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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Jojô Toddynho e o tiro no preconceito


Mês passado aconteceram duas coisas interessantes na minha vida... eu sei, falando assim, parece que minha vida é um tédio, mas tô falando de duas coisas diretamente ligadas ao assunto que tratarei aqui e agora, ok? Rá!

Pois bem, li que Jojo Toddynho estaria já definida como a autora do hit do verão carioca de 2018: Que tiro foi esse. Primeiro, pensei que era uma daquelas forçadas de barra da mídia pra fazer vender um produto só na lábia, como aqueles camelôs que te empurram uma mercadoria 'pra acabar', sendo que tem uma caixa novinha pra abrir escondida. Ou ainda, pensei que poderia ser aquelas ondas de influência de público médio, tipo 'espalha que todo mundo gosta que as pessoas vão se sentir na necessidade de gostar também' e aquelas coisas de paris.

Mas não... quer dizer, até tem esse apelo da mídia e o pessoal do marketing trabalha pra isso, mas tem algo mais nesse hit. É uma moça pobre, preta e gorda, então, já tem todo meu apoio e prestígio, afinal, ela é uma fiel representante da camada social a qual pertenço e ver alguém sair de baixo pra mostrar a cara com algo que não violenta física ou psicologicamente ninguém, é sempre um prazer. Mas a galera do contra vem dizer umas coisas que, pelamordedeus...

Como eu disse, a música tem algo mais, ela gerou um meme: As pessoas se filmam simulando cair 'de tiro' no início da música. E é aí que entra o primeiro ponto do mês passado. Eu, que já tinha ouvido falar na música, nunca tinha visto o tal meme acontecendo, mas fui tocar numa festa em que o dj do intervalo teve que repetir a intro da canção umas 15 vezes pra que vários participantes - adultos e crianças - fizessem a tal brincadeira. Só um adendo: Ri bastante da cara do dj, mal disfarçando o constrangimento. Então, lembrei que vi gente criticando que era uma apologia ao crime, banalização da violência, ou até que só o susto do gesto inusitado já perturbava.

Ora, gente... O refrão fala em tiro, mas dá pra notar já no começo que é uma gíria pra algo no sentido de 'arrebentou a boca do balão' (gíria velha, mas que dá uma noção do sentido do meme atual). E as pessoas caem no chão no sentido de que ficaram tão impressionadas que não só o queixo, mas a pessoa toda tombou de admiração. Aliás, falando em tombar, 'tombar' é um gíria nova - popularizada por Karol Conka e que tem o mesmo sentido, mas em primeira pessoa, partindo de quem fala. Pra resumir, uma pessoa que 'causa um tombamento', ela vai ouvir dos amigos 'que tiro foi esse, viado?', sacou? Ou você vai dizer que 'tombar' é incentivas as pessoas a se jogarem no chão, literalmente?Então, segurem as tarraquetas quanto ao suposto mal da violência sendo ensinada através de Jojô Maronttini (nem ela sabe de onde saiu esse sobrenome artistico, mas entendo ela, pois eu também não poderia usar oficialmente o nome de uma bebida - marca registrada - para fins comerciais próprios).

Já que vimos que Jojô Toddynho/Maronttini não inventou a violência urbana com um bordão irônico, vamos ao outro ponto: Escrevi questionando as críticas da sociedade de que os tempos de hoje estariam muito imorais, que antigamente não era assim. Sei, no país que foi fundado por invasores europeus e que trouxe africanos escravizados há mais de 500 anos, HOJE é que a sociedade está condenada... Na música é a mesma coisa. Vivemos no país onde um grupo criado, há mais de 20 anos no estado mais negro fora da África (Bahia) 'enalteceu' a figura da loira e da morena enquanto as próprias eram vistas como bundas rebolativas em canções de duplo sentido... Também tivemos uma cantora que há 40 anos rebola e geme entre programas de auditório e pornochanchadas e sertanejos nascidos em centros urbanos fazendo pose de playboy caipira que só bebe e transa...

Pabblo Vittar e Karol Conka
No fim, é aquele negócio, ninguém questiona que Renato Russo falava 'gosto de meninos e meninas', mas Pabblo Vittar 'é uma bichona escrota'. Ou, mais antigo, quando surgiu o 'quadradinho de quatro', tinha um monte pra fazer piadinha de que o Bonde das Maravilhas teria aprendido a contar até quatro por isso, sem analisar que 'quadradinho' era um movimento de quadris e pernas, um passo ensaiado e não a figura geométrica. Tanto é que o tal quadradinho pode ser feito em pé ou de quatro. É uma questão de posição do corpo na hora da dança e não de geometria avançada.

Mas tem muito disso, quando a arte parte do povo, a sociedade joga m... de cima pra baixo pra esculachar quem já passa a vida penando em trabalhos duros e pouca grana. Quando um pobre alcança uma evolução social, parece errado pra essa gente que gosta de falar 'tinha que ser pobre'. É bem verdade que há muito pouco de contestação social nas músicas mais populares. Vemos o funk e o pagode, por exemplo, querendo usar o que o rico usa, querendo provar pro vizinho que sabe curtir a vida com o que a mídia ensina como o bonito, mas quase não vemos um desses popstars questionando: 'ae, porque um país tão rico tem tanto pobre?'.

Bonde das Maravilhas
Mas é coisa que a própria sociedade (alta) ensina e a mídia massifica. Qual é a cultura geral? De que dinheiro não traz felicidade e o pobre vai achando que muito dinheiro na mão é pra gastar e que não dá certo. Olha como Lula foi tratado enquanto presidente do país sendo o presidente que criou ou pos pra funcionar direito inúmeras maneiras de ascensão das classes mais baixas... Mas estou divagando...  Em outra hora eu entro pra valer (UIA!) no assunto. Por enquanto, vamos dançar conforme a música ou não, você tem o direito de não dançar, só não encha o saco tentando desdançar dos dançantes.

Aguardando os próximo capítulos, onde vão falar que 'sambar na cara' é apologia a agredir os outros com um pisão na face. Quanta bobagem. Agora veja uns exemplares.

O original.


O meme







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