Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

Mostrando postagens com marcador sociologia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador sociologia. Mostrar todas as postagens

domingo, 15 de março de 2015

Dos impeachments, manifestações, achismos e a política


Vejo muita gente falando que política não se discute. Caô. Política se discute sim, mas estamos discutindo errado. Não basta ter respeito entre as partes – embora, ultimamente, respeito não se vê muito. A questão é que política é sociologia, ciência política, filosofia, antropologia, enfim, é um sistema que corre em paralelo – e misturado – à própria sociedade. É muito raso querer discutir política por uma eleição ou por uma nota no jornal. Aliás, isso nos leva ao próximo ponto.

 Querer discutir política sem conhecer como funciona a própria sociedade é discutir o leite derramado sem conhecer a história daquele leite, o que o levou a chegar ali, QUEM levou aquele leite até ali e o que o fez – direta e indiretamente – ser derramado. Enfim, é discutir o resultado sem conhecer o processo. Política não é presidência, não é congresso, não é meme de internet. É a própria sociedade. Aprendi com um professor de Ciência Política, na facul, que as relações sociais são políticas. Combinou com seu colega de apartamento que não havendo ninguém no recinto a regra é apagar a luz da sala? Política. Chegou ao local de trabalho, banheiro unissex, e estabeleceu-se que a tampa do vaso deve permanecer abaixada? Política. Entrou numa banda de rock e combinou que o vocalista dá entrevistas e o baterista procura lugares pra tocar? Política. Entrou na loja e o vendedor orientou que seu pedido deve ser feito no caixa? Amor etern... Brincadeira, é política também. Percebe onde quero chegar com esse papo? Prossigamos.


Aí, tem a galera que quer porque quer mudar a presidência porque quer mudança, porque mudança é importante, porque a presidentE fez algo que eles não gostaram. Isso é política? NÃO! É birra. Criancice. Golpe. Aliás, muito do que se atribui à figura do presidente nem é responsabilidade da presidência, diga-se. Querer mudar a presidência porque leu no Facebook isso ou assistiu no JN aquilo é achar que tem diploma de paleontologia por assistir Jurassic Park. Palavra de jornalista formado e com conhecidos no meio convencional. Uma matéria já sai da redação pronta, ela só busca embasar suas colocações com entrevistas pra passar credibilidade. Não é a verdade nua e crua apresentada diante de seus olhos. A folclórica manipulação de informações começa aí, você não vai ver uma pessoa uniformizada com um letreiro anunciando ‘estou te manipulando, acredite se quiser’. Muita gente acha que tá antenada com os acontecimentos e tá lendo coisas que um repórter falou. Repórter lê 1000 coisas pra publicar 10 e da maneira que seu editor falar. Mas, estou divagando, quero voltar um pouco na conversa de troca de presidência.


Trocar a presidência é como trocar a cereja por um brigadeiro no alto do bolo e querer que o bolo mude de sabor e que o casamento se torne baile de 15 anos. Não vai levar a lugar algum. Não estou pondo meu posicionamento a respeito – por enquanto – é só pra estabelecer os fatos e criar umas perspectivas. Já viu como a troca de treinadores técnicos funciona no futebol brasileiro? Um time tá ganhando e dizem ‘em time que está ganhando não se mexe’, aí o time degringola e todos pedem a cabeça do técnico. Senhorxs, se trocar o técnico fosse certeza de vitória, todo time que substituísse a pessoa no cargo seria, invariavelmente, campeão. “Ain, Saga, mas se não ganhar é porque o time é que era ruim mesmo”. Sim, gafanhoto, é aí que eu quero chegar. Não adianta trocar o técnico se não trabalhar os jogadores, se não mudar a mentalidade da torcida, se os dirigentes continuarem a visar apenas lucro e a conscientização de que é preciso honestidade e harmonia ficar de lado. É disso que eu to falando. Trocar a presidência não vai mudar o país, até porque muitos empresários – os verdadeiros governantes do país – financiam campanhas a esmo, vão ganhar de qualquer jeito. É como, sei lá, uma cervejaria, patrocinar ao mesmo tempo Vasco, Botafogo, América e Bangu. Você vai ficar esperneando que tem que trocar o técnico, o presidente e até o limpador de piscina do clube, mas vai continuar sem olhar o todo, sem olhar pra onde importa. Ou seja, quer é ter do que reclamar pra parecer consciente, mas nem memória, nem poder de contestação tem sem a fotomontagem da internet.


Então, pense duas vezes antes de debater sobre um assunto na inflamação de nervos, no achismo e na base do latido. Complexo de vira-latas não é legal, não adianta culpar a presidência por uma responsabilidade da prefeitura, por exemplo, correr pra rua gritar por impeachment e rosnar pro coleguinha na internet. Você está sendo massa de manobra fazendo isso. Ninguém gosta de admitir que está em posição de desvantagem, mas é assim que funciona. Um grupo cria os memes, as falácias, os achismos e as irritantes comparações dedutivas simplistas e um grupo maior vai nessa onda, só que o que o primeiro grupo visa é beneficio próprio, o resto é soldadinho vendado – e vendido -  indo morrer no front em nome do rei. É o bichinho de estimação achando que vai passear na rua e vai levar injeção do veterinário. Embora, a injeção do veterinário tenha realmente um motivo positivo. O grande problema é que pessoas formam suas opiniões sem base, mas como sua referência é sua própria cabeça, ficam achando que se brotou na sua cabeça, então é porque é verdade. Petulância e prepotência. Ficam com aquela opinião furada guardada só na espera por algo que a confirme pra ter certeza de que não tá pensando merda sozinho. Mesmo que seja mentira. Aí, quando pega uma notícia mentirosa na tocaia, sai repassando pra pensar que tem alguma razão de ser. Não tem. Tá feio. A gente fica olhando isso de fora da sua cabeça e acha ridículo.


Essa manifestação de impeachment é livre, o choro também, mas não passa de corrente de e-mail pra ajudar alguém que ninguém identifica numa foto de 1960 com a promessa de que ela vai ganhar 0,01 centavo a cada compartilhamento, caso contrário, Deus vai jogar abelhas na sua orelha e um cara vai dissolver depois de cair no tanque de Coca-Cola, restando apenas um dedo, que você vai encontrar num pacote de Doritos. Abra os olhos e reflita.  


E coxinha.



sábado, 16 de março de 2013

Funk: A voz dos excluídos


Aposto que você, ao ler o título, já torceu a cara e pensou "bleh, funk não é cultura, é p*utaria", mas se você ultrapassou a barreira do preconceito e chegou até essas mal traçads linhas digitais, muito que bem, façamos deste momento um tempo gostoso pra se divagar sobre a cultura e os conceitos envolvidos.

Música Lek Lek
Esse é o hit instantâneo do momento e você tem todo direito de chiar com essa música
grudenta no cérebro, mas admita, isso não é indecente, é só mais um sucesso da última
semana. 
Funk é sim a voz dos excluídos, como o Samba (maiúsculo, de raiz, de fé e de fato), como cantigas de ciranda e canções de ninar. Mas se essa voz é desafinada, feia e até indecente - em muitos MUITOS casos, seria por quê? Pense na problemática da criminalidade, aquele bandido que se faz em zonas esquecidas pelo Estado, em como ele se vê no dilema entre ser discriminado pela sociedade por ser favelado e ser uma autoridade notória dentro da sua comunidade. O que você escolheria, se você não visse chances na vida pra ser uma pessoa de bem, com um emprego respeitável e o sustento garantido para sua família?

Muito fácil dizer que isso não é desculpa, se não, todo favelado seria bandido e não haveria corrupção entre gente rica, o que nos faz remeter ao caráter. Sim, não é desculpa. Também não justifico essa possível inveja dos que têm oportunidades na vida, já que se você não sabe de onde vem seu problem, não é roubando de pobre e trabalhador ou oprimindo sua vizinhança que você vai conquistar respeito. Com certeza medo, mas assim que você cair, vai haver uma festa animada em comemoração ao seu desfecho.

Carolina Macedo, Solange em Fina Estampa, "chegou lá" para admiração
de sua mãe, que do seu mundo, viu com admiração o sucesso da filha, que
cantava sobre ser 10 indo até o chão, mas um fracasso na escola.
A questão aqui é um pouco mais profunda, é sobre o cara que cresce onde não existe educação regular e se houver, você vai passando pra nõ gerar números negativos para o governo, mas a educação mesmo não é ensinada, no sentido acadêmico. Você chega ao ensino médio e mal sabe ler, vai para a escola e lá você não tem desafio, estímulo, só a automatização de um serviço pra inglês ver. O que fazer? Faz igul à menna da novela Fina Estampa, que criou uma letra (?!) falando que preferia rebolar o rabo do que estudar porque não ia se dar bem mesmo na escola.

Então, ao se referir ao funk, procure refletir sobre isso, eles não falam nada de agregador culturalmente pra você que não vive aquela realidade, mas na localidade deles, eles são reis, chegaram lá - como exclama a mãe da referida personagem quando se depara com sua filha recém-fugida de casa na noite pra cantar funk num baile próximo. A glamourização por parte do pobre é natural, é quando você tem um destaque e um reconhecimento. O problema é quando a mídia olha pra isso e usa pra vender, enaltecendo essa cultura 'nem' como se fosse o maior barato. Não é.

Se preocupar com os rumos que os outros que apenas sonham, mas não chegam ao sucesso ninguém quer, apenas fazer das periguetes e dos 'sou f*oda' mais um produto a ser vendido para aqueles que os têm como estrelas e astros. Não, não sou funkeiro, mas admito que algumas dessas músicas me divertem, enquanto estou bebendo na festinha. Isso faz de mim um descerebrado? Não, porque depois eu volto ao meu normal e sigo a vida. Mas tem gente que não é bem assim, só vê aquele jeito, virando meme na internet e ganhando como pode.

Se não tá nem matando, nem roubando, amigo, eduque seus filhos pra que não achem que aquilo é mais que uma ilusão de respeito e mais uma fonte de trabalho e renda. Não espere que o funk eduque ou deseduque seu filho, mostre o que tem de cultural no mundo pra ele, que ele vai ouvir funk como o que realmente ele é: Entretenimento e diversão. as letras indecentes? Isso tem no forró, no pagode, no sertanejo, no rock... Não vamos fazer má publicidade da coisa agora se não fizemos antes, né? Ou façamos de tudo, mas aí, vão te chamar de politicamente correto, o que é assunto pra outra hora.
Powered By Blogger