Vamos separar aqui alguns clichês reaças pra discorrermos
sobre o assunto? Caso tenha faltado algum, fique à vontade pra sugerir outros
que, dependendo do montante, eu produzo até uma segunda parte, ok? Essas são as
frases que eu mais ouço e leio por aí quando estou exercendo minha miitância ou
apenas alguma pesquisa pra me equalizar na informação. Pensei em fazer uma cartelinha, tipo bingo, pra você ir marcando cada vez que ouve essas atrocidades, mas outra hora eu vejo isso. Rá!
"E eu tenho culpa por ser brancx?
Você chega prx reaça e cai na besteira de tentar explicar o
que é racismo. Fatalmente, precisa falar que é um sistema de dominação
estabelecida pelo europeu, onde o caucasiano criou pra si uma situação de privilégio
por ser caucasiano à medida que detona o negro, por ser negro. Aí, elx sai com essa: “E eu tenho culpa por ser brancx?”.
Não sei vocês, mas eu desanimo ali mesmo. Broxa toda minha vontade de
conversar, caras. Não tanto pela ignorância, mas pelo reconhecimento velado de
que a pessoa sabe que goza de uma situação diferenciada, mas é tão avoada que
nem percebeu isso. Deve ser triste viver assim, no automático, reproduzindo
frases sem ter pensado nelas. A pessoa branca quis me convencer de que eu vejo
racismo em tudo, e fala como se eu tivesse algum recalque por ser negro e não
branco, com ela. Já demonstrou seu complexo de superioridade aí mesmo, filhx. Não falo
mais nada.
“Hoje em dia não se pode fazer piada de preto que chamam logo a gente de racista”
Essa é das boas. Eu também não poderia enfiar a mão na cara
de uma cavalgadura dessas sem responder por agressão, sendo mulher, não poderia
agredir sem cair na Lei Maria da Penha e não poderia fazer nenhum ataque à
religião, sexualidade ou qualquer outra condição social alheia sem pegar muito
mal. Pensando bem, em que mundo esse ser vive onde o legal é maltratar as pessoas
e quem exige respeito é o chato? Vai viver pra sempre na sexta série mental
fazendo comentário pejorativo com os outros pra se sentir menos medíocre?
Cresça, reaça.
“Vocês vêem racismo em tudo”
Sim, vemos racismo em tudo. Machismo em tudo. Homofobia em
tudo. Não existe o não racismo, não existe um mundo onde não sejamos
discriminados. Não existe um mundo onde um atleta branco, rico e famoso seja
xingado por sua etnia predominante e as pessoas ainda achem que isso é normal.
Não existe lugar onde um branco chegue e seja tratado como empregado e mandado
pro elevador de serviço, visto como bandido ou que as pessoas se afastem se
agarrando a seus pertences. Brancos não são presos só por serem brancos andando
na rua. Isso tudo é coisa de preto. Olha pra TV, pras revistas, pros comerciais
diversos... Diga quantos negros você vê ali sendo apenas pessoas. Não, você não
vê isso. Então, sim, racismo está em tudo. Não é porque não tivemos conflitos
armados ou um grupo racista famoso e explícito que não temos racismo em toda
parte aqui. Só não vê quem é conivente com essa prática.
“Se eu colocar uma camisa 100% branco, vão dizer que é racismo”
Essa é uma variante do ‘porque não tem dia da consciência
branca? Isso é racismo inverso’. Bem, não há camisa 100% branco porque não há
parada do orgulho hétero, , também pelo mesmo motivo não há dia internacional
do homem e nem se comemora o dia do patrão. Lemas como 100% negro não são
lições de biologia e nem desaforo contra não negros. É apenas uma afirmação de
identidade num país onde há a população negra mais numerosa fora da África e,
no entanto, vê seus cabelos ridicularizados, seus narizes e lábios motivo de
alegorias em carnaval, tem sua religião ‘endemonizada’, onde sua etnia
predominante é motivo de piada e essas coisas. Talvez seja difícil pro branco
ou o não negro entender, pois, seu grupo não é discriminado dessa maneira,
logo, eles não precisam de afirmação. Onde chegarem, serão ‘normais’. Serão ‘aquele
de camisa listrada’, ‘aquela de cabelo preso’ ou ‘aquela perto do carro
vermelho’. Nós não, nós seremos ‘aquelx pretx ali’. Por isso precisamos dessa
afirmação, principalmente pra passarmos isso para aqueles que acatam o modelo
eurodescendente e perigam repassar essa baixa auto-estima a seus filhos.
“Cotas raciais são favorecimento, o problema é social”
Essa é uma das minhas preferidas (?!), pois sempre pergunto
o porquê de falarem isso e os argumentos NUNCA mudam. Depois de um tempo,
percebi que não era só a falta de conhecimento, era a iminência de uma
confissão de racismo, mas orgulhosa demais pra retirar o que disse. Por
exemplo, dentro desse contexto, vemos as maiores atrocidades. Dizem que as
cotas vão dar um passaporte ao negro para a formatura, dizem que vai tirar a
vaga de quem estudou por mérito próprio (olha só, meritocracia e racismo
andando lado a lado), dizem que cotista entra por favor e não por estudo,
descolam logo um antepassado negro pra justificar que não precisaram de cotas
ou pra dizer que não há etnias, somos todos mestiços. Depois de tanta lambança,
eu explico que são vagas adicionais, que existem cotas para alunos de escolas
públicas também e que problema social é um termo genérico como ‘doença’.
Vivemos numa sociedade, jovem, TODO problema que acometer o grupo ou UM grupo
será social, porra. Para de falar besteira. No mais, cotista tem que estudar
tanto quanto o não costista, vai disputar com a ampla concorrência e é uma
medida 125 anos atrasada. Só porque passou muito tempo, não quer dizer que
tenhamos que deixar pra lá. É direito nosso enquanto brasileiros. E o pior, sempre
que eu vejo alguém falar essas besteiras, é gente que não precisa de cotas.
Apenas não gosta de ideia da exclusão do negro ser revertida.
“Não somos divididos em raças, somos todos humanos”
Essa eu vejo muita gente dizer. Tem um palhaço (que descanse
em agonia fora do meu Facebook) que nem tem argumento. Sabe o tipo de pessoa
que acusa o negro de egocentrismo e vitimização ao mesmo tempo que posta fotos “sensuais”
pra se mostrar disponível para atividades fogosas? Pois é, o famoso
contra-ataque. Se você é carente de atenção, não vai querer ver ninguém tomando
os holofotes sem pensar que é uma afronta, não é? Pois é isso, essa
desqualificação das etnias nada mais é do que uma maneira de não querer ver o
coleguinha tendo o reconhecimento que o outro não precisa reivindicar, pois já
nasce com. Sem falar no racismo, né? Afinal, porque se incomodar tanto com a
militância alheia, se a pessoa já postou seu orgulho em ser branco? Sei lá, eu
não me incomodo com lutas alheias, aliás, até apoio, homofobia, machismo, antissemitismo...
tamos aê pra acabar com toda essa opressão. O fascista se incomoda conosco.
“É só uma piada, você quer a volta da censura”
Dizer que algo é só uma piada é o mesmo que dizer que uma TV
é só um aparelho. Digo, não explica nada, não defende nenhum ponto de vista e nada
mais é do que uma tentativa de vencimento pelo cansaço na conversa. Uma piada é
uma peça de comunicação. E, como tal, ela não é imparcial, ela tem uma ideia
residual. Um jornal pode publicar até a prisão de seu patrocinador, mas vai
fazê-lo de modo ameno, sem acusações, e é aí que se esconde a falsa ideia da
imparcialidade. Pra não jogar contra, joga-se de bola baixa. Agora, quando é
pra atacar um desafeto do patrocinador, aí, vão com tudo e o acusado vira o
anticristo. Piada é assim. Ela pode ter o intuito de fazer rir, mas é a
ideologia do piadista ali. Se é racista, seu dono o é. E volta de censura não
tem nada a ver com isso. Censura era quando o governo ditador controlava o que
podia e não podia ser publicado de acordo com sua repressão ideológica.
Criticar um idiota por não conseguir fazer piada que não ofenda não é censura.
É até um ato de justiça social.
“O negro que vendeu o negro”
Eu disse que o papo de cotas era meu preferido? Esquece!
Esse papo de que o negro é que produziu o racismo e a escravidão é que eu gosto
mais de contestar. Veja bem, saganauta (hein?!), segundo esses entendidos em
história, o negro pegou e vendeu seu próprio povo, depois pulou no navio, veio
para o Brasil (se não chegou já morto), levantou esse país no braço, trocou
umas chibatadas por aí (possivelmente, o início do sado-masô) e... sei lá,
criou o Samba e a macumba, né? Auehaiuheauiehiau. Só rindo desses caras. É tipo
quem embarca nessa onda de Princesa Isabel a boazinha e Zumbi o escravocrata.
Ignoram que comunidades em peso ajudavam quilombos a resistirem. Fico pensando
no que o português fez, apenas ficou olhando como quem vê o Chapolin lutando
com uma múmia de trapos e ainda falou ‘oras, Joaquim, estes crioulos estão a
agir da mesma maneira que aquels índios, desmatando tudo e nós apenas a olhar,
coitadinhos de nós, que atravessamos o oceano pra vê-los acabarem com suas
terras’. Rá! O colonizador virou expectador passivo da história e não o
opressor que violentou vidas por gerações, né? Sei, só observo
"Não sou racista, tenho amigos pretos"
Olha, essa foi muito reproduzida ultimamente e ganhou uma variante. Depois da patricinha racistinha ter ofendido o goleiro Aranha e a globo ter descolado amigos pretos pra defenderem elas todas (a patricinha e a emissora), veio Silvio Santos e falou 'com esse cabelo' pra uma atriz de 11 anos quando esta falou sobre planos de se tornar cantora ou continuar atriz ao crescer. Ela deu um belo comentário sobre seu amor por seu cabelo crespo e eu tive ainda a oportunidade de ver um coió dizer que Silvão não foi racista porque a menina é contratada do SBT. Caras, taí a resposta do racismo velado, né? Então, pelo raciocínio (?!) do bastardo, nenhum senhor de engenho era racista, né? Todos os escravos deles eram pretos e nem batiam em todos eles. Oras... E pra terminar, se você tem amigo preto e é racista, você é um ser humano ainda pior. Não tão pior do que o preto que te atura falando merda.
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