Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Kara: Uma mulher-robô que pensa diante do machismo


Bem, vamos falar de machismo (Ain, Saga, achei que fosse algum assunto legal). Calma, gafanhoto, que o assunto é legal e ainda te dou um plus: Vamos usar o fio condutor da maravilhosa computação gráfica aplicada a games (hooraaay!). Melhorou? Melhorou. Então, deixe-me lhe fazer uma introdução (UIA!). Estamos falando aqui da Quantic Dreams, um estúdio francês de desenvolvimento de games que, entre outros, é o responsável por Heavy Rain (que eu não joguei, mas minha filha número 3 jogou e disse que é muito bom). Bem, o papo é que há alguns anos, o estúdio fez um trabalho de curta duração, segundo um camarada me falou à época, apenas pra testar uma nova engine (tecnologia que permite construir toda a ‘magia’) e o nome desse trabalho foi chamado de Kara. Deixe eu te colocar por dentro (UIA²).

 Bem, Kara é um robô com inteligência artificial sensível capaz de falar vários idiomas, cantar, conversar e interagir como qualquer pessoa (qualquer pessoa poliglota e de dons artísticos apurados) e isso tudo pra quê? Pra ser comercializada, afinal, ela é um objeto criado pra servir a homens que queiram uma empregada, uma secretária, uma amante, enfim... Ela vem com todas as capacidades de uma mulher comum (repito, comum, mas poliglota... poliglota, cara!) pra servir ao propósito que seu futuro dono bem entender. E é aí que o bicho pega. Todos os testes são realizados com sucesso enquanto seu corpo vai sendo montado a partir da cabeça já pré-programada de fábrica, ela vai demonstrando uma satisfação genuinamente humana em estar viva.


Daí, então, o, digamos, cientista que fala com ela pra ir realizando os testes de voz, canto, locomoção e tudo, dá um comando às máquinas que, estando tudo legal e chuchu beleza, ela já pode ser preparada pra ser embalada e vendida. Ela dá pra trás e questiona o porquê do procedimento e diz ‘É que eu pensei...’. O interlocutor fica chocado com a atitude dela (Oh, shit!) e dá um comando pra ser tudo desfeito, que não era esperado que ela tivesse sentimentos próprios, que ela aceitasse sem retrucar ser mandada pra algum cara por aí afim de uma companhia cibernética. Ao passo que ela vai sendo desmontada, seu coração artificial começa a disparar e num momento de desespero humano, ela implora para continuar ‘viva’, promete não questionar mais.


Então, mesmo demonstrando preocupação na voz, o cientista permite que ela seja remontada e, estando pronta, manda que ela se junte às outras. Quando ela se vê perfilada com as outras, repara que todas são iguais e cada uma vai pra um lugar diferente, ao gosto de cada freguês.

Olha, pra apenas um teste de engine nova isso é muito mais que um teste drive, né? Só de olhar como o troço foi feito com cuidado, você quase compra a ideia de que é uma atriz real sendo alterada por CGI e não uma personagem completamente virtual, mas não é só isso que eu queria falar. Na época, há uns 4 anos atrás, quando assisti pela primeira vez, alguém me falou que isso seria uma analogia perfeita ao modo como o machismo trata a mulher. Veja bem que eu vou destacar no próximo parágrafo.


 O homem queria uma mulher pronta pra servir, então, moldou seu comportamento antes de ela estar ‘pronta’, ou seja, desde meninas inocentes sem se dar conta de suas capacidades. Depois, ela é aprovada enquanto faz tudo que o homem manda. Ela mostra que é obediente. Na hora que contesta aquele que a domina, ela é ameaçada de perder tudo, de ser excluída até do lugar limitado que lhe foi pré-determinado (perceba as mulheres que não servem 'pra casar', são as rejeitadas, prostitutas, as 'solteironas' e todo adjetivo pejorativo). Só faltou as outras intervirem pra censurar a mulher pra que não conquistasse o que elas aceitaram 'conformadas'. E, pra finalizar, somente na hora que promete não falar nada, apenas servir sem falar ‘fora de hora’ é que ela tem permissão para se juntar a todas as outras, iguais a ela, silenciadas e prontas para serem criadas ou objetos dos homens que estão pelo mundo afora aguardando pra usufruir de seus ‘serviços’.

Aula de machismo pra sociólogo nenhum botar defeito, hein? Fiquei com isso na cabeça desde aquele dia que assisti ao vídeo por indicação e muita água rolou por baixo da ponte até que nem sei como, me deparei com o vídeo de novo hoje. Então é isso, caso não tenha percebido a ligação do virtual com o real, apenas ligue seu PS3, gafanhoto, caso não, aprenda que mulher tem todo direito de falar o que pensa, fazer o que quiser e não será diminuída por isso. Criemos consciência nos homens (meninos) pra que as mulheres (meninas) não tenham que ser podadas no psicológico. Só existe machismo, como em todo sistema de dominação, porque homens não se garantem tendo mais que eles mesmos pra dividir responsabilidades.



É isso, não finja, deixe o cara saber que é ruim de cama, não diga que sim só pra agradar, não tenha medo de ser xingada ao falar não (não quer dizer não) e não limite a coleguinha que já escapou dos ‘pudores’ da sociedade cristã falsa moralista da família tradicional brasileira. E quem sou eu pra falar? Ninguém. Sou só um Mané com mulheres fortes o suficiente à minha volta e ao longo da minha vida pra sacar desde cedo que não são criadas pra fazer comida, lavar, passar, varrer e cozinhar e aliviar impulsos masturbatórios no fim do dia. Enfim, sou um homem que não se sente ameaçado por mulheres com personalidade e independência. E gosto disso. Na verdade, tinha que ter mais.


quarta-feira, 27 de maio de 2015

E se o Super Choque fosse branco seria "racismo invertido"?



Não ia ter Super Choque, assim como não existe racismo invertido. Racismo é sistema social de dominação, onde um grupo domina o outro. Estude história de verdade e perceba qual grupo invadiu qual país e qual grupo até hoje é minoria rica e qual é maioria pobre. Acabou a conversa.

Brinks!!!

Na verdade, vou falar sobre essa futilidade de colorismos mil. O que constrói um personagem não é um traço só. Até na famigerada Turma da Mônica, os personagens demonstram características a mais do que aquelas que são mais conhecidas. Logo, um super herói não é feito apenas por seus poderes. Eles possuem camadas. Então, voltamos ao assunto 'Tocha Humana negro'. Seu amiguinho vem lá do caixa-prego (de onde ninguém o chamou) e diz:

"Ain, se o Super Choque fosse feito por um ator branco, vocês iam dizer que é racismo".

Vamos nós de novo: Super Choque é um garoto negro de uma vizinhança predominantemente negra/latina nos EUAses, o que, no geral, representa uns 20% da população daquele país. Ele começou como um herói de gueto nos quadrinhos e virou uma versão do Homem-Aranha, no desenho famoso (pra amenizar o contexto de violência urbana que ele vivia nas HQs).

Virgil Hawkins, o Super Choque (Static Shock), foi criado pelo finado produtor Dwayne MacDuff JUSTAMENTE pra representar essa parcela que sempre foi excluída da mídia. Ele foi um pioneiro em perceber - e se mexer - a respeito de representatividade, uma tal que hoje em dia é possível, diferente da década de 1960, quando a maioria dos heróis populares de hoje foi criada (Homem-Aranha, Thor, Homem de Ferro, X-Men, Quarteto Fantástico, etc...).

Super Choque já se encontrou com Anansi, o Homem-Aranha (escancarada alusão ao personagem mitológico de mesmo nome da cultura ashanti - África) enquanto esteve numa viagem ao continente-mãe, já se deparou com heróis de sua comunidade de décadas passadas como Soul Power tanto nessas quanto em outras ocasiões, o fato de ser negro foi fundamental, diferente do Tocha Humana que é e sempre foi apenas um garotão gente boa curtidor da vida, em nada sendo preponderante sua etnia.

No referido episódio da viagem à África, Virgil liga para seu melhor amigo, Richie, e eles têm um diálogo tipo isso:

- Eu tô adorando isso aqui, porque aqui eu não sou "o garoto negro", eu sou só mais um. Todo mundo aqui é como eu. Acho que é assim que você se sente aí, né?

- Er... que bom que você tá gostando, cara.

Nitidamente, seu melhor amigo branco não compreende a necessidade do jovem negro marginalizado de seu subúrbio em se sentir realmente um cidadão normal e não um estigmatizado. Tem até outro episódio em que descobrimos que o pai de Richie é racista, há um embate dos pais dos dois garotos, mas isso é papo pra outro texto. Por hora, fica o exemplo de o quanto ser negro é importante pro Super Choque, assim como pro Pantera Negra, assim como é pro Luke Cage, Tempestade e tantos outros, mas repare. Assim como em nossa cultura midiática aberta em geral, um personagem só sai das características 'básicas' (dos brancos) na hora de mostrar seu contexto próprio.

Exemplo: O próprio Tocha não tem contexto social algum, foi só um personagem criado pra ter poderes. Super Choque não, esse já foi criado pra mostrar um universo que a maioria estadunidense não conhece, mas é real e tem gente lá que adoraria se ver representado. O Homem-Aranha original é só um garoto classe média vivendo com a tia, já Miles Morales, o Homem-Aranha do universo ultimate é inserido no mesmo contexto que Super Choque. Tempestade nasceu no Quênia e vivia como trombadinha até mudar de vida, Luke Cage foi criado pra ser um herói de aluguel dos guetos, etc...



Poucos personagens negros. criados como tal, fariam sentido apenas mudando sua etnia. Justamente por não ser o estereótipo primordial, esses personagens são criados pra serem de outras etnias e condições sociais. Apenas achar que é uma birra dos grandes estúdios de cinema por mudança de cor de pele é superficial e infantil. É aquela conversa que eu mandei no outro texto sobre o Tocha, mania de acomodado que não quer ver seu mundinho mudar, achava que dominava um conhecimento e se vê "obrigado" a sair da zona de conforto.



Obrigado entre aspas porque seu personagem vai continuar lá, na mídia original dele, sem sofrer qualquer abuso e se mudar lá, faça como eu, pare de ler. Muita coisa hoje em dia já não é feita pra nerds velhões como nós. Um exemplo, a última saga que comprei foi chamada Crise Infinita (DC Comics) e tem uns 10 anos isso. Uma decisão editorial bizarra, na minha opinião, foram vários personagens da famosa fase cômica da Liga da Justiça serem exterminados. Besouro Azul (Ted Kord), Sue Dibny, Maxuell Lord e outros, todos mortos de formas brutais durante aquela fase. Eu ignoro isso, prefiro reler as histórias que tenho da reunião do grupo numa série de ação e comédia do jeito que eu gostava.



Os tempos são outros e pensar tá sendo necessidade. Imagina quantas crianças negras - e até adultos - não podiam se fantasiar de quase nada ou se fantasiassem, tinham que ouvir 'mas esse personagem não é preto' ou o pior - ouvi muito - 'é o personagem tal depois do incêndio' e outras alusões à minha cor de pele como se fosse um defeito, queimadura, sujeira, tintura, etc. Já falei isso no meu teto sobre a reatividade em relação ao Capitão América negro, falei de novo sobre o Tocha Humana negro, agora respondi (sei lá a quem) sobre Super Choque ter necessidade de ser negro pra fazer sentido.



Cansa um pouco, mas é uma missão, sempre deixar um registro de resposta porque "eles" sempre vêm com os mesmos clichês, então é bom termos as mesmas respostas, mas de diferentes pontos de vista, porque ou a gente enfia algum conhecimento na cabeça deles, ou eles se mandam por cansaço.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Tocha Humana negro no cinema



"Ain, ele é negro, não pode", "Ain, é porque o Obama é presidente", "Ain, isso é cota"... E mais um monte de mimimi racista irracional (perdão pela redundância). Primeiro, sim, ele é negro, o ator Michael B. Jordan foi escalado pra viver Johnny Storm/Tocha Humana na próxima investida na franquia Quarteto Fantástico. Tendo em vista que o personagem sempre foi loiro nesses, sei lá, 50 anos de Quarteto, até quando sua primeira versão era um robô auto-inflamável.



Pois bem, vamos falar sobre a segunda questão: Interpretação. Não sabemos nada sobre a interpretação que vem aí, assim como não sabíamos como Robert Downey Jr, se sairia, e acabou virando um Tony Stark até mais carismático que o original dos quadrinhos. Um outro exemplo, ainda mais emblemático sobre isso é o ator Chris Evans, que atualmente vem a cada filme se firmando mais como Steve Rogers/Capitão América na franquia própria e nos Vingadores. Evans, caso você tenha distraído nível ninja master, era o próprio Tocha dos filmes anteriores, sendo irmão de Sue Storm, Jessica Alba, naquela oportunidade. Oras, Jessica Alba não é branca, mas não teve essa chiadeira, né?



"Ma, Saga, porque quando um personagem é interpretado por um negro chiam tanto?". Eu sei, mas não sei. Ou melhor, sei porque reagem assim, mas não sei porque isso acontece. Tenho a teoria de que nerds, assim como o senso comum conservador, não gosta de mudanças pra não sair de sua zona de conforto e ter que buscar novos conhecimentos, porque não saber tudo de um universo, significa não ter domínio sobre algo, o que pra muitas pessoas é tudo na vida. Então, quando você vê negros andando livremente por onde só andava branco ou coisa assim, isso demonstra pro conservador que existe um mundo aí com muito mais informação do que o que ele absorveu, mas esse papo tá ficando muito psicoterapêutico. Vamos voltar ao noticiário.

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Como eu sempre falo, o que não pode é mudar o cânone original do personagem. Não poderia haver um Bátema fútil e vestido de tartaruga (Bats, lembra?) ou um Homem-Aranha rico e esnobe usando poderes pra ganhar dinheiro. Não seriam, respectivamente, Bruce Wayne e Peter Parker. Mas se forem negros ou índios... acho muito válido até que sejam diversificados. Um exemplo é no já citado Homem-Aranha, que em sua versão 'ultimate' é negro de ascendência latina, Miles Morales. Aliás, está se falando por aí que uma próxima investida no aracnídeo de nossos corações pode ser protagonizada pelo menino Morales. Ele é um garoto pobre com uma vida social pra cuidar e sua responsabilidade em ajudar quem precisa com os dons que possui. ISSO É HOMEM-ARANHA, sacou? E um negro pobre de subúrbio é um Peter Parker tão bom quanto um branco pobre de subúrbio, saca? Tem que ser o garoto lidando com sua vida pessoa e sendo 'atrapalhado' pela identidade secreta.



Mas se muda a etnia e a etnia não é o que faz o personagem ser quem é... "Ain... mas se o Pantera Negra fosse branco, vocês iam dizer que é racismo". Sim, mas não pela mudança de etnia em si, mas pela mudança do cânone que constrói o personagem. Por exemplo, Peter (Parker) e Johnny (Storm) são jovens de Nova York, um talento científico, meio tímido e o outro, um fútil garotão playboy. Tanto faz se são brancos ou negros, Peter é o típico nerd loser dos filmes adolescentes e Johnny é uma "Paris Hilton de calças". Agora, T'challa, o rei de Wakanda, que leva o título nobre de Pantera Negra, esse TEM que ser negro. Não que nós, negros, não gostemos que mudem os poucos negros dos quadrinhos, mas porque estamos falando aqui de um governante de um pequeno país fict´[icio na África. Neste caso, ser negro é parte fundamental do personagem, assim como a Tempestade, que se não for uma jovem queniana que cresceu em dificuldade e toda a história restante dela, não faria sentido.



Veja os X-Men, por exemplo, os mutantes são o maior exemplo de inclusão, porque é parte fundamental de um mutante Marvel ter a carga de discriminação na sociedade. É uma série que vislumbra debates sociais (bem bagunçada hoje em dia). Tá certo, não sei porque só os filhos do átomo são discriminados num universo onde metade da população do mundo ganhou poderes estranhos até por radiação e não são odiados como os caras que já nasceram com seus poderes de mutação genética, mas enfim... Hugh Jackman não se parece em nada com o Wolverine dos quadrinhos. Alto, com pinta de galã... em nada lembra o baixinho peludo e brucutu selvagem das HQs. Mas o anti herói de passado confuso, humor seco e bom coração disfarçado de mau humor está ali. Não virou outro personagem, apenas uma nova versão dele. E acho que é isso que está acontecendo com o Tocha.



O finado Michael Clarke Duncan, que fez um excelente Rei do Crime no tosco filme Demolidor: O homem sem medo, de branco nas HQs, virou negro e continuou o frio e cruel mafioso do submundo de Nova York. É isso. Como o próprio Michael B. Jordan falou, o mundo é um pouco mais diversificado na mídia em 2015 do que era na década de 1960, quando o universo Marvel despontou nessa leva que está agora nos cinemas e Netflix (Homem-Aranha, X-Men, Quarteto Fantástico, Os Vingadores, Luke Cage, Demolidor, etc). Se Sue é irmã adotiva, seja lá qual for a solução que vão dar pra essa diferença racial, não me interessa, desde que seja algo plausível. Eu, por mim, ainda acho que seria mais legal que os irmãos Storm fossem, os dois, negros. Qual seria o problema? O Quarteto sempre teve esse clima família, então seria muito justo. Imagina, o Coisa com origem hispânica ou indígena... Os X-Men tiveram isso e alguns dos personagens mais queridos dos quadrinhos não são estadunidenses natos, brancos, de 1,90m de altura e olhos claros.



E existem outros exemplos recentes, como Jamie Fox ter se tornado Elektro (Homem-Aranha) e Idris Elba sendo Heimdal (Thor). Sem esquecer Nick Fury (Samuel L. Jackson). Tem também o vindouro Esquadrão Suicida, com um Pistoleiro negro (Will Smith). Mas, no geral, gostei muito da proposta e já aguardo possíveis confirmações para o antes citado Miles Morales no cinema, ou numa série e também, o filho do Will Smith como possível Super Choque (essas coisas eu só acredito depois que tem trailler). Isso é representatividade. Um branco não sente falta porque, numa festa á fantasia, por exemplo, ele pode ir fantasiado com mil opções. O negro não tem essa gama toda de personagens, então quando pinta uma opção, é menos uma 'ué, mas o herói não é preto' pra mostrar que não podemos usar a fantasia que bem entendermos, porque até aí seremos 'postos no nosso lugar' de exclusão e mera plateia.



sábado, 23 de maio de 2015

Toda forma de amor e carinho é bem vinda


Vamos falar um pouco sobre as desculpas hipócritas desesperadas acerca do que não se concorda por inércia e ignorância. Vamos? Vamos. E a imagem da vez é de Senhora Daniela Mercury beijando calorosamente sua consorte. Dali, seguiu-se um curto diálogo, pelo menos pelo print, não sei se a conversa se estendeu e que caminho poderia ter tomado. Vamos nos ater a esse trecho que é o que interessa no momento.

Pois bem, a sequência traz a cantora e sua companheira se beijando, uma mulher relatando, logo depois nos coments, a reação do filho de dois anos e retrucada por um odiador (é assim que vou chamar gente que só repete frases feitas do senso comum sem parecer realmente envolvida na conversa). Ao que ela responde explicando que ela não está equivocada nem que sua opinião foi feita de forma irracional e decorada (todo odiador acha que somos iguais a eles). Eu acho que o final dessa coversa deve ter palmas pra ‘mãe’ Isis, pois deu uma lição de amor sobre o ódio do odiador (rima involuntária). Vamos às considerações de trechos que sintetizam os pontos de vista dos conversadores.

“Toda forma de amor e carinho (sic) e bem vinda” – Isis Castro

Essa frase arrematou o pequeno relato da moça que contou que o filho de dois anos, se espantou com a imagem de duas mulheres se beijando (obviamente, pelo costume conservador de a sociedade “mandar” o gay se esconder pra parecer que não existe, porque alguém achou que não podia). Ela diz ao filho que a pessoa beija quem quiser ao que o filho lhe dera um beijão, pra mim, demonstrando que entendeu a frase ‘arremate’ da mãe, de que toda forma de carinho é bem vinda. Seria lindo se parasse por aí, mas, como em toda história, tem seu ato de perturbação, veio a tempestade.


“Aurrrr aaarrrrrghghghghg rooonnnccc bbblllrrrr” – Richard Costa

O quê? Jura que isso era um texto? O discurso dele tinha alguma coisa falada em nossa língua? Eu só entendi grunhidos estilo uma cruza de Chewbacca com o Taz. Explico. Primeiro, não é da conta dele o que as pessoas fazem entre si em suas intimidades. Segundo, se ele tem tanto incômodo assim, deveria disfarçar melhor o medo de se identificar com gays. Terceiro, ao balbuciar minimamente humano que ‘pimenta no c- dos outros é refresco’, ele demonstra não só um medo patológico de gays, como parece ver isso como uma espécie de desgraça. Só concluo, por hora, que ou ele está muito mais próximo disso do que assume (e tendo absorvido o preconceito da sociedade, tem medo de represálias) ou ele nem sabe do que está falando, já que termina falando duas vezes ‘Jean Wyllis Lixo’, se referindo ao ex-BBB, atual deputado.

Ou seja, coerência no assunto é pra bobos, pegue um mote e odeie gratuitamente e, pra mostrar que você conhece o assunto, cite um nome famoso relacionado ao assunto. Digo e repito: Chewbacca + Taz. Sim, dois personagens masculinos fazendo alusão a uma união homoafetiva pra esfregar na cara do homofóbico demente. E ainda fica afirmando que Wyllis nunca o representará... hmm... sabemos bem quem é que precisa ficar afirmando uma coisa, né? Gente insegura, isso mesmo. Mas a coisa melhora, a partir daqui.


“A mente de vocês (sic) e tão pervertida e maliciosa, que não sabe diferenciar isso” – Isis Castro

Mamis poderosa contra a homofobia falou coisas interessantes aqui. Só faço um adendo antecipado, que o termo ‘escolha’ não é apropriado, já que as pessoas não decidem se tornar gays e sim, se vão assumir isso ou se vão se esconder do preconceito da sociedade. Mas vamos lá. Ela explica que uma criança de 2 anos não vê maldade em um beijo, ela fica curiosa, mas sabe que é uma demonstração de carinho.

E termina dizendo que se esse for o futuro de seu filho, ela o amará assim mesmo, pois é seu filho acima de qualquer coisa e que o real medo dela será de seu menino vir a se tornar vítima de homofóbicos como o traste que foi lá despejar ódio numa conversa onde não foi chamado.



É o velho papo, sempre tem alguém pra duvidar que você pode se interessar em ajudar os mais necessitados, sem ser pobre, sempre tem quem ache hipocrisia você ser honesto e fiel a alguém, sempre tem gente pra duvidar de algo que elas é que não acreditam. Pode reparar, as pessoas que usam frases começadas com ‘gente, vamos deixar de hipocrisia...’ são as que não acreditam na bondade do ser humano por que elas não a têm. Não é que elas sejam espertonas e já descobriram o segredo da maldade humana, é que elas é que não prestam, então querem ser as primeiras a dizer que tudo é hipocrisia (banalizando o termo) pra parecerem aquelas que nunca serão enganadas.

Um colega costuma falar que ‘fobia’ é um termo ligado a doença e que ‘homofobia’, portanto, não seria uma doença, e sim uma maldade do ser humano. Eu entendo o ponto de vista dele, mas acho, ainda assim, que é sim caso de doença. Quando você tem medo de alguém ou alguma coisa, você suporta, você até encara. Mas quando você se incomoda num nível que te altere o estado de espírito, até fisiológico... aí, acho que é sim uma doença. No máximo, se não uma patologia, um retardo auto-imposto, com certeza. Rá! E depois, o que leva a pessoa a ir lá na publicação dos outros se manifestar assim? Não tem mais ninguém no clubinho de odiadores pra latir e rosnar? Tem que ir onde não foi chamado?


É muito mais o caso de você lavar os vidros por onde toma conta da vida dos outros do que ficar fofocando que a vizinha deva lavar melhor o lençol dela.

Ps: O título deste texto não se referiu necessariamente à pansexualidade. Pelo menos não àquela distorcida sempre atribuída ao cantor Serguei. Não tem essa de amar e dar carinho pra coqueiro. Isso nem é pansexualidade, é fetiche. Mas é assunto pra outra hora.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Desvendando: Brasileiro executado na Indonésia ganha estátua?

Governo brasileiro inaugura estátua em homenagem ao traficante executadona Indonésia! Será verdade? (foto: Reprodução/Facebook)

Dois brasileiros foram executados na Indonésia este ano por tráfico de drogas. Marcos Archer e Rodrigo Gularte. Não vou entrar no mérito de o presidente de lá ser complacente com terrorismo, mas tráfico ser punível com fuzilamento, nem sobre as frases atribuídas a ele que apenas os vira-latas gostariam de falar pra presidenta, mas não têm coragem, até porque não há motivos, já que eles distorcem tudo. Então, voltando ao mérito da questão, distorção e mentira é o que temos aqui.

Marcos Archer

Se você vir por aí que será erguido um busto no Rio de Janeiro em homenagem ao 'brasileiro' executado na Indonésia, primeiro, pergunte-se 'qual'? Não que interesse qual deles, é porque o boato começou com Archer e continuou reciclado quando Gularte teve sua hora derradeira. Mas não há homenagem alguma, é pura mentira pra ganhar likes e compartilhamentos pela net às custas de gente otária que sai repassando tudo que vê achando que está prestando o maior serviço de comunicação, mas tá só sendo gado de manobra.

Rodrigo Gularte

Então de quem é o busto da foto? O busto foi pego aleatoriamente num site sobre o assunto. É o retrato de Laudo NAtel, ex-governador de São Paulo e em nada se parece com nehum dos dois brasileiros mortos na Indonésia. É MENTIRA! Não repasse isso, não serve pra nada e ainda gera desinformação. É fofoca e das piores.


Fonte: E-farsas.

Desmistificando: Auxílio reclusão e redução de maioridade penal


O caso do ciclista assassinado esta semana na zona sul do Rio causou comoção. Justo. Ninguém quer sair de casa ou ver um ente querido sair de casa e terminar o dia tendo que resolver detalhes de velório, enterro, essas coisas tristes. Mas preciso falar, é nessas horas que acontecem os compartilhamentos dos revoltados, dos ‘vingancinhas’, dos ‘culpa do PT’ e essas coisas.

No mesmo dia, já vi esses virais de internet serem repassados da maneira clássica, ou seja, sem qualquer averiguação por parte de quem dá um click e se acham cheios da razão, porque estão seguindo a massa de manobra. Provavelmente, se jogariam da linha do trem se visse uma multidão nessa direção, mas isso não fazem, seria facilitar muito pra responsabilidade na internet... mas estou divagando.

O caso é que aparecem logo esses conservadores babando e rosnando por redução de maioridade penal e fim do auxílio reclusão. E é sobre esses que eu vou falar agora. Primeiro, o auxílio reclusão não é uma remuneração pro preso, é para a família. E não qualquer família, é pra família do preso que tenha contribuído para o INSS, ou seja, que tenha trabalhado regularmente. Esse dispositivo é da década de 1960 e não pode ultrapassar R$862,11, tendo o cálculo feito de acordo com o último salário do preso. E a família perde o benefício caso a pena tenha progressão para regime aberto ou tente fugir.


Então, meus amigos, auxílio-reclusão existe, mas não é essa orgia de dinheiro e tampouco sai do nosso bolso. Como eu já disse, é da previdência, houve contribuição e é o próprio preso que vai bancar, como uma pensão por afastamento do provedor, para a família não ficar desamparada, já que a lei é bem específica, prevendo que a família não deve pagar pelo crime, apenas o condenado. Ah, e os dependentes precisam ir periodicamente à Previdência Social apresentar atestado da condição do preso. Dito isso, vamos ao revanchismo idiota e irracional.

Aí, acontece que o suspeito que prenderam é um adolescente e vem a galera latir que a maioridade penal precisa ser reduzida... Bem, se essa fosse a solução, acredito que os presos maiores de idade teriam o maior cagaço de praticar crimes, não é? Não é o que acontece. Aliás, nem em países com pena de morte a criminalidade diminui por punição. O que deveria acontecer é estados e municípios se preocuparem com o ensino básico público e o código penal ser devidamente seguido. Agora, diga lá, no país onde o juiz bêbado é pego dirigindo e ainda ganha processo em cima da fiscal da lei seca que o autuou, você acha que qual parcela da população vai levar a pior?


Exatamente, justamente a que já não tinha nada. Porque quando eu vejo playboy fazendo m*erda e saindo de boas porque tem papai de caneta forte, mas qualquer moleque leva tiro de fuzil jogando bola na favela, sinto muito, mas não é idade, é condição social. Quem deseja ver sangue de adolescente na cadeia, geralmente, é contra programas de acessibilidade sociais do governo federal. Não vai levantar a bunda pra fazer nada pelos mais pobres, mas quando destes, saem aqueles mais afobados que apelam para a criminalidade, aí quer punir. Lindo, vamos punir e...? E a população carcerária? Vai diminuir? Os adolescentes que entrarem vão sair mais lindos e refinados depois de estarem com a nata do “profissionalismo criminal”?. É o mesmo amontoado que é contra o aborto, mas não vai dar uma cesta básica pra família pobre.

Enfim, vai começar mais uma rodada de boataria e alarde, do tipo que usa as seguintes frases:

- Repasse a todos antes que censurem (ninguém tá interessado mesmo)  
- Isso a Globo não mostra (porque é mentira e até a globo se toca pra distorcer, mas não inventar)
Isso tudo acompanhado de algum dado ‘verídico’ citando nomes de parlamentares, partidos, atitudes extremas, típicas do povo medieval que adorava ver um enforcamento.
E isso vai gerar os irresponsáveis que vão passar a falar seus bordões vira-latistas:
- ISSO É BRASIL!
- VERGONHA!
- ROUBALHEIRA
- CULPA DO PT


E essas bossas.


Fontes: 18razões

terça-feira, 19 de maio de 2015

Juíza e promotora tiram selfie com Fernandinho Beira-Mar...

... e eu sou o Mickey Mouse. Rá!

ISSO É CAÔ! (gíria carioca pra mentira deslavadamente cara de pau).

Como a história chegou a você: Fernandinho Beira-Mar fez selfie com promotora e juíza do processo em que ele é réu, no dia do julgamento.


Bem, vamos logo ao assunto: Não são promotora e juíza, pois o juiz do caso chama-se Fábio Uchôa. As moças da foto (que nem selfie é já que nenhum dos participantes está portando uma câmera – outra mentira sobre a foto - haha) são as advogadas do acusado, Cecília Gomes e Amanda Vanderlei (esta, irmã do criminoso). Repare que não estão posando pra fotos, estão interagindo com alguém e uma foto foi tirada. Essa é a diferença, mas eu falo mais no próximo parágrafo.

Isso é mais um boato maldoso e idiota, contestável e sem base no primeiro argumento. A imagem rapidamente viralizou e porquê? Porque as pessoas continuam praticando essa estupidez de olhar e sair repassando sem se perguntar se é verdade ou até que ponto é verdade. O que mais me irrita é que você não precisa ser jornalista formado pra lpensar assim. A quantidade de gente mentirosa por aí já deveria deixar as pessoas calejadas. Sabe, pensando bem, não me impressiona o fato de tantas pessoas darem uma de filósofos de facebook se lamuriando por traições, decepções e voltas que levaram... se mal olham uma foto na internet e começam a repassar sem nem saber se são mentira... gente assim acredita em qualquer coisa, qualquer ‘eu te amo’ mesmo.



Em tempo, quem tirou a foto foi Fernando Souza, da Agência O Dia e foi publicada pelo Portal Holanda, que chegou a publicar uma errata, mas aposto que essa você não está vendo ser repassada por aí, né? Porque não gera revolta irracional e não dá brecha pra você ficar gritando ‘ISSO É BRASIL’, não é mesmo? Enfim, sigamos esperando o próximo meme e as mesmas pessoas sem não repassando mentiras como se fossem porta-vozes da verdade política do país.


Estão te fazendo passar papel de trouxa e você tá caindo, se você repassa essas asneiras. E olha que essa é das mais fáceis de descobrir que é mentira, porque está nos jornais o tempo todo. É só dar um google. A menos que você seja da turma de lá, que gosta de repassar mentiras só porque concordam com você enquanto a verdade te desmente. Aí, esqueça o que eu disse, porque esse tipo não raciocina mesmo - e nem é público pra estar aqui também - que só quer motivos fantasiosos pra gritar bordões genéricos e com complexo de vira-latas do tipo 'ISSO É BRASIL' ou 'VERGONHA NACIONAL'. E olha que já passa bastante de 1º de abril, hein.



Fonte: Boatos.


Malcolm X - 90 anos

Malcolm Little, conhecido como Malcolm X, nasceu em 19 de maio e hoje completaria 90 anos na data de hoje e é um dos mais representativos ícones da negritude, na luta por direitos igualitários e reparações sociais para a comunidade negra, primeiro dos EUAses, e de uma forma geral para todo negro no mundo. Falar nele poderia ser um clichê, mas muita gente apenas conhece o mito, o estereótipo de negro revoltado que odeia branco, sem nem saber as motivações e experiências que o fizeram o ativista que foi em prol dos direitos civis para os negros, coisa que parece muito normal pra muito racista encubado, mas que era a síntese de desumanização do negro. Como só poder sentar no fundo de um ônibus, empregos, funções e uma série de regras feitas só para manter o negro longe de uma vida básica de educação, escola e condição financeira mínima pra sobreviver. Mas vamos lá, vamos ver um pouco melhor a vida de Malcolm X.


Malcolm, com apenas seis anos de idade, perdeu o pai, Earl. Earl Little era membro da Associação Universal para o Progresso do Negro e foi brutalmente espancado e arremessado na linha do trem. Tendo o corpo praticamente partido ao meio, morreu pouco tempo depois. A mãe de Malcolm, Louise, era filha de um estupro de homem branco sobre mulher negra. Por ter a pele clara, Louise tinha certa “facilidade” de arrumar emprego na área de trabalhos domésticos, o que acabava por perder quando descobriam sua origem afro. Nem os benefícios sociais que recebia pela viuvez e pela assistência social davam conta do sustento de Louise (com 34 anos àquela altura) e seus oito filhos. Após muito relutar, ela aceitou os conselhos do serviço social e pôs seus filhos para a adoção, com exceção dos dois mais velhos. Louise – que já vinha tendo sua sanidade mental questionada - mais tarde, foi internada numa instituição para doentes mentais, pois ela sofrera um colapso nervoso devido ás pressões em sua vida. Assim, a famílias de Malcolm já estava separada e desestruturada e o garoto mal passava dos 10 anos de idade. Anos antes, também teve a casa de sua família incendiada.

Na escola, Malcolm era um bom aluno até ser desacreditado por um professor, quando lhe disse que queria ser advogado. O professor disse que era absurda a ideia de um advogado negro e que ele chegaria, no máximo, a carpinteiro. A partir daí, Malcolm se tornou um boêmio, foi para Boston. De lá, conheceu o Harlem, passou de freqüentador de regiões ‘da pesada’ a traficante, praticou assaltos, esticava e pintava os cabelos e trocou sua namorada negra por uma jovem branca. A namorada negra se encaminhou para a prostituição, Malcolm se arrependeu, mas continuou amante da branca Sophia, mesmo ela tendo casado com outro. Passou por louco para se livrar do serviço militar e num assalto com um grupo que envolvia Sophia, sua irmã e um amigo, foram presos e Malcolm pegou a maior pena, 11 anos. Na prisão, recebia cartas de seus irmãos, sobretudo de Reginald, que se convertera ao islamismo e lia tudo que encontrava na biblioteca da prisão. Recebeu o X da Nação Islã, que alegava ser o verdadeiro nome de sua família através de uma revelação de deus. Assim, Malcolm Little deixou de ser conhecido como ‘satã’, por sua postura anti-religiosa na cadeia, para Malcolm X.


Teve um crescimento rápido dentro da Nação Islã e se tornou ministro no principal templo estadunidense, o de Nova York. Fundou um jornal islâmico e com a ascensão, passou a ser tão requisitado em rádios e revistas que teve mais projeção que Martin Luther King Jr e o próprio presidente estadunidense, John F. Kennedy. Isso gerou ciumeira dentro da Nação Islã e traidores armaram uma derrubada para Malcolm, incitando calúnias que terminaram por bani-lo da Nação Islã fazendo-o parecer traidor. Depois de uma viagem à Meca, para conhecer melhor os Islã, ele percebeu o quanto sua religião tinha sido deturpada nos EUAses. Quando voltou, fundou a Organização da Unidade Afro-Americana, uma organização social não religiosa e com olhar para melhorias na vida de minorias discriminadas na sociedade capitalista de seu país. Isso representou algumas mudanças em Malcolm. Passou a defender a violência armada, não como forma de barbárie ou revanchismo, mas como condição de auto-defesa, assim como defendia o socialismo, pois percebia que a condição imposta ao negro passava pelo capitalismo. Essa postura influenciou outros movimentos negros e se aproximava muito do partido dos Panteras Negras.

Fora assassinado a 21 de fevereiro de 1965 (39 anos), na sede de sua própria Organização, com 16 tiros de calibres 38 e 45, por membros da Nação Islã. Deixou 4 filhas e a esposa grávida Betty Sanders. Mas ficou para a história como uma verdadeira lenda para quem luta por direitos igualitários, respeito e tudo aquilo que as classes sociais mais abastadas e de pele clara recebem de graça, enquanto parece para nós sempre vem por algum tipo de favor, como bons  empregos, participação mais ativa na sociedade, etc.


Curiosidade: Nunca me ofendo quando me chamam de Malcolm X, mesmo sabendo que quem faz isso não tem noção de quem foi o homem, apenas num estereótipo de ‘negro revoltado que vê racismo em tudo’. Outra curiosidade, que marca a postura modificada no retorno de Meca, foi quando perguntaram a Malcolm se ainda achava que o branco representava o demônio, ao que ele repondeu: “Os brancos são seres humanos na medida em que isto for confirmado em suas atitudes em relação aos negros”.    

Um homem que não se posiciona por nada, vai vacilar por qualquer coisa.

Tem tempo pra uma piadinha infamemente genial?

Racismo é mau.
Racismo é um mal.
Portanto, nem mau com U, nem mal com L
Contra o racismo: Malcolm X.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

14 de maio de 1888: Dia do Te vira que tu num é quadrado

Há 127 anos o Brasil vivia uma revolução social.



O quê? Abolição Não, como diria Joaquim Nabuco (abolicionista), não basta acabar com a escravidão é preciso acabar com a obra da escravidão. Tô falando do dia seguinte pra cá. Abriam-se as senzalas, abriam-se grilhões (afora os muitos casos em que isso foi legitimamente ignorado pelos cidadãos de bem - então ex - senhores de escravos) e o negro era liberto. pense bem no absurdo, todo cidadão nasce livre, mas o negro precisou de um 'favorzinho'. Falta o quê pra entender que a sociedade não o aceitava como cidadão?

Até porque se você reparar bem nas leis abolicionistas, todas parecem muito lindas em seus títulos, mas foram medidas de protelação da abolição. Trataram com uma obrigação que na verdade, ninguém queria. Enquanto houve uma guerra nos EUAses entre o norte abolicionista e o sul cabeça oca escravista, aqui, tínhamos:

7/11/1831 - Lei Feijó - Proibia o tráfico negreiro, mas como o sistema econômico e social era todo baseado no racismo e na escravidão, a letra da lei ficou na geladeira. Lembre-se sempre na expressão "pra inglês ver", não é à toa, as leis só eram obedecidas diante de fiscalização. Do contrário, fazia-se tudo como antes.
4/9/1850 - Lei Eusébio de Queiroz - Mais medidas de repressão ao tráfico de gente de África pra cá e a mesma prática pra - quem, quem, quem ver? - inglês ver.
28/9/1871 - Lei do ventre livre - Um escravo menor de idade não tinha autonomia pra se sustentar e considerando que seus pais, quando conhecidos, eram escravos, adivinha o que acontecia? Ele ficava sendo explorado tutelado pelo senhor de sua mãe. Ah, e se o senhor desse um destino à criança após 8 anos, recebia uma indenização do governo, ou se valia dos serviços dele pra pagar sua "estada" até os 21 anos. Que bom, né?
28/9/1885 - Lei do Sexagenário - Essa é malandra igual à do ventre livre, pois se uma criança precisava ficar trabalhando como sempre pra estar perto da mãe e ter onde morar e o que comer, um escravo com menos de 15 anos já era considerado adulto e com 30 já era bem velhão. Imagina pros poucos que chegavam aos 60? Já eram mais despesa para os senhores do que lucro de trabalho, logo, eles tinham a obrigação de cumprir mais 3 anos de serviço, aí, estavam livres... pra quê? Soltar ex-escravos que mal podiam trabalhar numa sociedade que não pagava salário a negros, muito menos aposentadoria... Como diria Tarja Preta em Falsa Abolição "lei do sexagenário, aí, foi tiração".

Então, veio a Lei áurea... Digam lá, meninas.




Sabemos que quando há um plano de inclusão, há toda uma parte conceitual e estrutural para que a inclusão seja feita. Por exemplo, você não entra num curso sem ter comprado material, não canta uma música sem tê-la ouvido antes, logo, se você 'liberta" toda uma população - que já era maioria dos habitantes deste país quando a família real portuguesa fugiu de Napoleão pra cá - você faz um planejamento de o que vai fazer com ela. Manda de volta pra África? Cria aparatos legais para que tenha base para estudo e trabalho?



Bem, o - até então - governo imperial fez a mais preguiçosa de todas as alternativas; Abriu as senzalas pro negro sair por uma porta, enquanto na outra entrada das fazendas chegavam italianos, alemães, polonoses, etc. Todos com incentivos legais, financeiros, pedaços de terra para plantar e garantir que qualquer um, menos essa negada prosperaria em terras onde tanto sangrou, suou e que ergueu no braço por séculos no lugar de quem se acha superior até hoje (assista ao Globo Rural um dia só e constate quantos fazendeiros negros você vê).

Se 13 de maio foi liberdade pra inglês ver, 14 de maio foi miséria pra negro viver, pois os cortiços se encheram, moradias irregulares e amontoadas cresceram, as famosas favelas passaram a colorir o cenário urbano, sobretudo quando a população abandonada começou a migrar para áreas de maiores "oportunidades" como Rio de Janeiro, onde, no fim das contas, se desenvolveria a cultura afro na - por isso chamada - Pequena África, Zona Portuária-Praça XI cariocas. Mas voltando, muita gente fala pra esquecer disso, que é passado com a mesma boca que fala que cotas são favorecimento.



Pois não são. É pelos tantos anos que o negro trabalhou recebendo apenas restos de comida, porrada e estupro que ações afirmativas são necessárias, afinal, que negro ia chegar lá e falar "ei, psiu, cadê meu fundo de garantia e férias proporcionais desses séculos que eu trabalhei de graça pra você, Brasil?". Então, quando falam em DÍVIDA HISTÓRICA é isso. Favorecimento foi erguer uma sociedade nas costas do negro e achar que isso é normal (favorecimento e estupidez). Se o negro não tinha saneamento básico onde achou moradia, a expectativa de vida não chegava aos 5 anos pras crianças e havia proibição de exercer vários cargos na sociedade estipulado por lei... Então, cotas são uma medida de equiparação sim.

Vivemos hoje o que deveria ter sido feito pela 'maravilhosa' Isabel naquela época. E a exemplo da continuidade de inclusão do negro mais de um século depois, vivemos também a reação da sociedade metida a conservadora tentando distorcer qualquer coisa que permita o negro chegar com condições. É tipo você disputando uma corrida com aquele seu primo menor. Enquanto você sabe que pode ganhar porque ele é pequeno, tá de boas, mas quando ele começa a mostrar que pode te superar igualando a disputa com adaptação de distância ou percurso, aí, fica chato, você acusa de favorecimento, né? Assim é o reaça que faz de tudo pra impedir o negro de ter iguais condições.



Bem, já escrevi bastante sobre cotas e ações afirmativas em outras oportunidades e, neste momento, a ideia é apenas mostrar a aplicabilidade e a razão de ações afirmativas serem um brilho em nossas vidas hoje, porque não houve isso antes. Era comum ver o negro brilhar no carnaval, apontado como selvagem (é daí que vêm termos como 'bloco de sujo') e rei ao mesmo tempo, tendo que viver lambendo botas ao longo do resto do ano. Hoje, tem gente que acha que cotas são uma mudança na programação da globo pra 'ser contra'. Pra ser contra cotas tem que ser contra os beneficiados, não há dissociação. Quem está realmente vivendo de passado aqui? Nós que queremos evoluir essa sociedade desigual ou quem acha que tudo se resolve batendo os calcanhares e pensando firme como em Lua de Cristal? Ou melhor, achar que a solução é apenas mudar conceitos e não ações, será que está pensando mole ou só quer que nada mude?

Na certa, faria igual Bebel de Bragança e sua tchurminha, tirando do açoite da senzala (pela pressão abolicionista interna e externa e comercial/industrial inglesa), mas direto pra favela, pois não achou-se responsável por alguns milhões de afro-brasileiros com cicatrizes nas costas, nas caras e nos psicológicos. Não à toa, um ano depois o império dançava e a família tchubiruba era exilada. Leão comendo leão naquela briga de foice. Só o negro sobrevivendo com sua própria resistência não mudou.

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