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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Young Sheldon e a contradição com The Big Bang Theory


The Big Bang Theory (a partir daqui, TBBT) ainda estava no ar com seus roteiros preguiçosos, personagens desleixados e atuações no piloto automático quando estreou Young Sheldon (a partir daqui, YS). YS tem a premissa de ser o 'episódio 1' da vida do personagem que mais se destacou em TBBT. Um spin-off (série derivada de outra), um 'Sheldon begins', se preferir... enfim...

Ela, pelo que Sheldon descreve ao longo de TBBT, seria quase um 'Todo Mundo Odeia o Sheldon', pelo modo sarcástico com que lembra de passagens de sua infância, mas não é bem o que parece quando assistimos à produção. Veja bem, vou separar aqui algumas falas e situações narradas por Sheldon pra ver se bate, ok? Ah, é necessário que você tenha algum conhecimento prévio das duas séries pra entender melhor o que vou falar. Se não conheces, pode ir lá que eu espero.

O pai

Vamos começar pela maior mudança entre uma série e outra. Não ligo que o mesmo ator que interpreta George Cooper tenha participado de TBBT como um antigo bully de Leonard porque atores interpretam, logo, estamos vendo a cara do cara, mas poderia ser qualquer um, é apenas uma personagem, uma personificação, não a realidade, ok? Já estava doido pra falar isso desde que surgiram as teorias - piadas, na minha opinião - de que o pai do Sheldon perseguia seu melhor amigo. Sheldon reconheceria o próprio pai e não teria a mesma idade que ele, mas estou divagando...

A questão é que Sheldon já falou que seu pai era um bêbado, fã de esportes, preguiçoso, sem educação e grosseiro e que vivia em pé de guerra com a esposa (mãe do protagonista). Discurso reforçado pela própria Mamãe Cooper em várias ocasiões onde dizia que seu marido não era lá grandes coisas na vida e na família. Mas o que vemos em YS é que George Cooper é um pai amoroso e atencioso. Tem lá sua predileção pelo primogênito, por também ser fã de esporte, mas tenta lidar sempre da melhor maneira com seu filho gênio precoce e até procura meios de entende-lo. Bem diferente do brucutu que o forçava a assistir football caçoando de sua natureza mais intelectual ou mesmo debochando de seu nome, sugerindo que esta foi uma escolha da mãe.

A mãe

A mãe é a primeira que notamos a diferença. Ou o furo de roteiro também a afetou, como uma eleição presidencial vencida por fake news, ou, no mínimo, o tempo a transformou em uma versão amarga dela mesma. Até que não seria uma explicação ruim, faz até sentido, na verdade, hein. Mas, convenhamos, se os roteiristas não se preocupam em lembrar que Penny no começo era de Omaha e depois de Nebraska ou que Sheldon tinha alergia a gatos e logo depois coleciona bichanos pra suprir a falta da namorada... bem... não foi o caso, certamente.

A Dona Cooper, interpretada, em YS, pela filha da atriz que a interpreta em TBBT (laços de família), é uma fanática religiosa, de discurso bem direto, meio grosseira de tão sincerona, mas ainda assim, uma mãe cuidadosa. Ela meio que serve ao estereótipo de quem nasce e cresce em regiões interioranas, conservadoras de cultura e religião. Mas em YS, ela é bem mais delicada, fiel à sua igreja, mas longe da beata que usa religião pra destilar preconceitos. O que aconteceu com você, Mary?

A Vovó

Aqui existe outra contradição, mas ao contrário. Ao passo que as pessoas cruéis descritas em TBBT, ganham versões 'reais' mais amenas, a avó de Sheldon passa pelo efeito inverso. A avó, sempre descrita como aquela avó de comercial de margarina, em TBBT, na série derivada, ela tenta ensinar Sheldon a jogar, dá conselhos e é uma versão um tanto quanto mais 'malandra' da própria mãe do protagonista. Nada daquela situação de mimar seu 'torta de lua'.

George Jr e Missy

Os irmãos também não correspondem. Sim, eles zombam de Sheldon, mas nem são tão cruéis e nem burros como uma porta, como a mãe descreveu em um episódio de TBBT. O irmão mais velho não o persegue com brincadeiras cruéis, servindo até como conselheiro, vez por outra e a irmã gêmea, na verdade, já foi até manipulada em um 'experimento' onde o pequeno cientista quer testar uma teoria usando-a como cobaia.

Conclusão

Acho que Sheldon é um babaca em quaisquer versões que forem apresentadas. Se lembrarmos daquela temporada de TBBT emque ele se preparava pra casar com Amy, ele só aceitou a imposição da mãe de convidar seu irmão por esta não poder ir, pra alguém representar a família. Ele narrou algumas crueldades do irmão que Leonard descobre não ser verdade. Ficando claro que Sheldon é que abandonou a família quando saiu de casa para estudar e trabalhar e nunca mais voltou, deixando a mãe e a irmã para que o irmão mais velho cuidasse após a morte precoce do pai. Até na escola, em YS, o menino é um mala que trata a todos com a mesma petulância antissocial da série-mãe. E mesmo assim, não aparece sendo agredido ou perseguido. E se fosse, até que justificaria algum adolescente faze-lo, não por ser certo, mas por ser um comportamento típico de adolescente em retaliação.

Se repararmos na construção do personagem - e que, no sentido da arrogância, foi basicamente o mesmo, sem evoluções, do começo ao fim - podemos concluir que Sheldon não gosta da própria família e que seus amigos só o aturam por forçação de barra do roteiro. Leonard aceitar, faz sentido, pois é um bocó que aprendeu a seguir ordens de quem não tem muito amor por ele - vide seu relacionamento com sua própria mã e depois com Penny. Já foi dito que Howard e Raj só estavam ali por serem amigos de Leonard e as namoradas vieram a reboque.

Mas nada justificaria o tanto de piadas e zombarias que os amigos fazem se não o odiassem de verdade. Na verdade, é exatamente isso que me passa, uma relação de amizade tóxica em que uma parte não respeita a outra, mas todos são malas demais para se relacionarem com mais alguém, porque ninguém teria saco pra manter uma relação tão próxima. Aliás, TBBT é a mesma coisa que How I Met Your Mother e sua antecessora, Friends. Tudo um grupo de gente que se você conhecesse na vida real, manteria distância. Afinal, quem gosta de panelinhas além das pessoinhas que as formam?

Mas, voltando, ou Sheldon é cruel demais ao falar da família em TBBT ou ele amenizou seus traumas de infãncia em YS, pra não traumatizar que ouve suas histórias (sim, se você não assistiu ainda, ele narra em off, como Chris Rock em Everybody Hates Chris). Claro que as abordagens são diferentes para públicos diferentes. TBBT é mais pop, mais clichê - e mais sem graça também. Sério, tira as risadas e você vai ver que é só um grupo falando difícil com os mesmos trejeitos e com o mesmo timming. YS é mais família, tem uma montagem mais fluída, orgânica e te deixa perceber, mas escolher o que achar engraçado. Não é tão pastelão, mas tem lá seus próprios clichês, como a liçãozinha no final dos episódios e momentos fofura ao som de uma trilha sempre feliz.

No geral, Young Sheldon cria uma grande sensação de 'ele mentiu pra nós'. Não soa como a mesma história. Parece aquela pessoa que cada vez conta a história de uma forma e você não sabe bem qual versão é verdade, se é que tem uma versão verdadeira. 


3 comentários:

Unknown disse...

Só pra constar, Omaha é a capital do estado de nebraska.

André Luciano disse...

Omaha é a cidade mais populosa do Nebraska, mas a capital é Lincoln.

Unknown disse...

Esses tipo de series na verdade tem ser assistida uma vez so, e devagar, agora qualquer uma serie ,desse ttipo, a gente assite direto e ve que tem mais furo que uma peneira, Friends, tem monte de contradição, tipo chandler que apreceu el perto de cachorro varias vezes, e fizerm um ep que ele falou que nao gostava de cachorro.
Dois homens e meio que recicla o mesmo ator pra outros papeis,
Todo mundo odeia o cris, que pegou o ator que roubava doce das criianças, e transformou no DOC.. etc

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