“Racismo, preconceito
e discriminação, em geral,
É uma burrice coletiva
sem explicação, afinal
Que justificativa você
me dá pára um povo que precisa de união (...)”
Pra falar sobre consciência negra, nunca deixo de lembrar da
primeira canção direcionada a criticar o racismo que eu parei pra esmiuçar e
começar a entender aquele fenômeno que, estranhamente, apenas eu passava,
quando em determinados locais onde eu era claramente negramente minoria.
Digo porque sou filho da classe média remediada, confortável, daquele tipo de
negro que nunca passou necessidade, sempre teve acesso a escolas e faculdades
particulares, cursos extra-curriculares e outros confortos que fazem de mim
minoria absoluta, não por ser negro no Brasil (que somos mais de 50%), mas por
ser negro em ambientes comumente caucasianos. Falo da letra de Lavagem
Cerebral, de Gabriel, O Pensador. Lembro que eu tinha uns 11 anos e vidrei
naquele estilo de cantar tão direto, sem muita poesia, havia uma certa fúria
irônica que me cativou pela pré-adolescência iminente e contestações
auto-contidas (sem falar nos casacos com capuz que gosto até hoje, rá!).
Tenho esse vinil até hoje. |
Pulando rapidamente para alguns meses atrás, quando um camarada
das antigas me questionou sobre o assunto, achei que valia a pena transformar
aquela rápida troca de mensagens facebookianas em texto e o dia não poderia ser
mais oportuno. Pois bem, você aprendeu nas aulinhas de moral & cívica (tá
velho, hein, veio!) um monte de baboseiras e nem sabe. Tanto muitos não sabem
que repassam aquelas bizarrices como verdades. Por exemplo, o negro “veio” para
o Brasil onde criou o Samba e outras distorções sutilmente descaradas que nos
impediam de ver a real situação. Por isso que tem tanta gente achando que fazemos
alrde à toa quando denunciamos o racismo. Nunca conseguiram tirar o papelão com
paisagem bonita da frente do rosto pra ver o mundo real. Daí, lembrei que o
referido amigo me perguntou a diferença ente racismo, preconceito e
discriminação, o que me fez lembrar logo da canção de Pensador, O Gabriel (hein?!)
e me trouxe à caneta (TECLADO!) para
devidos esclarecimentos enegrecimentos. E vamos fazer isso na ordem que
o famoso rapper enumerou (até porque, não sei mais falar em outra ordem sem
sentir que há algo de errado no campo da força jedi, de tão entranhada que a
canção está no meu ser (UIA!)).
Racismo: É o sistema de poder entre raças. Eu sei, eu sei,
você vai cuspir que #somostodoshumanos, mas chamando de raça ou etnia, não
somos todos iguais, mesmo que sendo todos humanos, ok? Racismo é quando uma
raça (europeu, por exemplo) estabelece que precisa dominar outras (indígenas e
africanos, por exemplo) e se sentir superior. Simples assim. É por isso que não
há racismo inverso nenhum. Pro negro dominar o branco, teríamos que destruir
nossa linha temporal e acessar uma viagem no tempo pra reconstruir a realidade
de modo a ver a colonização partir da África para as Américas utilizando
mão-de-obra européia. Aí sim, veríamos o resultado do racismo praticado por
negros pra cima do resto do mundo. Não adianta vir dizer que sofreu racismo
inverso porque foi xingado na fila do pão, ok? Xingar, qualquer um xinga de
tudo. Eu já fui xingado de ‘viado’ e nem gay eu sou. Logo, não posso dizer que
sofri homofobia, sacou? Não banalizemos conceitos pra não ficarmos com cara de
babaca nem a bunda exposta na janela.
Preconceito: É o ato de formar uma opinião sem base de
conhecimento para tanto. Sabe quando você só ouve uma música de um artista e já
quer falar se ele é bom ou ruim? Então. Não adianta a maior certeza que você
tiver, se não ouviu o restante da obra do artista, sua opinião é apenas um
chute. Preconceito é isso, um chute. E, em se tratando de relações sociais,
sempre é um chute no saco. Tiro no escuro. Aliás, no negro e em qualquer outro
grupo social. Na verdade, o preconceito não é sinônimo de racismo e aparece em
qualquer assunto. Veja outros exemplos: “Favelado” é mal educado, gay é
promíscuo, homem não presta, artista é drogado, etc. Preconceito é uma corruptela
daquele jogo de palavras ‘pré-conceito’, ou seja, ao passo que um conceito é
uma definição – exata ou aproximada – de algo, o pré-conceito é justamente o
que acontece quando você formula essa definição sem ter observado o bastante
pra diminuir as chances de falar merda algo que fuja à realidade.
Discriminação: Discriminar é distinguir, separar, destacar e
por aí vai. Num âmbito geral, nem é uma palavra pejorativa, pois você pode
discriminar o trigo do meio do joio, saca? Mas, estamos falando em relações
sociais, onde discriminar é dar um destaque a alguém ou a um grupo de maneira
que o(s) afetado(s) serão destratados ou ignorados. Isso, a exemplo do
preconceito, também não é “privilégio” do negro, pois deficientes são
discriminados, gays, roqueiros e muitos outros grupos.
Bônus: Estereótipo: O
estereótipo vem da padronização genérica. É a formulação de um tipo específico
de determinadas características que vão ser a base de julgamento das pessoas
que acatarem essa programação de suas mentes. Há muita gente aí que acha que
precisa ter uma referência. Eu digo assim: BULLSHIT!!! Foi por passar anos em
frente à TV que eu também achei que nunca seria considerado bonito, inteligente
ou legal. Eu nunca fui aqueles estereótipos da TV, nem da capa da revista e nem
era tão caricato quanto os estereótipos em que poderia me encaixar, como o
negro engraçado da turma.
Do estereótipo, vem o julgamento de bom/mau, feio/bonito,
etc. Desse julgamento, vem o preconceito, que gera a discriminação. E quando se
trata de negritude, de juízo de valor de acordo com a etnia predominante, esse
processo se chama racismo. É só reparar, fazer piada com preto sempre é mais
fácil, sempre é mais fácil achar que o bandido é o preto, o favelado é que é
significância de atraso social na cabeça da sociedade hipócrita, que acha que o
cara vai pra favela porque quer e não a sociedade que criou essa situação. São
os ritmos negros que as pessoas atribuem ao sexo banalizado, falta de
planejamento familiar e é a religião afro que é vista como suja e demoníaca.
Racismo, preconceito e discriminação não são a mesma coisa,
assim como música, dança e canto também não, mas esbarram na mesma matriz de
conversa (já fui melhor nas analogias).
Um comentário:
Gostei das explicações, da forma como colocou os conceitos, da organização dos textos e das analogias :)
Massa mesmo!
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