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sexta-feira, 16 de maio de 2014

Pelé, futebol placebo e a manipulação popular

Dia 15 de maio, eu publiquei um status no meu Facebook assim:

Greves de várias categorias profissionais rolando, algumas outras ameaçando paralisar até durante a tão sonhada Copa Fifa e Pelé está em silêncio há dias.
Tenho certeza que daqui a pouco ele deixa a poesia de lado de novo pra falar alguma baboseira que tente desvencilhar o caráter 'placebo' do futebol no Brasil pra que o povo não atrapalhe seus amigos empresários de interesses financeiros particulares.
#estamosdeolho

Dia 16 de maio, eu chego e leio a seguinte notícia:

Pelé é vaiado na abertura do ‘Vivo Open Air’
Pelé, que é um dos embaixadores da Copa Fifa 2014, pediu que todos apoiassem a Seleção Brasileira e lembrassem que o futebol não tem nada a ver com a política e a corrupção que assola o país. Neste momento, ele foi vaiado por alguns constrangedores segundos. Visivelmente envergonhado com a recepção nada calorosa do público, o ex-jogador parou o discurso e logo se despediu…


Vou contar a história. Pelé, o poeta, é um dos maiores entusiastas do dinheiro e dos interesses próprios de nossa sociedade. Vá lá, esperamos isso de frios e inescrupulosos empresários, de políticos viciados em meneios e mamatas, mas de um ex-esportista que leva alcunhas como ‘rei’ e ‘atleta do século (20)’? Aí, não, isso é decepcionante pra quem curte esportes e cultura pop. Mas tem mais coisa aí.

O futebol começou como um esporte de elite e se alastrou para as camadas mais populares pela simplicidade de jogo e regras. É correr e chutar uma bola pra dentro de uma baliza sem ter um menos que 2 defensores adversários à sua frente quando estiver diante da meta para marcar o ponto e quem fizer mais pontos ganha. Viu como é simples? Só que tudo que é popular é usado pra manobrar a massa, veja o exemplo do Samba em seu início, que foi usado como campanha de Getúlio Vargas pra ficar bem na foto com o povão. Deu certo, ele tem a fama de ‘pai-dos-pobres’, claro, não só por isso, mas também por uma série de medidas, como a criação da CLT e diversas leis trabalhistas que temos até hoje.

Então, algumas décadas depois do Samba de Gegê, veio o samba da ditadura militar, que, ironicamente, só falava em liberdade (se nunca reparou, ouça os sambas-enredo dos ‘60s e ‘70s), mas ainda assim, no mesmo rastro que impunha ao artista fazer propaganda ufanista para o Brasil. Nesse meio veio o futebol. Depois da frustração histórica que foi perder em pleno Maracanã para o Uruguai, a seleção brasileira venceu na Suécia e na antiga Tchecoslováquia. Duas copas seguidas! Logo depois do Bi (UIA!), instaurou-se o famoso e terrível golpe apelidado de ‘revolução’ (contra marcianos, óbvio).


Nesse contexto, bacanas, o futebol já era uma paixão nacional assim como o samba. É quando o governo percebe que em meio ao abismo social que ele mesmo provocou vendendo o país (já dizia Raul), o povo não prestava atenção na política ou economia por medo da repressão e violência que acometia a vários grupos que se levantavam contra o regime ditatorial. É como eu digo, eram fogos de artifício e gritos de gol pra abafar os gritos vindos dos porões, dos torturados. Então, veio 1970 e o Brasil conquistou um feito inédito, 3 copas do mundo em 4 disputadas, aí, amigolhes, era o êxtase e era mais fácil pensar no futebol como a salvação do moral brazuca do que virar pro governo e falar ‘tá, foi gol, mas e a merenda que tá cara?’. Depois, você nota que a torcida foi muito mais empolgada do que o futebol em si. Note que a propaganda do futebol teve que dividir espaço com gritos por democracia, preços de ingressos, planos econômicos, violência e outros elementos que esvaziaram estádios e mudaram canais de TV.


É isso, gente, o futebol não é um esporte como outro qualquer, não é um momento de 90 minutos isolado do resto da realidade. Ou você acha que tantos milhões em contratos, desvios de verba e publicidade fazem do futebol um evento tão puro e desinteressado quanto a quermesse da pracinha na festa junina? NÃO! Veja o exemplo do Neymar Jr começando uma campanha publicitária se aproveitando da campanha contra o racismo no futebol, você duvida que algo mais seja natural no futebol? Talvez no futebol da sua galera, que vale a brincadeira, o churras e a cerva, mas lá no mundo do empresariado privilegiado? Cara, tome tento!

Esse é só um exemplo de como o futebol é instrumento do governo e da mídia pra manter você colado neles.

Futebol é um placebo açucarado que faz você dizer ‘a seleção não tem culpa’, mas está parcial demais pra perceber que você já tomou (UIA!²) a pílula azul (pra permanecer na Matrix e não viagra, seu tarado!). E a seleção é tão inocente na mídia e na sociedade quanto a dinamite numa explosão. Só foi usada, mas o efeito é o mesmo. Duvida? Vai lá ler sobre a história – num site de pesquisa e não num globoesporte.com da vida, né? Não me interessa gosto aqui, mas a realidade. Pessoas se acostumam a viver no que foi programado e nem questionam se existiam outras possibilidades. O planeta não nasceu adorando futebol e não foi a natureza que criou a fórmula ‘samba e futebol’ no inconsciente popular.


Aliás, pelo nível do futebol jogado hoje, você percebe que só acompanha por inércia, por hábito, como quem abre a geladeira e nem sabe o que quer dali. Mesmo fenômeno passam as novelas, mas isso eu falo outra hora.

Fonte: O Dia

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