Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Skol cria campanha de carnaval e é acusada de incentivar cultura do estupro

"Esqueci o 'NÃO' em casa."

É com essa frase - e outras - que a cerveja Skol lançou uma campanha para o carnaval. As amigas Mila Alves (jornalista) e Pri Ferrari (publicitária) repararam e complementaram: "Esqueci o 'não' em casa" - "E TROUXE O NUNCA". É que as frases usadas na campanha da cerveja redondo reforçam uma cultura muito comum em espaços - abertos ou não - de entretenimento coletivo: A cultura do estupro. Estupro, pode parecer uma palavra forte, que muita gente faz questão de não reconhecer por entender apenas como aquele crime que faz o cidadão virar refeição sexual na cadeia, mas é mais que isso.

Mila Alves e Pri Ferrari protestaram contra campanha de Carnaval da Skol

Cultura do estupro é basicamente o machismo sendo ele mesmo, sendo o sistema de poder e dominação do homem sobre a mulher. É aquele sistema que faz com que muitos caras se incomodem em ter uma mulher independente ao lado por medo que sem a dependência financeira ou emocional, ela resolva que não tem nada a fazer ali, é o sistema que trata como natural os caras passarem pelas mulheres nas festas de rua, shows e demais eventos achando que têm o direito de puxarem braços, cabelos e cinturas já forçando uma barra para beijos, chupões e agarrões. Não é festa se não é consentido, correto?

Agora, mensure o que é uma cerveja incentivar essa ideia às vésperas do carnaval, quando metade do mundo estará bebassa! Sim, mesmo que a campanha não especifique que é a mulher que esqueceu o não, sabemos muito bem que não há mulher puxando braço e torcendo pescoços pra beijar mais um e sair comemorando com a galera, né? E é claro que quem faz isso não precisa de uma cerveja pra dar a dica, mas é o princípio envolvido que chama à atenção. Ninguém gostaria, por exemplo, se a campanha mandasse você beber sapateando sobre o túmulo de entes queridos, não é verdade? Pois bem...

Prefeitura de Curitiba faz campanha contra estupro

Depois de frases como "topo antes de saber qual é a pergunta" e "estou na sua antes de saber qual é a sua" e do protesto das moças, a Ambev prometeu tirar a campanha e jurou que não teve intenção de incentivar a violência contra a mulher (e sabemos que é um carnaval de gente bem intencionada num lugar bem peculiar da cultura judaico-cristã, né?). Essa irresponsabilidade também gerou uma 'contra-campanha' por parte da prefeitura de Curitiba junto à revista Nova, com frases de empoderamento feminino como 'não é não' e 'estar bêbada não é estar disponível' e também 'o tamanho da minha fantasia não dá o direito de realizar a sua'.

Amigolhes, é claro que muita mulher bêbada perde a noção, mas, como eu disse, mulher bêbada não tenta agarrar homens à força, e também não vai agredir o cara se ele não estiver afim, só porque ela se sentiu no direito sobre o corpo dos outros, ok? Não estamos falando em possibilidades físicas, mas de uma cultura que trata a mulher como subordinada ao homem e que faz tanto sentido quanto sacrificar jovens virgens para acalmar uma chuva forte.

Em espécie de resposta à Skol, revista 'Nova' faz campanha de Carnaval anti-estupro

Fonte: F5 e... F5 (é, de novo).

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Festival de gifs: Ciência era a melhor matéria



Quando eu era moleque, adorava passar as páginas de alguns livros até lá na frente, só pra ter um aperitivo. Assim também eu faço com HQs, livros, artigos... enfim, como eu gosto muito de ler de um tudo, ter esse 'trailer' vai mexendo com meus sentidos... Mas uma coisa que sempre me perturba é o tal do gif. Porque se um livro de biologia da sétima série me dá um mundo de informações, 'você sabia' e descrições científicas de fenômenos naturais e corriqueiros... o raio do gif me dá só SÓ o aperitivo. Fico imaginando ver o resto que saiu daquela curta sequência... e nada NADA!

Bem, mesmo assim, o jovem infanto nerd juvenil que habita meu ser (UIA!) ainda é fascinado por ciência e esses gifs a seguir fazem o tempo parar num momento, quando eu não perdia um "Mundo de Beakman" na TV Cultura.

Líquido inflamável na garrafa
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Amido de milho e água sobre um speaker (não, não é uma suruba melecada)
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Fumaça na bolha de sabão
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Água cristaliza na jarra
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Bolha de sabão congelando
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Fogo de artifício
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Pipoca
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Como se formam geleiras (nem todas fálicas)
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Pêndulo com lâmpadas elétricas
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Não sei o que é isso, mas é lindo
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Tamanho da Terra em relação a estrelas
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Criando vácuo num vagão de trem (ou Magneto boladão)
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Isto é cinética, isso é ciência. Diz pra eles, Neil Degrasse Tyson
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Fonte: Fatos Desconhecidos

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Filosofias de parapeito de terraço: Cuidado com a inveja

Olhar reflexivo frente ao horizonte bolando essas piadinhas infames duzinfernu!


Hoje, aqui e agora (não agora pra você que estiver lendo isso em 2536 - Rá!) estreia uma nova "seção": As filosofias de parapeito de terraço, pra declamar algumas de minhas tiradas infames que não se encaixariam num texto completo, mas achei realmente relevantes pra citar. Não sejam relevantes, eu que achei assim, visse? Então, lá vai a primeira:

Maneire na dieta do exibicionismo, inveja tem olho gordo.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Para respeitar o próximo é preciso se colocar no lugar dele...



... e parar com a palhaçada do "se eu fiz ou deixei de fazer, eles têm que agir igual". Empatia é o contrário de egocentrismo. Se colocar no lugar do próximo é muito importante pra que o respeito seja legítimo. Respeito não é entender o outro como você se entende (se é que se entende) e você não precisa estar nos sapatos do outro pra saber o que ele passa. Quer um exemplo? Eu não sou gay, mas enquanto negro, sei bem o que é ser discriminado por algo que sou, sem ao menos ter feito mal a alguém. Mas, num tropeço, num espirro, estou lá com um alvo na testa para os discursos "não sou preconceituoso, mas tinha que ser *insira aqui qualquer grupo discriminado hipócrita e descaradamente*".

Porque eu falo isso? Bem, por que tenho ouvido demais essas frases que se fingem condescendentes e terminam despejando racismo, homofobia, machismo, xenofobia e demais preconceitos. E é absurdo quando isso vem de gente que deveria saber o que é ser discriminado e não fazer o que não gosta que façam consigo. Um internauta comentou isso num texto meu lá no Raiz do Samba em Foco. Ele se disse branco e gay, mas declarou ali uma empatia com a causa negra por saber que enquanto a sociedade tiver qualquer preconceito, ninguém terá paz e não seremos um grupo social justo. Idealista demais? Sim, mas não poderia aceitar como lei do universo uma sociedade que me trata como bandido por causa da minha cor ou do meu cabelo. Pro inferno com injustiças sociais.



O que acontece é que muita gente não sabe que união é melhor do que diferença, ou melhor, só aceita a ideia de união se for no seu clubinho, igreja, casa, quintal e essas coisas. Um complexo de inferioridade que tenta se compensar diminuindo o outro. O racismo é assim. Você acha que realmente o racista acredita na não humanidade do negro ou do índio? Bullshit! É a mesma lógica da inquisição espanhola (hmm, espanhola, UIA!). Você não acredita realmente, mas precisa oprimir alguém pra saber que você está no controle. A escravidão foi isso, suas sequelas sociais são isso. Repare que enquanto o negro, mesmo que por feridas e vioolência, foi empurrado para um senso de grupo muito forte. Não nascemos aqui, fomos roubados pra cá pra trabalhos forçados e acabamos erguendo esse país no braço. Para o caucasiano euro sobrou o quê? Ser um grupo normal, dominante e com o poder de ir a qualquer lugar sem precisar fazer cara de bonzinho ou se calar pra não incomodar os outros com suas lamúrias seculares.

A normalidade deixou muita gente cega para sua própria identidade, o que, não deveria necessariamente, mas acontece, faz muita gente ressentida com a identidade do negro. Por exemplo, muita gente adora cuspir o 'se eu usar uma camisa 100% branco...' ou 'ninguém é 100% negro...'. A questão é essa, não falamos só de biologia, mas de ideologia, coisa que uma pessoa "de fora" só poderia saber tendo convívio. Mas convívio de verdade, não um ou dois diferentes no meio da casa grande, porque aí, é muito fácil falar que seus amigos diferentes de estimação são bem resolvidos, como o marido satisfeito que não dá prazer à mulher, mas pelo silêncio dela, acha que arrebenta na cama, saca?



Volto ao exemplo dos gays. Tenho pessoas próximas muito queridas que são gays e quando tive convívio social, aquelas piadas distantes e estereotipadas já não fizeram tanto sentido pra mim. Foi como assistir a um stand up do Chris Rock e depois pegar uma sessão de Zorra Total. Tipo... não é nada disso. Estereotipar quando você conhece, fica muito difícil, se você tem algum cérebro e um pouco de coração. Lembrei agora da história de um juiz que era contra cotas raciais até que se viu participando de um pré-vestibular em comunidade carente e mudou de ideia. Disse ele que aprendeu na faculdade que era preciso passar uma noite na cadeia pra condenar alguém (ou algo assim) e é por aí mesmo que eu penso. Vejo muita gente apenas julgando, e achando que sua opinião é algo tão válido que brota da cabeça e vai direto pra internet sem passar as vistas num livro ou num artigo. Muita gente ignorante em tempos que você digita meia palavra e o Google busca um mundo pra você.

Um grande mal na humanidade é achar que ela é humana à beça e não enxergar que essa humanidade, no sentido restrito, é que é o problema. Ser racional demais deixou a humanidade burra e viciada nas verdades que ela mesma criou. Contestar faz parte do aprendizado e ficar na adivinhação é meio que burrice demais pra quem tem instrumentos de comunicação nas mãos. É um bebê com uma metralhadora. Às vezes não acontece nada, mas pode causar um prejuízo enorme e nem ter noção disso. Mais respeito e mais gentileza com o coleguinha. Tá carente, tá se sentindo uma bosta? Vai fazer análise, vai beber, vai pro raio que o parta, mas deixa as pessoas que já têm seus próprios problemas na vida seguirem em frente. Se não vem pra somar, Não enche.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Níveis alarmantes de assaltos a ônibus no município do Rio de Janeiro

Nota do autor: Este texto é uma peça de ficção e qualquer fato relatado é baseado na realidade, mas com meu sarcasmo inerente.

Tá muito caro ser sarrado no coletivo.

Um fato curioso tomou conta da capital carioca, de uma só vez todos TODOS os ônibus sofreram um duro golpe. Ou melhor, seus passageiros.

Como se fosse uma ação criminosa coordenada, cidadãos do Rio de Janeiro - e aqueles que circulam, trabalham ou vieram morar aqui - passaram a sofrer com o tal roubo em grande escala. A passagem passou de R$3,00 para R$3,40.



O crime já está sendo investigado, mas, como sabemos, há poucas chances dos criminosos serem detidos, já que estão lá no comando por escolha do próprio público e forjam seus contratos alegadamente ilegais, mas com o aval deles mesmos e enquanto a lei vai pro lixo, o dinheiro vai para seus cofres.



Esse aumento criminoso deixou ainda mais cabreiro o cidadão. Seu Sagatiba, morador do subúrbio, afirma que a prática já vem ocorrendo há anos:

"Todo ano eles falam que o aumento é garantido por contrato como se o contrato fosse nascido do ventre da mãe-Terra e eles não pudessem modificar isso. Mas, ao contrário da passagem, a qualidade do serviço não aumenta nem de três em três anos. Então, pra quê pagar tanto pra ficar esperando horas por ônibus quentões quebrados e motoristas estressados?", protesta o indignado habitante do Rio de Janeiro.





Os poucos veículos melhorados com ar condicionado também serviram de pretexto para o aumento. As despesas com esse pouco serviço são repassadas para esse aumento. "Serviço 'público' porque é o público que paga, mas é bem privado quando analisamos quem é que se beneficia com o transporte coletivo por aqui", relata Sra. XXX, profissional autônoma noturna que não quis se identificar.



O aumento da passagem - que teve índice ilegal maior que o aumento do salário mínimo - também gera bom humor, ou melhor, o famoso 'rir pra não chorar', como descreve Seu Zé, da banca de jornal: "Agora, quando um bandido vier me assaltar no ônibus, vou dizer pra ele que já me assaltaram quando passei na catraca", ironiza.

Enquanto isso, o prefeito...

Acharam que Dudu Paespalho estava quieto demais? Nada, apenas descansando a imagem pra não queimar seu parceiro de partido, Pezão. Igual a um outro camaradinha dele...



Dudu tava quieto igual criança bagunceira, mas não largou a brincadeira por um segundo sequer.



Verdade verdadeira.

Sabe o que significa essa imagem? Que o prefeito, já não valia nada, agora é menos que a passagem.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Requiem para meu amigo canino

Meu querido Ralph, mais de 16 anos de amizade. Eu ainda era adolescente e hoje já passei dos 30 e ele sempre esteve ali pra me receber com festa quando eu chegava em casa e seu companheirismo em guardar a porta do meu quarto enquanto aguentou subir escadas. Passou por tanta coisa e superou que a gente até esqueceu que a vida tem dessas coisas. Chegadas e partidas. Perda dolorosa, mas a vida é assim, um dia a gente se vê.

American Dad, assim como Os Simpsons e Family Guy, NÃO é um 'desenho animado', mas sim uma 'série animada'. Mas qual é a diferença? Bem, um desenho tem aventura, ação, humor, tudo num clima bem leve, perto dos temas abordados nas séries que acabei de mencionar. Política, sexo, drogas, violência e relações interpessoais de modo geral permeiam essas séries, pois são, na verdade, sátiras a algum cenário da vida real (família "tradicional" estadunidense, geralmente).

Então, entrando (UIA!) direto no assunto, estou aqui pra falar do episódio 14 da 8ª temporada de American Dad. Steve cisma que quer ter um cãozinho de estimação e Stan reluta em deixar porque lembra que na infância, ele tinha um cachorro que amava, mas foi sacrificado e isso causava receio nele em se apegar novamente a outro bicho. Bem, ele acaba permitindo, mas se mantém distante, até que o novo bichinho se aproxima e eles formam uma grande amizade... até um balão de ar quente cair sobre o pequeno cão Kisses.


O veterinário recomenda a eutanásia, já que o animal não seria mais o mesmo e viveria em sofrimento. A família aceita com tristeza, mas Stan o leva escondido a uma veterinária que promete salvar seu pet. Ela até que salva, mas o cachorro vira um remendo só. Aparelhos, peças esportivas e sei lá mais o que formam agora o cachorro que nem enxerga mais, nem age como um cão. A partir daí, a família insiste para que Stan deixe-o ir em paz, pois aquele não é mais seu cachorro, apenas um corpo que sofre sem descanso.

Dado um momento, Stan 'explode' o pequeno arremedo de Kisses, para que finalmente aceite a partida do cachorro. O interessante é que nesse momento, a animação vai para o 'céu' dos cachorros, e Kisses se vê novamente do jeito que era antes do acidente e, para sua surpresa, no lugar do carona na lancha do antigo cachorro de Stan. Eles conversam (sim, como os animais da Disney) e Kisses descobre que ali ele poderá paquerar, passear e fazer o que quiser. No final do episódio, surge a foto de um cachorro com uma dedicatória 'in memorian' e fica nítido que esse episódio foi idealizado por alguém que passou por esse drama de deixar a vida seguir seu fluxo.

Bem, quem me conhece, sabe que passei por isso bem recentemente. Meu melhor amigo se foi depois de um tempo lutando contra um sofrimento grande. Ralph sempre foi muito forte e resistente e agitado. Mudar para um Ralph um pouco mais calmo, mas não menos enérgico, foi natural, ele tinha idade (16 anos e meio), mas ultimamente ele vinha sofrendo, gemendo de dor e definhando. Estava pele e osso e já dava sinais de que era só uma questão de tempo até que tivéssemos que nos despedir. Na hora que cheguei em casa e ele não estava, recebi a noticia. 

A montagem tá meio defasada, afinal é de 2012.

Imediatamente após o choque, lembrei desse episódio de American Dad e, enquanto perambulava na internet, achei o poema Os Bichos Também Vão Pro Céu, de Carla Elísio e achei pra lá de oportuno. Segue:

escada para o céu com dois cachorros subindo

O céu é um lindo paraíso;
Que recebe a todos com amor!
Independente do ser;
Da raça e da cor!

Recebe qualquer bicho;
Após a sua partida!
Pois com ou sem asas;
Também são seres com vida!

Muitas vezes são amigos;
Fazendo-nos companhia!
Mesmo sendo irracionais;
Deus protege os animais!

Todos sem distinção;
Cada um com o seu papel!
Merecem a nossa atenção;
Pois os bichos também vão para o céu!


Poema publicado em: www.gostodeler.com.br

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Hipocrisia, inveja e recalque: Novos conceitos?


Já repararam como algumas palavras são usadas para muitas situações diferentes? O vocabulário limitado tem uma conseqüência esquisita: A lógica simplista. Coisas, por exemplo, como a palavra discriminação. Fora de contexto, qualquer idiota se vê contrariado e acusa discriminação. Não importa o caráter excludente e os grupos a que estão sujeitos. A pessoa pode ter tudo de bom de material em sua vida, mas se não tiver um negócio a mais: DISCRIMINAÇÃO! Lembre do Quico (aquele mesmo, da Dona Florinda), que fica injuriado por sua mãe permiti-lo comer ”apenas” 18 dos 20 biscoitos habituais. Percebe a lógica simplista? Pois bem, essa tendência, em tempos de redes sociais, meios de comunicação, internet e informação über-rápidas, essa prática corre mais rápido que gírias da moda. Vamos a algumas dessas palavras banalizadas e de significados simplificados (algo deturpados também), na verdade, as principais e mais usadas pela galerinha que mais posta na net.


Hipocrisia: Hipócrita é a pessoa que caga regras para os outros que ela mesma não segue. O moralismo caminha agarrado, por exemplo, quando você diz que é preciso amar ao próximo, mas pragueja qualquer um que te contrarie. Mas, hoje, hipocrisia se tornou apenas discordar de alguém que se acha dona da razão. A pessoa falou, não importa que merda de senso comum e você discordou. HIPOCRISIA! Recebi uma resposta recentemente quando defendi que Pitty está certa ao falar que a mulher é quem decide sobre si e o julgamento do homem não pode interferir. Li algo como ‘não sejamos hipócritas, a mulher tem que se dar ao respeito sim’. Caras, eu não sou hipócrita, eu realmente acredito que a mulher é dona de si e o machismo que se rasgue. Vou concordar com esse senso comum ultrapassado pra ser aceito por quem eu nem respeito a opinião? Minha jiromba que eu vou! Então, cai o mito, hipocrisia não é discordar da mente rasa, também não é aceitar se rebaixar aos senso comum pequeno pro hipócrita se sentir identificado. Próximo.

A carência é tanta, que se sentir invejada é um elogio para muitos.

Inveja: Invejar costumava ser aquele incômodo que muita gente sente por achar que deveria ter algo que outrem tem. Seu vizinho comprou aquele carro maneiro e você não, você se incomoda com isso como se ele tivesse feito pra te provocar, pra te humilhar, mostrar que você é menos que ele... INVEJOSX! Só que, olha a surpresa, basta você estar no lado oposto a alguém e já se torna invejoso. Se fulano quer julgar os outros e você critica essa tendência moralista, você já ganha a alcunha de invejoso. Se duas pessoas discutem e se xingam, é natural imaginar que as duas vão se xingar velada ou abertamente de invejosas. Pessoas que te criticam, todas invejosas... não importa se você esqueceu a auto-crítica no porta-malas do carro novo do seu vizinho.


Opinião: Essa é das boas. Opinião é um conceito que você forma diante de uma situação, experiência, enfim... uma reação sua. E isso é direito seu. Mas o fato de você ter direito à opinião não desobriga o restante do mundo de ter a sua própria, nem obriga a todos concordarem contigo. É comum ver pessoas falarem, depois de uma opinião contestada, “mas é minha opinião”, como se fosse uma carteirada do tipo ‘agora você não pode questionar’. Ela é sua, mas pode ser uma bosta mesmo assim. Não se engane se usando como referência do que há de mais legal no mundo. E uma diferenciação, enquanto é tempo, direito à opinião é universal, mas sua opinião, a peça pronta, essa não é livre de contestação só porque você quer. Aprenda a contra-argumentar, pois é aí que você mostra seu conhecimento e certeza do assunto. Só falar e ficar agredindo é sinal de que você decorou algo e não soube desenvolver.


Recalque: Recalque era pra ser, popularmente, algo relacionado a uma reserva quanto a algo. No melhor estilo ‘gato escaldado’. Mas, a banalização – sempre ela – transformou isso num xingamento quase que exclusivo da mulherada. Uma variante da ‘invejosa’. Chegou a dona se achando diva (outro termo utilizado sem limites ultimamente) e você não deu a mínima, ou comentou que aquilo era desnecessário? RECALCADA! Você não pode não achar uma pessoa o máximo só por ela precisar disso em sua auto-estima, você precisa enaltecer as pessoas só porque elas querem ser estrelas de redes sociais. Caso não, seu recalque te impediu de ver a luz. Aceita que dói menos. Rá!


Fato: Fato é fato. Dah! Um acontecimento consumado. Essa até que já tá meio que fora de moda, mas vale a menção. Contra fatos não há argumentos, ou seja, fato é um registro da realidade, é a própria verdade concretizada. Pegou um ônibus e ele quebrou? FATO! Pegou o copo com pressa e ele caiu? Fato? Sacou? Mas, há algum tempo, muita gente perdia a noção e emitia bizarrices como: “Amanhã é sexta e eu vou me divertir #fato”. Mas hein?!? A brincadeira é só amanhã e já é fato? Fato futuro? Minority Report? Gente, vamos combinar, fato só pode ser passado, né? Do contrário ainda não é fato ou nem vai ser. E quando tinham as variações #fatão, #fataço e essas coisas? Prefiria beber água.


As pessoas estão tão rasas e imediatistas que não aceitam procurar saber um pouco mais sobre um assunto. Reproduzem as palavras, muitas vezes, nem esbarrando em seus significados originais. É o que eu falei no Facebook outro dia. Não existe, na minha opinião, moralismo, nem falso moralismo, existe carência afetiva e identificação dessa gente com seus pares por meio do que lhes é comum: O julgamento daqueles que não os paparicam.

domingo, 30 de novembro de 2014

Chespirito, o Chaves (1929 - 2014)


"Chespirito" foi um apelido dado a Roberto Gómez Bolaños por Agustin P. Delgado, diretor de cinema, pelo fato de o artista ser comparado a um “pequeno Shakespeare”, por sua versatilidade e inteligência. Nem precisaria falar mais nada, mas como você, saganauta (saga o quê?!) sabe, eu não falo pouco. Nem escrevo pouco.


Bem, ele foi escritor, roteirista, ator e mais uma gama de talentos e funções que não cabe aqui ficar enumerando. Basta ver que o cara começou escrevendo e atuando em alguns quadros, dali, foi desenvolvendo personagens, recrutou alguns amigos e fez um universo próprio que eu, como nerd (UIA!) só posso comparar a editoras como DC Comics e Marvel Comics. Num ambiente mais próximo de sua arte, diria que está para um Chico Anysio mexicano – ou vice-e-versa – mas o fato é que o eterno Chaves fez mais do que personagens cativantes. E eu vou dizer porque já, já apenas usando a memória afetiva, por puro calor da emoção de sua despedida (portanto, quem quiser lembrar, comentar aqui ou no ‘feici’, esteja convidadx).


Ele ensinou verdadeiras lições de moral. “A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena”, “as pessoas boas devem amar seus inimigos” e outras, que até já citei aqui no blog, como aquele texto com momentos de dar nó na garganta. Mas, pense comigo, amigx, ele também criou personagens femininas inteligentes, fortes e independentes, numa época que tinha tudo pra cair no estereótipo da mulher “de TPM eterna” ou personagens masculinos clichês... Não, não, ele criou uma menina esperta demais para seus amiguinhos, uma dona de casa viúva com garra pra criar um filho sozinha e ainda sonhar com uma nova vida amorosa e até uma vizinha temporária que cuidava de uma sobrinha sozinha. Sim, ele foi feminista, abordou mais de uma vez a emancipação feminina – que vinha crescendo desde a década anterior a suas séries mais famosas. E não te esqueças das músicas. Se você é jovem ainda, amanhã ainda se lembrará (achou que eu ia declamar a letra?).


Ele nos mostrou que por trás de toda a ignorância de um homem viúvo, havia o amor por uma filha que perdera a mãe ainda bebê, e que ainda tinha pique pra orientar, à sua maneira, um menino de rua que foi parar na vizinhança, dando voltas em seu senhorio, verdade, mas, sei lá, sendo pai solteiro, sabe lá como eu seria naquelas condições. Nos apresentou famílias completamente disfuncionais – ainda mais se você parar pra pensar no cenário social dos idos de 1970 – que em nada se pareciam com esse modelo moralista de ‘família tradicional’. Pai viúvo com filha, mãe viúva com filho e namorado, pobres, ricos e emergentes falidos, todos convivendo a ponto de viajarem juntos e se reconhecerem como uma boa vizinhança.


Chaves foi – e é – muito mais do que estereótipos do terceiro mundo. São a representação deste. A humanização deste mundo, que, apesar de não ser aquele idealista modelo de american way of life, está aí pra nós, sobretudo no Brasil, um dos países onde suas séries fizeram e fazem mais sucesso por gerações, nos últimos 30 anos. Eu, particularmente, sou filho de uma configuração “alternativa” de família. Pais separados, mas amigos, com amiguinhos com pais casados, filhos de criação, irmãos de consideração... enfim, fácil identificação e uma visão própria do menino Chaves (que se chama originalmente El Chavo, ou seja, o moleque, em tradução livre). Continuo me emocionando só de lembrar daqueles momentos que enumerei em outro post, só pra registrar.


Apesar de gostar mais do Chapolin, por questões nerds (lembra, eu sou um nerd multifacetado, Rá!) por causa das aventuras mais variadas, Chaves me emociona nas relações entre seus personagens. Lembra muito o subúrbio onde vivo, nasci e me criei. Pessoas diferentes, amigas, barracos, churrascos, mas, no fim do dia, todo mundo tá ali. Claro, uns desafetos, nada pode ser perfeito como a ficção, mas a ideia toda está ali. Tipos diferentes, frases características, mas também uma amizade, um sentimento de ‘conta comigo’ que permeou minha infância e até hoje gosto de assistir.


Não à toa, sou da geração Chaves, aquela que cresceu conforme a audiência da série, que estreou no SBT quase ao mesmo tempo que eu neste mundo, então, junto com muitas outras coisas, foi muito presente nas influências externas e midiáticas da minha vida. Roberto Gómez Bolaños foi um gênio. Criou tipos e contextos que até hoje estão no subconsciente popular da sociedade e nos trouxe muita alegria. Fica sua obra, porque é aquele clichê, né? O artista não morre, continua vivo em nossas lembranças, em sua obra. Muito bom parar pra refletir sobre isso e ver que tanta coisa boa aquele infantonerd juvenil aprendeu com ele. Com tanta besteira que poderia entrar nessa cabecinha de nós todos, fiquei com suas frases de efeito, a mania de olhar para o nada, como se fosse uma câmera, diante de uma situação infame e o próprio gosto por piadas infames.


Pra não terminar triste e melancólico – até porque já basta esse clima de final de ano e papais noéis rebolativos saxofonistas, aqui vai uma piada: Qual o animal que come com o rabo? Não sabe? TODOS! E porquê? Não podem tirar o rabo para comer!



Rá!    
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