Crônicas, divagações e contestações sobre injustiças sociais, cultura pop, atualidades e eventuais velharias cult, enfim, tudo sobre a problemática contemporânea.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Relatos Interessantes: É só uma piada

Bem, inauguro aqui uma espécie de seção de desabafo, mas não aquele desabafo emocional, acalorado, um desabafo em forma de testemunho. Coisas que preciso compartilhar (e quem quiser, fique à vontade pra me encaminhar os seus próprios). No episódio de hoje: A galera do 'É só uma piada'. Primeiramente, devo dizer, esse negócio de piada, como sempre digo, não é inocente. Toda piada é como uma conversa, um poema, uma reportagem, um livro, etc... é uma peça de comunicação entre pessoas de uma sociedade. Portanto, não existe piada que não carregue, minimamente, uma ideologia. Pode ser a de quem a conta, pode ser de alguém que segue feito um cãozinho adestrado, mas o fato é que piada não é só piada. Veja isso.



Essa aconteceu comigo mesmo (Fernando Sagatiba) há coisa de dois anos, mais ou menos. Tinha uma pessoa no meu Facebook... chamarei essa pessoa de Piadista. Bem, Piadista - até onde convivi - era um roqueiro ateu - mas que não falava inglês (eu hein, como entendia se não o xingavam nas letras de rock internacionais que ouvia?) - e, seguindo todo o trajeto conservador metido a rebelde, fazia a modinha 'é só uma piada' e que piada tem que ter um alvo pra ser engraçada. Certa feita, Piadista postou uma montagem que, supostamente, visava ofender fãs de BBB, mostrando um ex-BBB pagando de assistente "especialista em BBB". Na legenda, estava escrito 'tinha que ser nigga mesmo'. Percebe? O supra inteligente não sacava de inglês e não viu que estava, na verdade, repassando uma peça racista. Comentei isso, ele reconheceu que não sabia.

Não era exatamente essa a representação do orixá, mas dá uma ideia.

Outra hora, eu postei uma imagem de Iansã (a divindade da mitologia iorubá que representa dos ventos e tempestades) representada por uma mulher negra de semblante valente e seios nus. Ele veio no meu facebook e comentou 'Ia nela fácil!'. Ainda brinquei que não se pega vento ou tempestade e a vida seguiu. Depois de algumas outras piadas mal formuladas como zoar mulheres feministas que gostam que homens abram portas de carros, eis que o Piadista posta uma montagem com um diálogo fake entre Charlie Brown e Snoopy onde um admirava a criação de Deus e o outro falava algo como 'é, a peste negra foi sensacional mesmo'. Não liguei pra isso e, um tempo depois, fiz uma postagem criticando piadas preconceituosas. Afinal, realmente não entendo que interesse é esse em ateus-revolta quererem provar que Deus não existe. Eu, por exemplo, vivo bem admitindo ue não sei de nada e o pouco que teorizo pode estar completamente errado. Tenho fé? Tenho, mas não ligo pro que os outros falam, nem acho que os outros devam mudar as suas. Enfim...

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A imagem era essa, mas com balõezinhos.

Piadista e eu tivemos um longo embate de ideias, eu defendendo que piada tem que ter responsabilidade e respeito e ainda assim, pode ser inteligente e engraçada (coisa que é a grande graça da piada, com perdão do trocadilho). Ele, com aquele papo sexta-série-de-fundo-de-sala de que tem que ofender um pra dez rirem e toda aquela baboseira. Terminei a conversa dizendo:

"Houve um acidente na Lua. Sem gravidade."


E perguntei que tipo de ofensa ele via numa piada dessas. Ele riu, mandou aquele discurso genérico de quem foge da conversa por falta de argumentos próprios não decorados. E dias se passaram.

Então, o que aconteceu? Confirmaram Beyoncè no Rock in Rio (2013, 2014, sei lá), e Piadista postou uma montagem em que o "gigante" (aquele do Johnny Walker - keep walking) ia embora depois disso. Eu postei uma piada interna da galera nos comentários "hmmmmm" (aquela expressão de quem duvida da masculinidade do cara). Ele se contorceu feito vampiro em molho de água benta, foi áspero dizendo que se eu o considerasse gay por preferir um coroa barbudo tocando guitarra a uma gostosa rebolando, então que era pra eu chamá-lo de gay mesmo e blá, blá, blzzzzZZZZZZ.



Eu apenas respondi que se ele defendia tanto a piada com um alvo, que não se enfurecesse assim, já que 'é só uma piada'. Pela ironia seguinte 'tá, comenta o que você quiser aí' e a pergunta dele 'precisa mesmo disso?', percebi que ele não superaria tão fácil a prova do próprio veneno e que ainda lembrava de nosso embate anterior, o que me emocionou, houve um tempo em que ninguém ligava pro que eu falava. Rá! E olha que nem fiz de maldade, apenas mencionei por ser oportuno, mas aí, já era. Já não poderia haver respeito da minha parte. Outro dia, Piadista passeava com a esposa na Central do Brasil e nem olhou na minha cara. Me excluiu do Face. Não deixou saudades.

Tem um relato também? Me procura no feici.



Lembrando, não precisa ser sobre humor ofensivo, QUALQUER história de contestação e combate a preconceitos estamos aí pra divulgar mesmo. Prometo que dou créditos, se quiserem, e também guardo sigilo absoluto se for o caso. Poupei até a identidade de um reaça, acreditem em mim. Rá!²

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