Dia 15 de maio, eu publiquei um status no meu Facebook assim:
“Greves de várias categorias profissionais rolando, algumas
outras ameaçando paralisar até durante a tão sonhada Copa Fifa e Pelé está em
silêncio há dias.
Tenho certeza que daqui a pouco ele deixa a poesia de lado
de novo pra falar alguma baboseira que tente desvencilhar o caráter 'placebo'
do futebol no Brasil pra que o povo não atrapalhe seus amigos empresários de
interesses financeiros particulares.
#estamosdeolho”
Dia 16 de maio, eu chego e leio a seguinte notícia:
“Pelé é vaiado na abertura do ‘Vivo Open Air’
Pelé, que é um dos embaixadores da Copa Fifa 2014, pediu que todos apoiassem a Seleção Brasileira e lembrassem que o futebol não tem nada a ver com a política e a corrupção que assola o país. Neste momento, ele foi vaiado por alguns constrangedores segundos. Visivelmente envergonhado com a recepção nada calorosa do público, o ex-jogador parou o discurso e logo se despediu…”
Vou contar a história. Pelé, o poeta, é um dos maiores entusiastas do dinheiro e dos interesses próprios
de nossa sociedade. Vá lá, esperamos isso de frios e inescrupulosos empresários,
de políticos viciados em meneios e mamatas, mas de um ex-esportista que leva
alcunhas como ‘rei’ e ‘atleta do século (20)’? Aí, não, isso é decepcionante
pra quem curte esportes e cultura pop. Mas tem mais coisa aí.
O futebol começou como um esporte de elite e se alastrou
para as camadas mais populares pela simplicidade de jogo e regras. É correr e
chutar uma bola pra dentro de uma baliza sem ter um menos que 2 defensores
adversários à sua frente quando estiver diante da meta para marcar o ponto e
quem fizer mais pontos ganha. Viu como é simples? Só que tudo que é popular é
usado pra manobrar a massa, veja o exemplo do Samba em seu início, que foi
usado como campanha de Getúlio Vargas pra ficar bem na foto com o povão. Deu
certo, ele tem a fama de ‘pai-dos-pobres’, claro, não só por isso, mas também
por uma série de medidas, como a criação da CLT e diversas leis trabalhistas
que temos até hoje.
Então, algumas décadas depois do Samba de Gegê, veio o samba
da ditadura militar, que, ironicamente, só falava em liberdade (se nunca
reparou, ouça os sambas-enredo dos ‘60s e ‘70s), mas ainda assim, no mesmo
rastro que impunha ao artista fazer propaganda ufanista para o Brasil. Nesse
meio veio o futebol. Depois da frustração histórica que foi perder em pleno
Maracanã para o Uruguai, a seleção brasileira venceu na Suécia e na antiga Tchecoslováquia.
Duas copas seguidas! Logo depois do Bi (UIA!), instaurou-se o famoso e terrível
golpe apelidado de ‘revolução’ (contra marcianos, óbvio).
Nesse contexto, bacanas, o futebol já era uma paixão
nacional assim como o samba. É quando o governo percebe que em meio ao abismo
social que ele mesmo provocou vendendo o país (já dizia Raul), o povo não
prestava atenção na política ou economia por medo da repressão e violência que
acometia a vários grupos que se levantavam contra o regime ditatorial. É como
eu digo, eram fogos de artifício e gritos de gol pra abafar os gritos vindos
dos porões, dos torturados. Então, veio 1970 e o Brasil conquistou um feito inédito,
3 copas do mundo em 4 disputadas, aí, amigolhes, era o êxtase e era mais fácil
pensar no futebol como a salvação do moral brazuca do que virar pro governo e
falar ‘tá, foi gol, mas e a merenda que tá cara?’. Depois, você nota que a torcida foi muito mais empolgada do que o futebol em si. Note que a propaganda do futebol teve que dividir espaço com gritos por democracia, preços de ingressos, planos econômicos, violência e outros elementos que esvaziaram estádios e mudaram canais de TV.
É isso, gente, o futebol não é um esporte como outro
qualquer, não é um momento de 90 minutos isolado do resto da realidade. Ou você
acha que tantos milhões em contratos, desvios de verba e publicidade fazem do
futebol um evento tão puro e desinteressado quanto a quermesse da pracinha na
festa junina? NÃO! Veja o exemplo do Neymar Jr começando uma campanha publicitária
se aproveitando da campanha contra o racismo no futebol, você duvida que algo
mais seja natural no futebol? Talvez no futebol da sua galera, que vale a
brincadeira, o churras e a cerva, mas lá no mundo do empresariado privilegiado?
Cara, tome tento!
Esse é só um exemplo de como o futebol é instrumento do governo e da mídia pra manter você colado neles. |
Futebol é um placebo açucarado que faz você dizer ‘a seleção
não tem culpa’, mas está parcial demais pra perceber que você já tomou (UIA!²)
a pílula azul (pra permanecer na Matrix e não viagra, seu tarado!). E a seleção
é tão inocente na mídia e na sociedade quanto a dinamite numa explosão. Só foi
usada, mas o efeito é o mesmo. Duvida? Vai lá ler sobre a história – num site
de pesquisa e não num globoesporte.com da vida, né? Não me interessa gosto
aqui, mas a realidade. Pessoas se acostumam a viver no que foi programado e nem
questionam se existiam outras possibilidades. O planeta não nasceu adorando
futebol e não foi a natureza que criou a fórmula ‘samba e futebol’ no inconsciente
popular.
Aliás, pelo nível do futebol jogado hoje, você percebe que só
acompanha por inércia, por hábito, como quem abre a geladeira e nem sabe o que quer
dali. Mesmo fenômeno passam as novelas, mas isso eu falo outra hora.
Fonte: O Dia.
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