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domingo, 30 de novembro de 2014

Chespirito, o Chaves (1929 - 2014)


"Chespirito" foi um apelido dado a Roberto Gómez Bolaños por Agustin P. Delgado, diretor de cinema, pelo fato de o artista ser comparado a um “pequeno Shakespeare”, por sua versatilidade e inteligência. Nem precisaria falar mais nada, mas como você, saganauta (saga o quê?!) sabe, eu não falo pouco. Nem escrevo pouco.


Bem, ele foi escritor, roteirista, ator e mais uma gama de talentos e funções que não cabe aqui ficar enumerando. Basta ver que o cara começou escrevendo e atuando em alguns quadros, dali, foi desenvolvendo personagens, recrutou alguns amigos e fez um universo próprio que eu, como nerd (UIA!) só posso comparar a editoras como DC Comics e Marvel Comics. Num ambiente mais próximo de sua arte, diria que está para um Chico Anysio mexicano – ou vice-e-versa – mas o fato é que o eterno Chaves fez mais do que personagens cativantes. E eu vou dizer porque já, já apenas usando a memória afetiva, por puro calor da emoção de sua despedida (portanto, quem quiser lembrar, comentar aqui ou no ‘feici’, esteja convidadx).


Ele ensinou verdadeiras lições de moral. “A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena”, “as pessoas boas devem amar seus inimigos” e outras, que até já citei aqui no blog, como aquele texto com momentos de dar nó na garganta. Mas, pense comigo, amigx, ele também criou personagens femininas inteligentes, fortes e independentes, numa época que tinha tudo pra cair no estereótipo da mulher “de TPM eterna” ou personagens masculinos clichês... Não, não, ele criou uma menina esperta demais para seus amiguinhos, uma dona de casa viúva com garra pra criar um filho sozinha e ainda sonhar com uma nova vida amorosa e até uma vizinha temporária que cuidava de uma sobrinha sozinha. Sim, ele foi feminista, abordou mais de uma vez a emancipação feminina – que vinha crescendo desde a década anterior a suas séries mais famosas. E não te esqueças das músicas. Se você é jovem ainda, amanhã ainda se lembrará (achou que eu ia declamar a letra?).


Ele nos mostrou que por trás de toda a ignorância de um homem viúvo, havia o amor por uma filha que perdera a mãe ainda bebê, e que ainda tinha pique pra orientar, à sua maneira, um menino de rua que foi parar na vizinhança, dando voltas em seu senhorio, verdade, mas, sei lá, sendo pai solteiro, sabe lá como eu seria naquelas condições. Nos apresentou famílias completamente disfuncionais – ainda mais se você parar pra pensar no cenário social dos idos de 1970 – que em nada se pareciam com esse modelo moralista de ‘família tradicional’. Pai viúvo com filha, mãe viúva com filho e namorado, pobres, ricos e emergentes falidos, todos convivendo a ponto de viajarem juntos e se reconhecerem como uma boa vizinhança.


Chaves foi – e é – muito mais do que estereótipos do terceiro mundo. São a representação deste. A humanização deste mundo, que, apesar de não ser aquele idealista modelo de american way of life, está aí pra nós, sobretudo no Brasil, um dos países onde suas séries fizeram e fazem mais sucesso por gerações, nos últimos 30 anos. Eu, particularmente, sou filho de uma configuração “alternativa” de família. Pais separados, mas amigos, com amiguinhos com pais casados, filhos de criação, irmãos de consideração... enfim, fácil identificação e uma visão própria do menino Chaves (que se chama originalmente El Chavo, ou seja, o moleque, em tradução livre). Continuo me emocionando só de lembrar daqueles momentos que enumerei em outro post, só pra registrar.


Apesar de gostar mais do Chapolin, por questões nerds (lembra, eu sou um nerd multifacetado, Rá!) por causa das aventuras mais variadas, Chaves me emociona nas relações entre seus personagens. Lembra muito o subúrbio onde vivo, nasci e me criei. Pessoas diferentes, amigas, barracos, churrascos, mas, no fim do dia, todo mundo tá ali. Claro, uns desafetos, nada pode ser perfeito como a ficção, mas a ideia toda está ali. Tipos diferentes, frases características, mas também uma amizade, um sentimento de ‘conta comigo’ que permeou minha infância e até hoje gosto de assistir.


Não à toa, sou da geração Chaves, aquela que cresceu conforme a audiência da série, que estreou no SBT quase ao mesmo tempo que eu neste mundo, então, junto com muitas outras coisas, foi muito presente nas influências externas e midiáticas da minha vida. Roberto Gómez Bolaños foi um gênio. Criou tipos e contextos que até hoje estão no subconsciente popular da sociedade e nos trouxe muita alegria. Fica sua obra, porque é aquele clichê, né? O artista não morre, continua vivo em nossas lembranças, em sua obra. Muito bom parar pra refletir sobre isso e ver que tanta coisa boa aquele infantonerd juvenil aprendeu com ele. Com tanta besteira que poderia entrar nessa cabecinha de nós todos, fiquei com suas frases de efeito, a mania de olhar para o nada, como se fosse uma câmera, diante de uma situação infame e o próprio gosto por piadas infames.


Pra não terminar triste e melancólico – até porque já basta esse clima de final de ano e papais noéis rebolativos saxofonistas, aqui vai uma piada: Qual o animal que come com o rabo? Não sabe? TODOS! E porquê? Não podem tirar o rabo para comer!



Rá!    

Um comentário:

Unknown disse...

Fantástico!! Deixará saudades...

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