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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Racismo, preconceito e discriminação não são a mesma coisa


Racismo, preconceito e discriminação, em geral,
É uma burrice coletiva sem explicação, afinal
Que justificativa você me dá pára um povo que precisa de união (...)

Pra falar sobre consciência negra, nunca deixo de lembrar da primeira canção direcionada a criticar o racismo que eu parei pra esmiuçar e começar a entender aquele fenômeno que, estranhamente, apenas eu passava, quando em determinados locais onde eu era claramente negramente minoria. Digo porque sou filho da classe média remediada, confortável, daquele tipo de negro que nunca passou necessidade, sempre teve acesso a escolas e faculdades particulares, cursos extra-curriculares e outros confortos que fazem de mim minoria absoluta, não por ser negro no Brasil (que somos mais de 50%), mas por ser negro em ambientes comumente caucasianos. Falo da letra de Lavagem Cerebral, de Gabriel, O Pensador. Lembro que eu tinha uns 11 anos e vidrei naquele estilo de cantar tão direto, sem muita poesia, havia uma certa fúria irônica que me cativou pela pré-adolescência iminente e contestações auto-contidas (sem falar nos casacos com capuz que gosto até hoje, rá!). 

Tenho esse vinil até hoje.

Pulando rapidamente para alguns meses atrás, quando um camarada das antigas me questionou sobre o assunto, achei que valia a pena transformar aquela rápida troca de mensagens facebookianas em texto e o dia não poderia ser mais oportuno. Pois bem, você aprendeu nas aulinhas de moral & cívica (tá velho, hein, veio!) um monte de baboseiras e nem sabe. Tanto muitos não sabem que repassam aquelas bizarrices como verdades. Por exemplo, o negro “veio” para o Brasil onde criou o Samba e outras distorções sutilmente descaradas que nos impediam de ver a real situação. Por isso que tem tanta gente achando que fazemos alrde à toa quando denunciamos o racismo. Nunca conseguiram tirar o papelão com paisagem bonita da frente do rosto pra ver o mundo real. Daí, lembrei que o referido amigo me perguntou a diferença ente racismo, preconceito e discriminação, o que me fez lembrar logo da canção de Pensador, O Gabriel (hein?!) e me trouxe à caneta (TECLADO!)  para devidos esclarecimentos enegrecimentos. E vamos fazer isso na ordem que o famoso rapper enumerou (até porque, não sei mais falar em outra ordem sem sentir que há algo de errado no campo da força jedi, de tão entranhada que a canção está no meu ser (UIA!)).


Racismo: É o sistema de poder entre raças. Eu sei, eu sei, você vai cuspir que #somostodoshumanos, mas chamando de raça ou etnia, não somos todos iguais, mesmo que sendo todos humanos, ok? Racismo é quando uma raça (europeu, por exemplo) estabelece que precisa dominar outras (indígenas e africanos, por exemplo) e se sentir superior. Simples assim. É por isso que não há racismo inverso nenhum. Pro negro dominar o branco, teríamos que destruir nossa linha temporal e acessar uma viagem no tempo pra reconstruir a realidade de modo a ver a colonização partir da África para as Américas utilizando mão-de-obra européia. Aí sim, veríamos o resultado do racismo praticado por negros pra cima do resto do mundo. Não adianta vir dizer que sofreu racismo inverso porque foi xingado na fila do pão, ok? Xingar, qualquer um xinga de tudo. Eu já fui xingado de ‘viado’ e nem gay eu sou. Logo, não posso dizer que sofri homofobia, sacou? Não banalizemos conceitos pra não ficarmos com cara de babaca nem a bunda exposta na janela.

Preconceito: É o ato de formar uma opinião sem base de conhecimento para tanto. Sabe quando você só ouve uma música de um artista e já quer falar se ele é bom ou ruim? Então. Não adianta a maior certeza que você tiver, se não ouviu o restante da obra do artista, sua opinião é apenas um chute. Preconceito é isso, um chute. E, em se tratando de relações sociais, sempre é um chute no saco. Tiro no escuro. Aliás, no negro e em qualquer outro grupo social. Na verdade, o preconceito não é sinônimo de racismo e aparece em qualquer assunto. Veja outros exemplos: “Favelado” é mal educado, gay é promíscuo, homem não presta, artista é drogado, etc. Preconceito é uma corruptela daquele jogo de palavras ‘pré-conceito’, ou seja, ao passo que um conceito é uma definição – exata ou aproximada – de algo, o pré-conceito é justamente o que acontece quando você formula essa definição sem ter observado o bastante pra diminuir as chances de falar merda algo que fuja à realidade.

Discriminação: Discriminar é distinguir, separar, destacar e por aí vai. Num âmbito geral, nem é uma palavra pejorativa, pois você pode discriminar o trigo do meio do joio, saca? Mas, estamos falando em relações sociais, onde discriminar é dar um destaque a alguém ou a um grupo de maneira que o(s) afetado(s) serão destratados ou ignorados. Isso, a exemplo do preconceito, também não é “privilégio” do negro, pois deficientes são discriminados, gays, roqueiros e muitos outros grupos.


Bônus:  Estereótipo: O estereótipo vem da padronização genérica. É a formulação de um tipo específico de determinadas características que vão ser a base de julgamento das pessoas que acatarem essa programação de suas mentes. Há muita gente aí que acha que precisa ter uma referência. Eu digo assim: BULLSHIT!!! Foi por passar anos em frente à TV que eu também achei que nunca seria considerado bonito, inteligente ou legal. Eu nunca fui aqueles estereótipos da TV, nem da capa da revista e nem era tão caricato quanto os estereótipos em que poderia me encaixar, como o negro engraçado da turma.

Do estereótipo, vem o julgamento de bom/mau, feio/bonito, etc. Desse julgamento, vem o preconceito, que gera a discriminação. E quando se trata de negritude, de juízo de valor de acordo com a etnia predominante, esse processo se chama racismo. É só reparar, fazer piada com preto sempre é mais fácil, sempre é mais fácil achar que o bandido é o preto, o favelado é que é significância de atraso social na cabeça da sociedade hipócrita, que acha que o cara vai pra favela porque quer e não a sociedade que criou essa situação. São os ritmos negros que as pessoas atribuem ao sexo banalizado, falta de planejamento familiar e é a religião afro que é vista como suja e demoníaca.


Racismo, preconceito e discriminação não são a mesma coisa, assim como música, dança e canto também não, mas esbarram na mesma matriz de conversa (já fui melhor nas analogias).

Um comentário:

Unknown disse...

Gostei das explicações, da forma como colocou os conceitos, da organização dos textos e das analogias :)
Massa mesmo!

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