Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Fernanda Gentil diz respeitar homofobia e racismo, desde que não batam



Fernanda Gentil causou alvoroço alguns anos atrás quando se revelou homossexual e chegou a enfrentar a homofobia na internet de forma elegante, sutil, porém firme. Quem não lembra do: “Sapatão!”/“Oi, fala!” e de quando ela explicou que a criação de um filho não depende da sexualidade de quem o cria e sim do caráter que vai ser passado. Pô, eu achava isso de uma lindeza tamanha! Tava no mesmo nível de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank enfrentando racismo por ofensas sofridas pela filha. Só que o tempo passa e como diz Harvey Dent – umas mil vezes, em Batman: O Cavaleiro das Trevas – “Ou você morre cedo como herói ou vive o bastante pra se tornar um vilão”. Era algo assim, não lembro, mas estou divagando...

Digo, Tiago Leifert, por exemplo, parecia ser uma cara nova e legal no esporte da Globo, do tipo que falava não esquentar a cabeça com nada porque no ano seguinte, começava tudo de novo e não tinha porque brigar por time de futebol, por exemplo. Aí, ele começou a criticar atletas que levavam para os campos, quadras e pistas suas manifestações sociais. Pegou mal, já que um homem branco, rico e famoso não tem o direito de onde e quando negros devem fazer seus protestos pelo que sofrem na vida. Até porque, se esporte e política não se misturam, porque se canta o hino nacional antes de competições? Então, Tiaguito ainda aprontou mais. Criticou ferrenhamente participantes do BBB que levaram para a casa vigiada suas questões de militância até que passou a levar seu discurso aberto e pessoal de que ‘representatividade não leva a nada’ (te falei que ele só criticou os negros, né?). Já pensou se eu, homem, começasse a dizer às mulheres que exigir respeito e igualdade é perda de tempo? Que tipo de babaca tendencioso eu seria? Mas, graça Olodum, eu não! Já outros...

Então, Tiago não só foi grosseiro com uma jovem militante como usou argumentos fracos e pouco educados de que ela deveria falar dela e não de sua militância. Ela explicou bem que sua militância era por algo que fazia parte dela, que é ser negra. Mas o sinhozinho não gosta do descendente do povo escravizado no passado reclamando, né? Vai atrapalhar seu jogo de vídeo game. A cereja do bolo é que em uma edição seguinte, Leifert – lembra que ele era o descolado e cuca fresca há menos de dez anos? – elogiou uma vencedora do BBB com o discurso de que ela tinha coragem e coisas do tipo... A saber, era uma participante que passou a edição falando livremente que duvidava que um morador de favela não usasse drogas, que a religião afro era algo pra se temer ou que um playboy criminoso não o parecia por ser branco. Tiago defendeu a pessoa que falou isso na noite da premiação. Entendeu o padrão? Negros, calem-se e racistas, parabéns! Provavelmente as congratulações foram por ganharem dos negros.

Aí, aparece Fernanda Gentil e, recentemente, sem revelar em quem votou na última eleição presidencial, que ninguém vai impedi-la de usar essa ou aquela camisa (numa clara referência à camisa da CBF). Disse também que seu partido é o Brasil. Mas esse nem é o pior. Ela apoiar Luciano Huck (bolsominion assumido) em dizer que não votou no PT e nunca votaria? Tranquilo, o PT governou por um bom tempo e trouxe coisas boas e ruins, como toda administração, mas não é o único partido. E gente rica geralmente não vota em quem ajuda o pobre. Eles querem ajudar lá de suas salas confortáveis, prestando algum assistencialismo em troca de audiência, mas não querem um desenvolvimento social real. No apagar das câmeras, é só voltar à sua mansão e sua boa vida. Nada disso me incomoda tanto hoje... HOJE! Mas realmente me gerou inquietação ela, gay assumida, dizer que respeita quem acha beijo gay um crime e quem é racista, desde que o preconceituoso não agrida os alvos do seu ódio.

Existe um mundo de coisa errada nessa fala que, pra mim, é o mesmo que dizer ‘estupra, mas não mata’. Vou tentar enumerar as implicações de uma fala tão desastrada e condescendente com crimes de ódio:
1)      O primeiro e mais básico é que racismo e homofobia são crimes, portanto, você dizer que respeita, está, basicamente respeitando criminosos. É o mesmo que dizer que respeita sequestradores, traficantes, estelionatários, feminicidas e grande elenco.

2)      Ao dizer que entende essa galera, você embasa seus discursos que, no mínimo, podem começar com ‘a Fernanda Gentil concorda, então tá certo’, assim como usam negros comprados por racistas com ‘ele é negro e fala isso, então você que te errado’.

3)      Fernanda, pra ser realmente Gentil, precisa – URGENTEMENTE – entender que discurso de ódio também é crime e também afeta as pessoas. Só de ouvir ou ler alguma ofensa, ameaça, etc, o psicológico das pessoas fica afetado. Palavras também transmitem crimes. Veja que ameaçar alguém pode te levar pra cadeia pelo perigo que oferece à vítima.

4)      Já que falamos em palavras e vítimas, é muito fácil para ela defender o discurso de criminosos porque é branca, rica e famosa. Dificilmente ela sente o ódio violento físico. Ela não faz parte do grupo mais vulnerável, aquele que não vai adiantar pedir pra não apanhar. Tem gente morrendo aos montes na rua só por ser negra, só por ser gay.

Enfim, é isso. Não me interessa se ela votou no bolsomala ou se ela odeia o PT só porque sim. Mas validar discurso de ódio e tentar se passar por moralmente consciente ao pedir que ‘não vai bater’ é um desserviço à sociedade. Se era pra chamar atenção, valia muito mais o fazer em defesa e não ao respeitar que não respeita um grupo do qual ela mesma faz parte.

Às vezes, ao tentar ser isento demais, o ser humano comprova que defende o lado opressor. Mas tem vergonha de falar e receber críticas mais pesadas. Era melhor que ficasse quieta seguindo seu próprio conselho "é só não bater". Ela chegou a fazer uma retratação pelo Instagram. Não vou julgar, esse texto é uma reação à publicação que gerou a polêmica, mas o velho papo de que a edição desfavoreceu é aquilo, né? Sempre é possível, nem sempre provável. 



sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Young Sheldon e a contradição com The Big Bang Theory


The Big Bang Theory (a partir daqui, TBBT) ainda estava no ar com seus roteiros preguiçosos, personagens desleixados e atuações no piloto automático quando estreou Young Sheldon (a partir daqui, YS). YS tem a premissa de ser o 'episódio 1' da vida do personagem que mais se destacou em TBBT. Um spin-off (série derivada de outra), um 'Sheldon begins', se preferir... enfim...

Ela, pelo que Sheldon descreve ao longo de TBBT, seria quase um 'Todo Mundo Odeia o Sheldon', pelo modo sarcástico com que lembra de passagens de sua infância, mas não é bem o que parece quando assistimos à produção. Veja bem, vou separar aqui algumas falas e situações narradas por Sheldon pra ver se bate, ok? Ah, é necessário que você tenha algum conhecimento prévio das duas séries pra entender melhor o que vou falar. Se não conheces, pode ir lá que eu espero.

O pai

Vamos começar pela maior mudança entre uma série e outra. Não ligo que o mesmo ator que interpreta George Cooper tenha participado de TBBT como um antigo bully de Leonard porque atores interpretam, logo, estamos vendo a cara do cara, mas poderia ser qualquer um, é apenas uma personagem, uma personificação, não a realidade, ok? Já estava doido pra falar isso desde que surgiram as teorias - piadas, na minha opinião - de que o pai do Sheldon perseguia seu melhor amigo. Sheldon reconheceria o próprio pai e não teria a mesma idade que ele, mas estou divagando...

A questão é que Sheldon já falou que seu pai era um bêbado, fã de esportes, preguiçoso, sem educação e grosseiro e que vivia em pé de guerra com a esposa (mãe do protagonista). Discurso reforçado pela própria Mamãe Cooper em várias ocasiões onde dizia que seu marido não era lá grandes coisas na vida e na família. Mas o que vemos em YS é que George Cooper é um pai amoroso e atencioso. Tem lá sua predileção pelo primogênito, por também ser fã de esporte, mas tenta lidar sempre da melhor maneira com seu filho gênio precoce e até procura meios de entende-lo. Bem diferente do brucutu que o forçava a assistir football caçoando de sua natureza mais intelectual ou mesmo debochando de seu nome, sugerindo que esta foi uma escolha da mãe.

A mãe

A mãe é a primeira que notamos a diferença. Ou o furo de roteiro também a afetou, como uma eleição presidencial vencida por fake news, ou, no mínimo, o tempo a transformou em uma versão amarga dela mesma. Até que não seria uma explicação ruim, faz até sentido, na verdade, hein. Mas, convenhamos, se os roteiristas não se preocupam em lembrar que Penny no começo era de Omaha e depois de Nebraska ou que Sheldon tinha alergia a gatos e logo depois coleciona bichanos pra suprir a falta da namorada... bem... não foi o caso, certamente.

A Dona Cooper, interpretada, em YS, pela filha da atriz que a interpreta em TBBT (laços de família), é uma fanática religiosa, de discurso bem direto, meio grosseira de tão sincerona, mas ainda assim, uma mãe cuidadosa. Ela meio que serve ao estereótipo de quem nasce e cresce em regiões interioranas, conservadoras de cultura e religião. Mas em YS, ela é bem mais delicada, fiel à sua igreja, mas longe da beata que usa religião pra destilar preconceitos. O que aconteceu com você, Mary?

A Vovó

Aqui existe outra contradição, mas ao contrário. Ao passo que as pessoas cruéis descritas em TBBT, ganham versões 'reais' mais amenas, a avó de Sheldon passa pelo efeito inverso. A avó, sempre descrita como aquela avó de comercial de margarina, em TBBT, na série derivada, ela tenta ensinar Sheldon a jogar, dá conselhos e é uma versão um tanto quanto mais 'malandra' da própria mãe do protagonista. Nada daquela situação de mimar seu 'torta de lua'.

George Jr e Missy

Os irmãos também não correspondem. Sim, eles zombam de Sheldon, mas nem são tão cruéis e nem burros como uma porta, como a mãe descreveu em um episódio de TBBT. O irmão mais velho não o persegue com brincadeiras cruéis, servindo até como conselheiro, vez por outra e a irmã gêmea, na verdade, já foi até manipulada em um 'experimento' onde o pequeno cientista quer testar uma teoria usando-a como cobaia.

Conclusão

Acho que Sheldon é um babaca em quaisquer versões que forem apresentadas. Se lembrarmos daquela temporada de TBBT emque ele se preparava pra casar com Amy, ele só aceitou a imposição da mãe de convidar seu irmão por esta não poder ir, pra alguém representar a família. Ele narrou algumas crueldades do irmão que Leonard descobre não ser verdade. Ficando claro que Sheldon é que abandonou a família quando saiu de casa para estudar e trabalhar e nunca mais voltou, deixando a mãe e a irmã para que o irmão mais velho cuidasse após a morte precoce do pai. Até na escola, em YS, o menino é um mala que trata a todos com a mesma petulância antissocial da série-mãe. E mesmo assim, não aparece sendo agredido ou perseguido. E se fosse, até que justificaria algum adolescente faze-lo, não por ser certo, mas por ser um comportamento típico de adolescente em retaliação.

Se repararmos na construção do personagem - e que, no sentido da arrogância, foi basicamente o mesmo, sem evoluções, do começo ao fim - podemos concluir que Sheldon não gosta da própria família e que seus amigos só o aturam por forçação de barra do roteiro. Leonard aceitar, faz sentido, pois é um bocó que aprendeu a seguir ordens de quem não tem muito amor por ele - vide seu relacionamento com sua própria mã e depois com Penny. Já foi dito que Howard e Raj só estavam ali por serem amigos de Leonard e as namoradas vieram a reboque.

Mas nada justificaria o tanto de piadas e zombarias que os amigos fazem se não o odiassem de verdade. Na verdade, é exatamente isso que me passa, uma relação de amizade tóxica em que uma parte não respeita a outra, mas todos são malas demais para se relacionarem com mais alguém, porque ninguém teria saco pra manter uma relação tão próxima. Aliás, TBBT é a mesma coisa que How I Met Your Mother e sua antecessora, Friends. Tudo um grupo de gente que se você conhecesse na vida real, manteria distância. Afinal, quem gosta de panelinhas além das pessoinhas que as formam?

Mas, voltando, ou Sheldon é cruel demais ao falar da família em TBBT ou ele amenizou seus traumas de infãncia em YS, pra não traumatizar que ouve suas histórias (sim, se você não assistiu ainda, ele narra em off, como Chris Rock em Everybody Hates Chris). Claro que as abordagens são diferentes para públicos diferentes. TBBT é mais pop, mais clichê - e mais sem graça também. Sério, tira as risadas e você vai ver que é só um grupo falando difícil com os mesmos trejeitos e com o mesmo timming. YS é mais família, tem uma montagem mais fluída, orgânica e te deixa perceber, mas escolher o que achar engraçado. Não é tão pastelão, mas tem lá seus próprios clichês, como a liçãozinha no final dos episódios e momentos fofura ao som de uma trilha sempre feliz.

No geral, Young Sheldon cria uma grande sensação de 'ele mentiu pra nós'. Não soa como a mesma história. Parece aquela pessoa que cada vez conta a história de uma forma e você não sabe bem qual versão é verdade, se é que tem uma versão verdadeira. 


sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Maquiador recebe mensagens racistas por trabalhar com modelos negras


O maquiador Leonardo Gannancyr participou de um concurso na internet utilizando uma modelo negra e recebeu mensagens racistas de um outro maquiador, que tentou desqualificar seu trabalho alegando que maquiagem em pele negra não fica bem. A conversa foi registrada e a modelo, Luciana Villaça, publicou trechos.

Leonardo afirma que tem preferência em trabalhar com modelos negras e, para este concurso, proposto por uma maquiadora no Instagram, ele se dispôs a manter sua prioridade. O prêmio seria um kit de maquiagem profissional.

Mesmo diante da rejeição a negros por parte de outros maquiadores, Leonardo manteve sua personalidade e seus princípios inclusivos para a pele negra. Ele não ganhou o concurso, mas ficou satisfeito com o apoio que tem recebido.

O maquiador acredita que o colega de profissão que o agrediu com palavras racistas tenha visto seu contato em algum grupo de maquiadores onde ele divulgava sua participação no tal concurso. Aliás, o caso foi registrado na delegacia de Alcântara, São Gonçalo, onde uma advogada o orientou que trata-se de um crime de racismo e não injúria racial. a saber: A maioria dos crimes de racismo é convertido em injúria, porque a pena é menor e há direito à fiança, em caso de prisão.

Assim como disse a modelo, isso é digno de choque, mas não de surpresa. A gente tenta ficar bem e acreditar que isso não é comum de acontecer, mas é frequente esse tipo de porrada. E notamos rapidamente como são as duas abordagens dos racistas. De começo, eles chegam com cinismo tentando parecer que estão ajudando e diante da rejeição de seu 'aconselhamento', a máscara cai de vez e começam as ofensas diretas, como dizer que negros são sujos, por exemplo.



É impressionante como o negro incomodou tanto esse babaca a ponto de ele chamar alguém no privado do zap pra dizer que negro não pode estar onde ele acha que é dono. Não quer negros por perto, não quer negros com chance de vitória e, segundo Leonardo, ainda fez campanha difamatória para que a modelo negra perdesse o concurso. Lixo humano. Merecia ter o nome divulgado, assim como qualquer criminoso dos noticiários, pra todos saberem com quem estarão lidando ao se aproximar desse tipo. Infelizmente, em casos de racismo, só quem fica exposto com cara e nome é a vítima.


Fonte:

https://extra.globo.com/noticias/brasil/maquiador-vitima-de-racismo-por-usar-modelo-negra-em-concurso-24009605.html

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Phellipe Haagensen, assédio sexual e masculinidade tóxica


Nem vou enrolar pra dar o recado deste texto: Phellipe Haagensen, recém-expulso do reality A Fazenda (da emissora do bispo/rei/cavalo), envergonha a todos nós, homens. Sobretudo, os negros de regiões periféricas. Mas vou ficar atento, aqui, ao plano geral 'homem/mulher': Ele deu muita sorte que a sociedade é machista e passa o pano legal para as atitudes que teve durante sua - graças - curta participação na telinha desta edição.

Ele se focou em Hariany Almeida, ex-BBB, para assediar com tudo que aquele babaca da balada faz em todo carnaval, festinha de rua ou boate da moda: Olhou para ela e sussurrou como quem se masturba mentalmente, distorceu a realidade em sua mente tacanha pra parecer que ela é que estava "pedindo" ou provocando seus sentidos e, culminou com um selinho roubado durante uma discussão que nem tinha qualquer apelo afetivo/sexual. Ficou na cara que se não roubasse o beijo ali, poderia ter se esfregado ou até agarrado a moça a qualquer outro momento.

Ele já tinha falado de outras participantes, insinuando que os caras deveriam ter cuidado com tal participante por ter ficado com não sei quantos antes de entrar ali, fez comparações grotescas entre mulheres e galinhas e qualquer outro comportamento nocivo à sociedade. Seu irmão, o também ator, Jonathan Haagensen, inclusive fez postagens no twitter e conversou com a imprensa, no Rock in Rio, sobre o ocorrido. Nessas oportunidades, o eterno Cabeleira, de Cidade de Deus, criticou o eterno Bené (personagem mais legal que seu intérprete).

Jonathan disse que as atitudes de Phillipe são típicas de um bolsominion, aquele machistão legitimado pelo discurso do atual presidente do Brasil, que justifica qualquer atitude autoritária do homem sobre a mulher, do rico sobre o pobre, enfim, um amante/viúva sodomita da ditadura que quer compensar sua mediocridade humilhando e oprimindo quem já é historicamente oprimido. É aquela criancinha babaca que faz tudo que quer porque o pai deixa e os coleguinhas ganham um alvo pra odiarem até a fase adulta.

E, a exemplo do babaca do final do parágrafo anterior, o babaca da vida real continua sua vida tal qual o conceito do pombo enxadrista. Aquele que diz que não importa quão talentoso e esforçado você seja pra jogar xadrez contra um pombo. A ave vai cagar tudo, derrubar tudo e sairá voando de boas sem noção da merda que fez. E você lá, estressado que a performance não foi apreciada. Deixa eu falar o que eu entendo disso em relação a assédio e masculinidade tóxica.

É assédio porque ele agiu como se fosse dono de um corpo que não é o dele mesmo. Atacou a moça. Não importa se foi com um simples selinho ou se fosse com um facão coagindo-a a se curvar às suas neuroses. É violência contra a mulher. Atacou, configurou o assédio, tal qual seria, nas próprias palavras da Record, se fosse o caso de uma encoxada, mão boba, etc... A mulher não é um brinquedo que o cara se aproveita de estar perto pra usar sem permissão.

Isso aí, é o típico bombado da balada, puxando cabelo, braço e tentando beijar à força. Já vi muita amiga até ceder na hora só pra não acabar agredida pelo bêbado com sentimento de rejeição. Já vi também algumas que foram agredidas depois de darem negativas a esses monstros. É covarde e demonstra a sensação de poder que o machismo dá ao homem. Ele acha que pode mexer com a mulher, tocar seu corpo e obter seu prazer imediato sem culpa ou sem medo de punições. "Vai lá, denuncia lá" e "que polícia?" foram comentário de Phillipe diante das ameaças de denúncia que Hariany fez, ainda em choque pelo gesto abusivo que acabara de sofrer.

Depois, correu pra pedir que fosse o mais votado pra sair do programa sem ter que desistir. Como se já não previsse a bola de neve que acabara de iniciar, tentando infantilmente parecer que tinha feito tudo de propósito. Babaca, babaca, babaca! E ainda tem mais, o cara meses antes, ainda esse ano, já foi denunciado pela ex por agressão na Delegacia de Apoio à Mulher. O cara ameaçou a ex-mulher na frente do filho mais velho pra não ter que pagar pensão. Já sentiu o drama, né? O padrão estabelecido.

Um cara que fica reduzindo a mulher a um objeto sexual pra sua própria masturbação assistida já é bem pouca coisa na vida. Agora, tem o padrão que ele segue. Ele diminui a mulher pra ela não ter condições psicológicas de perceber que ele é que não vale nada. A sensação de que a pessoa consegue coisa melhor fácil deixa o cara em desespero e ele faz aquele jogo mental doentio: Primeiro, faz ela gostar dele e na chantagem emocional, começa a manipular sua mente. Depois de ser claramente abusivo, faz o papel do coitado, vítima das circunstâncias e que vai melhorar.

Mas não melhora. E estamos vendo o tipo por aí, toda hora um feminicídio, um desaparecimento, uma separação que não é aceita, uma DR que termina mal, toda hora uma família diferente falando que o cara sempre parece perigoso ou que a mina tinha medo do companheiro e essas coisas... Não estou dizendo que todo babaca assediador é um assassino em potencial, mas a sociedade legitima a muitos pensarem que isso está certo. Inclusive, o jovem Haagensen, chegou a dizer, ao sair da produção, que nem todas as mulheres merecem flores, deixando claro que em algum nível, acha justificável que se destrate ou degrade uma mulher, porque, pra ele, tem as que merecem respeito e as que não.

Quem não merece respeito é esse rato doente.


Fontes:








Martin Scorcese e os filmes de Super Heróis

Recentemente, o premiado diretor Martin Scorcese declarou reconhecer o talento de quem faz filmes de super heróis, mas comparou as produções a um parque temático, resumindo, algo muito rentável e divertido, mas sem profundidade psicológica, coisa que, segundo ele, caracteriza o verdadeiro cinema.

A fala do diretor gerou algumas respostas de artistas envolvidos com o universo cinematográfico Marvel e tiveram um tom bem parecido, apesar da abordagem ser diferente. Robert Downey Jr (Homem de Ferro), por exemplo achou válido o direito a ter uma opinião, mas que talvez, isso pode ter sido por ter se deparado com uma concorrência comercial absurda. Karen Gillan (Nebulosa) já defendeu o diretor James Gunn (Guardiões da Galáxia), alegando que tem sim, coração nas produções em todos os aspectos. Samuel L. Jackson (Nick Fury) foi mais enfático no fato de que nem todos também se agradam do trabalho do próprio Scorcese, então, tudo bem opinar contra.

Todas opiniões com conceitos diferentes, mas partindo do mesmo princípio de que está ok o diretor opinar, mas que ele não é o dono da razão. E eu concordo. Acho até a opinião dele um tanto arrogante, no sentido de ser quase um purista, querendo determinar o que é o 'verdadeiro cinema'. É como dizer que música pop não é música porque não tem um alto nível de estudo e formação erudita. Se não fosse quem é ou se usasse um tom mais agressivo, pareceria até ciuminho de quem teve que aprender a dividir atenções com uma grande moda. Tipo, a criança mimada que não quer o coleguinha novo atraindo suspiros do resto da turma.

Tem lugar pra todo mundo e modas são assim, vão fazer maior estardalhaço e dinheiro. Mas passam. E tudo bem. A música pop nunca tomou o lugar de outros ritmos mais eruditos, assim como desenhos nunca tomaram o lugar de filmes, então, é fácil deduzir que filmes de pura paixão e entretenimento não derrubaram o pilar dos filmes mais sensoriais e autoriais. E se o incomoda um filme de herói não ter uma pegada mais profunda ou intelectual, ele não deve ter assistido ou entendido Pantera Negra e todas as questões sociais envolvidas, né?

Lembra, Scorcese, pizza e hambúrguer são muito bons, mas não tiram o lugar das refeições mais nutritivas. Cada um tem seu momento. Ninguém gosta de ficar raciocinando sobre a psiquê humana em frente a uma tela de cinema o tempo todo. Até fãs de obras mais 'cabeça' gostam de desligar o cérebro e apenas se divertir. Não adianta desqualificar o trabalho alheio. É um passeio no brinquedo do parque? É. Mas de vez em quando é legal passear no brinquedo do parque. A menos que você tenha problemas de enjoo com movimentos bruscos e repetitivos.

Fonte:

https://rollingstone.uol.com.br/noticia/robert-downey-jr-samuel-l-jackson-james-gunn-e-karen-gillan-respondem-comentario-de-scorsese-sobre-marvel-nao-ser-cinema/

https://revistamonet.globo.com/Filmes/noticia/2019/10/samuel-l-jackson-rebate-critica-de-martin-scorsese-sobre-os-filmes-da-marvel.html

https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2019/10/08/robert-downey-jr-quebra-silencio-e-reage-a-critica-de-scorsese-sobre-os-filmes-marvel.htm

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Friends - 25 anos... Grandes M...




Friends completa 25 anos de sua exibição inicial... e 15 desde seu apoteoticamente final ‘nhé’. Ok, é uma das séries mais bombadas da história estadunidense, gerou vários bordões famosos e soube lidar com os maiores clichês de modo a se tornar referência para os mesmos. Sério, quando assisto The Big Bang Theory ou How I Met Your Mother, posso pegar uma cartela de bingo e marcar cada situação clichêzenta que aparece. Desde o protagonista apaixonado pela colega de apartamento/trabalho/faculdade/melhor amiga/namorada do melhor amigo/vilão até as soluções fáceis do tipo, um relacionamento que não tem futuro logo recebe uma viagem para o exterior ou algum vacilo de uma das partes.

Mas não é disso que eu ia falar. Para o parágrafo anterior eu só digo uma coisa: Drama de gente branca. É uma tonelada de gente branca, linda, sensual e metida a engraçadinha. Não tem pra onde olhar sem olhar um branco fazendo piadoca ou dramalhão com alguma situação idiota. E qual é o problema, tio Saga? Bem gafas (meu modo de chamar de gafanhoto de forma fofa), acontece que além da total falta de diversidade, há outros traços de como a série Friends era vendida como um sonho, uma catarse, um modelo do que o jovem branco estadunidense queria pra sua própria vida. E não tá errado, mas há muita babaquice envolvida. Tanto, que quando a gente reassiste, no meu caso, já tendo passado pela fase da juventude sonhadora e com os pés no chão pela quilometragem na estrada, percebe que é uma série de preconceitos e conservadorismo que assusta. Afinal, era uma série pra juventude e tals... mas quando a gente nota, está lá sendo martelado por versões sensuais, engraçadas e sedutivas de como devemos ser o american way of life dos novos tempos.

“Ain, Saga, mas eram outros tempos...”. Olha, gafas, lá por 1994, época que estreou a série, era bem difícil sim saber das lutas das minorias e grupos historicamente oprimidos na sociedade. Mas não eram tão invisíves, mesmo em tempos pré-memes. Lembro de um comercial institucional em que a atriz, negra, falava como alguém que avisava a seu último peguete pra fazer teste pra AIDS, pois ela descobriu que tinha, mas não sabia se tinha passado ou pego dele. O problema é que se hoje é difícil, imagine naqueles tempos escalarem atores negros pra paéis principais... Acontece que gerou burburinho e o Movimento Negro protestou que justo na hora da irresponsável sexual é que colocaram uma negra e nunca pra vender a cerveja sedutiva da moda ou mesmo em cima de um trio elétrico cantando e envolvendo o público. Houve quem retrucasse dizendo que o negro era um insatisfeito e com mania de perfeição. Oras, eu lá com uns 12 anos acompanhei isso por jornais, então, sabemos que não eram outros tempos tão distantes. Os meios de comunicação é que ficaram mais dinâmicos.

E isso tudo eu disse pra enumerar algumas situações onde Friends foi babaca. Em comemoração aos 25 anos da série mais fútil da TV gringa:

1 – Homofobia

Esse é o tópico mais evidente desde o primeiro episódio. A primeira temporada inteira é dividida entre Ross lidando com sua separação, a gravidez de sua ex e a vida dela com uma outra mulher. É constrangedor o quanto a plateia ri toda vez que ele ou alguém faz piada pelo fato de duas mulheres quererem viver uma vida fora dos rótulos heteronormativos e ainda sim serem felizes e realizadas. O tanto que Ross demonstra ser um moleque mimado com necessidade de aprovação é perturbador. Aliás, todo o elenco! São jovens entre 25 e 30 anos de idade que se comportam como se tivessem 18. Soa tudo como aquele amigo que zomba de você pra pagar de engraçado, mas que é mais ofensivo do que legal. O famoso ‘rir de' e não 'rir com’.

E não só Ross, Chandler é antena de piadas sobre gays também. Quem conhece os bastidores da série (sim, conheço muuuito, porque assisti bastante) sabe que o ex-colega de facul de Ross era para ser gay, mas isso foi modificado até a definição do formato e detalhes da série.  Ele é confundido com gay porque não é um pegador ou pelo nível de seus gostos e assuntos, seu pai é transformista e sua mãe é escritora de livros de cunho sexual, o que o constrange e o faz o estereótipo do filho de pais divorciados e lar problemático, engraçadinho da turma que usa o humor como defesa psicológica. E não esqueçamos da vez em que Chandler e Ross zoavam seus passados amorosos até que Ross diz que nada é tão engraçado do que  o amigo ter beijado uma travesti sem perceber. Tem um vídeo no youtube em que um internauta separou todos os momentos homofóbicos de Friends. Deu quase uma hora.



2 – Gordofobia

A gordofobia é quase toda sobre Monica. Vários flashbacks retratam Monica como uma adolescente obesa e isso só muda lá pelas tantas da série quando ela resolve emagrecer ao ouvir ofensas de Chandler atrás da porta. Os próprios amigos vivem fazendo comparações grotescas e o roteiro sempre empurra a jovem para o público como alguém desregrada e gulosa. Enfim, tireoide é bananada, gorodo, pros roteiristas, é comilão mesmo.

3 – Machismo

A palavra aqui é Joey. O cara passou dez anos destratando e usando mulheres e os amigos em volta apenas falavam pra ele coisas como ‘você nunca liga para as mulheres’ e estão ok com isso. Ninguém o confronta. Inclusive a regra macho-alfa de não namorar a irmã do amigo foi mote várias vezes da série. Só Chandler não tem uma irmã para ser assediada pelos amigos, mas sua mãe deu uns pegas em Ross. Tipo, homens adultos controlando a vida sexual e afetiva de mulheres adultas com a desculpa de ‘proteger quem se ama’. Nunca protegem homens, certo?

4 – Racismo

O racismo não ocorre apenas pelas palavras de ódio ou violência física. Exclusão também é racismo e nessa Nova York dos sonhos dos anos 1990, o negro só aparece como porteiro, guarda, colega mudo de sala de reunião e essas coisas. Pois nos anos 2000, a série resolve dar papéis de maior destaque a negros. No caso, negras. Agora repare: Gabrielle Union apareceu na série como uma nova vizinha tendo sua atenção disputada por Ross e Joey. Os dois chegam a fazer uma aposta ridícula estabelecendo valores a serem gastos com agrados à moça pra ver quem faturava a gatinha. Tendo assustado-a com tanta idiotice, voltam a ser amigos e a jovem caiu no esquecimento.

Depois, aparece Aisha Tyler como uma doutora da mesma área científica que Ross, mas que está tendo um namoro com Joey. Aquele dilema forçado do tipo, combina com um, mas namora o outro (olha o que eu falei sobre clichês requentados lá no começo). Resumindo, fica aquele triangulo amoroso até que Ross conquista a doutora e Joey se sente livre pra ir atrás de Rachel (hein?!). Mas o foco aqui é o fato de quando a coisa parece se encaminhar, a mulher volta com o ex anterior a Joey e Ross de modo ridículo e volúvel. E essa foi a participação mais expressiva de pessoas negras em 10 anos de Friends. De resto, fomos representados por seguranças, enfermeiros figurantes, taxista, porteiro, figurante 2 e essas coisas.

Conclusão

O que podemos conceituar sobre a série é que ela não foi tão ousada – como dizem os produtores e fãs – em fazer um casamento lésbico ou mostrar relacionamentos interraciais, por exemplo. Nada disso era parte do elenco principal. Caso houvesse rejeição, era só eliminar a ex lésbica e sua companheira ou a namorada de outra etnia que não branca. Ou ainda, um possível protagonista gay. Nenhum protagonista foi ‘maculado’ pelo estigma da rejeição conservadora. Isso, no fundo, é manter as coisas exatamente como estão. Como em How I Met... que num personagem só usou a ‘cota’ racial e sexual fazendo um meio-irmão de protagonista negro e gay, mas não tendo coragem de usar isso no núcleo do elenco principal. E olha que a série terminou bem depois de Friends... Outros tempos? Nada mudou.

E não vou falar das incongruências da série, como o núcleo Rachel-Monica-Ross-Chandler que demonstram não se conhecerem tão bem no início as série, mas em flashbacks mais tarde em outras temporadas, é provado que se conheciam até por relacionamentos ainda em época de escola/faculdade. Ou Ross mal vendo seu filho mais velho, Bem, que foi o mote da primeira temporada, terminando até com promessas de amor eterno e acompanhamento intenso de seu crescimento... E não vou falar de certas situações feitas apenas pra série parecer lega Le descolada. Nem da condição de vida de jovens com empregos meio lá meio cá vivendo em apartamentões imensos. Mesmo o da Monica sendo herança da avó, ainda não justifica sustentar aquele imóvel sem ajuda em pleno centro de Nova York. E Rachel que foi de patricinha mimada a garçonete e numa mentira de currículo, entrou para o ramo da moda até receber proposta internacional de trabalho? Acontece toda hora na vida, né?

Então, Saga

Enfim, quando se passa tanto tempo assistindo TV, filmes, lendo, etc, você acaba desenvolvendo um senso crítico mais apurado e quando isso se dá ao longo da vida (sério, tenho gibis e DVDs aqui de quase 20 anos atrás, só porque me desfiz de coisas mais antigas), então, desenvolvendo consciência para assuntos mais sérios e relevantes na sociedade, mas ainda adorando cultura pop/nerd, posso dizer de carteirinha que muita coisa hoje envelhece mal porque foi calcado em um senso comum que mudou. Ficou datado e ultrapassado. Parece vintage pra muitos, mas não se sustenta. Lembrei de uma reprise d’Os Trapalhões onde Jorge Lafond é o alvo de tantas piadas ridicularizando seus trejeitos afeminados que mudei de canal.

Uma coisa é o cara usar seus trejeitos pra fazer uma caricatura que soe simpática ao público, outra coisa são outros personagens ficarem correndo em volta, cada um a seu momento se revezando pra fazer comentários que o tornam uma piada oca. Eu odiaria estar no centro de uma roda onde cada “amigo” fizesse um comentário pejorativo sobre minha pele, meu cabelo ou estereótipos e comparações com objetos de cor preta. Odiaria. Então, Friends é isso. Até Os Simpsons hoje me soam mais como um aglomerado de piadas do que uma sátira em si. Hoje, acho Homer Simpson um bolha e Marge Simpson a versão desenhada da Nenê Silva, d’A Grande Família, aquela que é tão condescendente que. Literalmente, não existe.

É isso, gafas, saganauta (Rá!)! Ficamos por aqui, por enquanto, mas depois sei que vou lembrar de algo mais a dizer ou alguma outra produção que não tenha passado legal pelo fator ‘relevância na passagem do tempo’. Ainda assisto a vários episódios de todas as séries aqui mencionadas porque sim, tem momentos muito legais, mas não me peça pra adorar, muito menos defender porque é como defender um rodízio de sorvetes pra quem tem intolerância à lactose. É gostoso, mas vai dar merda! Rá!

xêro

quarta-feira, 24 de julho de 2019

O Rei Leão e a sociedade (nova versão)



Eu tenho uma reflexão – epifania, insight, sei lá – há alguns anos sobre o clássico da Disney, O Rei Leão, e já mencionei por alto em alguns textos, postagens e conversas informais. Segundo minha filha, inclusive, isso ‘acabou’ com sua infância (risos). Pois bem, sempre pensei em transformá-la (a reflexão, não minha filha) em em um artigo devidamente publicado e o momento é agora, com o advento do remake do filme, 25 anos depois.

Não que eu pretenda assistir à nova produção – quer dizer, vou acabar assistindo em algum momento – mas além de não suportar sequer lembrar da morte de Mufasa, acho que a releitura com uma roupagem mais ‘realista’ não me atrai tanto quanto o próprio original. Digo, não acho nada lá que precise de uma atualização para as novas gerações. Ou melhor, acho que o antigo ainda é novo, atemporal, enfim, traços que um verdadeiro clássico precisa para ser considerado um... er... clássico (dah!).

E ainda complemento o raciocínio dizendo que o tal estalo (de percepção da fábula, não do Thanos – Rá!) ganhou contornos sociais mais complexos em minha visão de adulto diante de uma reprise há alguns anos. Veja bem, eu tinha uns 12 anos quando saiu O Rei Leão nos cinemas, então, mesmo com uma trama intensa carregada por uma das animações mais bem feitas que já vi, deu pra perceber que a história fala de responsabilidade, de assumir seu lugar onde você pertence e transformar seu mundo num lugar melhor. Aquele papo de redenção a que todas as obras Disney se propõem a fazer dentro dos passos da Jornada do Herói – ou Monomito – de Joseph Campbell.

E é citando a palavra mito que já digo de cara que a tal reflexão é que além da história do herói que passa por percalços, dúvidas e inseguranças, mas precisa tomar as rédeas de sua própria vida e de seus entes queridos, o período eleitoral de 2018 me deixou, além de muito esgotado psicologicamente, também com a oportunidade de “viajar” em uma interpretação pessoal da vida sobreposta à obra felina dos Estúdios Disney. É, é sobre a sociedade e como ela vê seus líderes. Ocorre-me sempre nessas horas uma piada que meu pai fez sobre essa coisa de novelas trazerem tantas interações pessoais entre pobres e ricos: "Rico convidando pobre pra uma festa? Só se for pra trabalhar".

Observe, no filme, que já no clipe de abertura, todos – TODOS! – os animais da savana africana correm para um evento que, sem enrolações, fica exposto que é o nascimento do filho do rei Mufasa e da rainha Sarabi, o leãozinho Simba, que será apresentado a seus súditos. Para alegria geral, seu Padrinho Rafiki não o arremessa lá de cima (sério, eu achei que era isso que ia acontecer na primeira vez que vi – risos de nervoso). Segue o cortejo.

Mesmo aos 12 anos, eu tinha umas questões de imaginação muito fértil (Fantástico Mundo de Bobby era quase sobre minha infância) e um questionamento que me apareceu na época era porque um babuíno estaria no meio de leões? Isso foi o que me fez pensar que ele ia jogar o filhote de leão lá de cima (e iniciaria uma cena de luta, perseguição e fuga animais – Rá!). Só muitos anos depois eu entenderia que eu não estava ainda imerso no maravilhoso mundo da suspensão de descrença (que é o termo usado pra definir quando você ignora certas normas da vida real pra embarcar na fantasia do filme).

Só que depois de grande e aprofundado em questões sociais, raciais e essas bossas, esse pensamento encontrou bagagem pra se desenvolver. O que eu apresento neste texto. Além de achar que o macaco ia aprontar alguma por fazer parte do grupo que os leões comem e não do que eles fazem amizade e se tornam compadres, reparei um raio de observação maior: O que aquele tanto de zebra, antílope, girafa e elefante comemora? Mais uma boca pra devorá-los? Sim, é uma fábula, um tipo de condução de história que usa animais para representar ações e sentimentos humanos, mas essa alegoria dá essa brecha. Não?

Vamos lá, na suspensão de descrença da minha visão sobre o filme: É a sociedade em sua essência. Temos diversos grupos, classes sociais, raças, etnias, gêneros e transgêneros e sempre tem aqueles grupos que praticamente nascem pra alimentar e os que são alimentados... de carne e/ou de riquezas materiais. Você imagina o filho do churrasqueiro nascendo e a boiada indo lá mugir de felicidade por mais um par de mãos pra conduzir garfos, facas, espetos e machadinhas? Pois na sociedade (sur)real acontece isso. 

Olhe pro lado e veja quantos pobres vibram e até brigam por líderes políticos e religiosos que nem ligam pra eles, apenas os enganam pra manterem sua fonte de renda ou, no caso dos leões, o sustento de sua família. Pois, se esses líderes os defendessem, iriam ironiza-los por 'gostarem de pobre'. Aliás, se você não enxergar os seguidores xiitas das classes opressoras, então, você é um desses. Rá!

Não estou dizendo que esta seja a mensagem oculta do filme, não é uma teoria da conspiração, é uma forma de interpretar em cima de uma obra feita. É quase... ou melhor, é um real exercício de imaginação, com alguma perspectiva forçada, no sentido de que não estou empurrando na mente de ninguém que o que eu penso precisa ser avaliado como representação real. É uma teoria aplicada na realidade. Como dizer que Super Mario é a alegoria da vida onde você pode consumir substâncias, juntar algum dinheiro, comprar coisas e ter cuidado com os obstáculos e criaturas desagradáveis no caminho em busca de quem você ama.

É isso, não quero reinventar a forma de se ver O Rei Leão, só estou dando vazão a uma inquietação que tenho há anos e esse remake já me serviu muito na vida por isso. Talvez eu queria ver a nova versão só porque o elenco está representativo e pop (Alô, Pantera Negra, alô, Marvel! TMJ!), mas é só. Sem o encanto Disney, Zebras e gazelas correm para o lado oposto ao do leão. A vida já é muito difícil com crocodilos, cobras e víboras pra gente ver um filho de rico nascer e correr pra lá pra aplaudir. A menos que sejam celebridades no Instagram. Ninguém resiste! NIN-GUÉM!

Ah, tem a questão do Scar. Ele sim é um leão mais condizente com a realidade. Em um encontro com as hienas – quando ele propõe o plano que vai dar cabo na vida de (R.I.P) Mufasa e espantar Simba pra bem longe do reino, deixando o comando em suas mãos. Aliás, esse universo é bem machistinha, se reparar bem. É sabido que leões são comandados por um líder, mas a rainha em nada conta na história e na ausência do marido e do filho é o cunhado quem assume? Suspensão da descrença, eu invoco você!!!

Hmm... viscoso, mas gostoso!

Mas, voltando, Scar é o vilão. Sim, ainda era um tempo maniqueísta, onde o bem é todo bem e o mal é todo mal. Não sem falhas dos dois lados, mas não há um aprofundamento em porquê Scar se tornou um psicótico egoísta assassino (mas sabemos que ele virou um belo tapete, como propõe Zazu, basta assistir à animação do Hércules, também da Disney). Independente disso tudo, no tal momento que Scar trama seu golpe de estado, ele arremessa um “agradinho” para seus cúmplices. Sabe o quê? Uma suculenta perna de zebra!

E aí, você consegue rever a cena de abertura e pensar em qual delas dançou pra que as hienas tirem seu pequeno petisco? Já imaginou onde está e quem deu jeito no resto do corpo? É isso aí mesmo que você tá pensando. Árvore que defende a motosserra, frango que adora a raposa e gente que chama político corrupto envolvido com criminosos de mito. O ciclo sem fim!

Vocês fora uÓtemos, galera, beijos no cérebro e, caso espirrem, saúde! Hakuna matata!

terça-feira, 16 de julho de 2019

Scarlett Johansson e a polêmica da representatividade


Scarlett Johansson teria dito, recentemente, que a arte deveria ser livre e que limitar papéis em nome da diversidade seria privar o artista da liberdade de interpretar quem ou o que quer que fosse. Ou algo que o valha...

Já digo, de antemão, que ela não tá errada não. A arte, realmente, é algo subjetivo e sensorial que não deveria ter um filtro ou um manual pra ser exercida ou recebida. Mas, aí, temos um grande filtro – ou canal, como prefiro me referir – chamado humanidade. E não to falando bonito do conceito filosófico de humanidade, embora esbarre nisso também. Estou falando do ser humano em si, do fato de que ideias, sentimentos e tudo mais no campo do pensamento, passe pela cabeça humana.

Veja bem, sou fã da jovem Johansson desde sua entrada no Universo Cinematográfico Marvel (e de sua praticamente desconhecida carreira musical, sim, ela canta e bem) pois achei que ela foi uma importante adição enquanto atriz e mulher de grande valor num mundo e numa indústria essencialmente machista. Só por isso, vou acreditar – salvo se houver confirmação contrária depois – que suas palavras foram distorcidas pela edição da revista à qual concedeu entrevista sobre o assunto.

“E qual é o assunto, Saga?”, calma que eu vou falar. Acontece que há exemplo da oportunidade recente em que Scarlett aceitou – não sem grande polêmica – viver uma personagem japonesa (Ghost in the Shell), ela se viu, de novo, em meio a um burburinho pesado ao ser cogitada para viver um homem trans em outro filme. E foi aí que ativistas e internautas curiosos foram pra cima da bela branca, magra, mulher cis que é a formosa atriz.

Ao que tudo indica, ela pode sim, ter sido manipulada para que a tal revista gerasse audiência em cima do histórico de ‘não representatividade’ da moça. Oras, parece lógico que nesse mundo capitalista onde se apela pra qualquer estratégia pra se levar mais e mais dinheiro em tudo, eles tenham maliciosamente falado “chama aquela menina que já deu o que falar interpretando um robô deprê japonês com questões existenciais e pergunta o que ela acha de não poder fazer um transgênero também”.

Ela aceitou, eles – provavelmente – escolheram a forma mais ácida de citar as falas da gatinha e – ZAZ – temos a matéria e uma enxurrada de cliques e views na nossa página. Até porque, seja por exame de consciência, apagamento de incêndio ou só pra limpar a barra mesmo, a própria atriz falou que seu mundo ideal é feito de arte livre a todos, seja pessoa ou árvore que você interpreta. Mas que ela está ciente que uma mulher cisgênero branca – que é o caso dela – tem muito mais oportunidades do que uma japonesa – em Hollywood – ou uma pessoa trans.

Em tempo, não é o caso de se comparar com mudanças de gênero ou etnia de personagens antigos. Falo isso porque sempre tem aquele idiota desinformado que questiona sem pesquisar: “Ain, mas e se o Pantera Negra fosse branco?”. Já falei aqui diversas vezes sobre isso. Existem inúmeros personagens que só foram criados brancos porque era o público de maior poder de compra lá nas décadas passadas (1960, para a maioria das criações Marvel, por exemplo). Outros, como o próprio Pantera, já foram criados para representar justamente o grupo do qual faz parte.

Tipo, Ariel, a Pequena Sereia não precisa ser branca, até porque, existe sereia em várias culturas, desde a apropriadora da Grécia até as africanas, ou você nunca estudou sobre Iemanjá, Oxum, ou mesmo as indígenas brasileiras Iara e Janaína? Então, se você for questionar que uma negra não pode ser uma sereia, acho que você precisa saber que sereias não existem. Elas podem ser imaginadas até com a pele cinza, já que são basicamente, peixes.

Ninguém questiona que o australiano Chris Hemsworth interprete um deus nórdico, mas todos estão ok em criticar a negra Tessa Thompson como Valquíria. Nenhum deles é nórdico e, em último caso, nenhum deles é uma divindade! Então... é diferente. Scarlett se tocou que aceitar um papel de um grupo de ‘minoria’ do qual não pertence seria uma bola fora por tirar a oportunidade de alguém brilhar em seu espaço comum.

Então, conclusão minha, Scarlett Johansson está certíssima em defender que arte é algo do imaginário, que deveria ser aberta a tudo... mas também concordo que a arte aberta nesse mundo atual, só contemplaria os brancos, como fez antigamente. Veja pela história a quantidade de brancos que interpretaram outras etnias só porque a indústria branca não suportaria ver negros, índios, japoneses e outras etnias brilharem no seu mundinho de panela fechada de privilégios e corporativismo.

Não é que uma mulher branca cis não possa interpretar um homem trans, é que cada vez que ela aceita um papel desses, deixa pra trás pessoas que poderiam interpretar igual ou mais lindamente ainda por conhecer esse mundo por dentro. E servir de espelho para outros iguais. Lembram de Whoopi Goldberg quando viu Nichelle Nichols como Tenente Uhura em Star Trek e pensou que poderia estar ali, ou seja, ser uma negra na TV e não ser só sempre a empregada/escrava? Então...

De um branco – e racista - John Wayne interpretando um asiático ao brasileiro caucasiano Sérgio Cardoso fazendo um negro (com algodão por dentro da boca e do nariz pra imitar a fala e feições negras num elenco que tinha Milton Gonçalves ali do lado), toda a indústria do entretenimento só está aprendendo que outras etnias já são numerosas o bastante pra vender tanto quanto seus colegas brancos recentemente. Agora eu faço uma pergunta cretina reducionista pra simplificar ao extremo: Já pensou se a Viúva Negra fosse um cara vestido de mulher porque mulheres protagonistas ‘não vendem tão bem’?

Pense nisso!   


quinta-feira, 25 de abril de 2019

Machismo: Quadro do Aeroporto (Zorra Total)



Um dia, não muito tempo atrás, relativamente (em torno dos anos 2000), achou-se engraçado criarem um quadro no Zorra Total onde seguranças de um aeroporto simulavam o som de um detector de metais pra forçar alguma modelo a tirar suas roupas para se "certificarem de que não havia risco de armas".

Não bastasse o chefe da segurança levar a modelo para uma área de nítida conotação sexual do lugar, a modelo, além de passar a gostar da proposta (porque é assim que funciona, na cabeça deles, né?), o esquete ainda é seguido de uma mulher gorda, mal maquiada e de aparência de mais idade (ou seja, tudo o que eles acham menos atraente) se oferecendo pra uma revista. Preciso dizer que isso é um passo pro "pensamento" de que mulher feia tem que agradecer assédio/estupro?

Nem cabe dizer que "naquele tempo era assim", porque em termos gerais isso não tem nem duas décadas. E tempo é algo fluído, não tem um ano específico em que algo era aceito ou que era questionado. E mesmo que não fosse questionado, é ruim mesmo.

Se não houvesse o mal gosto de tornar mulheres meros objetos sexuais (ou tentando ser), era sem graça mesmo. Isso que dá basear um conceito deturpado de humor em programas de décadas antes com mentalidades de séculos anteriores.

E nem mencionei ainda o pai que pergunta inconformado onde foi que errou na criação do filho por este ser gay. Mas eu volto nesse assunto outra hora.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

De Repente 30 e reflexão sobre a vida



O filme De Repente 30 (2004) é uma obra que me deixa um grande ponto de exclamação na minha cabeça: 'aff, desperdiçaram uma grande chance de explorar um tema tão interessante que é o amadurecer do ser humano'. Bom, é a história de uma menina de 13 anos, Jenna Rink, que se ressente por não ser popular na escola e nutre um desejo intenso em ter 30 anos e ser bem sucedida no trabalho e na vida social. Eu disse intenso? Diria até doentio! Medo dessa menina quando fica se balançando repetindo o que quer ser. Psicopata resume. Mas, enfim, Este texto é minha reflexão sobre o filme em si e o modo como a mensagem é passada (lembrando que um filme, enquanto peça de comunicação, não TEM uma mensagem, ele É a mensagem).

Impossível não olhar pra película e não lembrar do Big - Quero Ser Grande (sobre o qual eu já escrevi aqui mesmo neste blog, há alguns anos). Big é de 1988, ou seja, ele é totalmente ambientado naquela década, visto que só o menino dá um salto no próprio crescimento. Já menina de De Repente..., ao que parece, avança no tempo, fato que percebemos porque o mundo todo "envelheceu" com ela, porém, sendo a única que não viu o tempo passar. Em Quero Ser Grande, há um fundo filosófico (lembra quando Tom Hanks confessa que é um menino no corpo de um adulto e a namorada adulta leva pro lado filosófico?). A questão é sobre aprender a viver enquanto se vive e não saltar pra um objetivo ou uma data específica. Sempre vamos querer e precisar mudar. Evoluir.

Em De Repente..., a necessidade de dar um final feliz convencional torna o roteiro bem fraco, a meu ver. Nenhuma criatividade, ou mesmo, boa vontade. Se esquecermos, por um segundo (ou melhor, a duração do filme) a pulga atrás da orelha que fica sobre plágio, por causa das piadas requentadas de Quero Ser Grande, De Repente 30 poderia ser bem original na sua abordagem. Mas o final feliz e água com açúcar confirma que a intenção era só contar uma 'história de menininha'. Aquele produto que já sai envelopado pra agradar a um grupo específico pop e descolado (ou querendo se sentir como tal). Ou, de repente, tentaram se distanciar tanto de Big, que erraram feio a mão.

Veja bem, o fato de Jenna crescer de uma hora pra outra poderia ser a metáfora para o tanto de gente que cresce, mas não amadurece. Vemos como ela fica histérica quando é rejeitada pelos populares de sua escola, sua atitude babaca com seu melhor (e o único verdadeiro) amigo e a ansiedade por pular toda essa dificuldade e chegar lá, onde ela brilha muito na vida. Ok, imaturidade e qualquer um está passível, correto? Então, vemos pela narrativa, que ela não cresceu muito diferente do que tanto desejou, mas descobre que também não se tornou lá uma pessoa tão legal quanto ela achava que os populares - dos quais se tornou "amiga" - pareciam ser.

Jenna descobre que seu estilo de vida tão invejado e almejado não levava em conta caráter nem respeito. Ela se vê rápido numa crise de consciência. Isso, pra mim, é o que acontece realmente na vida. 30 anos é uma idade em que (com sorte) sacamos que não somos mais os garotos de 20, mas ainda não somos tão maduros quanto os ainda distantes 40 sugeririam. É uma boa idade pra se refletir sobre os caminhos da vida. Eu lembro de quando chegou minha vez, há quase 10 anos (eita, entregando a idade, Rá!) eu revi conceitos, fiquei mais seguro, assumi erros e me entendi melhor comigo mesmo. Até laços foram estreitados ou cortados pela sabedoria que me alcançava.

Mas o filme para por aí. Ele mostra Jenna tendo a chance de se reconciliar com seu passado e seguir em frente, mais segura de si, mais madura, sábia... Mas não, fazem ela agir feito uma adolescente inocente que só quer fazer o que é certo (e ela já tava evoluindo a partir dali). Sério, a proposta de mudar completamente a abordagem da revista sendo aplaudida é bonitinha pra um conto de fadas moderno urbano, mas nenhum editor ia aceitar isso. E o público fútil que a elevou ao topo por todos aqueles anos? Ia simplesmente comprar que agora a revista ia falar de gente normal e as pequenas delícias do cotidiano? Imagina, o Mc Donald's fica boladinho porque o Burger King arrasou no sanduíche mais recente e resolvem fazer hambúrguer de soja por um mundo melhor e o patrão aplaude emocionado porque isso é bonito? Bom, como o foco não era a revista, deixei passar.

Mas o que estraga mesmo é que quando parece que Jenna está vivendo uma crise de consciência e aprendendo a sair dela como uma pessoa melhor, fazem o tal do melhor amigo e ela se apaixonarem aos poucos e ela acaba usando ele como a tábua de salvação. De repente, num (outro) passe de mágica, ela pode viver o amor verdadeiro com Matt (Mark Ruffalo se esforçando pra não morder o próprio braço com um personagem tão 'nhé'), com direito a casinha recém-pintada de rosa e branco no subúrbio e sofá no quintal pra terminar a mudança. Ou seja, ela passou a vida sendo babaca e quando tudo parecia perdido, ela faz outro pedido ao pozinho mágico e se salva de novo. Lição? Não acho. Pra mim, isso é 'deus ex-machina', ou seja, aquele recurso que o roteirista guarda pro final pra resolver tudo, literalmente, como que por milagre.

Na moral? Eu ia achar muito mais interessante se ela reconquistasse a amizade de Matt. Até porque o cara estava noivo de outra pessoa. Mesmo que guardasse o amor platônico por Jenna por quase 20 anos, não faz sentido que o cara apareça adulto no filme, tendo vivido uma vida mais 'pé no chão' e de repente faz tudo que a, aparentemente maluca, da ex-amiga quer. E a noiva? Bem, ela aparece umas 3 vezes no filme pra ser apenas uma interrupção na conversa dos dois (previsível como o roteiro é, me espantei por ela não ser uma megera que faria a audiência torcer contra só de raiva).

Em suma, a vida é assim: Tomamos decisões erradas e isso dói, mas se tornam lições por si só no futuro. Nada pode ser mudado, arrependidos ou não, mas a gente cresce e vai aprendendo a viver no cotidiano. Não tem passe de mágica e é por isso que vamos sempre tentando. Tentativa e erro e, às vezes, acerto e recompensa ou erro e consequência. O importante é que não adianta pular etapas porque lá na frente vai faltar bagagem, experiência de vida pra sabermos resolver os desafios que aparecerão (e continuarão aparecendo). De Repente 30 teria meu respeito se ousasse em criar uma protagonista que faz sua jornada rumo ao amadurecimento de quem percebe que dos 13 anos pra cá a vida passou num pulo e aprende a aproveitar melhor o que tem pra ser alguém melhor. Esse final de comercial de margarina da família branca, apenas vemos como uma garotinha mimada faz o que quer e sempre se dá bem com dois passes de mágica. Ficou raso.

Sem contar a constrangedora performance de Thriller (Michael Jackson) no salão. Mas o momento 'garotinha' reproduzindo Love is a Battlefield (Pat Benatar) eu acho legal. Soou mais natural e anos 80 do que uma marmanja correr pro meio de um salão recheado de yuppies em plenos anos 2000 e começar a dançar uma das músicas mais famosas, porém batidas do cancioneiro mundial (e ninguém avisou a ela que Michael Jackson estava praticamente no ostracismo e acusado de pedofilia). Sem contar na coreografia complexa. Qualé, ninguém corre pro meio da festa pra dançar Michel Jackson e se corre, geralmente é usando Billie Jean, ou mais especificamente, o passinho de botar a mão na virilha e o Moonwalker, né? Soaria mais natural dançar o É o Tchan. Rá!

Tentaram emplacar um momento "Twist and Shout", mas Jenna não é Ferris. Poderia ser similar, se lembrarmos que em Curtindo a Vida Adoidado, Ferris Beuller sabe o tempo todo que o tempo vai passar e que é preciso aproveitar o momento pra fugir da rotina e imposições que a vida social adulta vai trazer. Jenna cresce, o mundo avança (lembrando que ela vive com 13 anos na década de 80, mas quando cresce, já vive a era atual do filme - 2004), mas ela fica presa no passado. Isso por si só, deveria ser a grande lição - e trampolim - pra seguir em frente, mas ela volta atrás e arranja um milagre que a torna tudo que realmente importa na vida.

Pô, se aos 40 ela separasse de Matt, ia dar outra cabeçada na casinha de boneca mágica pra resolver suas dificuldades? Pô, até o Click (também de 2004) do forçado Adam Sandler faz a vida seguir e, quando volta, deixa claro que não foi só um sonho, mas uma redenção com a lição aprendida.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

O Rei Leão e a sociedade



Vem aí um remake digital do clássico da Disney, O Rei Leão (1994). Bem, particularmente, até tenho alguma curiosidade em assistir, mas não vou procurar. Verei depois, dublado e com cortes na sessão da tarde (ou alguma outra sessão cinematográfica da TV aberta que não sei qual, já que a piada é que não assisto TV aberta). Enfim, acho desnecessário porque o original já disse tudo que precisava dizer e de forma linda e intensa. Aliás, original... (que nem é tããão original assim, já que foi drasticamente chupinhado da animação japonesa Jungle Taitei/Kimba, o Leão Branco), neam?

Mas a questão aqui não é nem isso, é que lá nos tempos da versão clássica, eu não tinha o poder nem a bagagem de observação da sociedade pra elaborar certas ironias que rodeiam minha periclitante psiquê. Lembro de quando a animação estava pra sair e várias fitas VHS que alugávamos ou comprávamos traziam o trailer com aquela belezura de imagem. Mais tarde eu soube que o estudo de paisagens e comportamento dos animais foi minucioso ao ponto de levarem animais para os estúdios a fim de serem retratados nos mínimos detalhes. Um preciosismo que só!

Mas uma imagem que nunca saiu da minha cabeça, mesmo quando eu, infantonerd juvenil em 1994, ainda não contestava os valores da tradicional família brasileira, foi a cena inicial dos animais da savana africana correndo pra reverenciar o filho do rei que acabara de nascer. Claro, pra ser democrático e representativo, era preciso criar laços e funções para diferentes espécie, se não ia ficar chato um montão de leões se engalfinhando e filosofando sobre a natureza e suas responsabilidades... Mas... caras...

Um passarinho é o conselheiro real, um babuíno é o curandeiro e padrinho do príncipe, zebras e girafas comemorando que nasceu mais uma boca pra morder seus lindos pescocinhos. Sim, O Rei Leão é uma bela mensagem sobre a vida continuar e nós seguirmos o fluxo de nossas vidas e responsabilidades, nosso lugar no mundo e quais, quais, quais...  Mas, basicamente, a coisa é retratada como uma grande família, coisa que não é. Aliás, alguém mais reparou que no início, as zebras estão prestando homenagens e algum tempo depois, o tio do guri lança uma perna de zebra para as hienas? Disso que eu to falando.

O normal seria correr pra longe, já que tem mais um predador por perto. O que me fez pensar na sociedade em que vivemos. Quantos pobres defensores de ricos você conhece? Quantas personalidades você não vê por aí sendo adoradas quando demonstram total desprezo pelo público, só aparecendo pra ganhar holofotes e grana? Quantos políticos não são endeusados e até chamados de mitos por gente que faz parte do grupo que eles querem ver pelas costas, na vala ou apenas bancando seu sustento parlamentar? E por aí vai, né? Bolsominion defendendo miliciano, preto adorando celebridade racista, mulher elogiando machista... A presa babando ovo do predador. Síndrome de Estocolmo? (aquela que o sequestrado cria laços emocionais com o sequestrador). Caça e caçador se amando.

É isso. Nas novelas, é frequente alguém rico namorar o pobre com amor verdadeiro e sofreguidão e o mais incrível é que o pobre não tem interesse na grana e o rico não liga para a própria grana. Claro, é muita catarse e vontade de viver nesse mundo idealizado, mas, como diz meu pai, "o dia que o rico convidar o pobre pra sua festa, vai ser pra trabalhar". Assim, finalizo parafraseando a ideia de que uma zebra comemorar o nascimento de um leão, é porque tem pouco amor à própria vida. Mas esse é o ciclo da vida, né? Tem uns que nascem pra morder e outros que nascem pra correr. Se você vai contra sua natureza, não vai ter hakuna matata que te salve.

PS: Ainda acho graça em ver Rafiki erguer Simba em seus braços e eu gritando "NÃO JOGA O LEÃOZINHO LÁ EMBAIXO, CARA!"

PS: Não assistirei. Não vou suportar perder Mufasa em alta definição digital graficamente computadorizada. Nem Animal Planet e Discovery eu aguento ver bicho sofrer.

Danilo Gentili é condenado à prisão... Bem feito!

Além de ser chamado de comediante sem ser engraçado, é enganador até no sobrenome, que nada tem de gentil.


Bem, uma notícia que gerou burburinho nas internetas recentemente foi a condenação do “comediante” Danilo Gentili a 6 meses de prisão em regime semiaberto por ato de injúria à deputada federal Maria do Rosário. A mais recente dele foi remeter de volta à deputada Maria do Rosário os papéis de uma intimação extra-judicial, em vídeo, onde usava palavras agressivas e de baixo calão para ofender a parlamentar (e de quebra fazer a alegria de seus seguidores mentalmente questionáveis, que acham que crimes como injúria e difamação são apenas desaforos de ‘quem fala o que pensa doa a quem doer’).

A defesa do rebelde sem causa alegou que ele não teve o intuito de ofender. Vamos analisar algumas das atitudes dele só neste caso:

1)      Manda alguém enfiar algo em seu próprio corpo;

2)      Alega que tem o direito de humilhar e mandar na pessoa por ela exercer um cargo público;

3)      Sendo que, anos antes, já tinha convocado seu público na internet a cuspir e bater nessa pessoa na rua, além de ter feito apologia a estupro;

Isso não quer dizer necessariamente que você quer ofender? Esse rapaz é um predador com traços que me lembram, leigamente falando, sociopatia. É perigoso o modo como ele usa de agressões verbais e absurdo o fato de chamar isso de humor. Não é engraçado, não é irônico, é apenas ódio e dão microfone pra ele. O cara abusa da misoginia e praticamente sugere que seus fãs pratiquem um feminicídio como forma de diversão. Perigoso.

A coisa é séria. Se ele é uma pessoa ruim, eu não sei, de repente é só um artistinha chinfrim que achou seu meio de aparecer e no apagar das câmeras não diz nada que a internet viralizasse. O famoso valentão de internet que não tem disposição de encarar um confronto ideológico, muito menos físico, pessoalmente com seus interlocutores. Conseguiu chamar atenção. Ele, tal qual o Maníaco do Parque, que queria aparecer, seja pelos truques de patins ou assassinatos. No caso de Gentili, ele não mata, apenas instiga o ódio (que pode vir a matar, mas – ainda – não é o caso dele).

O que acontece é que Fábio Porchat (entre outros artistas, para minha decepção) expôs uma opinião curiosa, a meu ver, sobre a condenação. Ele achou que a atitude de Gentili foi grosseira e desnecessária, mas que a condenação teria sido um exagero. Bem, já vi Porchat defender diversas vezes que o humor não é uma entidade acima do bem e do mal, como muitos de seus colegas alegam como desculpa pra ofender sem medo de punições legais (como acontece – mais uma vez, devo frisar – com Danilão, o humorista da razão).

Só que existe um pano quente aí e não acho que seja pra se resguardar de uma possível situação similar no futuro. Na verdade, nem vou fazer juízo do motivo que o levou a isso, até porque, o próprio gentalha gentili já o interpelou. Ou seja, o ‘defendido’ não concordou de todo com a defesa. Lembremos que essa não é nem a única vez que o gentleman convoca o ódio através de pseuso-piadas. Quem não lembra da oferta de bananas a um internauta negro que contestou uma postagem racista dele? Ou da doadora de leite materno comparada a uma vaca e referências pornográficas? O menino-problema sempre lança suas asneiras no grande ventilador da internet e não é de hoje.

No mais, gentili faz deboche, diz que prefere mesmo ser preso a ter que ceder à “patrulha” (do chamado politicamente correto) e toda aquela atitude rebeldão, líder da turminha do fundo da sala... Mas é isso mesmo. Certo tá ele, porque liberdade de expressão, que ele e seus similares no mercado tanto alegam, têm todo o direito de falar... Mas, na lei, palavras também podem ser usadas em crimes. Estão aí previstos os crimes de calúnia, difamação, ameaça, etc, ou seja, sem levantar um dedo, pessoas podem ser presas por ofensas. Imagina, levantar de onde você tá e dar um tapa em quem você quiser e achar que não pode ser punido porque não foi pra matar. Sed lex, dura lex. A lei é dura, mas é a lei. Ele quer se fazer de mártir, herói sofridão e guerreiro, mas é pura pose. Deve estar se borrando injuriado da vida por não poder falar qualquer coisa sem ter que se responsabilizar por isso.

Para concluir, não acho que essa punição dê em nada. É muito pequena, o que, por lógica histórica, deve ser convertida em alguma bobagem tipo pagar cesta básica, assistir palestra ou serviço comunitário. Enfim, mesmo que fosse cana dura em regime fechado, acho que ele não ia admitir que tá pistola da vida por não poder falar o que quer sem punições. Acho que com o tempo e a recorrência, ele deve ir mudando seus conceitos, ou nos proporcionar sempre a alegria de ver o abuso do uso da liberdade de expressão andar com sua amiga de longa data, a punição proporcional ao agravo. Ele que lamba sua caceta ou aprenda a ser engraçado de verdade. Porque por enquanto, tá só ridículo.





quinta-feira, 14 de março de 2019

Um ano sem Marielle Franco




Era 14 de março de 2018 e eu me preparava para retomar uma importante parte da minha vida, após alguns meses de licença do trabalho por um braço quebrado à base de porrada por tipos suspeitos de linguajar diferenciado da bandidagem “comum”, mas com os procedimentos bem característicos.

Era um mundo de emoções por inseguranças, anseios, projeções, enfim, muita coisa rolando na mente esperando ansiosamente chegar o dia seguinte, quando retomaria minha rotina (e valeu a pena aprender a não ter mais pânico de sequer sair de casa). O braço ainda não esticava, na posição que ficara pouco mais de um mês dentro do gesso, mas a vontade de voltar a tocar meu cavaco era maior, então, mesmo sem força ou muita coordenação, arrisquei (veja abaixo, o vídeo que eu gravava no momento em que tudo ocorreu e a notícia se espalhou).




Toquei uma música minha referente à afirmação do cabelo crespo natural e no mesmo momento passava o filme Ó Pai, Ó, que todos sabem, eu amo! Então posicionei o celular me filmando com a TV ao fundo, porque achava representativo demais falar de um traço da minha negritude enquanto passava um filme situado em Salvador – BA e com negros protagonistas... Pois bem, gravei e assim que passei para o PC, vi as notificações pipocando em vários grupos e a notícia chocante era que tinham assassinado a vereadora Marielle Franco.

A minha mente, que ainda buscava entendimento para minhas próprias vivências pessoais depois de um forte trauma, se viu em turbilhões eternos por tentar concatenar que a tal vereadora era, não só uma política, era amiga de amigos meus, uma pessoa com quem estive pouco tempo antes numa roda de debates em tom de informalidade para falar sobre projetos e necessidades da população carioca e negra, em geral. Era demais para mim.

Lembro que naquela noite, mais tarde, desabou um temporal violento, ao que só me ocorria ser uma reação (sobre)natural a um evento tão drástico quanto a execução brutal de uma mulher preta lésbica, de origem pobre que finalmente desfrutava de alguma projeção para poder lutar pelos seus, pelos nossos. Esse foi o erro dela e em momento algum me ocorreu a mínima chance de não ter sido um crime encomendado.

Lembrei, na hora, dos versos do ilustríssimo compositor imperiano Beto Sem Braço:

“ São Pedro abriu a porta e fez chover
Uma tromba d’água caiu
 Pingos grossos foram pêsames
Por um dos nossos que partiu

Derramaram tantas lágrimas
Foram tantas lágrimas
Muitas lágrimas
Daquela covardia que se viu “

(Música: Precipício, gravada originalmente por Jovelina Pérola Negra)

Parecia inacreditável ter uma digna e valorosa representante do povo socialmente mais vulnerável simplesmente retirada de nós dessa maneira estúpida, mas o que vimos depois foi que sua voz foi amplificada por todos aqueles que ela representava e inspirava admiração. Estamos aí, Marielle Presente e vamos levando.

Então, perguntamos de lá até sempre: ‘Quem matou Marielle Franco?’

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Vídeo anunciando tempestade pelo Whatsapp é fake



Ou melhor, nem é fake, é o que se chama de hoax, mas com alguma base distorcida ao extremo. Esse vídeo 'prevendo' uma verdadeira catástrofe climática não é verdadeiro, ele usa termos e jargões pra soar com propriedade, mas o tal especialista comete erros básicos pra quem entende de meteorologia.

Eu?! Não mesmo, eu não entendo lhufas de meteorologia, apenas sei olhar o céu e falar 'vai chover' ou, no máximo, sentir o calor extremo do Rio de Janeiro e falar 'esse calor todo, traz chuva logo depois'. Afora o vento mudando eu não sei dizer muito mal se a nuvem é de chuva ou se é aquela tipo algodão que a gente fica tentando ver figuras, mas estou divagando...

Bem, acesse aqui  e veja a matéria do G1 explicando que não é possível fazer uma previsão climática com os dados que ele passa. Desde a imagem ser de um aplicativo de auxílio e não de satélite, passando por dizer que são imagens em tempo real, quando isso não é possível, até especificar a hora que vai começar, coisa que definitivamente não dá pra fazer.

De resto, insisto naquelas dicas clássicas pra se identificar uma fake news, ou, no máximo, fazer questionamentos pra desconfiar de estar sendo usado como instrumento da mentira alheia pra causar estardalhaço, chamar atenção e morrer achando que contribuiu com alguma coisa pra humanidade:

1- O 'locutor' não se identifica. Tão especialista que não pode dizer quem é e o que o fez entendido no assunto? Próximo!

2- Distorções como a da data em que a 'previsão' foi feita pra parecer que é atual.

3- Não tem uma fonte verídica de informação, tudo é jogado em tom de alarme pra gerar aquela urgência dos mais influenciáveis e assim, alcançar a viralização da mensagem.

4- Procure outra fonte de informação antes de repassar, porque nesse mundo, PESSOAS MENTEM!!! Desconfie, a internet não tem como ponto forte a garantia de honestidade em seus conteúdos compartilhados.

No mais, existe sim um alerta para uma virada de tempo e é óbvio que requer atenção, mas não é esse tsunami com queda de meteoro todo. É uma época do ano que está normalmente propícia a isso.

No geral, só assim pra ver o tornado se formando aqui:


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