É a história de um homem de uns 600 anos que se vê às voltas
com duas constantes em sua vida imortal. A primeira é Janaína, sua amada, que
ele sempre reencontra em outras encarnações, e a outra é sua eterna luta por
justiça. Sempre lutando do lado mais fraco, o protagonista iniciou como um
índio tupinambá em 1566 e chegou a um distópico futuro onde uma dose de água
vale mais que uma garrafa de scotch, e a segurança é feita por particulares
milícias exterminando qualquer um que ameace o poder do grupo dominante...
Pensando bem, não é tão futuro assim, né? Rá!
Enfim, voltando ao que interessa, o protagonista (que eu só
chamo assim por ter tido diferentes nomes ao longo da história) nem passa formalmente por toda a famosa ‘jornada do herói’. Ele aprende desde o começo que é o escolhido e só
hesita uma vez quanto a isso, e nem demora muito pra perceber que foi só um
lapso. Janaína também tem seu valor histórico, pois se é certo que sempre se
reencontrem, também o é que sempre estarão lutando juntos em nome dos
desfavorecidos. “Meus heróis não viraram estátuas. Morreram lutando contra
aqueles que viraram”. Essa é a declaração emblemática do protagonista e que
todo mundo que almeja justiça social e conhece algo de sociologia e história, já
percebeu, de saída.
A história é muito pontual, tem bastante ação, romance e uma
boa dose de história reflexiva, tudo muito bem dosado de modo a não ficar
piegas nem recortado. Você sabe exatamente o que o filme te diz e não precisa
de didatismos. Fico imaginando como seria para alguém desligado da história
perceber que alguns dos personagens mais sanguinários de nossa terra são
homenageados como heróis pacificadores, como o próprio filme faz. Ele deixa só
pro final de uma das sequências pra te avisar que um determinado herói de
guerra tem seu nome gravado na história, nomeando cidades e, no entanto, fez
isso em cima de uma montanha de cadáveres de pobres e flagelados pelo governo
que ele defendeu.
O protagonista foi índio contra portugueses, esteve na balaiada
e testemunhou o nascimento do cangaço, foi preso político na ditadura até
chegar a uma posição de conforto na sociedade (momento em que pensa duas vezes
sobre sua missão), mas lá está também Janaína e o destino deles é lutar lado a
lado. É emocionante ver essa linha do tempo narrada pela visão de quem sempre
perdeu a batalha. Dá outra perspectiva no sentido moral. Será que a maioria
defenderia tanto assim o sistema se soubesse que não passa de gado para a
classe dominante? Será que os capitães-do-mato de nossa sociedade tentariam ser
aceitos como heróis da moralidade se soubessem que não passam de escravos
domesticados? Acho que sim, mas a luta continua, muito tem a se fazer até que
nossa sociedade seja realmente consciente do mundo à sua volta.
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