Nos EUAses, há um grupo abertamente racista, outro,
abertamente neonazista e essas coisas. O país é sempre citado quando se quer falar no racismo aberto que lá ocorre, normalmente querendo negar que aqui a situação seja grave, mas lá, com tudo isso, uma família inteira - diversas vezes - pode ser retratada em seu cotidiano, sendo negra, e isso não é ofensivo. Aliás, porque tanta gente adora as séries das imagens acima, e outras, mas quando se fala em ausência negra na TV brasileira, estamos vendo chifres em cabeças de cavalo? Lá que o negro é minoria é natural estarem presentes na TV e qaui não?
No Brasil, nada é declarado e o que é apontado como racista, tentam maquiar de opinião, liberdade de expressão ou piada. Aqui, por um ou dois dias que se tira pra falar sobre a situação do negro, somos chamados de racistas... porque denunciamos o racismo (?!). Claro, isso é uma tentativa boçal de deslegitimar o reconhecimento do racismo dessa mesma gente que quer ser, mas não quer se assumir (lembrando que eu não acredito mais em desinformação, dado o advento da internet e as pesquisas sobre o assunto estarem disponíveis por toda a rede a um clique ou dedada – UIA! – no celular).
No Brasil, nada é declarado e o que é apontado como racista, tentam maquiar de opinião, liberdade de expressão ou piada. Aqui, por um ou dois dias que se tira pra falar sobre a situação do negro, somos chamados de racistas... porque denunciamos o racismo (?!). Claro, isso é uma tentativa boçal de deslegitimar o reconhecimento do racismo dessa mesma gente que quer ser, mas não quer se assumir (lembrando que eu não acredito mais em desinformação, dado o advento da internet e as pesquisas sobre o assunto estarem disponíveis por toda a rede a um clique ou dedada – UIA! – no celular).
Morgan Freeman
Pois bem, falemos sobre Morgan Freeman. O talentoso ator
negro estadunidense, todo ano, desde 2009, vem sendo sistematicamente usado
tanto pra um racista dizer que ele é um “negro consciente”, quanto para que o
próprio negro seja convencido “por um dos seus” comprando aquele discurso
“vamos parar de falar em racismo, que ele some”. Primeiro, devo explicar que
ele falou sobre o MÊS DA HISTÓRIA NEGRA estadunidense e não do nosso 20 de
novembro, DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA do Brasil , ok? A entrevista que editaram
tendenciosamente é sobre o fato de ele não querer que a história do negro seja
destacada da história do país de um modo geral. Como eu já escrevi ao site
Mundo Negro, é compreensível, visto que o negro ergueu o país lá, como fez
aqui, logo, não faz sentido celebrar em um único mês a participação da parte
afro da população, mas é um pouco mais complexo.
Entendo que Freeman (interessantemente, ‘homem livre’, em
tradução livre) não queira ser relegado a um mês, o menor do ano, para falar de
uma história que é a própria história de seu país, mas datas assim precisam ser
estabelecidas, enquanto existirem pessoas capazes de discriminar alguém tão
cinicamente a ponto de achar que é engraçado ou natural. Não é apenas
constatação histórica, é conscientização. E é aí que nossa luta se assemelha à
deles, mas aqui, existe um só dia para a conscientização e não celebração,
aliás, confusão particular nossa, quando tentam fazer tudo parecer uma festa,
sobretudo a mídia. Seria um tremendo barato ter o ano inteiro pra se discutir
abertamente as origens do racismo e a aplicação naturalizada dele na sociedade,
chegaríamos muito mais facilmente a soluções, só que infelizmente, isso não
está sendo possível. Então, um dia, um mês já é um começo.
Mas de onde veio essa história de mês da história negra
estadunidense?
A data – também celebrada no Canadá – tem dois pontos de partida:
Abraham Lincoln (sim, o 16º presidente estadunidense e caçador de vampiros) e
Frederick Douglass, um ex-escravo que se tornou estadista e escritor.
Abraham Lincoln |
Lincoln(12/02/1809 – 15/04/1865) – que tinha ascendência
indígena, mas uma preocupação maior em uma União fortalecida entre os estados -
foi o presidente dos EUAses durante a Guerra da Secessão, resumidamente, o
conflito entre os estados do norte (abolicionistas) e os do sul (escravocratas).
Quando os sulistas resolveram romper com o norte e fundar uma espécie de país
dentro do país, o norte entrou em guerra com eles pela preservação da União e
desenvolvimento industrial, econômico e tudo mais. Pra isso, teriam que banir a
escravidão, coisa que os sulistas não queriam. Deu-se a guerra, o norte ganhou
e Lincoln promoveu a passagem da escravidão à ilegalidade até ser banida.
Brilhou.
Frederick Douglass |
Já, Douglass (14/02/1818 – 20/02/1895) nasceu, vítima do
regime de escravidão e, depois de diversas situações de enfrentamento de
senhores, alfabetização clandestina e trabalhos forçados, conseguiu fugir,
constituiu família, escreveu livros autobiográficos até ser reconhecido como um
grande abolicionista. Cristão, chegando a romper com algumas igrejas por
excluírem-no de sacramentos por ser negro, ele alegava que só poderia haver
plena justiça com todos libertos na fé em Cristo e não com diversos religiosos
endossando argumentos bíblicos que justificariam a escravidão. Também foi
tabelião e fiel conselheiro de Abraham Lincoln.
Carter G. Woodson
O principal nome da referida data é Carter Godwin Woodson
(19/12/1875 – 03/04/1950), primeiro a levantar a necessidade de haver um evento
que conscientizasse e reconhecesse o negro como parte integrante e fundamental
da história dos EUAses.
Carter Woodson |
Filho de africanos escravizados, seu pai lutou na Guerra
Civil (Secessão) e mudou-se com a família para onde havia uma escola para
negros. Mesmo não podendo frequentar, por ser muito pobre, Carter estudou por
conta própria e foi evoluindo até se tornar professor e diretor do Douglass
High School. Já como professor universitário, ele publicou livros sobre a
história do afroestadunidense enquanto alertava à sociedade sobre a ausência
e/ou pouca representação nas escolas. É tido, aliás, como o primeiro acadêmico
a, de fato, estudar e propor a – inicialmente – semana da história negra de lá.
Essa semana seria a segunda de fevereiro, pois, como você
deve ter reparado, tanto Lincoln quanto Douglass nasceram em dias muito
próximos do mês. Isso começou em 1926, tendo se tornado o mês inteiro a partir
de 1976. No Reino Unido – onde Douglass esteve fugindo de possíveis ataques de
seu antigo senhor (exposto como tal em um de seus livros) – o mês é outubro.
É isso, essa é a história daquele vídeo editado e
maldosamente transcrito como se Morgan Freeman falasse de lá e aqui fosse a
mesma coisa. Racismo não é fada ou gnomo, não existe apenas se você acreditar.
É como uma fratura exposta, nem que você vire a cara, só colocando um band-aid
não vai curar, nem limpar sua consciência em relação ao que você pensa, mas
sabe que pega mal, por isso, prefere se mascarar de opinião ou piada. No mais,
o mês da história negra estadunidense, a marcha pelos direitos civis e os
Panteras Negras, isso tudo, além de Mandela, por exemplo, são grandes exemplos
de como confrontar o racismo ao invés de ‘mudar esse assunto chato’. O país tão
criticado por seu patriotismo exacerbado, desejo bélico e ganância econômica,
além da necessidade imperialista de se impor seu modo de vida idealizado aos
outros é, justamente, onde há uma das histórias mais aguerridas contra o
racismo fora da África.
Já aqui no Brasil, onde todos somos humanos e tenta-se tirar
a identidade do negro dizendo não haver negros, um bando de medíocre fica
achando que a piada, a opinião, o discurso, a proibição de acesso, são apenas
coincidências do espaço-tempo, que cada um já nasceu ocupando seus devidos
lugares de privilégios e desvantagens.
O cinismo está se arregaçando, cada vez
que falamos no assunto, vemos que ele não é inexistente, apenas estava
escondido e confortável.
A gente aponta e o racista dá triplos carpados pra
trás soltando fumaça como vampiros borrifados por água benta.
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