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terça-feira, 11 de outubro de 2016

Por que ‘X-Men’ falhou terrivelmente com a humanidade?



Bem, pro título não ficar muito comprido, explico que estou me referindo ao universo cinematográfico e não à equipe de mutantes em geral, muito menos especificamente no material-fonte, ou seja, HQs. E, sim, sei que ficou um titulozinho safado, dando a entender que eu falaria até, quem sabe, do aspecto fictício de alguma aventura específica. Ou não, sei lá.

Aliás, se quiserem saber mais sobre o que eu acho dos mutantes dos quadrinhos, já falei do fantástico arco Deus Ama, O Homem Mata (Conflitode Uma Raça), onde William Stryker quer provar que mutantes não são humanos e sim, aberrações ameaçadoras enquanto ele mesmo defende essa monstruosidade de preconceito, já citei as linhas gerais da criação do núcleo mutante diante das causas sociais de grupos discriminados, e até num texto antigão, de 2009, quando eu ainda assinava Fernando Garcia (de onde vem o nome desse infame, porém honesto blog - Rá!), sobre o que se perdeu com o tempo na série (e suas milhares de revistas banalizadoras de causas). Mas, vamos à questÃ.



No cinema a questão mutante fica muito restrita apenas ao fato de os personagens serem mutantes, não dando muita profundidade às analogias que a série faz nos quadrinhos, como homossexualidade, antissemitismo, racismo, etc. Um lampejo de profundidade, vemos algo que se aproxima dos quadrinhos quando Wolverine, Vampira, Homem de Gelo e Pyro (UIA!) conversam com os pais de Bobby e sua mãe reage como se o filho estivesse saindo do armário (“Filho, já tentou não ser isso?”). Até que a cena é maneira, nada pesada, mas um tanto intensa, o que compensa – quase – o primeiro filme, onde Magneto tem um verdadeiro plano Power Rangers de transformar todos em mutantes pra que não discriminem mais uns aos outros... Sério? É algum vilãozinho das Três Espiãs Demais?

Além de a humanidade acabar inventando outro motivo pra discriminar, onde esse plano retrata a luta diária contra discriminações? Se Magneto fosse real, ele ia transformar todo mundo em judeu? Em gay? Enfim, to me fazendo entender? Não se luta pra tornar o outro em semelhantes, se luta pra que haja respeito ao diferente, catzo! Nisso, os filmes falham, já que focam demais no Wolverine e aquele passado escroto – que já desvendaram, mas eu gostava quando era só um mistério de um cara esquisitão. Aliás, se o primeiro bota Magneto como o vilão da semana e o segundo é um revezamento de explosões, com outra vez, Xavier sendo posto fora de combate e, outra vez, Wolverine lutando pra descobrir seu passado. E no 3º filme então, são só cenas de ação, diálogos estranhos e outra vez Xavier fora de combate e outra vez, Wolvie sendo o Charles Bronson com garras.



Nada muito representativo se lembrarmos que X-Men foram criados na década de 1960 e Magneto com Xavier representam Malcolm X e Martin Luther King Jr, na luta pelos direitos civis dos negros nos EUAses daquele tempo. Enquanto Magnus/Malcolm tem a visão radical de que estamos em guerra e precisamos defender os nossos como for, Xavier/Luther King prega a harmonia entre as raças diferentes num mundo de paz. Ok, num primeiro momento, os quadrinhos vacilaram trazendo apenas jovens brancos estadunidenses entre os protagonistas, ou seja, mutante pode, mas nada muito ‘étnico’ (o que foi melhorado na segunda formação com integrantes de vários países do mundo, mas não é sobre gibi aqui).

Nos primeiros filmes, apenas Tempestade é preta, e é a Hale Berry, então, seria como ver uma novela com uma negra só sendo a Taís Araújo, saca? Não é desafio à diversidade quando o nome já vem brilhando. Aliás, muito pouco se diversificou. Aí, veio o reboot, que na verdade, virou prequel – e que teve seu próprio prequel na continuação (hein?!) – Primeira Classe. Tinha um negro no elenco principal. E adivinha só? Não só foi o primeiro a morrer, como foi o único! Parabéns, jovens diversificadores! Vocês criam uma franquia cinematográfica para uma série que representa lutas sociais de aceitação contra a discriminação e o único preto morre antes que a verdadeira aventura comece.

X-Men - Dias de um futuro esquecido


Tá, tenho dois adendos, você, se assistiu atentamente feito eu, notou que tem outra pessoa negra ali, mas além de se encaixar no exemplo ‘Taís Araújo’ (pois é filha de Lenny Kravtz com Lisa Bonet), ainda se bandeia pro lado do vilão. A outra questão é que o personagem morto tem o codinome de Darwin, porque seu poder é se adaptar para sobreviver. Tipo, cria guelras se estiver embaixo d’água, tem a pele de pedra ou metal para suportar temperaturas muito altas, etc... Aí, o que acontece... Ele explode com uma ‘bomba’ implantada pelo vilão na sua boca... Tipo... Cara, nenhum poder dele poderia cuspir a energia fora ou ficar altamente resistente a uma explosão?


Enfim, X-Men, do diretor Bryan Singer falha terrivelmente no que diz respeito a grupos excluídos socialmente. Na verdade, pelo fato de o diretor ser gay assumido, pesa ainda mais, já que seria o primeiro a saber como é isso bem na pele. Juro que até gosto da franquia, mas essa deturpação de valores me incomoda. Nem a troca de trajes individuais e coloridos (o que reforça, nos quadrinhos, as identidades próprias e características de cada um) por genéricos casacos de motoqueiro me importariam tanto se o roteiro tivesse uma linha mais simples de ‘temidos e odiados pelo mundo que juraram proteger’. E ainda dava pra colocar ótimas sequências de ação e humor, afinal, foi isso que tornou os personagens queridos nas HQs: Um novelão com aventura, romance e humor, no melhor estilo ‘essas feras vão aprontar as maiores confusões no maior clima de azaração’, da Sessão da Tarde. Rá!

X-Men - Apocalipse


Ps.: Tentaram esboçar um arrobo de diversidade no Dias de Um Futuro Esquecido com Tempestade e Bishop negros, a Blink chinesa, além do Apache (nativo estadunidense) e Mancha Solar (que é brasileiro e preto, ou deveria, tendo sido criado assim no gibi)... Mas a grande verdade é uma só: Tem mais personagens azuis do que negros. Tipo Maurício de Souza que tem mais personagens animais antropomórficos do que negros.



Ps²,: Sim, eu notei que Alexandra Shipp (sempre linda) é negra e apareceu nesse mais recente Apocalipse, mas aí, no máximo, voltaram ao status quo 'Taís Araújo', tipo, tem uma negra de novo, ela é a Tempestade.  

Bryan Singer, o diretor.


O X-man Darwin virou até piada na web, como o que tem o grandioso poder de se adaptar pra sobreviver e é o único que morre. Na dúvida, morre o preto. Repare em outros tantos filmes que quando não é o preto é o latino, é o japonês... enfim, o recado deles é nítido, né?


"Se adapta para sobreviver a qualquer coisa... único x-man que morre"



terça-feira, 16 de junho de 2015

X-Men: Deus Ama, o Homem Mata - Conflito de uma raça



Como hoje em dia está muito fácil se falar besteira pela internet, até porque internet provém dois fatores muito importante pra besteiras mil se propagarem: 1, ela dá a sensação de valentia e impunidade que nenhuma cachaça braba consegue e 2, ela é igual papel em branco, aceita qualquer abobrinha sem restrição, o que provavelmente dá a ideia de que o emissor/divulgador da falácia pense ser sinal divino de que está certo.



Mas vamos falar de coisa boa, uma das séries que mais permeou meu imaginário infanto nerd juvenil desde o final dos anos '80 e início dos anos '90: X-Men. Pois bem, os 'xisméin' possuem uma historiografia vasta de aventuras espaciais, quebras massa e muito novelão também (porque você pode combater o crime e ter uma D.R antes do churras de fim de semana, não é mesmo?). Então, o que acontece, estou falando de uma aventura especificamente, e no tema que tornou os filhos do átomo referência no assunto: Diferenças e respeito à diversidade. Já falei antes que a mutação genética a que são acometidos (por fatores diferentes, mas com a mesma raiz) pode ser encarada de diversas maneiras na sociedade e esse é o grande barato da série. Sempre achei estranho que um soldadão usando um soro seja herói nacional, mas um adolescente, porque nasceu assim, é odiado (e nem tô falando ainda do Homem-Aranha, visto como ameaça por alguns porque usa uma máscara e escala paredes... bem, seria estranho mesmo).

Entonces, falemos de O Conflito de uma Raça - também conhecido na tradução literal de Deus ama, o homem mata. Nela, o ex-militar, reverendo fundamentalista Stryker (você já o viu nos filmes da franquia cinematográfica como militar) está propondo que se "limpe" a humanidade dos mutantes. Daí, eu retomo o conceito básico da abordagem mutante: a homossexualidade. Muito recentemente um garoto de 14 anos foi brutalmente assassinado só porque era gay e uma foto de uma travesti assassinada há alguns anos está correndo internetES afora como 'a mulher trans que encenou uma crucificação' na parada LGBT, sob comentário do "bispo" que postou como 'justiça divina'. É mentira, falo logo, não era a mesma mulher trans, crucificação não é direito autoral da bíblia e sim um método de tortura muito antigo e isso é uma estupidez. Veja que eles são absurdamente parecidos com um personagem de quadrinhos, meus caros. O irracional personagem alega que é um instrumento de deus pra justificar seu ódio e sentimento de vingança contra quem não lhe fez nada, apenas porque é diferente.

Note que assim como a sociedade média faz com gays, negros, pobres e outros grupos que não estampam a grande mídia como protagonista de novela, os mutantes da ficção são vistos como uma subespécie de humano, acredite, essa é a verdadeira razão para não aceitarmos que um negro seja chamado de macaco, já que isso não é só um apelido - afinal, existem macacos amarelos, brancos, cinzas e outras cores - mas o teor de associar negros a um animal que lembra muito, mas não é gente de verdade é que é o que pega. Assim como ele aponta pra Noturno e desdenha de sua 'humanidade', deixando de lado que é uma pessoa com sentimentos, com desejos, sonhos e personalidade. Quem definiu o que é ser humano? E porque justamente esses 'normais' é que acham que podem definir quem não é? O que os interessa tanto a vida alheia? Sabiam que desde a família real portuguesa que só vem maluco pra cá? Esse conceito de família tradicional não pode ser pré-definido já que fomos governados por um bonachão que andava com comida nos bolsos, uma rainha ninfomaníaca, um príncipe, depois imperador - tarado e muitas outras mirongas. Enfim, falei demais, veja numa página só como Chris Claremont já demonstrava sua preocupação genial com a sociedade há mais de 30 anos atrás (a saga é de 1982, junto comigo, rá!).

Veja na página emblemática, esse diálogo e troque ali, no lugar dos X-men, algum grupo discriminado (mas discriminado mesmo, do tipo que morre por ser o que é e não esse mimimi de 'ain, eu sofro preconceito por ser homem, branco, hétero, etc').



"Graças a você e a pessoas como você, os mutantes têm vivido dias de medo e desespero (...) Será que rótulos arbitrários são mais importantes que o modo como vivemos? E o que dizem de nós, mais importante do que o que realmente somos?" - Scott Summers/Ciclope.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Mercúrio: Das HQs para o cinema


Caras, fazia tempo que eu não escrevia sobre quadrinhos apenas por diversão. Lá vai. Ou melhor, lá se vão... anos... Já se vão muitos anos desde que eu era um aficcionado por quadrinhos, mas muita coisa eu ainda tenho e releio com frequência. Mas uma coisa que dá muita graça em ter esse lado nerd ainda vigorando aqui em algum lugar é quando a gente pode realizar essa fantasia de super poderes em boas representações cinematográficas. E... caras, muita coisa boa aparece hoje em dia, mas o Mercúrio (Quicksilver) de X-Men: Dias de um futuro esquecido foi uma grata surpresa.





Digo surpresa porque sempre gostei do personagem (acompanhei muito a fase em que ele fazia parte do reformulado X-Factor, uma equipe mutante a serviço do governo em nome da lei e aquele blá, blá, blá). Nessa época, ele já era um respeitado mutante do bem e com uma filha pra criar, um pouco distante do espertalhão filho do Magneto em busca de aprovação do papai. Mas não vou falar muito do personagem, e sim de sua encarnação no cinema.



Antes, temos que falar de sua outra encarnação, a do estúdio Marvel (de Os Vingadores-A era de Ultron). Se por um lado o Mercúrio da Fox é um mutante adolescente setentista, o da Marvel é um humano alterado por testes genéticos que visa se vingar, a princípio, de Tony Stark por ser dono do complexo empresarial que forneceu as armas que seu país foi bombardeado (tendo perdido seus pais), ou seja, Pietro e Wanda não são filhos de Magneto no universo de Os Vingadores, são irmãos rebeldes. E o modo como Pietro (que além de não ter relação com Magneto, também não é chamado de Mercúrio/Quicksilver) termina o filme, podemos imaginar que ou ele volta naquelas desculpas de que velocistas se curam super rápido - o que eu duvido e já digo porque - ou eles já tinham mesmo a intenção de usar apenas a (futura) Feiticeira Escarlate (que no filme parecia mais uma encarnação de Jean Grey por seus poderes resumidamente telecinéticos/telepáticos.

Voltando ao Mercúrio da Fox, este, com uma personalidade diferenciada de sua versão original, lembrando muito o entediado afobado prepotente adolescente do tosco desenho X-Men:Evolution. Ali estão plantadas sementes para ele se desenvolver mais no próximo filme da franquia, pois ele menciona, na cena do elevador no resgate de Magneto, que achou curioso o poder do mestre do magnetismo, pois sua mãe já esteve com um cara que fazia isso também (detalhe para a olhadinha do tipo "ei, será que não foi você que saiu com minha mãe?").



E explico para os não nerds: Magneto, após escapar dos horrores do holocausto, iniciou uma vida família com esposa e filha. Num dado momento, essa filha se via num incêndio e por um motivo que não lembro, uns jagunços impediam o pai de salvá-la. Ao perder sua filha, os poderes de Magnus se manifestaram pela primeira vez e ele dizimou uns capangas assustando sua mulher, que fugiu. Anos e anos mais tarde, apareceram os irmãos Pietro e Wanda Maximoff, revelados em seguida como os gêmeos que a mulher de Magneto já carregava sem mesmo saber, quando fugiu do seu 'estranho' marido. O resto é história.

Enfim, além de gostar muito de personagens velocistas, depois do Flash (Wally West) e do Kid Flash (Bart Allen), Mercúrio sempre me agradou enquanto personagem, sobretudo na relação com o pai e os companheiros mutantes. E, no cinema, o personagem recebeu a reprodução que merecia na sua cena principal, quando evita que Xavier, Magneto e Wolverine - além dele mesmo - sejam baleados por seguranças da Casa Branca. A cena é um primor. Quando tudo começa a ficar em câmera lenta, você já sabe que lá vem super velocidade. É quando Peter (e não Pietro como o original, mas muitas vezes referido assim nas HQs - como Piotr/Peter Colossus) põe seus fones de ouvidos e seus óculos pra agir. Assista à cena e ao making of logo abaixo.

Cena:


Making of:


Só um adendo: Também achei estranho que a música no radinho do garoto esteja em tempo normal ao passo que o mundo praticamente para diante de suas habilidades com velocidade, mas é uma fantasia que eu compro, embarquei porque o resto todo é do jeito que eu queria sempre ter visto um velocista agira e não só bullet times e câmeras aceleradas.

No mais, prefiro vê-los como versões diferentes, como temos o universo 616 e o Ultimate (de onde saiu muito dos Vingadores, sobretudo o Nick Fury de Samuel Jackson e essa estética mais "realista" e menos coloridona).


quinta-feira, 14 de maio de 2015

X-Men e as causas sociais


Não é de hoje que cito HQs em meus artigos ou postagens e você já percebeu isso se deu uma olhadela no histórico dos lugares onde publico textos. Ao longo dos tempos, me tornei um decenauta em questão de quantidade de material da DC Comics, mas tudo começou mesmo com a Marvel, quando eu acumulava bonequinhos figuras de ação de Homem de Ferro, Capitão América (e ainda achava que o personagem era um lacaio patriótico estadunidense) e meu preferido sempre sempre: Homem-Aranha. Num determinado ano, comecei a comprar regularmente as revistas do meu favorito, naquele formatinho da editora Abril, típico dos anos ‘90s, mas logo fui apresentado a X-Men, uma equipe esquisita, pois brigavam entre si, tinha confusão e poderes bizarros. Era o clássico desenho de 1990 ou 1992, algo assim. Claro, quando o interesse me levou aos gibis, me deparei com histórias e equipes bem diferentes, personagens que não existiam em um lado e foram criados no outro, histórias adaptadas e essas coisas que os nerds mais novos só se chocam agora quando mudam das Hqs pro cinema.
 
O caso é que X-Men sempre foi uma série muito didática. Existe a história de que quando Stan Lee participou da criação do conceito dos heróis (junto a desenhistas que concebiam os visuais), ele quis algo diferente do que já havia feito. Enquanto o contexto político apontava para a Guerra Fria e aquela tensão de ataque nuclear, todas as formas de radiação geravam poderes. Radiação em aranha, vira homem-aranha, radiação gama, vira o Hulk, radiação Vita com potencialização gama, vira o supersoldado (que de soldado já nasceu como capitão América), radiação cósmica vira quarteto fantástico e por aí vai... Só que com essa nova leva, eles queriam algo mais dinâmico, sem muita explicação, então, nasceram os filhos do átomo, os X-men, aqueles que quase que inexplicavelmente já nasciam com a fonte de seus poderes. Havia um contexto preparado de que indiretamente os mutantes absorviam alguma radiação, talvez em nível genético, de pais expostos a alguma radiação (olha ela aí de novo), como é o Professor X, por exemplo. Mas a característica que origina este texto é a forma como se desenvolvem os poderes.

Tá, a coisa tá lá e não precisa explicar muito, mas como eles conseguem lidar com isso? O Cíclope não nasceu atirando rajadas ópticas de plasma, nem Wolverine praticou cesária na sua mãe de dentro pra fora com suas garrinhas, né, não? Então, a semente dos poderes causou uma mutação em uma parcela da população e seus descendentes representariam uma espécie de salto na evolução, quase que uma nova espécie de ser humano surgindo, assim como o homo sapiens substituiu o homo erectus, estaria agora sendo substituído pelo homo superior (nome original, hein?). Manifestando-se, geralmente, na adolescência, dada a ebulição de hormônios e mudanças no corpo, o gene X fazia com que as crianças desenvolvessem seus dons com a naturalidade e espontaneidade que hormônios fazer crescer pelos, espinhas, seios, quadris e tals... Vamos às abordagens sociais a partir dessas mudanças? Vamos.

Adolescência


Essa é a mais óbvia, numa fase em que você além de descobrir seu próprio corpo, descobre pra que servem certas partes e precisa lidar com isso. Eu, por exemplo, fiquei muito alto e desengonçado ainda com 13, 14 anos. Foi uma lástima passar por isso. Imagina se você descobre que um beijo pode deixar alguém em coma ou que você pode arrancar a cabeça da professora numa olhada? Barra... amigxs, barra.

Racismo


Enquanto Xavier tem o sonho de que humanos e mutantes convivam em paz, Magneto não confia na humanidade pela parte que os persegue por serem diferentes e prega o separatismo, que mutantes tenham seu próprio lugar à parte dos humanos que os odeia e querem destruí-los. Além disso, tem o Stryker que defende o extermínio dos mutantes em nome da pureza da humanidade “normal”. Isso nada mais é do que Martin Luther King Jr (Xavier) em conflito ideológico com Malcolm X (Magneto) e os dois na mira da Ku Klux Klan (Stryker e seu grupo ‘purificador’). Luther King tinha um sonho de paz, X já tinha visto a solução em conflito armado (Black Panther) e ambos queriam, em suas próprias visões, a paz e segurança para seu povo: Negros (mutantes).


Antissemitismo  


O próprio Magneto vai exemplificar esse aqui, de novo, com Stryker. Magneto é judeu e vítima do holocausto, sobrevivente da segunda guerra. Seus poderes se desenvolveram depois de adulto quando já tinha constituído família num momento de fúria por ter perdido uma filha, o que fez sua esposa fugir (grávida, dando à luz depois aos gêmeos Pietro e Wanda, mas esse é outro assunto). Magnus, ironicamente, por horror ao holocausto, defende que os mutantes, sendo uma raça diferente, viva em um lugar só dele, ao passo que Stryker traz o terror da ilha Genosha onde mutantes são marcados e aprisionados para controle e extermínio, como um campo de concentração.

Homofobia


Usei de forma improvisada o termo homo no sentido do que não é hétero, ok? Mas estão englobados trans, bi, lesbo, etc, só pro subtítulo não ficar muito extenso. Mas voltando, um caso que exemplifica perfeitamente a comparação de mutantes a gays é uma cena de X2 (X-Men 2), quando, fugindo de Stryker (de novo ele), Wolverine, Pyro, Vampira e Homem de Gelo vão até a casa deste último para esperar a poeira baixar. Enquanto esfriam a cabeça, os pais de Bobby retornam com seu irmão e é hora de ele admitir que é um mutante. Na verdade, ele “sai do armário” com direito a choque da família e sua mãe dizendo que a culpa é dela, perguntando se não tem como ele deixar de ser mutante (“filho, já tentou... não ser assim?”). E fica aquele jogo do pai que não aceita o filho como é, o irmão o denuncia como fugitivo e é mais um gay mutante expulso de casa por não ter apoio da família na hora que mais precisava, tendo que encarar o mundo e sua violência sozinho. Ah, e tem o vírus Legado, uma doença própria pra quem tem o gene mutante, mas que afeta seres humanos também, numa escala diferente. Faz lembrar a monstruosa fofoca que tomou o mundo alegando que AIDS era doença de gay, de grupos de risco como prostitutas, gays e drogados com injetáveis.



Comunismo


As várias vezes que o projeto do Senador Kelly veio à baila para registrar mutantes junto ao governo pra manter controle sobre eles e poder prevenir uma possível ameaça mutante é a mesma coisa que um projeto estadunidense para rechaçar a ‘ameaça vermelha’ que nada mais era além do comunismo, que sempre pareceu uma ameaça aos reis do capitalismo. Pra quê a ideia de o trabalhador ter o controle dos rumos da sociedade e tirar da mão do pequeno grupo que os mantém sob coleiras? Pois é, seres humanos não gostavam da ideia de um cara que pode dobrar uma tampa de bueiro com um pensamento andando por aí. Vai que ele cisma de andar pelado só de capinha e você não pode reclamar pra não ter o ferro do organismo concentrado e enfiado no umbigo? Vai vendo...


Subcultura e deficiência


Os Morlocks receberam esse nome sob influência das criaturas de H.G Wells, em sua obra A Máquina do Tempo, porque eram criaturas estranhas que causavam medo e viviam no subsolo. Na verdade, os Morlocks da Marvel são mutantes como qualquer outro, mas com uma característica os diferencia: São considerados deformados demais pra viverem entre os humanos como se fossem eles. Tipo, ninguém questiona o Ciclope por estar sempre de óculos, mas seria esquisito não reparar naquela moça que é fina igual papel ou no jovem com aparência de borracha. Isso nos remete diretamente aos excluídos da subcultura com seus visuais alternativos, piercings, tatuagens e demais body art, mas também lembra das pessoas com necessidades especiais, pois perceba que muita gente não diz, mas adoraria que cadeirantes e demais deficientes ficassem em suas casas pra não ter que se deparar com alguém que precisa de mais ajuda do que eles em várias oportunidades.


Religião


Há o aspecto religioso também. Ao passo que vários mutantes possuem diferentes religiões entre si, a igreja purificadora de Stryker (putz, o cara é pior que o Magneto) considera que mutantes são obras do capiroto, portanto, não podem ter religião, já que não são seres humanos de verdade. Igualzinho a uma galera mala falha por aí que acha que só eles é que são os certos e o resto está fadado ao inferno. Aliás, na mitologia deles, o inimigo é personagem da religião dos outros. Como é?! Sim, já que estamos falando de quadrinhos aqui, seria como dizer que todo mundo no universo X da Marvel é bonzinho, o inimigo mesmo é o Bátema, porque ele se veste de maneira diferente da dos X-Men e tem um jeito de se comportar diferente. Não que possam haver diferentes maneiras de combater a maldade, eles precisam apontar alguém pra odiar. Assim a humanidade faz com os mutantes, assim a humanidade faz com a humanidade e assim eu termino meu parecer sobre uma das séries que marcou minha adolescência e que adoro reler o que tenho de tempos em tempos.      

          


P.S: Agora eu sou esquerdopata gayzista feminazi bolivariano vitimista e MUTUNISTA. Rá!
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