Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.
quarta-feira, 1 de julho de 2020
Até que a Sorte nos Separe 3: O Amor Salvou o Brasil
Seguindo a linha "vou falar de filmes aleatórios", me deparei com um belo exemplar daquilo que chamo de "ideia show, execução bleh". Até que a Sorte Nos Separe 3 - A Falência Final é um grande exemplo disso. Porque, veja, de 2000 pra cá, dois anos após o lançamento do oscarizável, e tocante, Central do Brasil, tivemos Cidade de Deus e Tropa de Elite (I e II), entre outros. Alguns destes foram fenômenos históricos de popularidade e outros bem esquecíveis. MAs este aqui chama à atenção por ser muito mal aproveitado.
Tino e família voltam neste longa já calejados pelas perdas financeiras que tiveram na vida. Tino está cada vez mais Homer Simpson (que emburrece a cada episódio pra gerar mais piadas pastelão). Se ainda fosse emburrecer pra ser uma sátira ao cidadão comum, com as ironias, acertos e erros a que está suscetível em nossa sociedade, seria um ganho. Coisa que, aliás, o próprio Homer era no começo, tendo virado pretexto apelão de entretenimento fácil bem depois de ter feito o nome de sua família ganhar o estrelato na (antes contra-)cultura pop.
Bem, depois de ter virado simplesmente um cara gordo que fala feito garoto mimado e fazendo piadas de peido, sexo, careca e outras intelectualices, Tino consegue ser atropelado enquanto vendia biscoito na beira da estrada. A 'sorte' dessa vez, é que o autor (culposo) do atropelamento é o filho do cara mais rico do país. Uma óbvia referência a Thor Batista, que atropelou e matou um ciclista há alguns anos (saindo de boas do processo) e seu pai, Eike Batista. A mãe do jovem é uma socialite ex-modelo, numa nítida referência à Luma de Oliveira.
E o filme ensaiava um rumo meio desengonçado desse plot, até ali, interessante. Mas o filme deixa de parecer esquentando pra encontrar seu auge pra se tornar o tal desperdício de ideias que falei lá no começo. Os diretores Roberto Santucci e Marcelo Antunez pareceram ter escolhido o caminho fácil para o país onde até alguns anos atrás, ainda usava como piada mulheres seminuas e piadocas sobre escatologias, palavrões e pastelões. Nada contra, só acho que isso deveria estar a serviço de alguma informação. De preferência, cumprindo o papel do humor, que é a quebra das expectativas.
Por exemplo, aqui não tem uma história bem estruturada, mas poderia. Um cara acostumado ao fracasso consegue se reerguer com apoio do sogro milionário da filha mais velha e acaba falindo ele e o país. Plot interessante, pra quem já viu os dois primeiros filmes da franquia. Mas, na última hora, descobrimos que as trapalhadas de Faustino apenas desmascararam uma trapalhada maior e muito mais séria do tal sogro da filha, Rique Barelli. É exatamente isso que acontece, mas a coisa é conduzida de uma forma tão pasteluda que só consigo pensar que é um episódio mais alongado d'Os Caras de Pau (co-estrelado por Leandro Hassum também).
É complicado mesmo fazer humor pensando em inteligência e referências, já que o povo brasileiro é condicionado há séculos, a se alimentar do que é mais fácil e mais mastigado. Culpa de um sistema educacional que não nos leva a questionar, ou mesmo refletir. Senso comum impera e quem gosta de um filme pra pensar minimamente, fica sem. Vai assistir séries, onde o público é mais seleto. Cinema brasileiro é pra arrancar dinheiros de bilheteria e não se pode arriscar perder um Homer sequer de ingresso com piada que depende de questionar e interpretar. Boa alguém peidando ou fazendo careta aê.
E é assim por umas duas horas. Vemos um plot maneiro ser desperdiçado em virtude da fácil aceitação e vendas de bilhetes. Mas até nisso, há uns exageros bem bizarros. Como é que pode o mecânico Adelson aceitar voltar a seu alter-ego Jaques (o estilista) porque a cliente é a musa da Playboy Malu Carmo (esposa de Rique), os dois agirem como se não se conhecessem, e no final, acabam descobrindo que são conterrâneos de Nova Iguaçu, tendo sido até namoradinhos na adolescência? Explica essa porra, Bátema!
Outras incongruências:
- Gosto totalmente duvidoso o momento que Tino e Amauri vão até a presidenta Dilma Houssef. Piadas com as tais "pedaladas fiscais", até que vai, mas usar termos como 'mulher-sapa' pra fazer trocadilho entre o análogo 'homo-sapiens' e piadinhas sobre a sexualidade de uma mulher só porque ela não é uma dondoca ou um símbolo sexual foi de uma sexta-sérizice sem tamanho.
- Não entendi até hoje, porque Tino fica tão impressionado com o boneco que Amauri traz no carro, pra 'enganar' bandidos. Essa mesma piada foi feita no primeiro filme. Aqui, ela só foi - desnecessariamente - estendida. Qual é, já entendemos a piada com o brinquedo lembrar Chuck (O Brinquedo Assassino). Agora, precisaram fazer o boneco ganhar vida numa alucinação de Tino.
- Aliás, esse final do filme começa uma sucessão de soluções fáceis tiradas dos... umbigos dos produtores que dá dó. Olha só a sequência:
---> O país vai ser apagado do mapa econômico mundial
---> Nora, a auditora fria e calculista, revela isso pouco antes de dizer que precisa de sexo com Amauri
---> O casamento de Teté e Tom é transferido pro sítio do avô do noivo
---> Daniel Filho dá um sermão genérico culpando ricos e pobres pela crise
---> Juninho, filho do meio de Tino, revela que tem muita grana por views em seu canal de games no Youtube e dá de presente pra irmã poder casar
---> Teté e Tom discutem porque ambos esconderam segredos um do outro e Teté foge
---> Tino bêbado vai atrás de Teté que fugiu pro aeroporto
---> Tino convence Teté de que ficar com quem se ama durante uma crise é o melhor a se fazer ---> Nora, que estava perto deles, decide que o Brasil não merece ser apagado da economia
Na moral, o filme começa com uma analogia às trapalhadas nas decisões imprudentes de Eike Batista e termina com uma agente do FMI da vida cancelando uma penalização econômica porque presenciou o amor de uma família e decidiu que todos merecem uma segunda chance. hahahaha
Numa próxima eu falo de O Candidato Honesto 2 ou O Suburbano Sortudo pra falar de um melhor aproveitamento de uma ideia de humor político e social. Este aqui, confesso que assisto sempre que passa, mas não perco de vista que é bem ruinzinho.
Fique sempre pra assistir aos erros de gravação. Kiko Mascarenhas com crise de riso é contagiante. Queria vê-lo num episódio do UTC qualquer hora dessas. Rá!
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segunda-feira, 29 de junho de 2020
Guerra Civil: O Capitão estava errado
A saga Guerra Civil, nos gibis, foi um embate entre pontos de vistas sobre como os heróis deveriam agir. Num infeliz incidente, um vilão causa uma explosão em região escolar, graças à displicência de um grupo de heróis do quinto escalão da Marvel, que participava de um reality show. Com as muitas mortes, sobretudo de crianças, os heróis são questionados sobre quem cobraria deles os prejuízos e consequências de seus atos.
Nisso, Tony Stark vem defendendo que o governo regularize os heróis, para que tenham a quem responder em caso de atos nocivos. Steve Rogers, o Capitão América, fica do outro lado, defendendo que a identidade de um herói e a liberdade de agir é o que define o herói e protege suas famílias e entes queridos. Essa saga dura meses e se espalha pelos mais variados títulos da Casa das Ideias. Ao final, Capitão está tão envolvido em derrotar o Homem de Ferro que tem uma epifania de última hora. ele percebe que está sendo atacado por populares, que, de fora, estão vendo apenas um herói batendo no outro pra vê-lo no chão. O Capitão se rende e percebe que mesmo defendendo algo em nome da justiça, ele acabou brigando por brigar e não lutando por liberdade e justiça. É uma coisa bonita de se ver o conflito ideológico e achei, particularmente, que o final foi perfeito, por mostrar que mesmo nos achando certos, o modo de colocar isso pode nos fazer perder a razão.
No cinema
O filme Capitão América: Guerra Civil já é bem diferente de sua contraparte na plataforma de origem (quadrinhos). Além do elenco ser muito reduzido em relação às revistas (seria impossível adaptar TODO o elenco Marvel, a menos que existisse uma série só da GC, liberados os direitos de todos os personagens), outras tramas completam o roteiro do filme. Pra começar, além das consequências das ações destrutivas dos Vingadores, aqui também tem os desdobramentos do Soldado Invernal, o assassinato dos pais de Tony Stark e atentados com mortes, sendo uma delas, o Rei T'chaka, de Wakanda (pai de T'Challa, que passa a ser o Pantera Negra).
No fim das contas, tudo está ligado, de alguma forma. Palmas para os Irmãos Russo, que souberam levar um monte de subtramas a uma conclusão coesa e com apenas as pontas soltas que convinham para desembocar em Pantera Negra e Guerra Infinita. O universo Marvel, tal qual Harry Potter, ficava mais e mais sombrio e intenso. Descobrimos que os atentados foram planejados por Zemo, que perdeu a família durante os eventos de Vingadores: Era de Ultron e a culpa recaída sobre Buck Barnes, o Soldado Invernal. Isso levou T'Challa a buscar vingança pela morte do pai e o Homem de Ferro pelo assassinato de seus pais.
O grande empecilho é que o Capitão América está disposto a tudo pra defender o grande amigo das antigas, além do apreço pelo camarada, ainda parecia ter uma pontinha de consciência pesada por não tê-lo salvo lá na Segunda Guerra Mundial (em Capitão América: O Primeiro Vingador), custando-lhe um braço e a vida, visto que ali ele foi capturado e programado para ser um assassino letal a serviço da União Soviética.
Ma eaê, Saga?
As diferenças modificam o resultado e não é pelo óbvio fato de simplesmente ter mos coisas diferentes. O lance aqui é que essas diferenças mudam o status quo do Capitão. A graça do Capitão nos quadrinhos é que ele foi contra o governo controlar as ações dos herois, ou seja, ele leva o nome e a bandeira do país, mas não segue cegamente o que seu governo manda. Ele tem uma autonomia e um compromisso com algo além de bandeiras, que é a defesa de seus ideais e da humanidade. Colocar o Soldado na equação, fez Steve pender pro lado pessoal, deixando de lado um critério ideológico pra simplesmente proteger o amigo querido.
Enquanto Steve percebe que está vencendo uma luta, mas pelo modo errado, ele se entrega pra responder por suas ações, mas mais por sua consciência por ter virado as costas para seus ideais pra alimentar uma rixa. Já no cinema, Steve chega a entrar em uma luta braba contra o Homem de Ferro pra defender Bucky, logo depois de Stark ter assistido a um vídeo de Barnes matando seus pais. Steve está totalmente de costas pro mundo pra defender um amigo com culpa comprovada por diversos crimes. E não tem redenção. O que vamos ver é que mesmo assim, Steve consegue hospedar Barnes na terra do Pantera Negra e o reencontro só se deu em Eutemato Vingadores: Ultimato.
Conclusão
Steve Rogers era pra ser o escoteirão da Marvel, aquele que defende o que é certo e ponto. Nesse filme, ele luta contra amigos leais de batalha e da vida pra defender um outro que matou tanta gente e até familiares de um desses amigos. Ok, Bucky tinha sofrido lavagem cerebral, mas Steve simplesmente se colocar entre o mundo e seu amigo foi muito egoísta pra alguém que foi escolhido pra ser o representante do que há de mais puro no coração de quem luta por liberdade e justiça. Lembra da cena da granada falsa no primeiro filme?
O que seria do mundo se o Superman começasse a enfrentar toda a Liga da Justiça pra proteger uma Lois Lane assassina? Tendeu? Por isso aquela luta final entre Capitas, Bucky e Tony Cachaça é tão tensa de assistir. Relacionamentos estão morrendo ali. A cena que reproduz a capa da edição final dos quadrinhos é linda, mas eu fico triste com esse filme.
Coisas que eu não entendi:
O Falcão apoia o Capitão em tudo, até quando está errado, protegendo um amigo culpado de tudo e de todos. Numa briga generalizada que saiu do controle, ele faz, sem querer, com que o Visão atinja o Máquina de Combate causando-lhe uma queda livre e ferimentos graves. Aí, ele chega pro Tony e diz 'sinto muito'. Tinham esmo que tomar um raiozão nos peito, né? Provoca a m... toda e vem com 'foi mal'.
Na mesma batalha do aeroporto na Alemanha, o Homem formiga chega pro Capitão e dá um caminhão encolhido e um daqueles dispositivos que os aumenta... Porque?! O cara passou um tempo em seu filme até aprender e na hora de fazer, ele manda um cara que nunca usou aquela bagaça? Ê, Homem Formiga, ê, Homem Formiga...
Foi só eu, ou alguém mais também achou que certos golpes foram dados forte demais naquela luta? Digo, você usar uma certa força pra intimidar, até que vai, mas os caras estavam jogando caminhões em cima de personagens que não têm essa força toda. Tipo, Pantera, Viúva, gente que pode ser esmagada, cara!
Até entendo que mantiveram dois pesos pesados fora da briga pra não causar um desequilíbrio muito grande (até então, Thor tinha saído pra procurar as joias do infinito e Hulk o encontraria em Thor:Ragnarok), mas o Visão aparecer já desequilibraria. A Feiticeira não é tão poderosa quanto uma joia do infinito na testa de um sintozoide super poderoso. E ironicamente, todos, a favor e contra o Acordo de Sokovia, estavam causando mais e mais destruição por questões pessoais e uma questão política: A destruição que suas ações causavam. Rá! Eu ri.
Zemo é um vilão legal, meu critério pra dizer isso é que foi um vilão que fez o que vilões devem fazer: Causar desconforto na vida do herói. Vilão físico é legal, mas não resolve. Tem que fazer a trama andar por outras questões que não só derrubar paredes. O embate tem que começar no intelecto. Só não gostei de ser um cara aleatório que perdeu a família e já aprendeu a pesquisar sobre espionagem, história e bases abandonadas do governo. Se ele já viesse de uma família com essa pegada, seria melhor, já preparado pra manipular. Aquela cara de gerente de banco destruindo os Vingadores por dentro não me convence.
E aquela cartinha com um telefone pro Tony no final, hein? Achei que tava todo mundo muito de boa pra quem acabou de se digladiar com amigos por tretas envolvendo assassinatos e manipulações.
ps: O Capitão pegava a jovem sobrinha de seu grande amor da década de 1940... cara, acho problemático isso.
ps: O Capitão pegava a jovem sobrinha de seu grande amor da década de 1940... cara, acho problemático isso.
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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
A mulher na ciência de The Big Bang Theory
Há 5 anos, a ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceu o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência em 11 de fevereiro. A data é para celebrar e encorajar mulheres e meninas no maravilhoso mundo da ciência, onde, pasmem, também existe machismo, diferenças salariais absurdas e todo aquele pacote que o mundo ominado por homens traz de desvantagens pra elas e vantagens pra nós (eles, no caso, já que o homem branco se sai melhor nesse mundo do que os negros, mas essa é outra questão e estou divagando mais que o normal...).
A questão é que um grande espelho para a data seria a série, recentemente encerrada (em 2019), The Big Bang Theory (TBBT, a partir de agora). É que a série surgiu com aquela promessa de mostrar ao mundo aberto como era o - supostamente - restrito mundo dos nerds. Não foi. Nem no começo, como já escrevi várias vezes aqui, facebook, instagram e em qualquer outro lugar. A série batia e abusava do estereótipo machista do nerd-menino-grande-sem-traquejo-social e tudo que já vimos em personagens nerds de filmes e séries na história. Sério, todos TODOS os nerds dessa série são esquisitos, multialérgicos, com problemas de relacionamento com os pais e machistas.
Sério, quantas vezes Howard assediou Penny e na única vez em que teve o que merecia (levou um sonoro fora que o pôs em seu lugar de predador sexual metido a engraçado), Leonard foi lá pedir que ela fosse se desculpar por ter deixado o meninão magoado. Sério? E ela ainda casou com esse cara ao longo da série? E nem vou começar a falar do machismo tóxico do Dr. Hofstadter, que passou 12 anos induzindo sua amada a não ter amigos homens, sempre dar satisfações de sua vida pessoal e se curvar ao que ele achava conveniente pra poder ficar tranquilo e confiar nela. Ah, e Sheldon sempre fazendo questão de ofender sua inteligência e suas vestimentas.
Falei esse tempo todo sobre machismo porque, logo depois, na série, entraram duas personagens, que se tornaram fixas: Bernadette e Amy. Cientistas mulheres para uma melhor representatividade, ok? Not ok! Primeiro, a série (no caso, a produção) sempre subestimou as mulheres. Leslie Winkle era uma cientista independente de homens (na verdade, até virou o jogo e manipulou alguns dos personagens homens) e quantas vezes ela apareceu? Alguém reparou que ela simplesmente sumiu? Teve também aquela cientista-escritora que se hospedou no apê de Leonard e Sheldon e só serviu de objeto sexual de alguns protagonistas. E sem contar as outras que pouco ou nada acrescentaram (incluindo a assistente de Sheldon, sempre sendo explorada e humilhada e a reitora da Caltech, alvo de comentários racistas que, parece, a série empurrou como piada), temos as duas protagonistas.
Vamos ver, Amy surgiu como uma piada da série, uma resposta ao questionamento de Howard e Raj de se havia algum par perfeito para Sheldon no universo. Ela veio através de um site de encontros e depois foi adicionada ao elenco principal. Mas a neurocientista Amy Farah Fowler passeou de um relacionamento intelectual com Sheldon para uma colegial deslumbrada feliz em ser amiga de Penny, wannabe de BFF com Penny e depois, tarada e louca para casar com Sheldon. Claro, também se tornou a "consciência" de Sheldon, a todo momento repreendendo seu comportamento arrogante e tóxico para/com seus amigos. Não fez o menor sentido, já que ela era tão desligada do trato social quanto ele, e ele que nunca mudou, mas ela evoluiu em tempo recorde num grupo onde ele já frequentava há anos antes dela... mas deixa quieto, os fanáticos vão dizer que a vida tem dessas coisas. E não está errado, só que numa série, é claro que isso foi pré-determinado conforme o roteiro pedia.
Bernadete era a namoradinha de Howard e evoluiu para a mãe dos filhos dele. Até aí, tranquilo, o lance é que ela não pensava em ser mãe e ele insistia (mesmo plto reaproveitado mais à frente por Leonard e Penny). Aí, ela engravida duas vezes. Mas esses dois casos só demonstraram que apenas confirmavam o machismo da série, ao invés de ameniza-lo. Pois, Amy ficou louca para casar e casou, Bernadete era uma proeminente microbióloga e se tornou a mãe dos filhos do engenheiro. E o pior é que no episódio em que tinham a chance de palestrar em escolas para meninas se motivarem a adentrar na ciência, a série colocou os marmanjos na missão e as cientistas vestidas de princesas Disney num parque. Tá de sacanagem, né? Mas isso não foi o pior. O pior eu conto no parágrafo a seguir.
No final, quando já tínhamos certeza de que a primeira mulher do elenco principal nunca teria mesmo um sobrenome próprio, adotando o do marido, ela que deixou bem determinado que não queria filhos, foi engravidada pelo roteiro preguiçoso e apelão, ao passo que Amy ganhou um Nobel. Parece maravilhoso, né? Mas nem tanto. Ao ganhar o prêmio, a preocupação de Amy era de não ser tão bonita quanto as mulheres admiradas pela beleza no mundo. Logo ela que já tinha manifestado seu posicionamento de que uma cientista não tem que usar atributos estéticos para ser admirada. Foi até num episódio em que Bernadete joga na cara dela que ela só pensa assim por não ser bonita. Não teve jeito, Raj (desperdiçado da homofobia racista da série) lea a Senhora Cooper para um banho de loja.
E é isso, a mulher na ciência pode muito mais que ser contador de piadas forçadas, arrogantes e preconceituosas numa série de estereótipos pejorativos.
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terça-feira, 29 de outubro de 2019
Fernanda Gentil diz respeitar homofobia e racismo, desde que não batam
Fernanda Gentil causou alvoroço alguns anos atrás quando
se revelou homossexual e chegou a enfrentar a homofobia na internet de forma
elegante, sutil, porém firme. Quem não lembra do: “Sapatão!”/“Oi, fala!” e de
quando ela explicou que a criação de um filho não depende da sexualidade de
quem o cria e sim do caráter que vai ser passado. Pô, eu achava isso de uma
lindeza tamanha! Tava no mesmo nível de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank enfrentando
racismo por ofensas sofridas pela filha. Só que o tempo passa e como diz Harvey
Dent – umas mil vezes, em Batman: O Cavaleiro das Trevas – “Ou você morre cedo
como herói ou vive o bastante pra se tornar um vilão”. Era algo assim, não lembro,
mas estou divagando...
Digo, Tiago Leifert, por exemplo, parecia ser uma cara
nova e legal no esporte da Globo, do tipo que falava não esquentar a cabeça com
nada porque no ano seguinte, começava tudo de novo e não tinha porque brigar
por time de futebol, por exemplo. Aí, ele começou a criticar atletas que
levavam para os campos, quadras e pistas suas manifestações sociais. Pegou mal,
já que um homem branco, rico e famoso não tem o direito de onde e quando negros
devem fazer seus protestos pelo que sofrem na vida. Até porque, se esporte e política
não se misturam, porque se canta o hino nacional antes de competições? Então,
Tiaguito ainda aprontou mais. Criticou ferrenhamente participantes do BBB que
levaram para a casa vigiada suas questões de militância até que passou a levar
seu discurso aberto e pessoal de que ‘representatividade não leva a nada’ (te
falei que ele só criticou os negros, né?). Já pensou se eu, homem, começasse a
dizer às mulheres que exigir respeito e igualdade é perda de tempo? Que tipo de
babaca tendencioso eu seria? Mas, graça Olodum, eu não! Já outros...
Então, Tiago não só foi grosseiro com uma jovem militante
como usou argumentos fracos e pouco educados de que ela deveria falar dela e
não de sua militância. Ela explicou bem que sua militância era por algo que
fazia parte dela, que é ser negra. Mas o sinhozinho não gosta do descendente do
povo escravizado no passado reclamando, né? Vai atrapalhar seu jogo de vídeo game.
A cereja do bolo é que em uma edição seguinte, Leifert – lembra que ele era o
descolado e cuca fresca há menos de dez anos? – elogiou uma vencedora do BBB
com o discurso de que ela tinha coragem e coisas do tipo... A saber, era uma
participante que passou a edição falando livremente que duvidava que um morador
de favela não usasse drogas, que a religião afro era algo pra se temer ou que
um playboy criminoso não o parecia por ser branco. Tiago defendeu a pessoa que
falou isso na noite da premiação. Entendeu o padrão? Negros, calem-se e
racistas, parabéns! Provavelmente as congratulações foram por ganharem dos negros.
Aí, aparece Fernanda Gentil e, recentemente, sem revelar
em quem votou na última eleição presidencial, que ninguém vai impedi-la de usar
essa ou aquela camisa (numa clara referência à camisa da CBF). Disse também que
seu partido é o Brasil. Mas esse nem é o pior. Ela apoiar Luciano Huck (bolsominion
assumido) em dizer que não votou no PT e nunca votaria? Tranquilo, o PT
governou por um bom tempo e trouxe coisas boas e ruins, como toda administração,
mas não é o único partido. E gente rica geralmente não vota em quem ajuda o
pobre. Eles querem ajudar lá de suas salas confortáveis, prestando algum
assistencialismo em troca de audiência, mas não querem um desenvolvimento social
real. No apagar das câmeras, é só voltar à sua mansão e sua boa vida. Nada
disso me incomoda tanto hoje... HOJE! Mas realmente me gerou inquietação ela,
gay assumida, dizer que respeita quem acha beijo gay um crime e quem é racista,
desde que o preconceituoso não agrida os alvos do seu ódio.
Existe um mundo de coisa errada nessa fala que, pra mim,
é o mesmo que dizer ‘estupra, mas não mata’. Vou tentar enumerar as implicações
de uma fala tão desastrada e condescendente com crimes de ódio:
1) O
primeiro e mais básico é que racismo e homofobia são crimes, portanto, você
dizer que respeita, está, basicamente respeitando criminosos. É o mesmo que
dizer que respeita sequestradores, traficantes, estelionatários, feminicidas e
grande elenco.
2) Ao
dizer que entende essa galera, você embasa seus discursos que, no mínimo, podem
começar com ‘a Fernanda Gentil concorda, então tá certo’, assim como usam
negros comprados por racistas com ‘ele é negro e fala isso, então você que te errado’.
3) Fernanda,
pra ser realmente Gentil, precisa – URGENTEMENTE – entender que discurso de
ódio também é crime e também afeta as pessoas. Só de ouvir ou ler alguma
ofensa, ameaça, etc, o psicológico das pessoas fica afetado. Palavras também transmitem
crimes. Veja que ameaçar alguém pode te levar pra cadeia pelo perigo que
oferece à vítima.
4) Já
que falamos em palavras e vítimas, é muito fácil para ela defender o discurso
de criminosos porque é branca, rica e famosa. Dificilmente ela sente o ódio violento
físico. Ela não faz parte do grupo mais vulnerável, aquele que não vai adiantar
pedir pra não apanhar. Tem gente morrendo aos montes na rua só por ser negra,
só por ser gay.
Enfim, é isso. Não me interessa se ela votou no bolsomala
ou se ela odeia o PT só porque sim. Mas validar discurso de ódio e tentar se
passar por moralmente consciente ao pedir que ‘não vai bater’ é um desserviço à
sociedade. Se era pra chamar atenção, valia muito mais o fazer em defesa e não
ao respeitar que não respeita um grupo do qual ela mesma faz parte.
Às vezes, ao tentar ser isento demais, o ser humano comprova que defende o lado opressor. Mas tem vergonha de falar e receber críticas mais pesadas. Era melhor que ficasse quieta seguindo seu próprio conselho "é só não bater". Ela chegou a fazer uma retratação pelo Instagram. Não vou julgar, esse texto é uma reação à publicação que gerou a polêmica, mas o velho papo de que a edição desfavoreceu é aquilo, né? Sempre é possível, nem sempre provável.
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sexta-feira, 18 de outubro de 2019
Young Sheldon e a contradição com The Big Bang Theory
The Big Bang Theory (a partir daqui, TBBT) ainda estava no ar com seus roteiros preguiçosos, personagens desleixados e atuações no piloto automático quando estreou Young Sheldon (a partir daqui, YS). YS tem a premissa de ser o 'episódio 1' da vida do personagem que mais se destacou em TBBT. Um spin-off (série derivada de outra), um 'Sheldon begins', se preferir... enfim...
Ela, pelo que Sheldon descreve ao longo de TBBT, seria quase um 'Todo Mundo Odeia o Sheldon', pelo modo sarcástico com que lembra de passagens de sua infância, mas não é bem o que parece quando assistimos à produção. Veja bem, vou separar aqui algumas falas e situações narradas por Sheldon pra ver se bate, ok? Ah, é necessário que você tenha algum conhecimento prévio das duas séries pra entender melhor o que vou falar. Se não conheces, pode ir lá que eu espero.
O pai
Vamos começar pela maior mudança entre uma série e outra. Não ligo que o mesmo ator que interpreta George Cooper tenha participado de TBBT como um antigo bully de Leonard porque atores interpretam, logo, estamos vendo a cara do cara, mas poderia ser qualquer um, é apenas uma personagem, uma personificação, não a realidade, ok? Já estava doido pra falar isso desde que surgiram as teorias - piadas, na minha opinião - de que o pai do Sheldon perseguia seu melhor amigo. Sheldon reconheceria o próprio pai e não teria a mesma idade que ele, mas estou divagando...
A questão é que Sheldon já falou que seu pai era um bêbado, fã de esportes, preguiçoso, sem educação e grosseiro e que vivia em pé de guerra com a esposa (mãe do protagonista). Discurso reforçado pela própria Mamãe Cooper em várias ocasiões onde dizia que seu marido não era lá grandes coisas na vida e na família. Mas o que vemos em YS é que George Cooper é um pai amoroso e atencioso. Tem lá sua predileção pelo primogênito, por também ser fã de esporte, mas tenta lidar sempre da melhor maneira com seu filho gênio precoce e até procura meios de entende-lo. Bem diferente do brucutu que o forçava a assistir football caçoando de sua natureza mais intelectual ou mesmo debochando de seu nome, sugerindo que esta foi uma escolha da mãe.
A mãe
A mãe é a primeira que notamos a diferença. Ou o furo de roteiro também a afetou, como uma eleição presidencial vencida por fake news, ou, no mínimo, o tempo a transformou em uma versão amarga dela mesma. Até que não seria uma explicação ruim, faz até sentido, na verdade, hein. Mas, convenhamos, se os roteiristas não se preocupam em lembrar que Penny no começo era de Omaha e depois de Nebraska ou que Sheldon tinha alergia a gatos e logo depois coleciona bichanos pra suprir a falta da namorada... bem... não foi o caso, certamente.
A Dona Cooper, interpretada, em YS, pela filha da atriz que a interpreta em TBBT (laços de família), é uma fanática religiosa, de discurso bem direto, meio grosseira de tão sincerona, mas ainda assim, uma mãe cuidadosa. Ela meio que serve ao estereótipo de quem nasce e cresce em regiões interioranas, conservadoras de cultura e religião. Mas em YS, ela é bem mais delicada, fiel à sua igreja, mas longe da beata que usa religião pra destilar preconceitos. O que aconteceu com você, Mary?
A Vovó
Aqui existe outra contradição, mas ao contrário. Ao passo que as pessoas cruéis descritas em TBBT, ganham versões 'reais' mais amenas, a avó de Sheldon passa pelo efeito inverso. A avó, sempre descrita como aquela avó de comercial de margarina, em TBBT, na série derivada, ela tenta ensinar Sheldon a jogar, dá conselhos e é uma versão um tanto quanto mais 'malandra' da própria mãe do protagonista. Nada daquela situação de mimar seu 'torta de lua'.
George Jr e Missy
Os irmãos também não correspondem. Sim, eles zombam de Sheldon, mas nem são tão cruéis e nem burros como uma porta, como a mãe descreveu em um episódio de TBBT. O irmão mais velho não o persegue com brincadeiras cruéis, servindo até como conselheiro, vez por outra e a irmã gêmea, na verdade, já foi até manipulada em um 'experimento' onde o pequeno cientista quer testar uma teoria usando-a como cobaia.
Conclusão
Acho que Sheldon é um babaca em quaisquer versões que forem apresentadas. Se lembrarmos daquela temporada de TBBT emque ele se preparava pra casar com Amy, ele só aceitou a imposição da mãe de convidar seu irmão por esta não poder ir, pra alguém representar a família. Ele narrou algumas crueldades do irmão que Leonard descobre não ser verdade. Ficando claro que Sheldon é que abandonou a família quando saiu de casa para estudar e trabalhar e nunca mais voltou, deixando a mãe e a irmã para que o irmão mais velho cuidasse após a morte precoce do pai. Até na escola, em YS, o menino é um mala que trata a todos com a mesma petulância antissocial da série-mãe. E mesmo assim, não aparece sendo agredido ou perseguido. E se fosse, até que justificaria algum adolescente faze-lo, não por ser certo, mas por ser um comportamento típico de adolescente em retaliação.
Se repararmos na construção do personagem - e que, no sentido da arrogância, foi basicamente o mesmo, sem evoluções, do começo ao fim - podemos concluir que Sheldon não gosta da própria família e que seus amigos só o aturam por forçação de barra do roteiro. Leonard aceitar, faz sentido, pois é um bocó que aprendeu a seguir ordens de quem não tem muito amor por ele - vide seu relacionamento com sua própria mã e depois com Penny. Já foi dito que Howard e Raj só estavam ali por serem amigos de Leonard e as namoradas vieram a reboque.
Mas nada justificaria o tanto de piadas e zombarias que os amigos fazem se não o odiassem de verdade. Na verdade, é exatamente isso que me passa, uma relação de amizade tóxica em que uma parte não respeita a outra, mas todos são malas demais para se relacionarem com mais alguém, porque ninguém teria saco pra manter uma relação tão próxima. Aliás, TBBT é a mesma coisa que How I Met Your Mother e sua antecessora, Friends. Tudo um grupo de gente que se você conhecesse na vida real, manteria distância. Afinal, quem gosta de panelinhas além das pessoinhas que as formam?
Mas, voltando, ou Sheldon é cruel demais ao falar da família em TBBT ou ele amenizou seus traumas de infãncia em YS, pra não traumatizar que ouve suas histórias (sim, se você não assistiu ainda, ele narra em off, como Chris Rock em Everybody Hates Chris). Claro que as abordagens são diferentes para públicos diferentes. TBBT é mais pop, mais clichê - e mais sem graça também. Sério, tira as risadas e você vai ver que é só um grupo falando difícil com os mesmos trejeitos e com o mesmo timming. YS é mais família, tem uma montagem mais fluída, orgânica e te deixa perceber, mas escolher o que achar engraçado. Não é tão pastelão, mas tem lá seus próprios clichês, como a liçãozinha no final dos episódios e momentos fofura ao som de uma trilha sempre feliz.
No geral, Young Sheldon cria uma grande sensação de 'ele mentiu pra nós'. Não soa como a mesma história. Parece aquela pessoa que cada vez conta a história de uma forma e você não sabe bem qual versão é verdade, se é que tem uma versão verdadeira.
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sexta-feira, 11 de outubro de 2019
Maquiador recebe mensagens racistas por trabalhar com modelos negras
O maquiador Leonardo Gannancyr participou de um concurso na internet utilizando uma modelo negra e recebeu mensagens racistas de um outro maquiador, que tentou desqualificar seu trabalho alegando que maquiagem em pele negra não fica bem. A conversa foi registrada e a modelo, Luciana Villaça, publicou trechos.
Leonardo afirma que tem preferência em trabalhar com modelos negras e, para este concurso, proposto por uma maquiadora no Instagram, ele se dispôs a manter sua prioridade. O prêmio seria um kit de maquiagem profissional.
Mesmo diante da rejeição a negros por parte de outros maquiadores, Leonardo manteve sua personalidade e seus princípios inclusivos para a pele negra. Ele não ganhou o concurso, mas ficou satisfeito com o apoio que tem recebido.
O maquiador acredita que o colega de profissão que o agrediu com palavras racistas tenha visto seu contato em algum grupo de maquiadores onde ele divulgava sua participação no tal concurso. Aliás, o caso foi registrado na delegacia de Alcântara, São Gonçalo, onde uma advogada o orientou que trata-se de um crime de racismo e não injúria racial. a saber: A maioria dos crimes de racismo é convertido em injúria, porque a pena é menor e há direito à fiança, em caso de prisão.
Assim como disse a modelo, isso é digno de choque, mas não de surpresa. A gente tenta ficar bem e acreditar que isso não é comum de acontecer, mas é frequente esse tipo de porrada. E notamos rapidamente como são as duas abordagens dos racistas. De começo, eles chegam com cinismo tentando parecer que estão ajudando e diante da rejeição de seu 'aconselhamento', a máscara cai de vez e começam as ofensas diretas, como dizer que negros são sujos, por exemplo.
É impressionante como o negro incomodou tanto esse babaca a ponto de ele chamar alguém no privado do zap pra dizer que negro não pode estar onde ele acha que é dono. Não quer negros por perto, não quer negros com chance de vitória e, segundo Leonardo, ainda fez campanha difamatória para que a modelo negra perdesse o concurso. Lixo humano. Merecia ter o nome divulgado, assim como qualquer criminoso dos noticiários, pra todos saberem com quem estarão lidando ao se aproximar desse tipo. Infelizmente, em casos de racismo, só quem fica exposto com cara e nome é a vítima.
Fonte:
https://extra.globo.com/noticias/brasil/maquiador-vitima-de-racismo-por-usar-modelo-negra-em-concurso-24009605.html
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terça-feira, 8 de outubro de 2019
Phellipe Haagensen, assédio sexual e masculinidade tóxica
Nem vou enrolar pra dar o recado deste texto: Phellipe Haagensen, recém-expulso do reality A Fazenda (da emissora do bispo/rei/cavalo), envergonha a todos nós, homens. Sobretudo, os negros de regiões periféricas. Mas vou ficar atento, aqui, ao plano geral 'homem/mulher': Ele deu muita sorte que a sociedade é machista e passa o pano legal para as atitudes que teve durante sua - graças - curta participação na telinha desta edição.
Ele se focou em Hariany Almeida, ex-BBB, para assediar com tudo que aquele babaca da balada faz em todo carnaval, festinha de rua ou boate da moda: Olhou para ela e sussurrou como quem se masturba mentalmente, distorceu a realidade em sua mente tacanha pra parecer que ela é que estava "pedindo" ou provocando seus sentidos e, culminou com um selinho roubado durante uma discussão que nem tinha qualquer apelo afetivo/sexual. Ficou na cara que se não roubasse o beijo ali, poderia ter se esfregado ou até agarrado a moça a qualquer outro momento.
Ele já tinha falado de outras participantes, insinuando que os caras deveriam ter cuidado com tal participante por ter ficado com não sei quantos antes de entrar ali, fez comparações grotescas entre mulheres e galinhas e qualquer outro comportamento nocivo à sociedade. Seu irmão, o também ator, Jonathan Haagensen, inclusive fez postagens no twitter e conversou com a imprensa, no Rock in Rio, sobre o ocorrido. Nessas oportunidades, o eterno Cabeleira, de Cidade de Deus, criticou o eterno Bené (personagem mais legal que seu intérprete).
Jonathan disse que as atitudes de Phillipe são típicas de um bolsominion, aquele machistão legitimado pelo discurso do atual presidente do Brasil, que justifica qualquer atitude autoritária do homem sobre a mulher, do rico sobre o pobre, enfim, um amante/viúva sodomita da ditadura que quer compensar sua mediocridade humilhando e oprimindo quem já é historicamente oprimido. É aquela criancinha babaca que faz tudo que quer porque o pai deixa e os coleguinhas ganham um alvo pra odiarem até a fase adulta.
E, a exemplo do babaca do final do parágrafo anterior, o babaca da vida real continua sua vida tal qual o conceito do pombo enxadrista. Aquele que diz que não importa quão talentoso e esforçado você seja pra jogar xadrez contra um pombo. A ave vai cagar tudo, derrubar tudo e sairá voando de boas sem noção da merda que fez. E você lá, estressado que a performance não foi apreciada. Deixa eu falar o que eu entendo disso em relação a assédio e masculinidade tóxica.
É assédio porque ele agiu como se fosse dono de um corpo que não é o dele mesmo. Atacou a moça. Não importa se foi com um simples selinho ou se fosse com um facão coagindo-a a se curvar às suas neuroses. É violência contra a mulher. Atacou, configurou o assédio, tal qual seria, nas próprias palavras da Record, se fosse o caso de uma encoxada, mão boba, etc... A mulher não é um brinquedo que o cara se aproveita de estar perto pra usar sem permissão.
Isso aí, é o típico bombado da balada, puxando cabelo, braço e tentando beijar à força. Já vi muita amiga até ceder na hora só pra não acabar agredida pelo bêbado com sentimento de rejeição. Já vi também algumas que foram agredidas depois de darem negativas a esses monstros. É covarde e demonstra a sensação de poder que o machismo dá ao homem. Ele acha que pode mexer com a mulher, tocar seu corpo e obter seu prazer imediato sem culpa ou sem medo de punições. "Vai lá, denuncia lá" e "que polícia?" foram comentário de Phillipe diante das ameaças de denúncia que Hariany fez, ainda em choque pelo gesto abusivo que acabara de sofrer.
Depois, correu pra pedir que fosse o mais votado pra sair do programa sem ter que desistir. Como se já não previsse a bola de neve que acabara de iniciar, tentando infantilmente parecer que tinha feito tudo de propósito. Babaca, babaca, babaca! E ainda tem mais, o cara meses antes, ainda esse ano, já foi denunciado pela ex por agressão na Delegacia de Apoio à Mulher. O cara ameaçou a ex-mulher na frente do filho mais velho pra não ter que pagar pensão. Já sentiu o drama, né? O padrão estabelecido.
Um cara que fica reduzindo a mulher a um objeto sexual pra sua própria masturbação assistida já é bem pouca coisa na vida. Agora, tem o padrão que ele segue. Ele diminui a mulher pra ela não ter condições psicológicas de perceber que ele é que não vale nada. A sensação de que a pessoa consegue coisa melhor fácil deixa o cara em desespero e ele faz aquele jogo mental doentio: Primeiro, faz ela gostar dele e na chantagem emocional, começa a manipular sua mente. Depois de ser claramente abusivo, faz o papel do coitado, vítima das circunstâncias e que vai melhorar.
Mas não melhora. E estamos vendo o tipo por aí, toda hora um feminicídio, um desaparecimento, uma separação que não é aceita, uma DR que termina mal, toda hora uma família diferente falando que o cara sempre parece perigoso ou que a mina tinha medo do companheiro e essas coisas... Não estou dizendo que todo babaca assediador é um assassino em potencial, mas a sociedade legitima a muitos pensarem que isso está certo. Inclusive, o jovem Haagensen, chegou a dizer, ao sair da produção, que nem todas as mulheres merecem flores, deixando claro que em algum nível, acha justificável que se destrate ou degrade uma mulher, porque, pra ele, tem as que merecem respeito e as que não.
Quem não merece respeito é esse rato doente.
Fontes:
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Martin Scorcese e os filmes de Super Heróis
Recentemente, o premiado diretor Martin Scorcese declarou reconhecer o talento de quem faz filmes de super heróis, mas comparou as produções a um parque temático, resumindo, algo muito rentável e divertido, mas sem profundidade psicológica, coisa que, segundo ele, caracteriza o verdadeiro cinema.
A fala do diretor gerou algumas respostas de artistas envolvidos com o universo cinematográfico Marvel e tiveram um tom bem parecido, apesar da abordagem ser diferente. Robert Downey Jr (Homem de Ferro), por exemplo achou válido o direito a ter uma opinião, mas que talvez, isso pode ter sido por ter se deparado com uma concorrência comercial absurda. Karen Gillan (Nebulosa) já defendeu o diretor James Gunn (Guardiões da Galáxia), alegando que tem sim, coração nas produções em todos os aspectos. Samuel L. Jackson (Nick Fury) foi mais enfático no fato de que nem todos também se agradam do trabalho do próprio Scorcese, então, tudo bem opinar contra.
Todas opiniões com conceitos diferentes, mas partindo do mesmo princípio de que está ok o diretor opinar, mas que ele não é o dono da razão. E eu concordo. Acho até a opinião dele um tanto arrogante, no sentido de ser quase um purista, querendo determinar o que é o 'verdadeiro cinema'. É como dizer que música pop não é música porque não tem um alto nível de estudo e formação erudita. Se não fosse quem é ou se usasse um tom mais agressivo, pareceria até ciuminho de quem teve que aprender a dividir atenções com uma grande moda. Tipo, a criança mimada que não quer o coleguinha novo atraindo suspiros do resto da turma.
Tem lugar pra todo mundo e modas são assim, vão fazer maior estardalhaço e dinheiro. Mas passam. E tudo bem. A música pop nunca tomou o lugar de outros ritmos mais eruditos, assim como desenhos nunca tomaram o lugar de filmes, então, é fácil deduzir que filmes de pura paixão e entretenimento não derrubaram o pilar dos filmes mais sensoriais e autoriais. E se o incomoda um filme de herói não ter uma pegada mais profunda ou intelectual, ele não deve ter assistido ou entendido Pantera Negra e todas as questões sociais envolvidas, né?
Lembra, Scorcese, pizza e hambúrguer são muito bons, mas não tiram o lugar das refeições mais nutritivas. Cada um tem seu momento. Ninguém gosta de ficar raciocinando sobre a psiquê humana em frente a uma tela de cinema o tempo todo. Até fãs de obras mais 'cabeça' gostam de desligar o cérebro e apenas se divertir. Não adianta desqualificar o trabalho alheio. É um passeio no brinquedo do parque? É. Mas de vez em quando é legal passear no brinquedo do parque. A menos que você tenha problemas de enjoo com movimentos bruscos e repetitivos.
Fonte:
https://rollingstone.uol.com.br/noticia/robert-downey-jr-samuel-l-jackson-james-gunn-e-karen-gillan-respondem-comentario-de-scorsese-sobre-marvel-nao-ser-cinema/
https://revistamonet.globo.com/Filmes/noticia/2019/10/samuel-l-jackson-rebate-critica-de-martin-scorsese-sobre-os-filmes-da-marvel.html
https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2019/10/08/robert-downey-jr-quebra-silencio-e-reage-a-critica-de-scorsese-sobre-os-filmes-marvel.htm
A fala do diretor gerou algumas respostas de artistas envolvidos com o universo cinematográfico Marvel e tiveram um tom bem parecido, apesar da abordagem ser diferente. Robert Downey Jr (Homem de Ferro), por exemplo achou válido o direito a ter uma opinião, mas que talvez, isso pode ter sido por ter se deparado com uma concorrência comercial absurda. Karen Gillan (Nebulosa) já defendeu o diretor James Gunn (Guardiões da Galáxia), alegando que tem sim, coração nas produções em todos os aspectos. Samuel L. Jackson (Nick Fury) foi mais enfático no fato de que nem todos também se agradam do trabalho do próprio Scorcese, então, tudo bem opinar contra.
Todas opiniões com conceitos diferentes, mas partindo do mesmo princípio de que está ok o diretor opinar, mas que ele não é o dono da razão. E eu concordo. Acho até a opinião dele um tanto arrogante, no sentido de ser quase um purista, querendo determinar o que é o 'verdadeiro cinema'. É como dizer que música pop não é música porque não tem um alto nível de estudo e formação erudita. Se não fosse quem é ou se usasse um tom mais agressivo, pareceria até ciuminho de quem teve que aprender a dividir atenções com uma grande moda. Tipo, a criança mimada que não quer o coleguinha novo atraindo suspiros do resto da turma.
Tem lugar pra todo mundo e modas são assim, vão fazer maior estardalhaço e dinheiro. Mas passam. E tudo bem. A música pop nunca tomou o lugar de outros ritmos mais eruditos, assim como desenhos nunca tomaram o lugar de filmes, então, é fácil deduzir que filmes de pura paixão e entretenimento não derrubaram o pilar dos filmes mais sensoriais e autoriais. E se o incomoda um filme de herói não ter uma pegada mais profunda ou intelectual, ele não deve ter assistido ou entendido Pantera Negra e todas as questões sociais envolvidas, né?
Lembra, Scorcese, pizza e hambúrguer são muito bons, mas não tiram o lugar das refeições mais nutritivas. Cada um tem seu momento. Ninguém gosta de ficar raciocinando sobre a psiquê humana em frente a uma tela de cinema o tempo todo. Até fãs de obras mais 'cabeça' gostam de desligar o cérebro e apenas se divertir. Não adianta desqualificar o trabalho alheio. É um passeio no brinquedo do parque? É. Mas de vez em quando é legal passear no brinquedo do parque. A menos que você tenha problemas de enjoo com movimentos bruscos e repetitivos.
Fonte:
https://rollingstone.uol.com.br/noticia/robert-downey-jr-samuel-l-jackson-james-gunn-e-karen-gillan-respondem-comentario-de-scorsese-sobre-marvel-nao-ser-cinema/
https://revistamonet.globo.com/Filmes/noticia/2019/10/samuel-l-jackson-rebate-critica-de-martin-scorsese-sobre-os-filmes-da-marvel.html
https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2019/10/08/robert-downey-jr-quebra-silencio-e-reage-a-critica-de-scorsese-sobre-os-filmes-marvel.htm
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quarta-feira, 4 de setembro de 2019
Friends - 25 anos... Grandes M...
Friends completa 25 anos de sua exibição inicial... e 15
desde seu apoteoticamente final ‘nhé’. Ok, é uma das séries mais bombadas da
história estadunidense, gerou vários bordões famosos e soube lidar com os
maiores clichês de modo a se tornar referência para os mesmos. Sério, quando
assisto The Big Bang Theory ou How I Met Your Mother, posso pegar uma cartela
de bingo e marcar cada situação clichêzenta que aparece. Desde o protagonista
apaixonado pela colega de apartamento/trabalho/faculdade/melhor amiga/namorada
do melhor amigo/vilão até as soluções fáceis do tipo, um relacionamento que não
tem futuro logo recebe uma viagem para o exterior ou algum vacilo de uma das
partes.
Mas não é disso que eu ia falar. Para o parágrafo
anterior eu só digo uma coisa: Drama de gente branca. É uma tonelada de gente
branca, linda, sensual e metida a engraçadinha. Não tem pra onde olhar sem
olhar um branco fazendo piadoca ou dramalhão com alguma situação idiota. E qual
é o problema, tio Saga? Bem gafas (meu modo de chamar de gafanhoto de forma
fofa), acontece que além da total falta de diversidade, há outros traços de
como a série Friends era vendida como um sonho, uma catarse, um modelo do que o
jovem branco estadunidense queria pra sua própria vida. E não tá errado, mas há
muita babaquice envolvida. Tanto, que quando a gente reassiste, no meu caso, já
tendo passado pela fase da juventude sonhadora e com os pés no chão pela quilometragem
na estrada, percebe que é uma série de preconceitos e conservadorismo que
assusta. Afinal, era uma série pra juventude e tals... mas quando a gente nota,
está lá sendo martelado por versões sensuais, engraçadas e sedutivas de como
devemos ser o american way of life dos novos tempos.
“Ain, Saga, mas eram outros tempos...”. Olha, gafas, lá
por 1994, época que estreou a série, era bem difícil sim saber das lutas das
minorias e grupos historicamente oprimidos na sociedade. Mas não eram tão
invisíves, mesmo em tempos pré-memes. Lembro de um comercial institucional em
que a atriz, negra, falava como alguém que avisava a seu último peguete pra fazer
teste pra AIDS, pois ela descobriu que tinha, mas não sabia se tinha passado ou
pego dele. O problema é que se hoje é difícil, imagine naqueles tempos
escalarem atores negros pra paéis principais... Acontece que gerou burburinho e
o Movimento Negro protestou que justo na hora da irresponsável sexual é que
colocaram uma negra e nunca pra vender a cerveja sedutiva da moda ou mesmo em
cima de um trio elétrico cantando e envolvendo o público. Houve quem retrucasse
dizendo que o negro era um insatisfeito e com mania de perfeição. Oras, eu lá
com uns 12 anos acompanhei isso por jornais, então, sabemos que não eram outros
tempos tão distantes. Os meios de comunicação é que ficaram mais dinâmicos.
E isso tudo eu disse pra enumerar algumas situações onde
Friends foi babaca. Em comemoração aos 25 anos da série mais fútil da TV
gringa:
1 – Homofobia
Esse é o tópico mais evidente desde o primeiro episódio.
A primeira temporada inteira é dividida entre Ross lidando com sua separação, a
gravidez de sua ex e a vida dela com uma outra mulher. É constrangedor o quanto
a plateia ri toda vez que ele ou alguém faz piada pelo fato de duas mulheres
quererem viver uma vida fora dos rótulos heteronormativos e ainda sim serem
felizes e realizadas. O tanto que Ross demonstra ser um moleque mimado com
necessidade de aprovação é perturbador. Aliás, todo o elenco! São jovens entre
25 e 30 anos de idade que se comportam como se tivessem 18. Soa tudo como
aquele amigo que zomba de você pra pagar de engraçado, mas que é mais ofensivo
do que legal. O famoso ‘rir de' e não 'rir com’.
E não só Ross, Chandler é antena de piadas sobre gays
também. Quem conhece os bastidores da série (sim, conheço muuuito, porque
assisti bastante) sabe que o ex-colega de facul de Ross era para ser gay, mas
isso foi modificado até a definição do formato e detalhes da série. Ele é confundido com gay porque não é um
pegador ou pelo nível de seus gostos e assuntos, seu pai é transformista e sua
mãe é escritora de livros de cunho sexual, o que o constrange e o faz o
estereótipo do filho de pais divorciados e lar problemático, engraçadinho da
turma que usa o humor como defesa psicológica. E não esqueçamos da vez em que
Chandler e Ross zoavam seus passados amorosos até que Ross diz que nada é tão
engraçado do que o amigo ter beijado uma
travesti sem perceber. Tem um vídeo no youtube em que um internauta separou
todos os momentos homofóbicos de Friends. Deu quase uma hora.
2 – Gordofobia
A gordofobia é quase toda sobre Monica. Vários flashbacks
retratam Monica como uma adolescente obesa e isso só muda lá pelas tantas da
série quando ela resolve emagrecer ao ouvir ofensas de Chandler atrás da porta.
Os próprios amigos vivem fazendo comparações grotescas e o roteiro sempre
empurra a jovem para o público como alguém desregrada e gulosa. Enfim, tireoide
é bananada, gorodo, pros roteiristas, é comilão mesmo.
3 – Machismo
A palavra aqui é Joey. O cara passou dez anos destratando
e usando mulheres e os amigos em volta apenas falavam pra ele coisas como ‘você
nunca liga para as mulheres’ e estão ok com isso. Ninguém o confronta.
Inclusive a regra macho-alfa de não namorar a irmã do amigo foi mote várias
vezes da série. Só Chandler não tem uma irmã para ser assediada pelos amigos,
mas sua mãe deu uns pegas em Ross. Tipo, homens adultos controlando a vida
sexual e afetiva de mulheres adultas com a desculpa de ‘proteger quem se ama’.
Nunca protegem homens, certo?
4 – Racismo
O racismo não ocorre apenas pelas palavras de ódio ou
violência física. Exclusão também é racismo e nessa Nova York dos sonhos dos
anos 1990, o negro só aparece como porteiro, guarda, colega mudo de sala de
reunião e essas coisas. Pois nos anos 2000, a série resolve dar papéis de maior
destaque a negros. No caso, negras. Agora repare: Gabrielle Union apareceu na
série como uma nova vizinha tendo sua atenção disputada por Ross e Joey. Os
dois chegam a fazer uma aposta ridícula estabelecendo valores a serem gastos
com agrados à moça pra ver quem faturava a gatinha. Tendo assustado-a com tanta
idiotice, voltam a ser amigos e a jovem caiu no esquecimento.
Depois, aparece Aisha Tyler como uma doutora da mesma
área científica que Ross, mas que está tendo um namoro com Joey. Aquele dilema
forçado do tipo, combina com um, mas namora o outro (olha o que eu falei sobre
clichês requentados lá no começo). Resumindo, fica aquele triangulo amoroso até
que Ross conquista a doutora e Joey se sente livre pra ir atrás de Rachel (hein?!).
Mas o foco aqui é o fato de quando a coisa parece se encaminhar, a mulher volta
com o ex anterior a Joey e Ross de modo ridículo e volúvel. E essa foi a
participação mais expressiva de pessoas negras em 10 anos de Friends. De resto,
fomos representados por seguranças, enfermeiros figurantes, taxista, porteiro,
figurante 2 e essas coisas.
Conclusão
O que podemos conceituar sobre a série é que ela não foi
tão ousada – como dizem os produtores e fãs – em fazer um casamento lésbico ou
mostrar relacionamentos interraciais, por exemplo. Nada disso era parte do
elenco principal. Caso houvesse rejeição, era só eliminar a ex lésbica e sua
companheira ou a namorada de outra etnia que não branca. Ou ainda, um possível
protagonista gay. Nenhum protagonista foi ‘maculado’ pelo estigma da rejeição
conservadora. Isso, no fundo, é manter as coisas exatamente como estão. Como em
How I Met... que num personagem só usou a ‘cota’ racial e sexual fazendo um
meio-irmão de protagonista negro e gay, mas não tendo coragem de usar isso no
núcleo do elenco principal. E olha que a série terminou bem depois de Friends...
Outros tempos? Nada mudou.
E não vou falar das incongruências da série, como o
núcleo Rachel-Monica-Ross-Chandler que demonstram não se conhecerem tão bem no
início as série, mas em flashbacks mais tarde em outras temporadas, é provado
que se conheciam até por relacionamentos ainda em época de escola/faculdade. Ou
Ross mal vendo seu filho mais velho, Bem, que foi o mote da primeira temporada,
terminando até com promessas de amor eterno e acompanhamento intenso de seu
crescimento... E não vou falar de certas situações feitas apenas pra série
parecer lega Le descolada. Nem da condição de vida de jovens com empregos meio
lá meio cá vivendo em apartamentões imensos. Mesmo o da Monica sendo herança da
avó, ainda não justifica sustentar aquele imóvel sem ajuda em pleno centro de
Nova York. E Rachel que foi de patricinha mimada a garçonete e numa mentira de currículo, entrou para o ramo da moda até receber proposta internacional de trabalho? Acontece toda hora na vida, né?
Então, Saga
Enfim, quando se passa tanto tempo assistindo TV, filmes,
lendo, etc, você acaba desenvolvendo um senso crítico mais apurado e quando
isso se dá ao longo da vida (sério, tenho gibis e DVDs aqui de quase 20 anos
atrás, só porque me desfiz de coisas mais antigas), então, desenvolvendo
consciência para assuntos mais sérios e relevantes na sociedade, mas ainda
adorando cultura pop/nerd, posso dizer de carteirinha que muita coisa hoje envelhece
mal porque foi calcado em um senso comum que mudou. Ficou datado e
ultrapassado. Parece vintage pra muitos, mas não se sustenta. Lembrei de uma
reprise d’Os Trapalhões onde Jorge Lafond é o alvo de tantas piadas
ridicularizando seus trejeitos afeminados que mudei de canal.
Uma coisa é o cara usar seus trejeitos pra fazer uma
caricatura que soe simpática ao público, outra coisa são outros personagens
ficarem correndo em volta, cada um a seu momento se revezando pra fazer
comentários que o tornam uma piada oca. Eu odiaria estar no centro de uma roda
onde cada “amigo” fizesse um comentário pejorativo sobre minha pele, meu cabelo
ou estereótipos e comparações com objetos de cor preta. Odiaria. Então, Friends
é isso. Até Os Simpsons hoje me soam mais como um aglomerado de piadas do que
uma sátira em si. Hoje, acho Homer Simpson um bolha e Marge Simpson a versão
desenhada da Nenê Silva, d’A Grande Família, aquela que é tão condescendente
que. Literalmente, não existe.
É isso, gafas, saganauta (Rá!)! Ficamos por aqui, por
enquanto, mas depois sei que vou lembrar de algo mais a dizer ou alguma outra
produção que não tenha passado legal pelo fator ‘relevância na passagem do
tempo’. Ainda assisto a vários episódios de todas as séries aqui mencionadas
porque sim, tem momentos muito legais, mas não me peça pra adorar, muito menos
defender porque é como defender um rodízio de sorvetes pra quem tem intolerância
à lactose. É gostoso, mas vai dar merda! Rá!
xêro
quarta-feira, 24 de julho de 2019
O Rei Leão e a sociedade (nova versão)
Eu tenho uma reflexão – epifania, insight, sei lá – há alguns
anos sobre o clássico da Disney, O Rei Leão, e já mencionei por alto em alguns
textos, postagens e conversas informais. Segundo minha filha, inclusive, isso ‘acabou’
com sua infância (risos). Pois bem, sempre pensei em transformá-la (a reflexão,
não minha filha) em em um artigo devidamente publicado e o momento é agora, com
o advento do remake do filme, 25 anos depois.
Não que eu pretenda assistir à nova produção – quer dizer,
vou acabar assistindo em algum momento – mas além de não suportar sequer
lembrar da morte de Mufasa, acho que a releitura com uma roupagem mais ‘realista’
não me atrai tanto quanto o próprio original. Digo, não acho nada lá que
precise de uma atualização para as novas gerações. Ou melhor, acho que o antigo
ainda é novo, atemporal, enfim, traços que um verdadeiro clássico precisa para
ser considerado um... er... clássico (dah!).
E ainda complemento o raciocínio dizendo que o tal estalo
(de percepção da fábula, não do Thanos – Rá!) ganhou contornos sociais mais
complexos em minha visão de adulto diante de uma reprise há alguns anos. Veja
bem, eu tinha uns 12 anos quando saiu O Rei Leão nos cinemas, então, mesmo com
uma trama intensa carregada por uma das animações mais bem feitas que já vi,
deu pra perceber que a história fala de responsabilidade, de assumir seu lugar
onde você pertence e transformar seu mundo num lugar melhor. Aquele papo de redenção
a que todas as obras Disney se propõem a fazer dentro dos passos da Jornada do
Herói – ou Monomito – de Joseph Campbell.
E é citando a palavra mito que já digo de cara que a tal
reflexão é que além da história do herói que passa por percalços, dúvidas e
inseguranças, mas precisa tomar as rédeas de sua própria vida e de seus entes
queridos, o período eleitoral de 2018 me deixou, além de muito esgotado
psicologicamente, também com a oportunidade de “viajar” em uma interpretação
pessoal da vida sobreposta à obra felina dos Estúdios Disney. É, é sobre a
sociedade e como ela vê seus líderes. Ocorre-me sempre nessas horas uma piada que meu pai fez sobre essa coisa de novelas trazerem tantas interações pessoais entre pobres e ricos: "Rico convidando pobre pra uma festa? Só se for pra trabalhar".
Observe, no filme, que já no clipe de abertura, todos –
TODOS! – os animais da savana africana correm para um evento que, sem
enrolações, fica exposto que é o nascimento do filho do rei Mufasa e da rainha
Sarabi, o leãozinho Simba, que será apresentado a seus súditos. Para alegria
geral, seu Padrinho Rafiki não o arremessa lá de cima (sério, eu achei que era
isso que ia acontecer na primeira vez que vi – risos de nervoso). Segue o
cortejo.
Mesmo aos 12 anos, eu tinha umas questões de imaginação
muito fértil (Fantástico Mundo de Bobby era quase sobre minha infância) e um
questionamento que me apareceu na época era porque um babuíno estaria no meio
de leões? Isso foi o que me fez pensar que ele ia jogar o filhote de leão lá de
cima (e iniciaria uma cena de luta, perseguição e fuga animais – Rá!). Só
muitos anos depois eu entenderia que eu não estava ainda imerso no maravilhoso
mundo da suspensão de descrença (que é o termo usado pra definir quando você
ignora certas normas da vida real pra embarcar na fantasia do filme).
Só que depois de grande e aprofundado em questões
sociais, raciais e essas bossas, esse pensamento encontrou bagagem pra se
desenvolver. O que eu apresento neste texto. Além de achar que o macaco ia
aprontar alguma por fazer parte do grupo que os leões comem e não do que eles
fazem amizade e se tornam compadres, reparei um raio de observação maior: O que
aquele tanto de zebra, antílope, girafa e elefante comemora? Mais uma boca pra
devorá-los? Sim, é uma fábula, um tipo de condução de história que usa animais
para representar ações e sentimentos humanos, mas essa alegoria dá essa brecha.
Não?
Vamos lá, na suspensão de descrença da minha visão sobre
o filme: É a sociedade em sua essência. Temos diversos grupos, classes sociais,
raças, etnias, gêneros e transgêneros e sempre tem aqueles grupos que
praticamente nascem pra alimentar e os que são alimentados... de carne e/ou de riquezas materiais. Você imagina
o filho do churrasqueiro nascendo e a boiada indo lá mugir de felicidade por
mais um par de mãos pra conduzir garfos, facas, espetos e machadinhas? Pois na
sociedade (sur)real acontece isso.
Olhe pro lado e veja quantos pobres vibram e
até brigam por líderes políticos e religiosos que nem ligam pra eles, apenas os
enganam pra manterem sua fonte de renda ou, no caso dos leões, o sustento de
sua família. Pois, se esses líderes os defendessem, iriam ironiza-los por 'gostarem de pobre'. Aliás, se você não enxergar os seguidores xiitas das classes opressoras, então, você é um desses. Rá!
Não estou dizendo que esta seja a mensagem oculta do
filme, não é uma teoria da conspiração, é uma forma de interpretar em cima de
uma obra feita. É quase... ou melhor, é um real exercício de imaginação, com
alguma perspectiva forçada, no sentido de que não estou empurrando na mente de
ninguém que o que eu penso precisa ser avaliado como representação real. É uma
teoria aplicada na realidade. Como dizer que Super Mario é a alegoria da vida
onde você pode consumir substâncias, juntar algum dinheiro, comprar coisas e
ter cuidado com os obstáculos e criaturas desagradáveis no caminho em busca de
quem você ama.
É isso, não quero reinventar a forma de se ver O Rei
Leão, só estou dando vazão a uma inquietação que tenho há anos e esse remake já
me serviu muito na vida por isso. Talvez eu queria ver a nova versão só porque
o elenco está representativo e pop (Alô, Pantera Negra, alô, Marvel! TMJ!), mas
é só. Sem o encanto Disney, Zebras e gazelas correm para o lado oposto ao do
leão. A vida já é muito difícil com crocodilos, cobras e víboras pra gente ver
um filho de rico nascer e correr pra lá pra aplaudir. A menos que sejam celebridades no Instagram. Ninguém resiste! NIN-GUÉM!
Ah, tem a questão do Scar. Ele sim é um leão mais
condizente com a realidade. Em um encontro com as hienas – quando ele propõe o
plano que vai dar cabo na vida de (R.I.P) Mufasa e espantar Simba pra bem longe
do reino, deixando o comando em suas mãos. Aliás, esse universo é bem
machistinha, se reparar bem. É sabido que leões são comandados por um líder,
mas a rainha em nada conta na história e na ausência do marido e do filho é o
cunhado quem assume? Suspensão da descrença, eu invoco você!!!
Hmm... viscoso, mas gostoso!
Mas, voltando, Scar é o vilão. Sim, ainda era um tempo
maniqueísta, onde o bem é todo bem e o mal é todo mal. Não sem falhas dos dois
lados, mas não há um aprofundamento em porquê Scar se tornou um psicótico
egoísta assassino (mas sabemos que ele virou um belo tapete, como propõe Zazu,
basta assistir à animação do Hércules, também da Disney). Independente disso
tudo, no tal momento que Scar trama seu golpe de estado, ele arremessa um “agradinho”
para seus cúmplices. Sabe o quê? Uma suculenta perna de zebra!
E aí, você consegue rever a cena de abertura e pensar em
qual delas dançou pra que as hienas tirem seu pequeno petisco? Já imaginou onde
está e quem deu jeito no resto do corpo? É isso aí mesmo que você tá pensando.
Árvore que defende a motosserra, frango que adora a raposa e gente que chama
político corrupto envolvido com criminosos de mito. O ciclo sem fim!
Vocês fora uÓtemos, galera, beijos no cérebro e, caso
espirrem, saúde! Hakuna matata!
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