Acontece que tem muita gente que só tem má fé mesmo, falta de empatia. Gente que não sofre na pele e desmerece a necessidade - de respeito - do próximo. São felizes porque não são eles sofrendo, mas também não têm uma identidade cultural a ser afirmada, logo, qualquer manifestação por igualdade eles chamam de racismo (?!). Isso mesmo, medidas que garantam a acessibilidade do negro a camadas de maior poder aquisitivo são tão estranhas que as pessoas perdem até o poder de raciocínio. Pra ‘eles’ racismo é garantir a igualdade, mas não era racismo quando o negro ficava relegado à cozinha, à senzala, ao esporte (popular), ao samba, ao carnaval, à pobreza, violência e ao subemprego.
Há quem diga também que o problema do Brasil é educacional. Oras, coleguinhas me discriminavam sorridentes, na escola particular em que estudei pelo tempo de uma vida. Parentes meus, crianças, pré-adolescentes, me contam coisas deles que eu sofri há mais de 20 anos. A escola também tende a refletir a sociedade, o problema então deve vir antes disso, já que se a criança é criada por pais ignorantes, há grandes chances de ela apresentar os mesmos sintomas. Estaria mais para cultural o âmbito do problema de discriminação no Brasil. Na verdade, a sociedade se estruturou nisso, ou você acha acidente de percurso termos sido o último pais a eliminar a escravidão? E nem foi por vontade própria. E, apesar de parecer genérico, teorizar que o problema é cultural, pelo menos, nos leva a pensar em como poderíamos mudar a cultura de preconceito. Hoje, se contesta um tema de novela, se contesta o teor de uma piada, etc. Se falássemos que é ‘social’, como faz? Muda o povo todo ou se conforma que sempre vai ser assim? Nem a pau, Juvenal!
Quando eu converso com algum desses pseudo-entendedor da problemática social. |
O racismo é naturalizado no Brasil. Aqui, causa estranhamento a presença de um negro, mas não a ausência e, claro, todas as situações em que não se estranha o negro ser o mendigo, o suspeito do crime, o mal elemento, o ignorante, etc. Agora, vamos refletir, como se naturalizar o não-racismo? Eu te digo, fazendo como Morgan Freeman falou naquela entrevista de 2009, mas a original, não o trecho editado de 2 minutos que usaram aqui pra desqualificar o Dia da Consciência Negra. Por enquanto, o racismo deu certo porque o negro ficava lá no canto dele, então o racista achava que não o era. Agora, que o negro tem medidas afirmativas a seu favor, eles vão pipocando de onde você menos espera. Agentes Smith da Matrix, doidos pra eliminar os contestadores de seu sistema.
Essa naturalização com a condição submissa do negro no subconsciente popular só pode acabar quando o convívio com o negro for natural. Como se acaba com um estereótipo? Conhecendo a fundo sobre algo ou alguém, a gente desmistifica a visão da pessoa que achava que o outro era só uma caricatura, uma característica que se tornava identidade. Ao passo que o convívio se intensifica, passamos a ver pessoas, indivíduos e não rótulos. Eu mesmo, onde vou, com minhas inquietações, humor infame e toda uma participação jornalístico-antropológica - além de um frondoso cabelo black - venho notando um respeito muito mais natural do que o medo de ser racista de várias pessoas, no lugar onde trabalho. Sou minoria lá, mas ficou natural. Ou seja, a importância das ações afirmativas é muito mais do que dar um ‘passe livre’ para negros dentro da sociedade, são medidas que garantem um convívio, que a princípio, pode ter resistência, mas quem tem bom coração vai ver a vantagem que a sociedade leva em erguer a todos conforme sua necessidade.
O dia que o convívio for natural em diversas camadas da sociedade, aí sim, poderemos falar de algum problema social de forma genérica, o que eu não aceito é ignorante negando a história e falando essas asneiras. Até parece que acabar com a pobreza tem a ver com acabar com o racismo. Uma pessoa pode deixar de ser pobre, mas não vai deixar de ser negra (até porque a POBREZA é um problema social, o negro não). E não venha me dizer que um negro quando ganha uma posição social melhor fica transparente ou branco, porque vira e mexe e vemos personalidades públicas sendo vitimas de racismo, de comentários criminosos e essas coisas (pesquise sobre a mestiça Miss França atual). Não sei como se chegou a esse clichê tão genérico de falar em problema social, mas uma coisa é verdade, isso é papo de reacionário que espera que um dia tudo dê jeito, mas não apresenta nada a favor de uma mudança. São acomodados que se incomodam com a movimentação dos outros.
Agora, fique com Problema Social, na interpretação de Seu Jorge, versão do DVD em parceria com Ana Carolina (a versão original solo dele fala da favela, nesse show, ele fala diretamente do menor marginalizado, não sei qual foi da alteração da letra, mas, infelizmente, continuou tão condizente quanto antes). A montagem traz uma descrição da internauta Claudia Moreno como trabalho de Sociologia (viu? Sociologia, música Problema Social pra demonstrar um problema social??? Os "Capitão Óbvio" pira!):
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