"Chespirito" foi um apelido dado a Roberto Gómez
Bolaños por Agustin P. Delgado, diretor de cinema, pelo fato de o artista ser
comparado a um “pequeno Shakespeare”, por sua versatilidade e inteligência. Nem
precisaria falar mais nada, mas como você, saganauta (saga o quê?!) sabe, eu
não falo pouco. Nem escrevo pouco.
Bem, ele foi escritor, roteirista, ator e mais uma gama de
talentos e funções que não cabe aqui ficar enumerando. Basta ver que o cara
começou escrevendo e atuando em alguns quadros, dali, foi desenvolvendo
personagens, recrutou alguns amigos e fez um universo próprio que eu, como nerd
(UIA!) só posso comparar a editoras como DC Comics e Marvel Comics. Num
ambiente mais próximo de sua arte, diria que está para um Chico Anysio mexicano
– ou vice-e-versa – mas o fato é que o eterno Chaves fez mais do que personagens
cativantes. E eu vou dizer porque já, já apenas usando a memória afetiva, por
puro calor da emoção de sua despedida (portanto, quem quiser lembrar, comentar
aqui ou no ‘feici’, esteja convidadx).
Ele ensinou verdadeiras lições de moral. “A vingança nunca é
plena, mata a alma e a envenena”, “as pessoas boas devem amar seus inimigos” e
outras, que até já citei aqui no blog, como aquele texto com momentos de dar nó
na garganta. Mas, pense comigo, amigx, ele também criou personagens femininas
inteligentes, fortes e independentes, numa época que tinha tudo pra cair no
estereótipo da mulher “de TPM eterna” ou personagens masculinos clichês... Não,
não, ele criou uma menina esperta demais para seus amiguinhos, uma dona de casa
viúva com garra pra criar um filho sozinha e ainda sonhar com uma nova vida
amorosa e até uma vizinha temporária que cuidava de uma sobrinha sozinha. Sim,
ele foi feminista, abordou mais de uma vez a emancipação feminina – que vinha
crescendo desde a década anterior a suas séries mais famosas. E não te esqueças
das músicas. Se você é jovem ainda, amanhã ainda se lembrará (achou que eu ia declamar
a letra?).
Ele nos mostrou que por trás de toda a ignorância de um homem
viúvo, havia o amor por uma filha que perdera a mãe ainda bebê, e que ainda
tinha pique pra orientar, à sua maneira, um menino de rua que foi parar na
vizinhança, dando voltas em seu senhorio, verdade, mas, sei lá, sendo pai
solteiro, sabe lá como eu seria naquelas condições. Nos apresentou famílias
completamente disfuncionais – ainda mais se você parar pra pensar no cenário
social dos idos de 1970 – que em nada se pareciam com esse modelo moralista de
‘família tradicional’. Pai viúvo com filha, mãe viúva com filho e namorado,
pobres, ricos e emergentes falidos, todos convivendo a ponto de viajarem juntos
e se reconhecerem como uma boa vizinhança.
Chaves foi – e é – muito mais do que estereótipos do terceiro
mundo. São a representação deste. A humanização deste mundo, que, apesar de não
ser aquele idealista modelo de american way of life, está aí pra nós, sobretudo
no Brasil, um dos países onde suas séries fizeram e fazem mais sucesso por
gerações, nos últimos 30 anos. Eu, particularmente, sou filho de uma
configuração “alternativa” de família. Pais separados, mas amigos, com
amiguinhos com pais casados, filhos de criação, irmãos de consideração...
enfim, fácil identificação e uma visão própria do menino Chaves (que se chama
originalmente El Chavo, ou seja, o moleque, em tradução livre). Continuo me
emocionando só de lembrar daqueles momentos que enumerei em outro post, só pra
registrar.
Apesar de gostar mais do Chapolin, por questões nerds (lembra,
eu sou um nerd multifacetado, Rá!) por causa das aventuras mais variadas,
Chaves me emociona nas relações entre seus personagens. Lembra muito o subúrbio
onde vivo, nasci e me criei. Pessoas diferentes, amigas, barracos, churrascos,
mas, no fim do dia, todo mundo tá ali. Claro, uns desafetos, nada pode ser
perfeito como a ficção, mas a ideia toda está ali. Tipos diferentes, frases
características, mas também uma amizade, um sentimento de ‘conta comigo’ que
permeou minha infância e até hoje gosto de assistir.
Não à toa, sou da geração Chaves, aquela que cresceu conforme a
audiência da série, que estreou no SBT quase ao mesmo tempo que eu neste mundo,
então, junto com muitas outras coisas, foi muito presente nas influências
externas e midiáticas da minha vida. Roberto Gómez Bolaños foi um gênio. Criou
tipos e contextos que até hoje estão no subconsciente popular da sociedade e
nos trouxe muita alegria. Fica sua obra, porque é aquele clichê, né? O artista
não morre, continua vivo em nossas lembranças, em sua obra. Muito bom parar pra
refletir sobre isso e ver que tanta coisa boa aquele infantonerd juvenil
aprendeu com ele. Com tanta besteira que poderia entrar nessa cabecinha de nós
todos, fiquei com suas frases de efeito, a mania de olhar para o nada, como se
fosse uma câmera, diante de uma situação infame e o próprio gosto por piadas
infames.
Pra não terminar triste e melancólico – até porque já basta esse
clima de final de ano e papais noéis rebolativos saxofonistas, aqui vai uma
piada: Qual o animal que come com o rabo? Não sabe? TODOS! E porquê? Não podem
tirar o rabo para comer!
Rá!
Um comentário:
Fantástico!! Deixará saudades...
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