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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Delegada trans pode assumir Delegacia da mulher em Goiânia

Delegado Thiago.
Lendo sobre um delegado... uma delegada trans com possibilidade de assumir a Delegacia da Mulher de Goiânia, comecei a refletir sobre o lugar da pessoa trans em nossa sociedade. Eu não domino o assunto, mas tecerei algumas considerações sobre minha visão, pois, mesmo assim, acho importante pra outros ‘leigos’, como eu, que possam estar em algum ponto do entendimento por onde passei. Mas, pra isso, preciso contar uma historinha que eu vivi.

Eu costumava achar que não havia problemas nas pessoas gays, mas que era exagero se vestir como o sexo oposto ou mesmo mudar de sexo. Com o tempo e diversas pesquisas sociais, aprendi que as pessoas precisam se sentir bem consigo mesmas e que se pra isso é preciso mudança, que o façam! Em segundo lugar, aprendi que não é apenas uma fantasia, para muitos é questão de sobrevivência ser e ser respeitado por ser, sem favores, sem condições. E, por último, mas, talvez, o mais importante: NÃO É da MINHA conta! Não é pra me agradar , nem pra me ofender que gays são gays, micareteiros são micareteiros ou grampeadores são grampeadores.

Delegada Laura.
Quando passei a enxergar o mundo como quem quer realmente entender as pessoas nele, passei a, primeiramente, ME aceitar, com tudo que tenho e sou. E essa plena consciência de mim mesmo me fez perceber que é isso que fez a diferença pra mim, minha autoconfiança, o livramento de um peso que – acho – atrapalhava até minha criatividade pra escrever – já que isso, direta ou indiretamente, afetava no desenvolvimento do raciocínio, preocupado em ser alvo de críticas que, talvez, eu mesmo compactuasse. Até que fui aceitando e resolvendo outros preconceitos. Parei de viver o “eu respeito, mas longe daqui” e passei a gostar de ser o “venha como você é” e a coisa fluiu, pelo menos, pra mim.

Qual é a diferença entre uma mulher que nasceu mulher e uma que se sentia mulher, mas sendo, biologicamente, um homem? Nenhuma... ou melhor, é relativo. Por exemplo, será que uma mulher lésbica entende mais de ser mulher do que um homem gay com o desejo de mudar de sexo? Nunca saberemos, mas isso não importa, a delegada Laura (antes, Thiago de Castro Teixeira), que está em licença, será lotada em outra delegacia, que ainda não está definida e é mais uma pessoa, não um dado pra ficarmos determinando aqui a legitimidade de sua mudança de sexo.

Delegada afirma ter apoio dos colegas "Estou tranquila".
Mas o que me traz a este texto é a informação - e o modo como é colocada - por Cíntia Barcelos, advogada especialista em direito homoafetivo e presidente da Comissão de Direito Homoafetivo da OAB-GO. Antes, saiba que enquanto não é acertado o destino da delegada Laura, a assessoria da Polícia Civil já afirma que a licença é uma questão pessoal e que não interfere em nadano trabalho da instituição. Sobre isso, Cíntia confirma que a mudança do registro civil não altera a situação jurídica da pessoa, o que deve ser alterado é o comportamento da sociedade em relação ao assunto. Ela também acredita que Laura poderá servir de exemplo para desmistificar a questão e incentivar outros que estejam com esse desejo reprimido pelo medo da reação da sociedade.


Chyntia Barcellos
Não é sobre mim, não é um favor que eles fazem e não é uma honra concedida, sua vida é sua vida, faça dela o que bem quiser, pense em consequências, mas também pense em arrependimentos por manter sonhos engaiolados. 

O mundo não se alterou em nada quando mudei de opinião e passei a ter convívio com mais pessoas que foram me comprovando que eu estava no caminho certo mantendo minha mente aberta às pessoas por si só e não esperando que me agradassem de acordo com fórmulas e rótulos estereotipados na mídia e na sociedade. Não são objetos pra eu apontar, são pessoas pra eu respeitar.  

Fonte: O Dia.

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