuniga nuziga2
maisracis4maisracism5

No apanhado geral? Já cansei do mesmo assunto batido, da martirização de um, do racismo contra o outro (o colombiano Zuniga) e dos dois lados querendo o fígado do juiz. Vamos ver o que o outro lado da fronteira pensa? Pois bem, a teoria colombiana dá conta de que a lesão de Neymar está mais para a queda do jogador durante a comemoração do gol de Thiago Silva do que na joelhada de Zuniga. Confesso que fiquei com uma pulga atrás da orelha, pois, sabemos, eu adoro esse tipo de teoria contestatória. Jogadores se provocam, peladeiros de churrasco de final de semana se provocam, Superman ficou fraco (o Pinguim jogou kriptonita) e o pintinho piu, piu, piu. Dessa vez, deu m... e m... acontece. É só isso.

Teoria colombiana questiona causa da lesão de Neymar

Fontes: EXTRA, CORREIO NAGÔ e EXTRA.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Quando o futebol mata - 20 anos sem Andrés Escobar

A Copa de 1994 foi um marco na minha vida pessoal. Eu tinha 12 anos (aquela fase escrota em que você não é criança, não é adolescente e não é adulto, mas tem que agir como todos ao mesmo tempo), mas dizem que velho eu já era, em minha mente, mas não há provas. Rá! A verdade é que até aquele ano, eu preferia assistir jogos de copas (de futebol, não de cartas), pois era o momento em que vários talentos famosos se juntavam e não a 'normalidade' de times com algumas estrelas e o resto 'desconhecido'. É, eu aprendia pouco com os álbuns de figurinhas.



Então, em 1990, lembro de momentos legais e tals, mas foi em 1994 que aprendi a entender de futebol, acompanhar tudo desde as eliminatórias, reconhecer jogadores, árbitros e até leis como o impedimento e a vantagem... Bem, isso me traz muitas memórias afetivas de 20 anos atrás, mas também me traz um trauma típico do crianção de 12 anos. Falo isso por causa de um jogador, um fato e uma tragédia: Andrés Escobar. Há exatos 20 anos, o zagueiro colombiano era assassinado na cidade colombiana de Medellín, com 12 tiros.



A história começa em 22 de junho de 1994, a Colômbia pegaria os EUAses depois de uma derrota por 3x1 para a Romênia. Até aí, tudo normal, a Romênia tinha o zagueiro Hagi (herói do futebol de lá, ex-Barcelona e Real Madrid, entre outros) como líder. Agora, o bicho pegou mesmo foi contra os donos da casa. Sabemos que a tradição dos EUAses no futebol é tanta quanto do XV de Jaú nas olimpíadas, então, já começar tomando um gol contra (Escobar, o único daquela Copa) foi um duro golpe numa das melhores representações colombianas no evento.

Escobar e o goleiro Cordoba, caídos num dos momentos mais tristes do futebol (sobretudo pelo que originou fora de campo).

O time acabou derrotado por 2x1 e nem a vitória no último jogo adiantou, contra a Suiça. A geração de Rincón, Asprilla, Escobar e Valderrama se despedia de uma promissora Copa na primeira fase. E é aí que começam as especulações. Oficialmente, não se comprova que foi por causa do gol contra que Escobar fora assassinado, mas seus assassinos trabalharam com chefes do narcotráfico e diversas versões definem o fatídico gol como o motivo da discussão que terminou em morte. Também é importante frisar o cenário social da Colômbia.

Faixa estendida na Copa seguinte, em 1998.

Hoje, o país melhorou muito em questão de educação, economia e segurança, mas na época, o narcotráfico é que era notícia com nomes como o de Pablo Escobar, chefe do Cartel de Medellín (e sem parentesco com o jogador). Conta-se que possivelmente apostadores tenham feito muita fé na seleção e tido muito prejuízo, outros dizem que fora uma discussão passional, mas a questão é que esse jogador ficou marcado na história da Colômbia, não só pela morte, mas por ter sido conhecido como "O Cavalheiro do Futebol", dada sua postura profissional, bom temperamento e talento para o esporte.



Curiosamente, na mesma época, o jogo International Superstar Soccer Deluxe (precurssor dos Winning Eleven e PES da vida) trazia suas clássicas semelhanças com a realidade e uma delas era a apresentação de um telão, diante de momentos marcantes do jogo. Por exemplo, um jogador que fizesse 3 gols pedia música no fantástico aparecia em pose triunfal. Outro desses momentos era um jogador deitado no chão após um gol contra. Sempre, entre os amigos da época, concordamos que não era coincidência.



Os assassinos foram condenados a 30 anos, mas saíram depois de 11, por bom comportamento. Por que, você sabe, depois que se mata alguém, você pode amenizar sua pena mostrando o que deveria ter feito desde o início, NÃO matando ninguém. É uma ironia trágica. Veja o momento fatal do triste gol contra da Colômbia.




Curiosidade

Lembrei disso por causa de um fato inusitado - pra um brasileiro - que ocorreu em Seul, capital da Coréia do Sul. A seleção de lá, última colocada no grupo H, foi recebida com um chuva de balas... de caramelo. Sim, jogar doces em outras pessoas, na Coréia do Sul, é um gesto de insulto.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Pelé, futebol placebo e a manipulação popular

Dia 15 de maio, eu publiquei um status no meu Facebook assim:

Greves de várias categorias profissionais rolando, algumas outras ameaçando paralisar até durante a tão sonhada Copa Fifa e Pelé está em silêncio há dias.
Tenho certeza que daqui a pouco ele deixa a poesia de lado de novo pra falar alguma baboseira que tente desvencilhar o caráter 'placebo' do futebol no Brasil pra que o povo não atrapalhe seus amigos empresários de interesses financeiros particulares.
#estamosdeolho

Dia 16 de maio, eu chego e leio a seguinte notícia:

Pelé é vaiado na abertura do ‘Vivo Open Air’
Pelé, que é um dos embaixadores da Copa Fifa 2014, pediu que todos apoiassem a Seleção Brasileira e lembrassem que o futebol não tem nada a ver com a política e a corrupção que assola o país. Neste momento, ele foi vaiado por alguns constrangedores segundos. Visivelmente envergonhado com a recepção nada calorosa do público, o ex-jogador parou o discurso e logo se despediu…


Vou contar a história. Pelé, o poeta, é um dos maiores entusiastas do dinheiro e dos interesses próprios de nossa sociedade. Vá lá, esperamos isso de frios e inescrupulosos empresários, de políticos viciados em meneios e mamatas, mas de um ex-esportista que leva alcunhas como ‘rei’ e ‘atleta do século (20)’? Aí, não, isso é decepcionante pra quem curte esportes e cultura pop. Mas tem mais coisa aí.

O futebol começou como um esporte de elite e se alastrou para as camadas mais populares pela simplicidade de jogo e regras. É correr e chutar uma bola pra dentro de uma baliza sem ter um menos que 2 defensores adversários à sua frente quando estiver diante da meta para marcar o ponto e quem fizer mais pontos ganha. Viu como é simples? Só que tudo que é popular é usado pra manobrar a massa, veja o exemplo do Samba em seu início, que foi usado como campanha de Getúlio Vargas pra ficar bem na foto com o povão. Deu certo, ele tem a fama de ‘pai-dos-pobres’, claro, não só por isso, mas também por uma série de medidas, como a criação da CLT e diversas leis trabalhistas que temos até hoje.

Então, algumas décadas depois do Samba de Gegê, veio o samba da ditadura militar, que, ironicamente, só falava em liberdade (se nunca reparou, ouça os sambas-enredo dos ‘60s e ‘70s), mas ainda assim, no mesmo rastro que impunha ao artista fazer propaganda ufanista para o Brasil. Nesse meio veio o futebol. Depois da frustração histórica que foi perder em pleno Maracanã para o Uruguai, a seleção brasileira venceu na Suécia e na antiga Tchecoslováquia. Duas copas seguidas! Logo depois do Bi (UIA!), instaurou-se o famoso e terrível golpe apelidado de ‘revolução’ (contra marcianos, óbvio).


Nesse contexto, bacanas, o futebol já era uma paixão nacional assim como o samba. É quando o governo percebe que em meio ao abismo social que ele mesmo provocou vendendo o país (já dizia Raul), o povo não prestava atenção na política ou economia por medo da repressão e violência que acometia a vários grupos que se levantavam contra o regime ditatorial. É como eu digo, eram fogos de artifício e gritos de gol pra abafar os gritos vindos dos porões, dos torturados. Então, veio 1970 e o Brasil conquistou um feito inédito, 3 copas do mundo em 4 disputadas, aí, amigolhes, era o êxtase e era mais fácil pensar no futebol como a salvação do moral brazuca do que virar pro governo e falar ‘tá, foi gol, mas e a merenda que tá cara?’. Depois, você nota que a torcida foi muito mais empolgada do que o futebol em si. Note que a propaganda do futebol teve que dividir espaço com gritos por democracia, preços de ingressos, planos econômicos, violência e outros elementos que esvaziaram estádios e mudaram canais de TV.


É isso, gente, o futebol não é um esporte como outro qualquer, não é um momento de 90 minutos isolado do resto da realidade. Ou você acha que tantos milhões em contratos, desvios de verba e publicidade fazem do futebol um evento tão puro e desinteressado quanto a quermesse da pracinha na festa junina? NÃO! Veja o exemplo do Neymar Jr começando uma campanha publicitária se aproveitando da campanha contra o racismo no futebol, você duvida que algo mais seja natural no futebol? Talvez no futebol da sua galera, que vale a brincadeira, o churras e a cerva, mas lá no mundo do empresariado privilegiado? Cara, tome tento!

Esse é só um exemplo de como o futebol é instrumento do governo e da mídia pra manter você colado neles.

Futebol é um placebo açucarado que faz você dizer ‘a seleção não tem culpa’, mas está parcial demais pra perceber que você já tomou (UIA!²) a pílula azul (pra permanecer na Matrix e não viagra, seu tarado!). E a seleção é tão inocente na mídia e na sociedade quanto a dinamite numa explosão. Só foi usada, mas o efeito é o mesmo. Duvida? Vai lá ler sobre a história – num site de pesquisa e não num globoesporte.com da vida, né? Não me interessa gosto aqui, mas a realidade. Pessoas se acostumam a viver no que foi programado e nem questionam se existiam outras possibilidades. O planeta não nasceu adorando futebol e não foi a natureza que criou a fórmula ‘samba e futebol’ no inconsciente popular.


Aliás, pelo nível do futebol jogado hoje, você percebe que só acompanha por inércia, por hábito, como quem abre a geladeira e nem sabe o que quer dali. Mesmo fenômeno passam as novelas, mas isso eu falo outra hora.

Fonte: O Dia

quinta-feira, 18 de julho de 2013

O risco Brasil para a Copa FIFA 2014


O presidente da FIFA, Joseph Blatter afirmou, nesta quarta (18), que o Brasil pode ter sido uma escolha errada para sediar a Copa 2014. E vendo como os investimentos estão indo pra todo lado, inclusive lados obscuros da cidade, eu concordo. Pode vir o Ronaldo defender que a Copa vai deixar um importante legado para a população, que eu não tô nem aí. Primeiro, porque o ex-namorado das ronaldinhas não me fede nem cheira enquanto personalidade midiática de relevância (é, futebol pra mim é só um esporte e ele nem joga mais), e segundamente, que esse jovem conseguiu falar duas asneiras, uma hipócrita e outra escancaradamente mercenária. Ele disse que um país que quer sediar uma copa não precisa de hospitais, e sim estádios... Depois, falou que a população não precisa protestar, porque os países que sediam esses eventos dão um grande salto em questão de desenvolvimento e qualidade de vida.

Vá chupar cotoco de rabo de hiena, né, bacana? Pô, o Pan do Rio foi há 6 anos e não tem nada NADA que tenha sido aproveitado. Instalações abandonadas, complexos esportivos desfeitos, um estádio que parecia ser o carro-chefe do legado do Pan está interditado por já apresentar problemas de estrutura de uma construção centenária e por aí vai. Aliás, fora os transtornos do trânsito, aquela beira da Radial Oeste - justamente entre o Maracanã e a UERJ - está com construções derrubadas ela metade e faixas de protestos cobrando uma tal promessa da prefeitura de construir um polo automecânico no lugar - pra quem não conhece, ali é uma sequência de pequenas oficinas que tomam parte da pista pra quem vem pro subúrbio. Resumindo, nada NADA é aproveitado, porque se o interesse fosse melhorar a vida do cidadão, já teríamos visto resultados que não fossem placebos eleitoreiros, popularescos e interesseiros. Enquanto a gente tem que sair uma semana mais cedo pro trabalho, o führer governador viaja de helicóptero "porque é normal", ou seja, é porque ele tem poder pra isso e ninguém chia, né?  

Voltando à vaca fria, digo, ao presidente da FIFA, ele afirmou que os protestos são problema do governo do Brasil, mas que o que ele não quer é que manifestações atrapalhem o espetáculo pra inglês ver. Ele considera que o Brasil pode ter sido a escolha errada, mas se a gente lembrar, não houve escolha. Lembra que a Colômbia estava em disputa direta e saiu da competição meses antes do 'sorteio'? Pois é, aí, Blatter me manda essa "Para mim, estes protestos soam como alarmes para o governo, para o Senado, o Congresso. Eles devem trabalhar nisso para evitar novos protestos", ou seja, sua mãe te recomendando que se comporte na casa dos outros pra não passar vergonha (ela, de você), do contrário... ah, nem queira saber. Já vejo Pelé, o poeta, fazendo seu manifesto pra que esqueçamos os abusos centenários dos governantes pra que a orgia deles corra a contento (e até o baianinho Bebeto se "decepcionou" com Romário por não apoiar a suruba financeira). Blatter também diz que problema é seu não tem nada a ver com o momento tenso em que vivemos aqui: "A Fifa não pode ser responsabilizada pelas discrepâncias sociais que existem no Brasil". E, depois de uma lenga-lenga entre fazer média dizendo que protestos pacíficos são direito do cidadão, mas que não se pode aceitar esse comportamento de um país-sede, ele até que fala uma verdade: "Não somos nós (a Fifa) que temos que aprender com os protestos, mas sim os políticos brasileiros".

Sei não, hein, mas acho que vai dar merda. Os políticos estão tão com seus cus na mão nervos à flor da pele, que não me surpreenderia que a repressão voltasse com tudo contra a manifestação popular. Já temo que o clima de medo oprima - de novo - o Brasil, ou que se crie um estado totalitário em favor da boa imagem que eles querem inventar do Brasil lá fora e aqui dentro (os anos '60 e '70 e parte dos '80 ligaram e disseram que estão tendo um dejá vù). Muito dinheiro investido e muitos interesses futuros estão envolvidos. Acho que muita gente sairia perdendo de goleada se o evento miasse. Então, tenho certeza acredito que cancelar o evento é algo impensável, mas o que vai se fazer pra garantir isso, aí é que anda meu pessimismo.

Fonte: Super Esportes.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Eduardo Paes quer demolir escola por causa da Copa

Quadro interativo, quadra poliesportiva coberta, enfim,
estrutura não falta.

Alguém está querendo mexer nos planos maléficos do prefeito e ele está #chateado. Isso é o fim do mundo.

Estava eu perambulando pelo Jornal do Brasil e andei vendo que a Escola Municipal Friedenreich está bem no caminho do "progresso" promovido pela prefeitura e o governo do estado. Ao que parece, educação pode ser empurrada para o canto, como aquela pessoa inconveniente que passa na sua frente no cinema. Mas, pais e estudantes não querem ser tratados como pedintes de mesa de bar e querem atenção de verdade, já que o projeto de lei que prevê o tombamento da escola será vetado pela última instância, a saber, o senhor prefeito Eduardo Paes, coisa que ele mesmo já afirmou que vai fazer (e essa promessa ele acredita, pois, não está mais em campanha). Acontece que não está nos planos do prefeito manter a escola ali em torno do Maracanã, porque as obras seriam prejudicadas e, com isso, os investimentos para a Copa.

Ele já inventou desculpas sobre uma suposta infra-estrutura deficiente, coisa que já foi desmentida por representantes da Comissão de Pais e Alunos da instituição, que filmaram e fotografaram todo o equipamento e estrutura de última geração da escola. Aí, o honorável prefeito reeleito apelou pra malcriação. Disse que é uma besteira demagógica, ou seja, quem preza pela educação de qualidade é demagogo, só faltou falar que é coisa de gente idealista e romântica. Se não for pelo dinheiro, porque mais seria, né, Paes? Por fim, ele começou a mentir sobre aquele caô - este sim, demagogo - de que a escola não é feita por um prédio, mas pelos componentes, tipo, professores, alunos, etc. Só faltou dizer que o prédio no Maracanã é feio e fedorento pra galera sair de lá correndo e aceitar qualquer outro muquifo que oferecerem.
A escola é a décima colocada no  ranking do Ideb para o ensino básico do país. 

Aí, reside outro problema, pois um aluno com necessidades especiais e sua mãe filmaram o tal novo local, o prédio da antiga escola veterinária do Exército (conclua como quiser sobre trocadilhos e intenções da proposta de novo local). O lugar não tem mínimas condições e o prefeito, se não mentiu descaradamente, realmente acha que não importa a estrutura (ou falta de) e que se jogue o que aparece no caminho pra qualquer canto. Abominável. Mas tá tranquilo, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) distribuiu, na justiça, uma ação civil pública (ACP) contra o município e o estado pra evitar a demolição da escola e manter suas atividades no mesmo lugar, já que, segundo pais e estudantes, a população da localidade está muito satisfeita com os reflexos de uma educação de qualidade. Vai correr multa diária de R$ 5 mil tanto pro estado quanto para o município, se descumprirem a determinação.


Fonte: JB

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