Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

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quinta-feira, 20 de maio de 2021

Brasil: Como a Copa de 1994 me fez mais patriota que Bolsonaro

 


O Brasil é um país de trajetória única no mundo. Em vez de ter subdivididas as terras invadidas por Portugal, como aconteceu com os demais países do continente americano conquistados pela Espanha, também foi usado como mera mina de extração de riquezas e não como uma espécie de sub-reino colonial (a princípio). E foi a única colônia a sediar uma côrte inteira (família real valente com preto e amarelaça pra outros europeus). Tanto que se você reparar bem, o “povo” daqui é o único que não é chamado por sua origem de nascença, e sim de uma forma que é resquício da primeira função das terras brasilis. Vou explicar: Enquanto um cara nascido no Uruguai é um uruguaio, mostrando que ele é parte orgânica daquele território ou na Venezuela, é venezuelano, dando a mesma ideia, de forma um pouco diferente, as pessoas nascidas aqui recebem o gentílico da função que tinham os portugueses que vinham aqui roubar explorar as terras invadidas colonizadas: Brasileiro.

 

Pode reparar, o sufixo ‘eiro’ não dá a ideia de alguém que nasceu em algum lugar, dá a ideia do que essa pessoa exerce na vida. Se eu sou aquariano, é porque nasci sob o signo de aquário (mesmo quem não acredita nisso, apenas acompanhe o raciocínio), Superman é kriptoniano, se fosse na França, francês e etc... Pescou que quem nasce é “ano”, “ês” e algumas variações que têm sempre em mais de um país, mais de uma situação, de acordo com a origem do gentílico, como “enho” (hondurenho), “ense” (canadense) e outros (austríaco, marroquino), mas todos presentes em mais de um país, ou lugar em geral. Brasileiro não é gentílico de quem nasce em algum lugar. É atribuição, como madeireiro, carpinteiro, ferreiro, ou ainda, a ideia de algo transitório, como estrangeiro, passageiro, saca? Mas vou falar sobre gentílicos em outra hora. Veja dentro do próprio país, tem o paraibano, o alagoano, o rio grandense (do sul e do norte) e tem o mineiro. Sacou a diferença? Parece que quem nasce em Minas Gerais, assim como no Brasil, recebe uma profissão e não um nome. E compare que Brasil é a abreviação de Terra do Pau-Brasil, assim como Minas Gerais já diz que o lugar não é uma estadia e sim, um posto de trabalho. Tá compreendendo? 

 

E falando em sufixo do gentílico ‘ano’, temos baiano, como Bebeto. O baiano, o baianinho, com passagens marcantes  por Flamengo, Vasco, La Coruña e Botafogo. Em dupla com o carioca Romário (olha aí, Saga, carioca não é ‘ano’ nem ‘ês’ – mas é ‘ense’, de fluminense, do estado em que nasceu, rá!)... Voltando, Bebeto e Romário já eram proeminentes estrelas na Copa de 1990, a primeira que me lembro bem, mas não lembro de tudo. 3 anos depois, a dupla saiu da reserva da seleção pra titulares absolutos e desde as eliminatórias (com direito à primeira derrota da história para a Bolívia e a inovação de entrar de mãos dadas mostrando garra e comprometimento) até a copa de 1994, eu vivi uma das melhores fases da vida. Eu tinha 12 anos no momento que gritamos ‘é tetra’ com Galvão Bueno e passei a ter gosto não só pelo futebol como pela bandeira brasileira. Ayrton Senna tinha marcado aquele ano dois meses antes, com sua morte na pista e a história estava sendo presenciada por  mim ali.

 

Eu me sentiria um grande patriota, talvez se fosse um brasilês ou brasiliano, mas como brasileiro, eu percebi na mesma época que gostar do país por causa de futebol não significava nada para a polícia. Eu, maior menino criado por vó a leite com pêra e ovomaltino, quase fui levado por policiais sei lá pra onde e nem imagino pra quê, no meio de uma multidão de funkeiros que descia de um ônibus onde eu estava com meu pai, pronto a me levar pra casa, depois de um dia dos pais maravilhoso com o lado paterno da minha família. Daquele fatídico momento “Will e Carlton abordados na estrada em Um Maluco no Pedaço” até o grandioso e esforçado tetra, os hormônios adolescentes falaram mais alto e só importava ser campeão. A primeira Copa que o Brasil faturava desde o histórico tri em 1970. Que coisa grandiosa. Eu não achava uma participação da seleção tão marcante desde a derrota pra Argentina em 1990, com Maradona atraindo toda a marcação pra si e tocando pra um livre Caniggia driblar Taffarel e tocar pro gol, eliminando a gente nas oitavas-de-final.

 

Daí pra frente, tivemos a ascensão de Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos e Cia nos jogos olímpicos de Atlanta (1996) e quando chegou em 1998, na copa da França, a seleção já tinha o histórico de grande potência de novo, mas entrar de mãos dadas já era cafona, o que marcou mesmo aquela seleção eram os milionários salários em clubes gringos e o marketing individual em pontuais atletas, meros outdoors humanos dos patrocinadores. A seleção chegou popstar na França e a gente lembra no que deu, né? Aquela fake news que a cada derrota é atualizada com nomes do momento pra dizer que esse entregou, aquele se revoltou e forçou uma expulsão, o outro que negociou o momento histórico pra acalmar o país da vez que tivesse vencido o Brasil. E como muita gente adora uma teoria da conspiração, outros gostam de um imediatismo sensacionalista e tem os que só não conseguem acreditar quando perdem, esse texto ganhou fôlego até 2014, no fatídico 7x1, porque ninguém queria acreditar que a seleção de Neymarketing e Cia era tão vulnerável. Mas em 2018, não teve nada de mais, quem mais fazia os poucos gols da seleção eram jogadores de defesa e até o ufanista Galvão Bueno ficou mais pistola que aquele canário da zueira e fez desabafos, puxões de orelha e protestos.

 

A questão é que eles levaram 20 anos pra se convencer de que o Brasil é só uma seleção e a única adaptação que teve aos tempos foi o marketing. Futebol mesmo não tem. Nem souberam voltar ao futebol moleque e nem conseguem jogar direito como o europeu e seu ritmo mais cadenciado e dinâmico. Talvez o Flamengo, desde 2019. Pior pros “meninos” de 30 anos que se envolvem mais com orgias, escândalos fiscais e sexuais do que com a bola no pé. Em 1998 eu já questionava se eu não era patriota, por ter dado mais atenção ao futebol regional (Vasco campeão da Libertadores 1998 que o diga). Falei no Flamengo de 2019, porque o português Jorge Jesus trouxe uma linguagem diferente, que deu tão certo que ele voltou pra zoropa e não deu em nada e o time que estruturou está ganhando até hoje. E por falar em Brasil, Portugal, futebol e tals...

 

É por isso que eu não me considero patriota. O futebol teve sua época muito massa, mas hoje, como em 1970, época em que Bolsonaro acha que o Brasil era melhor (pra ele, talvez), o futebol deu um hiato de alienação social e a internet veio pra evitar que aquele horror chamado ditadura se repita. E é com essa visão, de que os que se dizem mais patriotas são os que mais espancam e matam familiares, mais se envolvem em mutretas milionárias – e até com assassinatos de político e amizades com milicianos – é que eu parafraseio alguém que não lembro, mas li há algumas semanas: Para ser patriota, eu tenho que, neste momento, odiar o meu país. Pensa bem, o Brasil foi construído pela mão do negro que o português explorou e quando fingiu que libertou, fez de tudo pra não ser incluído como cidadão. 500 anos depois, ainda somos massacrados em todas as frentes físicas e mentais e eu tenho que amar essa liderança política? Falta muita noção e reparação até eu pensar nisso.

 

Então, é isso, o futebol me enganou que eu podia ser patriota, mas vem a vida real e mostra que patriota é só quem é beneficiado pelo país. Eu to bem lá pra baixo dessa pirâmide. Ser patriota é esperar quando essa onda de m... passar.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O que precisamos aprender com os EUAses?

Martin Luther King Jr e Malcolm X. Ideias diferentes na
luta contra o racismo. 
Há coisa que se tornam senso comum e a partir daí, a maioria nunca mais para pra observar. A sociedade em geral entende aquilo como um conhecimento fixo e não volta mais naquela situação pra analisar se mudou, se era aquilo mesmo, se impressões não deram a ideia errada e tals... E o tal do conhecimento engessado abordado neste texto é a questão racial nos EUAses (é, eu falo assim da sigla deles, sorry).

A questão é que lá, como aqui, a camada colonizadora e exploradora, europeia e euro-descendente, viveu nas costas de índios e negros escravizados pra seu sustento aristocrático. Mesmo o branco mais pobre ainda era ‘melhor’ que o negro mais inteligente, por exemplo. Sabemos que eles disputam entre eles o poder, mas têm por certo que negros não entram nessa equação. Seria como eles perderem seus privilégios que eles mesmos criam por puro protecionismo e corporativismo.

Mas, enfim, ouço muito defensor velado de racismo alegando que nossa luta aqui é exagero, porque racismo mesmo é lá nos EUAses, com KKK (Ku Klux Klan, não é uma risada de internet) e toda aquela palhaçada. Acontece que aqui, pode não ter um grupo assumidamente racista, mas a ideologia funciona em nível subconsciente. Mas mesmo lá sendo acusado de ser um país racista (e é, estruturalmente), ainda temos diferenças gritantes que não necessariamente são desvantagens.

Veja bem, lá teve uma guerra civil pelo fim da escravidão em todo o território nacional. Tudo bem que não foi por puro humanismo, mas por mudanças nos padrões de produção e desenvolvimento industrial e tecnológico, mas ainda assim, teve algo. Aqui a gente é calado até por ‘amigo’ do lado, só de mencionar algum caso de racismo. Isso hoje em dia. Lá também teve uma série de conflitos físicos e violentos em nome da conquista de direitos civis para os negros. Aqui, cotas raciais ainda são um tabu que muita gente fala sem nem saber do que se tratam, de onde vem a ideologia ou o efeito que isso deve causar na sociedade.

Vale lembrar, sim, que lá, negro é minoria étnica na composição da população do país. Um povo dentro de uma sociedade multiracial. Aqui, somos mais miscigenados e não crescemos com tanta noção étnica, cultural e ideológica enquanto povo. Somos programados a achar que o Brasil foi feito da união pacífica, consensual, harmônica e sorridente. Tipo, o branco, o índio e o negro se juntaram e fizeram filhos e netos ‘mulatinhos’ (argh!) pra tudo acabar em samba. Pura mentira, né? Amigo não escraviza amigo e não faz filho fora de casamento dentro de senzala pra demonstrar carinho. Essa ideia de que a casa grande é a tutora legal e cuidadora da senzala é um dos maiores caôs do país.

Sendo assim, o negro estadunidense tem uma noção de identidade cultural bem mais apurada. Além disso, há produtoras de mídia e cultura inteiramente negras. Veja pelas séries, filmes e mesmo nas produções predominantemente brancas, ainda vemos negros encarnando médicos, advogados, pilotos de avião, presidente do país (muito antes de Obama na vida real, Morgan Freeman já tinha comandado o país em Impacto Profundo) e até o deus bíblico o próprio Freeman já encenou. Não estou ignorando que muitas produções só colocam negros lá pra ser o primeiro a morrer, fazer piadas ou carregar peso. Mas há uma diversidade maior.

Aqui? Existem uns 5 medalhões que podem, a cada 10 anos, protagonizar alguma novela, talvez um filme sobre favela (talvez, porque na hora do protagonismo, eles botam favelado branco pra todo lado). Aqui não temos uma mídia própria, que nos dê espaço. Ficamos disputando com a camada dominante onde eles tanto mandam que nem se importam em excluir os outros. Lá você vê Eu, a patroa e as crianças, Fresh Prince of Bel Air (Um Maluco no Pedaço), Elas e Eu, filmes como Vizinhança do Barulho e outros... Aqui, quando o negro é abordado é o pobre sofrido, tipo Antonia, Subúrbia, sem contar naquele miserável Sexo e as nega (que sofra no inferno, série bizarra, machista e racista).

Quero dizer, cadê o negro sendo o negro brasileiro? Somos só esses bandidos ou pobres submissos que eles veem na gente? E a caneta? Não vamos evoluir nem um passo enquanto quem comanda atrás das câmeras não for preto também. Aí, na frente da telinha, vamos continuar sendo mal representados. Mais de 50% da população aqui é preta ou parda, mas parece não ter a disposição ideológica pra desligar a TV se essa não lhe fizer justiça. Não liga que a TV seja a casa grande, desde que tenha seu programa favorito passando para a senzala. Até no campo da música. O samba e o funk hoje são produtos rentáveis pra midia branca, mas o maior público é o preto, que se acha representado porque não é educado pra contestar, só pra aceitar o que é massivamente empurrado mídia afora.


Então, não é lá que é racista, aqui é muito mais, se você pensar que lá a população negra é pouco mais de 10% do país e ainda assim possuem uma cultura própria e coesa. Aqui negamos o racismo mas não deixamos de praticá-lo. É só abrir os olhos. Quem foge do assunto é porque tá devendo e tem medo de acabar se entregando. 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

De 1998 a 2014: O futebol e as teorias pra uma derrota humilhante

Em 1990, como já citei por aqui, eu era um infantonerd juvenil que só se aproximava de acompanhar jogos por uns minutos, pois, a empolgação de criança me jogava logo na rua ou no quintal pra bater uma bolinha e fantasiar que eu era um daqueles jogadores tão festejados, pelo menos, até o pontapé inicial, quando eles poderiam ser heróis ou ser xingados como escória da humanidade. Até hoje lembro de estar na rua quando uma vizinha me gritou do outro lado da rua, eu jogando bola com os coleguinhas da área, e ela dizia ‘Fernando, tira essa camisa do Brasil, deu Argentina!’. Eu corri pra dentro da casa de Vovó Garcia e assisti ao replay de Maradona passando a bola açucarada pra Caniggia tirar Taffarel da jogada e concluir o 1x0 que nos tiraria da Copa nas oitavas de final.


Em 1994 foi diferente, eu já vinha acompanhando jogos desde as eliminatórias de classificação, já colecionava figurinhas e cards por conta própria e até a lei do Impedimento eu já sacava. Assisti emocionado a uma seleção brasileira ser salva no último minuto com dois gols de Romário contra o Uruguai e aquela iniciativa que entrou para a cultura mundial, de ver jogadores adentrarem o gramado de mãos dadas, demonstrando o sentimento de união e vontade de vencer. Fomos campeões e eu lembro de cada lance, comentários de narração, personagens (inclusive a brutalidade do assassinato do colombiano Andrés Escobar, que eu escrevi aqui, por causa de um gol contra). Enfim, foi um deleite pra um moleque pré-adolescente e a memória afetiva ficou pra sempre.


Em 1998, mesmo com o tropeço na Olimpíada de 1996 (Atlanta), saindo pelas mãos (ou seriam pés) de uma Nigéria animada até na prorrogação com ‘morte súbita’, a equipe tinha tudo pra se renovar positivamente, afinal, o discípulo de poeta Ronaldo estava em início inspirado de carreira e os veteranos Bebeto, Dunga, Leonardo e Taffarel. A confiança de trazer o título de 4 anos antes era grande e fomos até o final jogando bem. Aí, disputamos a final contra uma França que tinha um ótimo elenco, mas que vinha tendo muito mais trabalho em suas disputas. Pra encurtar o drama, entrou convulsão de Ronaldo, time apático por levar gols em falhas bobas – pra um elenco estelar e bem patrocinado como tínhamos. Pô, pra ter noção, pintava meu cabelo de verde a cada jogo, solávamos bombinhas, fogos e tudo que tinha direito. Depois do gostinho do ufanismo e a decepção que isso traz, deixei de me referir a um time de futebol como ‘nós’.


De 2002 pra cá, resumo pra você, assisti jogos, vibrei com uns, me entediei com outros, nem o título me fez voltar à adolescência e o que veio em paralelo foi minha própria vida adulta. Descobri os prazeres da boemia, da musicalidade que eu já tinha e futebol foi ficando numa situação estranha. Passou a ser só um esporte, algo comum pra mim. Eu paro pra assistir quando tenho companhia, pra comentar os lances, mas não me empolgo e não me decepciono. Se possível, vira só uma desculpa pra beber umas com a turma. Tudo por causa da Copa de 1998. Confesso, fui um dos que acreditou em teorias conspiratórias de jogo combinado e tals... até que ouvi algo que me perturbou. Um professor falou em sala, no dia seguinte, na escola: “armação nenhuma, brasileiro não aceita perder no futebol”. Discordei mentalmente naquela hora, mas me fez observar uma coisa besta e que me pouparia do sofrimento. Eu aprendi a olhar para o outro lado de um campo e ver que ali também eram jogadores e torcedores e não figurantes em nossas festas.

2002, Brasil bateu a Alemanha na final e ninguém chorou por jogo armado.
2006, a Seleção tinha um elenco bem mais forte que esse, mas insistia em medalhões ultrapassados também.
Em 2010, novamente, um elenco bem mais experiente e forte, mas com um salto alto proporcional ao estrelato deles.

Fiz esse relato nostálgico pra exemplificar como essa derrota brasileira foi pra mim, tanto na – então – disputa do penta como foi nessa disputa do hexa: Um jogo de futebol em que um dos times tem que fazer mais gols que o outro. Quem perde sai. Independente de posicionamento político e ideológico – vou te poupar das analogias entre entretenimento e manobra midiática política por hoje – o que aconteceu foi um time de respeito, com anos de preparação e forte senso de conjunto, jogar pra ganhar de um outro time que teve um ano e meio de estruturação pra elenco e instrução tática. Brasileiro não aprende a perder e começa a achar que a Seleção é que entregou o jogo, que se tivesse rolado umas substituições a coisa seria revertida e todo roteiro típico do processo de perda. Não é assim, como em 1998, eu vi gente falando que aceitaria perder se fossem honrados 3x1, 1x0 e essas coisas. Mas, caras, em ’98, foi 3x0 e a revolta foi a mesma. Dessa vez com menos um: Eu. Rá!

Montagem capas Jornais derrota Brasil (Foto: Reprodução)
Repercussão mundial da lavada histórica que a Alemanha aplicou no Brasil.

Aprendi que treino é treino, jogo é jogo e merda acontece pra todos os lados. Meus respeitos ao time alemão, que em 2006, fez festa com um terceiro lugar estampando ‘danke’ em camisetas pra agradecer sua torcida, que vibrou com eles, em casa e não atirou tomates e cenouras por causa de uma derrota. ‘Ain, Saga, mas SETE gols?!’, é gafanhoto, muita coisa acontece dentro de um campo e levar gols e uma das principais. Este texto foi uma reflexão que tive, pois, hoje eu vejo as mesmas reações inconformadas que tive aos 16 anos. Brasileiro tem que aprender que é só um esporte e ganhar ou perder não estão no controle de só um lado. Num país em que as pessoas enchem a boca pra dizer ‘só importa o primeiro lugar, vice e último são tudo a mesma bosta’, dá nisso. Decepção infantil e estado emocional alterado. Em 1950, o Brasil nem tinha título mundial e já estava nesse oba-oba de ‘a gente pode tudo’. Perderam, colocaram a culpa no goleiro (se fosse hoje, xingariam Barbosa pelas redes sociais) e ignoraram que o outro time fica com os brios aflorados por isso. Acho que é daí que vem a máxima ‘contra o Brasil todo mundo quer crescer’, mas isso é papo pra outra divagação.

montagem capas jornais (Foto: Editoria de Arte)

Você repara como o Brasil não tem mentalidade pra reverter resultados quando tanto em campo – quando jogadores se apagam e outros correm sem objetividade – quanto torcedores entram naquele discurso infantil ‘na próxima vai ser a gente’. Não, gente, o Brasil não precisa de promessas no calor do momento, nem de ser comparado a uma família ou levar a sério essa história de ‘vamos que vamos na superação’. Precisa é de estruturação, tempo de convivência e entrosamento entre atletas e formação tática condizente com condição física. Mais treino e menos comercial de cueca, mais futebol e menos celebridade. Não adianta prometer hexacampeonato pra daqui 4 anos, se vai manter-se a mentalidade de fazer um aglomeradão de jogadores famosos e contar com o ufanismo (você acredita que nossa sociedade muda tão rápido de mentalidade?). O mundo aprendeu a jogar compacto e com objetividade, enquanto o Brasil ainda se baseia em firulas individuais e camisas do avesso, além de outras superstições ‘pé-de-pato-mangalô-três-vezes’. Esporte é fundamento. E troca. Troca, pois, pessoas de diversas nacionalidades trabalham em vários países que não suas terras natais, o Brasil, quando negocia esse tipo de intercâmbio cultural esportivo, é um ou outro já conhecido. Parece que já temos a receita do sucesso e não precisamos aprender mais nada. Sabe de nada, inocente.



Por enquanto, fica a dica: Quer aprender a tratar o futebol como esporte? Finja que é basquete ou tênis, quando você vibra por causa da bandeira que o jogador usa, mas não acha o fim do mundo quando perde. Porque, bem, se seu argumento é que os jogadores ganham muito pra perder assim, todos eles, de qualquer país, também. Um dia, o esporte no Brasil vai ser levado a sério pra não depender tanto de estatísticas passadas pra gerar confiança. Nada mais de 'chutou a bola hoje igual em 2002, quando foi campeão'.

Insisto, não sou eu.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Todo Mundo Ama NeyMártir



A imagem de um jogador de futebol, jovem e habilidoso, no chão foi dolorida até pra mim que não gosto desse menino do pessoal do marketing. Não gostei de quando ele provocou a demissão de Dorival Jr, ainda pelo Santos (por tê-lo substituído), não gostei quando ele fugiu à sua negritude alegando ter um tom de pele que só se encontra na paleta de cores do Photoshop e não gostei de quando ele fez uma foto comendo uma banana como se fosse um oportunista solidário ao racismo sofrido por um colega (já tendo sido vítima das mesmas ofensas). Mas também não gostei de vê-lo caído e chorando de dor. Mas, tenho coisas a falar que não são o convencional, não ligo pra esse ufanismo futebolístico e também não sou de revanchismo. Pra mim, Neymar apanhou como você leva aquele golpe da porta que um colega abre pelo outro lado sem ver você.



Claro, isso não tira a brutalidade do golpe, e minha comparação foi pouco mais que medíocre, só pra enfatizar a potencialidade que ela tinha de ser provocada/sofrida por qualquer um. 'Futebol é esporte de contato, não 'guenta, vai jogar vôlei'. Essa é uma das máximas que mais gosto, pois se é errado se agarrar e se acotovelar na área esperando um cruzamento - e quase ninguém reprime isso - não dá pra fugir a um tropeção ou empurrão na disputa por posse de bola. Sabemos também que o jogo, dadas as estatísticas sobre equipes faltosas, só poderia dar nisso. Digo, porque se o Brasil tem a seleção mais caçada em campo, sofrendo 95 faltas até o momento, já cometeu 96. Isso, porque a Colômbia é a segunda mais agredida (84) e a terceira mais faltosa (empatada com a Holanda, com 91).

Isso reforça minha inútil teoria de que o que aconteceu com Neymar aconteceria com qualquer um. Neymar, já no primeiro jogo, deu uma cotovelada num croata enquanto a bola estava no alto. Foi desleal, levou cartão amarelo e causou pânico contra Camarões pela possibilidade de levar outro e ficar suspenso nas oitavas de final. Ninguém chorou naquela oportunidade. Ele é leve e tem o hábito de se jogar, provocar e responder provocações, como qualquer outro jogador, então, gente, sem martirização. Ele é garotão, é só cuidar da saúde e da imagem que ele sai dessa novinho em folha. Vai continuar sem caspa, vendendo desodorante, cueca, carro, celular e sorvete de tamarindo na propaganda.



Dureza é aturar o fato de que o racismo à brasileira se manifesta novamente, ofendendo e até ameaçando, não só Zuniga, como sua família. Num momento de desaforo, vem esse pessoal que se acha superior e começa a usar a negritude de uma pessoa como defeito pra ofender e diminuir a dignidade dele e da família dele. Caras, ele tem uma filha pequena e ela já entrou na roda das ofensas. Perdeu-se qualquer razão de reclamar, esse povinho aê. É a pior ironia do mundo ver que a vontade de defender um jogador, esse suposto amor à pátria de chuteiras demonstra justamente o ódio à etnia que compõe mais de 50% da própria população. Essa gentinha ainda usa os mesmos textos decorados pra xingar até jogador brasileiro quando comete erros (lembra do gol contra do Marcelo?). Tentam dizer que não somos gente, mas eles não são humanos. Não moralmente.

zuniga nuziga2
maisracis4maisracism5

No apanhado geral? Já cansei do mesmo assunto batido, da martirização de um, do racismo contra o outro (o colombiano Zuniga) e dos dois lados querendo o fígado do juiz. Vamos ver o que o outro lado da fronteira pensa? Pois bem, a teoria colombiana dá conta de que a lesão de Neymar está mais para a queda do jogador durante a comemoração do gol de Thiago Silva do que na joelhada de Zuniga. Confesso que fiquei com uma pulga atrás da orelha, pois, sabemos, eu adoro esse tipo de teoria contestatória. Jogadores se provocam, peladeiros de churrasco de final de semana se provocam, Superman ficou fraco (o Pinguim jogou kriptonita) e o pintinho piu, piu, piu. Dessa vez, deu m... e m... acontece. É só isso.

Teoria colombiana questiona causa da lesão de Neymar

Fontes: EXTRA, CORREIO NAGÔ e EXTRA.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Chiquititas branquititas do Brazil

Se estatísticas apontam que as preferências de adoção são meninas, brancas e bebês...

Como, raios, o orfanato de Chiquititas ficou assim, com tanta menina e só uma negra? 

(Produção, isso é no Brasil?)

Carrossel, por exemplo, não inovou na diversidade étnica do país, mas poderia, pois, a Valéria deixou de ser morena 'latina' pra ser a branquinha Maísa, o japonês Kokimoto ficou 'loiro' e até os alunos gordos não eram tão gordos quanto suas contrapartes originais de México.

Mas não mudam a porra da visão etno-euro-cêntrica do país. Mesmo na ficção, o povo quer se ver na TV, mas não há ideologia que mude nessas cabeças conservadoras e elitistas, né?

E não me diga mentirinhas, dói demais!

Tanto faz se em 1997 ou 2013, essa "realidade dura" das crianças do mundo de Malhação/Bambuluá ainda parece mesmo é dura... de se engolir.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Ronaldo, Spider, Neymar... Isso é show business, baby!

Deixa eu começar com um nariz de cera legal (jargão jornalístico pra toda aquela parte inicial do texto que vai esquentando e aquecendo até o assunto principal). Em 1998, dizia-se que a seleção francesa de futebol estava mal das pernas, que seu país passava por um certo climão geral de baixo astral e tals, crises e blá, blá, blá. Ao passo que a seleção brasileira vinha para a copa como a grande favorita, pois era a campeã do mundial anterior (EUAses, 1994), metade do time tinha grandes contratos profissionais (futebolísticos e publicitários), além do quê, a grande revelação brasileira de 4 anos antes, naquele momento, era o grande 'fenômeno' do futebol mundial. Dessa vez, o garoto Ronaldo não era mais uma promessa, era a grande estrela, já que Romário, o real craque - último craque completo até hoje, pra mim - havia sido cortado numa situação estranha, como se tivesse tempo de se recuperar - e teve, tanto que voltou a jogar pelo Flamengo logo, logo. Começa o mundial da França e, dentro de campo, nossa seleção estava sobrando. Aí, aconteceu, justo a atual campeã chega à final, depois de jogos bem mornos e uma disputa de pênalties com os atuais vice-campeões, a Itália. Justo o time que embalava a copa, perdeu feio sem ter se movido em campo, e a seleção que veio se arrastando, ganhou numa goleada tranquila, como se fosse Holanda de 1974 contra o XV de Jaú de... qualquer tempo.

Na época, pipocaram acusações de que a tal menstruação ejaculação precoce crise epilética do Ronaldo teria sido uma manobra pra disfarçar o desânimo da seleção brasileira, outros acharam que a seleção jogou de salto alto e perdeu por isso, enquanto ainda havia uma corrente defendendo que nem amarelaço, nem arrogância, o troço todo teria sido mesmo uma grande armação pra dar moral ao futebol francês e deixar a comoção popular unida e distraída pelo placebo que é o futebol. Em meio a isso tudo, pintou o argumento de que brasileiro estava desacostumado a perder. Sabe o que eu acho? Que a conspiração faz muito sentido. É como Renightato Gaúcho falou quando o Vasco estava prestes a ser rebaixado em 2008, a tal da mala branca vai correndo vestiários e resolvendo resultados expressivos pra facilitar esse ou aquele time. Tipo, um time que não compete por mais nada e não vai cair, bem que poderia, com o incentivo certo, jogar um pouquinho mais ou relaxar de vez pra dar aquela força camarada a outro que depende de resultados de terceiros. Ou até prejudicar aquele rival que está em melhor situação... Mas deixa eu voltar...

O negócio é que logo depois dos manifestos, o Brasil relaxou na luta (num luta que realmente importa), como já era de se esperar, pois, quem sai às ruas só pra tirar foto pro facebook sem direcionamento político, tende mesmo a enjoar da micareta. Sendo assim, todos prestando à atenção à seleção - justo como Pelé, o poeta, pediu - esqueceram de um detalhe: O futebol é o maior placebo social desta nação. Como pode um esporte ser uma paixão nacional? Fácil, o futebol, o samba e outros elementos de apelo junto a praticamente todas as classes sociais são usados sim, e desde a ditadura que é assim (na verdade, antes, mas se intensificou ali, mas falo só sobre isso depois). Os gritos e fogos de gol abafavam os gritos de dor dos torturados e das famílias que choravam seus desaparecidos políticos. Então, sempre que alguém vier com a defesa "ai, mas novela, música e futebol não têm culpa do país estar uma bosta", sério, repreenda como se fosse o próprio capiroto, pois, é certo que essa pessoa já foi tomada pelo demônio da mídia sugadora de espíritos contestadores.

 Imagina que um entretenimento tão caro seja na base do "que vença o melhor"? BULLSHIT!!! Lembra quando Mike Tyson voltou à ativa lá pra 1996/97, sei lá? O adversario dele, um irlandês de nome Peter fujão McNeeley (ou coisa que o valha) ganhou, além de uns tabefes, uma boa grana, só pra levar um soco, cair pra trás de bunda e... KNOCK OUT! Anderson Silva fez isso agora e todos caem de pau nele (UIA!). Dizem que foi displicência, talvez por achar que ninguém teria coragem de peitá-lo, outros vão para a conspiração de que ele se vendeu, e aí, há duas correntes, há os que acham que ele se vendeu simplesmente, e há os que acham que ele esteja preparando um retorno triunfal, pois, talvez com o apoio do próprio UFC, ele estaria tornando o esporte um tanto quanto tedioso, pois, era entrar em um octógono e todos sabiam no que ia dar. Assim, ele perderia agora, já com revanche marcada. Por fora, os filhos vão postando na internet que o pai está cansado de lutar, o próprio já disse isso e ainda tem a tal aposta anônima de 1 milhão... disse MILHÃO (é, 1 com 6 zeros 000000) em nome do adversário... MAS HEIN!!?!? Essa aposta é alta demais até pro Spider, imagina pra um novato desafiante CONTRA o Spider, campeão invicto há mais de 6 anos?

O que me faz voltar à seleção. Lembram do oba oba que a Globo fazia antes da copa das confederações? Era de se esperar, já que uma emissora quer mais é que o público fique tão inflamado e ufanista quanto Galvão Bueno, pra correr para a frente do televisor. Mas depois de tanto tempo com resultados tão medianos até pra jogos medíocres, como a seleção ficou tão boa e como a seleção espanhola, invicta a 3 anos esteve tão apática - principalmente conforme a copa avançava? Uma resposta `s provocações brasileiras pelo título foi que o Brasil sendo campeão agora, teria que fazer um milagre pra quebrar uma tal maldição de que quem ganha a copinha, não chega a erguer o troféu (porque taça é um tipo de copo pra mim) na copa geral. Isso me pareceu aquele valentão que te olha bem sério depois que você ganhou a briga na saída da escola por causa de um empurrão sortudo ou um tropeção conveniente do grandalhão, saca? Você sabe no fundo que vai dar m*erda depois. E mesmo que não dê, isso tá me cheirando muito a mundial de 1998, quando a França vinha reclamando de tanta coisa e sua seleção dá essa alegria ao povo.

Na boa, a moral de um povo inteiro ficar nas mão... pés de esportistas é como pedir ao santo papa que realize aquela cirurgia delicada que a pessoa precisa, só porque ela tem fé.

Anderson Silva já tá agendando sua revanche pra breve, apesar de já ter perdido a liderança do ranking, prestígio junto a patrocinadores e possíveis empresários da propaganda, além da imagem arranhada com o público. E a seleção vai embalar qual em 2002, quando todos temiam mais um vexame, e a seleção foi campeã, com direito a heroizificação do Ronaldo e do Cafú, dois veteranos que não ganhavam nada (desde a reserva em 1994), e passaram a ser recordistas de permanência ou marcação de gols com a amarelinha. Lembrem-se, crianças, enganação também pode ser positiva. Fique aí como o gigante que levantou... e andou até a TV pra saber quanto tava o jogo, que quem tem dinheiro continua co dinheiro até perdendo e fazendo orgia, independente do resultado, quem chora é você que continua pobre, roubado e ainda sem gritar gol.

Pra mim, a revanche de Spider vai ser contra Scheila Carvalho, mas só quando ela sair da fazenda.

Já reparou em quantas situações "vendidas" o empresário dentucinho está envolvido?
E um outro esclarecimento sobre a copa de 1998:
Rá!

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