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sexta-feira, 19 de abril de 2019

De Repente 30 e reflexão sobre a vida



O filme De Repente 30 (2004) é uma obra que me deixa um grande ponto de exclamação na minha cabeça: 'aff, desperdiçaram uma grande chance de explorar um tema tão interessante que é o amadurecer do ser humano'. Bom, é a história de uma menina de 13 anos, Jenna Rink, que se ressente por não ser popular na escola e nutre um desejo intenso em ter 30 anos e ser bem sucedida no trabalho e na vida social. Eu disse intenso? Diria até doentio! Medo dessa menina quando fica se balançando repetindo o que quer ser. Psicopata resume. Mas, enfim, Este texto é minha reflexão sobre o filme em si e o modo como a mensagem é passada (lembrando que um filme, enquanto peça de comunicação, não TEM uma mensagem, ele É a mensagem).

Impossível não olhar pra película e não lembrar do Big - Quero Ser Grande (sobre o qual eu já escrevi aqui mesmo neste blog, há alguns anos). Big é de 1988, ou seja, ele é totalmente ambientado naquela década, visto que só o menino dá um salto no próprio crescimento. Já menina de De Repente..., ao que parece, avança no tempo, fato que percebemos porque o mundo todo "envelheceu" com ela, porém, sendo a única que não viu o tempo passar. Em Quero Ser Grande, há um fundo filosófico (lembra quando Tom Hanks confessa que é um menino no corpo de um adulto e a namorada adulta leva pro lado filosófico?). A questão é sobre aprender a viver enquanto se vive e não saltar pra um objetivo ou uma data específica. Sempre vamos querer e precisar mudar. Evoluir.

Em De Repente..., a necessidade de dar um final feliz convencional torna o roteiro bem fraco, a meu ver. Nenhuma criatividade, ou mesmo, boa vontade. Se esquecermos, por um segundo (ou melhor, a duração do filme) a pulga atrás da orelha que fica sobre plágio, por causa das piadas requentadas de Quero Ser Grande, De Repente 30 poderia ser bem original na sua abordagem. Mas o final feliz e água com açúcar confirma que a intenção era só contar uma 'história de menininha'. Aquele produto que já sai envelopado pra agradar a um grupo específico pop e descolado (ou querendo se sentir como tal). Ou, de repente, tentaram se distanciar tanto de Big, que erraram feio a mão.

Veja bem, o fato de Jenna crescer de uma hora pra outra poderia ser a metáfora para o tanto de gente que cresce, mas não amadurece. Vemos como ela fica histérica quando é rejeitada pelos populares de sua escola, sua atitude babaca com seu melhor (e o único verdadeiro) amigo e a ansiedade por pular toda essa dificuldade e chegar lá, onde ela brilha muito na vida. Ok, imaturidade e qualquer um está passível, correto? Então, vemos pela narrativa, que ela não cresceu muito diferente do que tanto desejou, mas descobre que também não se tornou lá uma pessoa tão legal quanto ela achava que os populares - dos quais se tornou "amiga" - pareciam ser.

Jenna descobre que seu estilo de vida tão invejado e almejado não levava em conta caráter nem respeito. Ela se vê rápido numa crise de consciência. Isso, pra mim, é o que acontece realmente na vida. 30 anos é uma idade em que (com sorte) sacamos que não somos mais os garotos de 20, mas ainda não somos tão maduros quanto os ainda distantes 40 sugeririam. É uma boa idade pra se refletir sobre os caminhos da vida. Eu lembro de quando chegou minha vez, há quase 10 anos (eita, entregando a idade, Rá!) eu revi conceitos, fiquei mais seguro, assumi erros e me entendi melhor comigo mesmo. Até laços foram estreitados ou cortados pela sabedoria que me alcançava.

Mas o filme para por aí. Ele mostra Jenna tendo a chance de se reconciliar com seu passado e seguir em frente, mais segura de si, mais madura, sábia... Mas não, fazem ela agir feito uma adolescente inocente que só quer fazer o que é certo (e ela já tava evoluindo a partir dali). Sério, a proposta de mudar completamente a abordagem da revista sendo aplaudida é bonitinha pra um conto de fadas moderno urbano, mas nenhum editor ia aceitar isso. E o público fútil que a elevou ao topo por todos aqueles anos? Ia simplesmente comprar que agora a revista ia falar de gente normal e as pequenas delícias do cotidiano? Imagina, o Mc Donald's fica boladinho porque o Burger King arrasou no sanduíche mais recente e resolvem fazer hambúrguer de soja por um mundo melhor e o patrão aplaude emocionado porque isso é bonito? Bom, como o foco não era a revista, deixei passar.

Mas o que estraga mesmo é que quando parece que Jenna está vivendo uma crise de consciência e aprendendo a sair dela como uma pessoa melhor, fazem o tal do melhor amigo e ela se apaixonarem aos poucos e ela acaba usando ele como a tábua de salvação. De repente, num (outro) passe de mágica, ela pode viver o amor verdadeiro com Matt (Mark Ruffalo se esforçando pra não morder o próprio braço com um personagem tão 'nhé'), com direito a casinha recém-pintada de rosa e branco no subúrbio e sofá no quintal pra terminar a mudança. Ou seja, ela passou a vida sendo babaca e quando tudo parecia perdido, ela faz outro pedido ao pozinho mágico e se salva de novo. Lição? Não acho. Pra mim, isso é 'deus ex-machina', ou seja, aquele recurso que o roteirista guarda pro final pra resolver tudo, literalmente, como que por milagre.

Na moral? Eu ia achar muito mais interessante se ela reconquistasse a amizade de Matt. Até porque o cara estava noivo de outra pessoa. Mesmo que guardasse o amor platônico por Jenna por quase 20 anos, não faz sentido que o cara apareça adulto no filme, tendo vivido uma vida mais 'pé no chão' e de repente faz tudo que a, aparentemente maluca, da ex-amiga quer. E a noiva? Bem, ela aparece umas 3 vezes no filme pra ser apenas uma interrupção na conversa dos dois (previsível como o roteiro é, me espantei por ela não ser uma megera que faria a audiência torcer contra só de raiva).

Em suma, a vida é assim: Tomamos decisões erradas e isso dói, mas se tornam lições por si só no futuro. Nada pode ser mudado, arrependidos ou não, mas a gente cresce e vai aprendendo a viver no cotidiano. Não tem passe de mágica e é por isso que vamos sempre tentando. Tentativa e erro e, às vezes, acerto e recompensa ou erro e consequência. O importante é que não adianta pular etapas porque lá na frente vai faltar bagagem, experiência de vida pra sabermos resolver os desafios que aparecerão (e continuarão aparecendo). De Repente 30 teria meu respeito se ousasse em criar uma protagonista que faz sua jornada rumo ao amadurecimento de quem percebe que dos 13 anos pra cá a vida passou num pulo e aprende a aproveitar melhor o que tem pra ser alguém melhor. Esse final de comercial de margarina da família branca, apenas vemos como uma garotinha mimada faz o que quer e sempre se dá bem com dois passes de mágica. Ficou raso.

Sem contar a constrangedora performance de Thriller (Michael Jackson) no salão. Mas o momento 'garotinha' reproduzindo Love is a Battlefield (Pat Benatar) eu acho legal. Soou mais natural e anos 80 do que uma marmanja correr pro meio de um salão recheado de yuppies em plenos anos 2000 e começar a dançar uma das músicas mais famosas, porém batidas do cancioneiro mundial (e ninguém avisou a ela que Michael Jackson estava praticamente no ostracismo e acusado de pedofilia). Sem contar na coreografia complexa. Qualé, ninguém corre pro meio da festa pra dançar Michel Jackson e se corre, geralmente é usando Billie Jean, ou mais especificamente, o passinho de botar a mão na virilha e o Moonwalker, né? Soaria mais natural dançar o É o Tchan. Rá!

Tentaram emplacar um momento "Twist and Shout", mas Jenna não é Ferris. Poderia ser similar, se lembrarmos que em Curtindo a Vida Adoidado, Ferris Beuller sabe o tempo todo que o tempo vai passar e que é preciso aproveitar o momento pra fugir da rotina e imposições que a vida social adulta vai trazer. Jenna cresce, o mundo avança (lembrando que ela vive com 13 anos na década de 80, mas quando cresce, já vive a era atual do filme - 2004), mas ela fica presa no passado. Isso por si só, deveria ser a grande lição - e trampolim - pra seguir em frente, mas ela volta atrás e arranja um milagre que a torna tudo que realmente importa na vida.

Pô, se aos 40 ela separasse de Matt, ia dar outra cabeçada na casinha de boneca mágica pra resolver suas dificuldades? Pô, até o Click (também de 2004) do forçado Adam Sandler faz a vida seguir e, quando volta, deixa claro que não foi só um sonho, mas uma redenção com a lição aprendida.

Um comentário:

José Henrique honorato disse...

Ponto de vista pessoal e fraco , levou muito pro lado pessoal , não e uma crítica realmente boa , acho que o filme passa uma mensagem positiva ,que se deve aproveitar o tempo em que se está vivendo , tentar enxergar o mundo ao seu redor , Nao e um filme de menininha , falando isso seu conceito cai bastante ... óbvio isto sobre meu olhar

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