"Esqueci o 'NÃO' em casa."
É com essa frase - e outras - que a cerveja Skol lançou uma campanha para o carnaval. As amigas Mila Alves (jornalista) e Pri Ferrari (publicitária) repararam e complementaram: "Esqueci o 'não' em casa" - "E TROUXE O NUNCA". É que as frases usadas na campanha da cerveja redondo reforçam uma cultura muito comum em espaços - abertos ou não - de entretenimento coletivo: A cultura do estupro. Estupro, pode parecer uma palavra forte, que muita gente faz questão de não reconhecer por entender apenas como aquele crime que faz o cidadão virar refeição sexual na cadeia, mas é mais que isso.
Cultura do estupro é basicamente o machismo sendo ele mesmo, sendo o sistema de poder e dominação do homem sobre a mulher. É aquele sistema que faz com que muitos caras se incomodem em ter uma mulher independente ao lado por medo que sem a dependência financeira ou emocional, ela resolva que não tem nada a fazer ali, é o sistema que trata como natural os caras passarem pelas mulheres nas festas de rua, shows e demais eventos achando que têm o direito de puxarem braços, cabelos e cinturas já forçando uma barra para beijos, chupões e agarrões. Não é festa se não é consentido, correto?
Agora, mensure o que é uma cerveja incentivar essa ideia às vésperas do carnaval, quando metade do mundo estará bebassa! Sim, mesmo que a campanha não especifique que é a mulher que esqueceu o não, sabemos muito bem que não há mulher puxando braço e torcendo pescoços pra beijar mais um e sair comemorando com a galera, né? E é claro que quem faz isso não precisa de uma cerveja pra dar a dica, mas é o princípio envolvido que chama à atenção. Ninguém gostaria, por exemplo, se a campanha mandasse você beber sapateando sobre o túmulo de entes queridos, não é verdade? Pois bem...
Depois de frases como "topo antes de saber qual é a pergunta" e "estou na sua antes de saber qual é a sua" e do protesto das moças, a Ambev prometeu tirar a campanha e jurou que não teve intenção de incentivar a violência contra a mulher (e sabemos que é um carnaval de gente bem intencionada num lugar bem peculiar da cultura judaico-cristã, né?). Essa irresponsabilidade também gerou uma 'contra-campanha' por parte da prefeitura de Curitiba junto à revista Nova, com frases de empoderamento feminino como 'não é não' e 'estar bêbada não é estar disponível' e também 'o tamanho da minha fantasia não dá o direito de realizar a sua'.
Amigolhes, é claro que muita mulher bêbada perde a noção, mas, como eu disse, mulher bêbada não tenta agarrar homens à força, e também não vai agredir o cara se ele não estiver afim, só porque ela se sentiu no direito sobre o corpo dos outros, ok? Não estamos falando em possibilidades físicas, mas de uma cultura que trata a mulher como subordinada ao homem e que faz tanto sentido quanto sacrificar jovens virgens para acalmar uma chuva forte.
Fonte: F5 e... F5 (é, de novo).
Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
Skol cria campanha de carnaval e é acusada de incentivar cultura do estupro
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