Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Assédio não é uma inocente cantada


A cultura do assédio é tão naturalizada que muitos nem sabem diferenciar um flerte de um assédio.
É só se questionar se você está dando opção à pessoa de dizer não e seguir com a vida.
Se você tenta controlar a decisão de modo a parecer que a pessoa te deve obediência... Já passou do flerte no primeiro não. É assédio há tempos essa 'conversa.'

Homens têm muito isso programado pela sociedade, essa ideia de que o não quer dizer sim e que a mulher só diz não pra fazer o cara persistir até ela ceder. Olha, num flerte, há troca, a coisa é correspondida, as cantadas vêm dos dois lados. Se um cara acha que precisa puxar o braço da mulher, mexer em seu cabelo ao passar por ela numa balada ou ficar ‘sufocando’ a garota, então, esse cara é um assediador – e possivelmente um sociopata.

Vemos sempre notícias do tipo que um cara agride uma mulher porque ela disse não, aí, o cara se ‘justifica’ dizendo que ela que provocou (com roupas, gestos e supostos olhares) e não sabe que muito antes da agressão, ele já agia feito um opressor/agressor/predador. O corpo é dela e a cabeça é dela, parceiro. 

Se ela não quer, não rola. Imagine um machão desses sendo assediado por um outro homem, por exemplo. Rapidamente o machinho quer até brigar, porque acha um absurdo. São origens diferentes, mas é a mesma situação: Alguém querendo ser dono de você quando você quer continuar com sua vida sem esses malas incomodando.

A cultura do estupro, a cultura do machismo, do assédio, é tudo página diferente do mesmo livro social que condena a mulher a tudo e safa o homem de tudo desde de imemoriáveis tempos, porquestão de religiões que enaltecem homens como os grandes provedores da humanidade e as mulheres como as que ou traíram ou foram submissas.


Precisamos combater isso e precisamos também – muito – falar isso entre nós, homens. Questione-se se você se incomoda e porque esse assunto te incomodaria, pois, se você não vê necessidade de se achar soluções para lidar e punir o assédio, talvez seja parte do problema. Reflita!

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Feminismo não é o contrário de machismo





“Machismo significa a concepção de que mulheres são subordinadas aos homens. O feminismo, por sua vez, não é o contrário de machismo. O feminismo não supõe que homens são subordinados às mulheres, mas que homens e mulheres são iguais.”
-Mario Sergio Cortella


Se você acha natural que haja ‘tarefas masculinas’ e ‘tarefas femininas’, moçx, você é machista. “Ah, dirigir é coisa pra homem”, ‘ah, cuidar dos afazeres domésticos é pra mulheres’... olha, isso tudo, sinto muito te diagnosticar com péssimas notícias: Você é machista.

Bem, não fica muito pra se explicar depois das sábias, simples e diretas palavras do intelectual Mario Cortella (não á toa, é um dos mais respeitados do Brasil). Mas eu sou teimoso e vou falar mesmo assim, porque tem pontos que as pessoas simplesmente não entendem, ignoram e mesmo assim querem sair por aí cuspindo opiniões. Opiniões, óbvio, sem a menor base de conhecimento pra tanto. Mas como eles não se envergonham, a gente ajuda a diminuir o constrangimento alheio.

Algumas das questões que mais vejo por aí, vou responder, até porque , enquanto homem de uma sociedade machista, não passei imune por alguns desses exemplos que vou citar, ou seja, conhecimento de causa na ignorância que o senso comum me proporcionou e, graças ao bom universo, mandei pro caixa-prego. E tudo começa numa mesma frase:

Feminismo é machismo ao contrário?


Essa é a mais clássica. É dessa raiz que saem aberrações do pensamento humano como ‘negros são os mais racistas’ ou ‘usando essa saia curta, depois não reclama de ser assediada’. É o ser humano maldoso que não quer se ver no lugar questionado, acha que está certo colocando o erro no coleguinha. Mas vamos lá:

Machismo é um sistema. Há milênios, a humanidade era repleta de sociedades comandadas por mulheres, sociedades matriarcais, sobretudo na África. O que aconteceu, foi que em algum momento, o patriarcado (domínio de homens) subjugou as mulheres e assumiram na base da força o comando das decisões da sociedade e, pra isso, diminuíram, ou melhor, rebaixaram a mulher de qualquer posto de comando.

Aí, entrou em vigor o tal sistema. Não é só uma opinião quando você acha que mulheres lavam e passam roupa melhor, é fruto desse sistema de condicionamento da mulher a uma posição subalterna. Quem nunca viu uma mulher ser questionada ao chegar a um cargo de supervisão, presidência e afins? “Tinha que ser mulher”. E esse sistema questiona a mulher em posição de liderança, coloca ela como a barraqueira, quando é contestadora, atribui seus problemas emocionais à TPM, diz que ela não pode assumir muitas responsabilidades fora de casa porque seus hormônios a farão passional e isso prejudicará suas decisões... Enfim, deu pra sacar, né?

O machismo, por outro lado, favorece o homem em questões inúteis e estúpidas. É como se o machismo fosse aquele grupinho de meninos formando um clubinho onde não entra meninas, mas como se trata de toda a sociedade, então, o homem percebe que não pode viver num mundo sem mulheres, mas formulou um jeito de fazer isso sem admitir que elas podem ser melhores na administração do clubinho gigante. Aí, reduz a mulher a tarefas domésticas, sexo e companhia calada ou fazendo elogios à masculinidade do marmanjo. E quando aceitam – ou precisam sem admitir – que elas trabalhem fora, pagam menos. Porque? É o mesmo trabalho!

As pessoas veem aqueles grupos ditos feministas de mulheres seminuas fazendo algazarra em manifestações e acham que aquilo é feminismo. Ou seja, a mulher é uma histérica, essa é a diferença pra eles, né? Sabe quando a gente não quer que a criança se arrisque a se machucar então diz que ela não vai conseguir e proíbe? É isso que o machismo faz com as mulheres. Coloca a culpa de tudo nelas. Se elas andarem um milímetro fora do que o machismo quer, o machismo as culpa.


A sociedade machista, por exemplo, aceitou que elas usassem roupas curtas, mas se usarem, estarão pedindo por assédio, estupro e não são moças direitas pra casar. Porque o caráter da mulher é medido  na seguinte maneira: Quanto mais ela fizer o que o machismo quer, mais valor ela vai ter pra ser a secretárias de cama, mesa e banho de algum marmanjo que só vai substituir a mãe pela esposa, numa das maiores ironias do mundo, que é provar ser um completo dependente de quem se quer oprimir. Mulheres se tornam receptáculos de descendentes, com direito a cozinhar e lavar nos intervalos e só.

Agora, quando uma mulher defende seu direito de ocupar o lugar que quiser (ou que não quiser, como filhos, casamento, etc), ou mesmo nem defende, mas age dessa forma, independente, aí, ela estará sendo julgada e, mesmo que não perceba, estará sendo feminista. Essa é a diferença entre machismo e feminismo:

Machismo é a dominação do homem sobre a mulher. Feminismo é a reivindicação da mulher por igualdade. Por isso, nunca existirá, na minha opinião, uma sociedade feminista, porque o feminismo é a defesa da mulher contra a opressão, enquanto o machismo sim, quer reduzir as possibilidades da mulher e torná-la mera figura decorativa.

Feminismo não prega estupro pra homem sem camisa, não diz que ele está pedindo por assédio quando bebe, se homem falar palavrão, não dizem que ele não tem modos, não defende mulheres agredindo parceiros adúlteros, não diz ‘ela não resistiu à cantada, mas ela é mulher e mulher é assim mesmo’, não prega que lugar de homem é na cozinha e outros.

Aliás, perceba como o machismo é um sistema e não uma força da natureza criada por deus (sim, religiosos conservadores medievais, estou apontando pra vocês nessa frase). O machismo é tão escroto que ele despreza o homem gay, numa visão de que um homem se comportar ‘como mulher’ é humilhante e também despreza a mulher gay, porque é uma mulher cometendo o abuso de se portar ‘como homem’. O mesmo vale para homens e mulheres trans. Ou seja, só o homem cis e hétero é que é realmente superior.

E até para homens ele é opressivo. Se o cara não agir como se estivesse num comercial do AXE, ele é desdenhado pelos outros homens-pica grossa-superior-das-galáxias. Ou seja, é bem excludente, se parar pra pensar. Reduza o grupo e você terá mais chances de ganhar a liderança um dia. E nem toquei no assunto racial, hein! Porque entre um homem branco e um homem preto, sabemos quem tem cara de médico e de presidente e quem tem cara de jogador de futebol e de bandido, né? Mas isso vai ficar pra outra hora. Por enquanto fico com minhas explanações ‘for dummies’ para homens que ignoram assuntos, mas querem falar. Mulheres também fazem isso, mas me incomoda mais homens falando. Deve ser porque eu me vejo no passado reproduzindo essas b8stas e me sinto envergonhado. Vou consultar meu psicólogo enquanto você reflete neste texto.

E se algum teimoso ainda insistir em morar na areia movediça da ignorância... Só lamento. Não discuto.


quinta-feira, 28 de maio de 2015

Kara: Uma mulher-robô que pensa diante do machismo


Bem, vamos falar de machismo (Ain, Saga, achei que fosse algum assunto legal). Calma, gafanhoto, que o assunto é legal e ainda te dou um plus: Vamos usar o fio condutor da maravilhosa computação gráfica aplicada a games (hooraaay!). Melhorou? Melhorou. Então, deixe-me lhe fazer uma introdução (UIA!). Estamos falando aqui da Quantic Dreams, um estúdio francês de desenvolvimento de games que, entre outros, é o responsável por Heavy Rain (que eu não joguei, mas minha filha número 3 jogou e disse que é muito bom). Bem, o papo é que há alguns anos, o estúdio fez um trabalho de curta duração, segundo um camarada me falou à época, apenas pra testar uma nova engine (tecnologia que permite construir toda a ‘magia’) e o nome desse trabalho foi chamado de Kara. Deixe eu te colocar por dentro (UIA²).

 Bem, Kara é um robô com inteligência artificial sensível capaz de falar vários idiomas, cantar, conversar e interagir como qualquer pessoa (qualquer pessoa poliglota e de dons artísticos apurados) e isso tudo pra quê? Pra ser comercializada, afinal, ela é um objeto criado pra servir a homens que queiram uma empregada, uma secretária, uma amante, enfim... Ela vem com todas as capacidades de uma mulher comum (repito, comum, mas poliglota... poliglota, cara!) pra servir ao propósito que seu futuro dono bem entender. E é aí que o bicho pega. Todos os testes são realizados com sucesso enquanto seu corpo vai sendo montado a partir da cabeça já pré-programada de fábrica, ela vai demonstrando uma satisfação genuinamente humana em estar viva.


Daí, então, o, digamos, cientista que fala com ela pra ir realizando os testes de voz, canto, locomoção e tudo, dá um comando às máquinas que, estando tudo legal e chuchu beleza, ela já pode ser preparada pra ser embalada e vendida. Ela dá pra trás e questiona o porquê do procedimento e diz ‘É que eu pensei...’. O interlocutor fica chocado com a atitude dela (Oh, shit!) e dá um comando pra ser tudo desfeito, que não era esperado que ela tivesse sentimentos próprios, que ela aceitasse sem retrucar ser mandada pra algum cara por aí afim de uma companhia cibernética. Ao passo que ela vai sendo desmontada, seu coração artificial começa a disparar e num momento de desespero humano, ela implora para continuar ‘viva’, promete não questionar mais.


Então, mesmo demonstrando preocupação na voz, o cientista permite que ela seja remontada e, estando pronta, manda que ela se junte às outras. Quando ela se vê perfilada com as outras, repara que todas são iguais e cada uma vai pra um lugar diferente, ao gosto de cada freguês.

Olha, pra apenas um teste de engine nova isso é muito mais que um teste drive, né? Só de olhar como o troço foi feito com cuidado, você quase compra a ideia de que é uma atriz real sendo alterada por CGI e não uma personagem completamente virtual, mas não é só isso que eu queria falar. Na época, há uns 4 anos atrás, quando assisti pela primeira vez, alguém me falou que isso seria uma analogia perfeita ao modo como o machismo trata a mulher. Veja bem que eu vou destacar no próximo parágrafo.


 O homem queria uma mulher pronta pra servir, então, moldou seu comportamento antes de ela estar ‘pronta’, ou seja, desde meninas inocentes sem se dar conta de suas capacidades. Depois, ela é aprovada enquanto faz tudo que o homem manda. Ela mostra que é obediente. Na hora que contesta aquele que a domina, ela é ameaçada de perder tudo, de ser excluída até do lugar limitado que lhe foi pré-determinado (perceba as mulheres que não servem 'pra casar', são as rejeitadas, prostitutas, as 'solteironas' e todo adjetivo pejorativo). Só faltou as outras intervirem pra censurar a mulher pra que não conquistasse o que elas aceitaram 'conformadas'. E, pra finalizar, somente na hora que promete não falar nada, apenas servir sem falar ‘fora de hora’ é que ela tem permissão para se juntar a todas as outras, iguais a ela, silenciadas e prontas para serem criadas ou objetos dos homens que estão pelo mundo afora aguardando pra usufruir de seus ‘serviços’.

Aula de machismo pra sociólogo nenhum botar defeito, hein? Fiquei com isso na cabeça desde aquele dia que assisti ao vídeo por indicação e muita água rolou por baixo da ponte até que nem sei como, me deparei com o vídeo de novo hoje. Então é isso, caso não tenha percebido a ligação do virtual com o real, apenas ligue seu PS3, gafanhoto, caso não, aprenda que mulher tem todo direito de falar o que pensa, fazer o que quiser e não será diminuída por isso. Criemos consciência nos homens (meninos) pra que as mulheres (meninas) não tenham que ser podadas no psicológico. Só existe machismo, como em todo sistema de dominação, porque homens não se garantem tendo mais que eles mesmos pra dividir responsabilidades.



É isso, não finja, deixe o cara saber que é ruim de cama, não diga que sim só pra agradar, não tenha medo de ser xingada ao falar não (não quer dizer não) e não limite a coleguinha que já escapou dos ‘pudores’ da sociedade cristã falsa moralista da família tradicional brasileira. E quem sou eu pra falar? Ninguém. Sou só um Mané com mulheres fortes o suficiente à minha volta e ao longo da minha vida pra sacar desde cedo que não são criadas pra fazer comida, lavar, passar, varrer e cozinhar e aliviar impulsos masturbatórios no fim do dia. Enfim, sou um homem que não se sente ameaçado por mulheres com personalidade e independência. E gosto disso. Na verdade, tinha que ter mais.


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Skol cria campanha de carnaval e é acusada de incentivar cultura do estupro

"Esqueci o 'NÃO' em casa."

É com essa frase - e outras - que a cerveja Skol lançou uma campanha para o carnaval. As amigas Mila Alves (jornalista) e Pri Ferrari (publicitária) repararam e complementaram: "Esqueci o 'não' em casa" - "E TROUXE O NUNCA". É que as frases usadas na campanha da cerveja redondo reforçam uma cultura muito comum em espaços - abertos ou não - de entretenimento coletivo: A cultura do estupro. Estupro, pode parecer uma palavra forte, que muita gente faz questão de não reconhecer por entender apenas como aquele crime que faz o cidadão virar refeição sexual na cadeia, mas é mais que isso.

Mila Alves e Pri Ferrari protestaram contra campanha de Carnaval da Skol

Cultura do estupro é basicamente o machismo sendo ele mesmo, sendo o sistema de poder e dominação do homem sobre a mulher. É aquele sistema que faz com que muitos caras se incomodem em ter uma mulher independente ao lado por medo que sem a dependência financeira ou emocional, ela resolva que não tem nada a fazer ali, é o sistema que trata como natural os caras passarem pelas mulheres nas festas de rua, shows e demais eventos achando que têm o direito de puxarem braços, cabelos e cinturas já forçando uma barra para beijos, chupões e agarrões. Não é festa se não é consentido, correto?

Agora, mensure o que é uma cerveja incentivar essa ideia às vésperas do carnaval, quando metade do mundo estará bebassa! Sim, mesmo que a campanha não especifique que é a mulher que esqueceu o não, sabemos muito bem que não há mulher puxando braço e torcendo pescoços pra beijar mais um e sair comemorando com a galera, né? E é claro que quem faz isso não precisa de uma cerveja pra dar a dica, mas é o princípio envolvido que chama à atenção. Ninguém gostaria, por exemplo, se a campanha mandasse você beber sapateando sobre o túmulo de entes queridos, não é verdade? Pois bem...

Prefeitura de Curitiba faz campanha contra estupro

Depois de frases como "topo antes de saber qual é a pergunta" e "estou na sua antes de saber qual é a sua" e do protesto das moças, a Ambev prometeu tirar a campanha e jurou que não teve intenção de incentivar a violência contra a mulher (e sabemos que é um carnaval de gente bem intencionada num lugar bem peculiar da cultura judaico-cristã, né?). Essa irresponsabilidade também gerou uma 'contra-campanha' por parte da prefeitura de Curitiba junto à revista Nova, com frases de empoderamento feminino como 'não é não' e 'estar bêbada não é estar disponível' e também 'o tamanho da minha fantasia não dá o direito de realizar a sua'.

Amigolhes, é claro que muita mulher bêbada perde a noção, mas, como eu disse, mulher bêbada não tenta agarrar homens à força, e também não vai agredir o cara se ele não estiver afim, só porque ela se sentiu no direito sobre o corpo dos outros, ok? Não estamos falando em possibilidades físicas, mas de uma cultura que trata a mulher como subordinada ao homem e que faz tanto sentido quanto sacrificar jovens virgens para acalmar uma chuva forte.

Em espécie de resposta à Skol, revista 'Nova' faz campanha de Carnaval anti-estupro

Fonte: F5 e... F5 (é, de novo).

sábado, 8 de março de 2014

8 de março: A mulher, a sociedade e o feminismo

Se um homem está numa posição de liderança e comanda sua tchurminha tchubiruba com mãos de ferro, ele vai ser criticado - entredentes - como aquele que não tem uma mulher capaz de satisfazê-lo. "Aposto que a mulher dormiu de calça jeans".

Agora, se uma mulher está numa posição de liderança e comanda sua tchurminha tchubiruba com mãos de ferro, ela vai ser criticada - entredentes - como aquela que não sabe satisfazer seu homem e que traz sua condição de mulher como desvantagem para a vida profissional e social. "Tá na TPM, mal comida, não sabe segurar um macho".

A mulher sempre é desvantagem. Ou melhor, isso já ganhou esferas maiores, já está no subconsciente da sociedade, num nível que muitos acham que nem existe, que o normal é esse. Eu conheço um grupo de mulheres cujo sonho é ser esposa de alguém, usando argumentos como "faço por que eles (homens) gostam", num sentido submisso.

Se uma homem é educado e resolve seus problemas como um cidadão civilizado, ele 'é uma moça', mas se uma mulher age de forma truculenta, 'ela parece um homem'. Ouvi, há pouco tempo, uma mulher - criada nos "preceitos" machistas PELA PRÓPRIA MÃE, algo como '(...) aquela psicóloga ficava nos analisando para o emprego, desse jeito, aposto que nem tem marido'.

Ou seja, se uma mulher não se casa, ou arruma pelo menos um namorado, ela falhou na
sociedade? É isso que toda mulher busca na sociedade? Um homem? Nada mais? Aliás, a mulher é tão desvantagem que o machismo conseguiu gerar um filho: A homofobia/lesbofobia. Antes, só quero frisar que respeito os termos estabelecidos, mas pra mim, homo é todo e toda homossexual, mas quero destacar a 'diversidade' aqui. Enquanto uma lésbica é criticada por ser uma 'mulher querendo fazer papel de homem', um homem gay é criticado por 'querer ser mulher'. Ou seja, o homem hétero é que é o soberano. Homofobia e machismo caminham juntos.

Agora, vejamos o ato da mulher em sua natureza. No sexo, homens e mulheres estão sujeitos a posições, digamos, acrobáticas e flexíveis, mas 'abrir as pernas' é atribuído apenas à mulher. E, por ser 'coisa de mulher', abrir as pernas serve de explicação para um fracasso masculino. "Fulano? Tinha tudo pra ganhar a competição, mas abriu as
pernas". Pense no efeito disso numa mulher, sobretudo numa jovem que esteja em vias de ou início de vida sexual? Opressão, opressão, opressão à condição feminina folclorizada.

Também falo de um primo próximo do machismo, o machismo racista, aquele que traz o ranço da mulher negra enquanto objeto, a novela com a empregada negra que se não é um alívio cômico sem núcleo e sem história - como se brotasse do chão pra servir - acaba sendo aquela que satisfaz o patrãozinho ou inicia sexualmente o filho deste. Da senzala para a cozinha e para a cama. Aquela mulher negra que ainda tem que ouvir, da mulher branca (para seu 'macho'): 'Eu não sou tuas negas pra você vacilar assim'. Por quê? Porque a mulher negra é culpada por ser tão sensual, por ter a cor do pecado e ficar atraindo o marido alheio para o sexo clandestino, sem assumir, mas muito fogoso. Ou ela é culpada por ser tão gostosa - o que justifica o estupro de muitas, independente da etnia - ou ela é a involuntária culpada por atrair a rapaziada, doida pra sentir seu sabor exótico.

E não esqueçamos que isso tudo passa de pai, mas, principalmente, de MÃE pra filha. E filho também. Costumo brincar (sempre com fundo de verdade) que você critica um menino por pegar numa panela hoje e o chama de 'viado' (machismo e homofobia, lembra?), mas quando ele cresce, a mulherada sente falta de um homem que cuide de casa (por igual e não só auxilie, como um favor), e se cozinhar, caras, vai encantar muitas!



No mais, mulheres ainda são muito criadas pra serem princesas Disney na infância e rainhas do lar no resto da vida (a menos que estejam em posição (UIA!) de sensualidade, aí, pensar em família com uma mulher que não é 'pra casar' pode estragar tudo. Pelas vítimas do estupro, pelas vítimas de violência doméstica, pelas vítimas do preconceito, pelas vítimas do racismo, pelas vítimas da gordofobia e tantas outras formas específicas de se oprimir as mulheres é que eu digo. Sou um homem feminista! Não tenho medo que isso afete minha personalidade, minha masculinidade e muito menos meu caráter. Lugar de mulher é onde ela quiser. Não somos donos delas e
feminismo não é a conspiração feminina pra destronar o machismo, é apenas a busca pelo respeito que o homem não precisa se esforçar pra ter.

Ah, e machismo é uma armadilha, ok? Toda vez que um machista se afasta de sua tchurminha, ele vai ser contestado, ou seja, torna-se orgulhoso, conservador e não pode ser quem é. A espontaneidade se torna uma necessidade de ficar se auto-afirmando machão que eu já disse 'passo' há muito tempo. Não se afirma aquilo que se é, apenas continua sendo e a sociedade vai ver.  

sábado, 30 de novembro de 2013

Lulu no dos outros é refresco

É muito difícil o homem entender o que a mulher passa, é como o branco que não reconhece o racismo ou o hétero que não enxerga a homofobia. Simplesmente não se vê como estranha uma realidade que lhe foi programada como natural. Se o homem é que domina o mundo, logo, é a mulher que vai perceber as desvantagens disso. Muitas, é verdade, acabam se conformando com o machismo por se sentirem intimidadas com a falta de argumentação de que ‘reclama por qualquer coisa’, mas, sabemos também que ‘no dos outros é refresco’. Sabemos que alguém sente dor, mas não tentamos entende-la. Aliás, muito homem – e mulher – defende a igualdade, faz discursos belíssimos sobre respeito, mas sempre tem o preconceito embutido em frases como ‘tem que se dar ao respeito’. A culpa do machismo recai é jogada sobre a mulher.

Sempre que alguém tem uma queixa, vai ser perfeitamente possível haver alguém pra dizer que é um exagero, que a culpa é de quem reclama e, tão naturalmente, pode surgir a resposta a isso “queria ver se fosse com você”. Pois bem, Lulu está aí pra ser o fiel da balança. Uma via de mão dupla. Sim, é escroto, um aplicativo onde mulheres – sob a “proteção” do anonimato – falam dos homens. Mas a questão aqui não é a atitude, mas a inversão de papéis que se dá nessas situações. Antes, eu devo falar que num passado recente, eu – sem ter subsídios de pesquisa – acreditava que o feminismo seria uma espécie de concorrente do machismo. Feita uma devida pesquisa, aprendi que o feminismo é a luta pelo respeito que o homem sempre pensou ter – porque quando se fecha num clube exclusivo, como saber que os de fora te respeitam ou só são resignados? – e sempre fez da mulher seu troféu. Na verdade, o 'poder' do homem no machismo só parece real, mas ele vem de um 'rebaixamento' da mulher, ou seja, não é um sistema justo.


A mulher sempre tem que conviver com acusações contra a moral por fazer o que o homem sempre faz – e ainda é elogiado. A quantidade de parceiros sexuais, estilo de se vestir, jeito de falar, modo de agir, etc. Agora, nada é mais degradante para a mulher do que ser inferiorizada como um brinquedo sexual, como um objeto a ser avaliado, numerado e catalogado no caderninho de algum menino babaca doido por babaquices. Que mulher não ouviu declarações e promessas que só duraram até o orgasmo... dele – porque o dela ficou para a próxima, quem sabe – e depois nem a sombra viu? Um homem talvez nunca tenha a chance de saber o que seja isso, pelo menos a maioria, porque nem tem profundidade emocional pra tanto – lembre-se, a programação machista da sociedade geral. Mas, e se o objeto tivesse o poder de inverter os papéis?

Pois é, o Lulu é um aplicativo que traz para o universo virtual a famosa conversa de banheiro entre amigas. Nele, as mulheres falam de tudo, inclusive, coisificam, menosprezam e disparam tudo mais que os homens estão acostumados a fazer, mas com o aval da sociedade. Não estou justificando que se valha ‘olho-por-olho’, mas isso serve como um baita exemplo de como ‘no dos outros é refresco’ é a tônica da questão. Não estou justificando, friso novamente, e nem vou ser besta de julgar que o rapaz que foi considerado ‘mais barato que pão com manteiga’, por exemplo, tenha feito algo que merecesse tal comparação, mas essa é uma situação nova para muitos. Mulheres tendo o poder de agir feito os homens e mostrando o quão escroto é tratar alguém assim. Parece piada, mas tem homem à beça achando que cantadas são elogios. Agora, torço pra que muita gente abra os olhos.


Não estou justificando – estou falando tanto isso que parece até que tenho alguma intenção de dizer o contrário por ironia, hein – mas, por hora, pode ser bom ter essa ferramenta. Claro, vai estar sujeito a sanções legais, mas o barato disso tudo é que talvez traga alguma consciência, mesmo que num início conflituoso estilo guerra dos sexos. Mas as mulheres têm mais é que sair mesmo do anonimato e mostrar que os homens são tão frágeis quanto a imagem que eles mesmos fizeram delas. Só um homem que repeita a mulher como igual pode ser verdadeiramente realizado, do contrário, vai ter criado a ilusão de superioridade que vai aprisiona-lo lá na frente. Machismo é uma armadilha para o machista e o Lulu é a prova de que a coisa é escrota, mas se não te dói, você não se incomoda que doa nos outros. No fim das contas, esse episódio 'Lulu' pode servir pra um início de conversa do tipo 'tudo bem, entendi, vamos manter a paz e o respeito sem palhaçada daqui pra frente'. Se não, Lulu está aí pra devolver ofensa na mesma medida!
Ops, Lulu errado... Sorry! ;p

sexta-feira, 8 de março de 2013

Mulher é mais. 8 de março.


O absurdo do feminismo: Luta por direito igualitário


Muito fácil é dizer que não é pra ter um dia só especial para as mulheres, mas que todo dia seria dia delas. Muito fácil, cômodo, demagogo e preconceituoso. O dia 8 de março não é o dia internacional da mulher porque elas precisam de um dia, ideia que seria facilmente refutada com simples argumentos de que todos somos iguais ou o quanto mulheres são importantes na nossa criação, desde a geração, gestação e educação. Moça, isso é ser machista. Aliás, uma reflexão de fim de parágrafo: Já parou pra pensar em como as mulheres são criadas pra ser perfeitas donas de casa, e não para ter uma vida aventureira como pilotar carros, motos e aviões ou simplesmente trabalhar fora?

O caso é que o dia em si já foi comemorado em datas diferentes, meses diferentes, etc. Mas, institucionalizou-se no dia 8 de março a partir da Revolução Russa (apesar das diferenças do calendário gregoriano para o Juliano, sendo neste último o dia 23 de fevereiro). O dia foi marcado como o símbolo da luta da mulher trabalhadora russa e início da supracitada revolução em 1917. O dia cairia em desuso, e, estando obsoleto politicamente, ganhou vertentes comerciais, quando os homens tinham por tradição presentear e homenagear as mulheres, tal qual o dia das mães ou o dia dos namorados. O dia, com o significado social da luta por respeito igualitário, veio a ser resgatado com a revolução feminista, já na década de 1960.

Na boa, claro que é mais uma data comercializada, como o natal, o próprio dia das mães ou a páscoa. Fato, os valores dessas datas foram deixados de lado porque vendem muito bem. Agora, vou falar para aquelas mulheres-bibelô, que reclamam não ter o respeito dos homens, mas usam de datas assim pra se sentirem adoradas, como troféus ou artefatos similares: Moça, você é machista. É como a mulher que reclama de situações tipicamente femininas, com o argumento de que se não obedecerem certos hábitos, os homens não vão gostar. Ou como a mulher que exige respeito igualitário, mas aceita as regalias que a sociedade do patriarcado oferece, como descontos em casas noturnas e o conjunto de cuidados masculinos chamado cavalheirismo.

Apenas para motivos de esclarecimento, não, o feminismo NÃO é uma tentativa radical e separatista de tomar o poder do patriarcado. Não é uma oposição ao machismo, embora, de certa forma, seja sim um intento de tirar alguns direitos dos homens, como, por exemplo, o direito masculino de comandar a vida feminina, de decidir o que faz de uma mulher santa ou puta, enfim, deixa os machistas perdidinhos sem poder direcionar as mulheres para onde bem querem pra se sentirem infantilmente superiores. A coisa não é um golpe de estado, tente ver o lado da Mulher-Maravilha, ela sai de uma ilha onde só as mulheres comandam para mostrar ao mundo machista o paradoxo de ser uma diplomata – nascida na Grécia, terra da democracia – com todo o aparato físico e psicológico para guerrear se preciso. Claro, o traje dela é um pouco machista demais, mas isso é explicado pelo fato de ela ter sido concebida por um homem.
 
Curiosidade momentânea: Esse homem é William Mouton Marston, nada menos que o criador do polígrafo – o famoso aparelho “detector de mentiras”, que serviu de protótipo mecânico para o laço da verdade da maravilhosa. Teria ele concebido a ideia de um herói que triunfasse sobre o mal com um diferencial, não seria com os punhos, mas com a diplomacia, a verdade e a justiça. Teria dito Elizabeth, sua esposa: Ótimo, mas faça-lhe uma mulher. Juntando isso ao potencial educativo de um personagem assim, nasceu Diana, amazona, diplomata e princesa de Themiscyra. Aquela que veio criada para mostrar ao mundo o potencial do novo modelo de comportamento feminino e seu lugar de valor no mundo. Como uma igual, ou você nunca reparou que ela é das raras super-heroínas com poderes e origens próprias? Quantas mais não são apenas versões femininas de heróis já pré-estabelecidos?

Mulheres, vamos lutar contra os padrões opressores da sociedade, mas colaborem, porque é muito fácil defender seus direitos iguais, mas aceitar cuidados e favores da sociedade só porque são mulheres, é como estampar no sutiã roxo uma placa de cores vivas com os dizeres: SEXO FRÁGIL – ESTE LADO PARA CIMA. Sendo assim, mulheres-fruta/comida/objeto não estão aqui relacionadas, por serem instrumentos a serviço do machismo, embora, as portas estejam abertas para quando resolverem lutar pela sua dignidade ao invés de usar seu corpo para ganhar em cima do regime que as trata como pedaços de carne.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sociedade Machista é Coisa de Homem! Não?


Já se vai longe o tempo em que os padrões da sociedade foram estabelecidos, mas gostaria apenas de falar um pouco sobre minhas impressões sobre isso antes de entrar no assunto propriamente dito. É importante frisar que os padrões são impostos por um grupo e aceitos pela maioria. Nada de pensarmos que os padrões se formaram e a sociedade foi aceitando. Do mesmo jeito que tradições religiosas - essencialmente católicas - fora designadas com interesses políticos, comerciais e de manipulação social.

É bem verdade que - mulheres, não me matem - o sexo masculino tem uma certa "supremacia". Calma, explico! Não há superioridade alguma aqui, e nem tanto pela força física, ou pelo menos, não diretamente, os machos das espécies animais - e somos um desses grupos - sempre possuíram a função biológica e sociológica de proteger e liderar o bando. Pensemos em como essa evolução se deu naturalmente para o ser humano, quando passamos a formar sociedades com relações e camadas complexas de relacionamentos diversos. Dá pra entender, pelo menos o processo, não as razões para a manutenção dessa fórmula pronta, onde o homem nomeia até a raça humana no geral e a mulher passa a ser a representação da beleza, sensibilidade e tudo aquilo que é bonito, acolhedor, mas não prático, logo, não capaz de reger uma sociedade.

Vamos divagar agora: Com certeza, por auto afirmação, homens decidiram excluir as mulheres do controle da sociedade. Mistificando a figura feminina dos ritos pagãos como algo maligno, acusando as mulheres de possuir dons de bruxaria e a necessidade de se queimá-las e afogá-las - o que aconteceria com negros e suas religiões "primitivas" (não católicas), mas isso eu falo depois, pois ainda me incomoda a ironia de certas religiões evangélicas criticarem tanto o catolicismo e, mesmo assim, agir da mesma maneira que eles agiam há 700 anos. Enfim, uma divagação por vez.

O problema é que não se incinera mais mulheres em praça pública e temos presidentes mulheres por aí. Mas isso não significa que o mundo está equilibrando a balança dos direitos. É preciso mudar com educação, e isso vale também para feministas. Feminismo é algo tão estúpido quanto machismo. Mas, também não é culpa de quem aceita isso? Uma mulher aceitaria pagar o mesmo valor de ingresso que um homem paga numa casa noturna? Aceitaria ir ao trabalho com o corpo todo coberto - já que homens não podem usar chinelos, bermudas ou camisetas? Hein? Será que não há conivência passiva por parte de quem gosta do modelo como está? Existe muita mulher machista por aí, que repete aqueles conceitos de que homem não chora, mulher que não se pinta e não se veste como uma Barbie é um menininho, e essas coisas.

Sou a favor dos direitos iguais, mas será que a sociedade está preparada, ou mesmo com vontade de que haja mudanças? A constituição até prevê que direitos iguais sejam a tônica, mas mulheres e homens são diferentes, quer queiram, quer não. Há concessões aí pra serem analisadas e também acho que uma sociedade funciona melhor quando todos são vistos como partes iguais do todo, ou vamos seguir com o modelo de que mulher tem uma função e homem tem outra. Na verdade, o que importa mesmo é o respeito, independente do lugar a que um gênero tenta relegar o outro. Eu aceito mil vezes que mulheres ocupem os mesmos lugares que os homens, mas é uma transição ousada demais para se pensar do jeito que as coisas são hoje. Há uma série de mudanças na mentalidade das pessoas para se pensar em evolução.

Evolução sem planejamento não dá em nada. É preciso medidas, políticos e ativistas interessados em melhorar as condições da sociedade e não um grupo querendo tomar o lugar do outro. Só trocar as moscas ainda faz a m*erda ser a mesma. Dá nos nervos quando vejo uma mulher dizer que as mulheres é que teriam que controlar tudo, que seria tudo mais bonito e delicado, que mulheres não fariam guerras... como saber? Cuba vivia uma ditadura até que os revolucionários a derrubaram... para instaurar sua própria ditadura... pescou o lance? Resolveu?
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