Se você tem que explicar que não é preconceito, é porque sabe que é. |
Sempre que alguém precisa avisar que seu comentário
preconceituoso é “só uma piada”, é nítido sinal de que É preconceito puro e
sintoma de que a pessoa sabe disso. Do contrário, não haveria necessidade de
explicar, ou, melhor ainda, não haveria a tentativa cara-de-pau de tentar se
redimir com esse fraco argumento. Exposto o cânone da faceta cruel da
humanidade cínica, vamos aos fatos.
Pegando carona no autismo da personagem Linda – da novela
Amor à Vida – e na folclórica obsessão do senso comum em estar em um
relacionamento afetivo, uma página que se diz de humor publicou uma “piada”
fazendo referência à dificuldade de socialização do autista (Linda) e seu êxito
em encontrar alguém que a ame, contra todas as probabilidades, e até lógica,
segundo alguns especialistas.
Comportamento violento ou discurso de violência e sexo. Afinal, para o Facebook, nada mais é demonstração de preconceito. Apoiadores do discurso "é só uma piada". |
O preconceito e a necessidade de se usar qualquer coisa no
desespero de arrancar algumas risadas nervosas de uma plateia “oba, que bom que
não sou eu na berlinda” estão em toda parte. Hoje em dia, a diferença, é que as
pessoas estão mais conscientes dessas demonstrações de desrespeito. Chamam de
patrulha, politicamente correto e outras baboseiras pra desqualificar a
argumentação dos observadores, mas liberdade de expressão não deixa ninguém
acima do bem e do mal, ao contrário, traz a pessoa para a possibilidade do
direito de resposta e , se for o caso, penalização. Interessante é que o Facebook não considera preconceito como motivo de denúncia, pois, exibe opções redundantes sobre ódio e violência, mas não fala sobre preconceito sutil. ou seja, parte do pressuposto que preconceito só pode ser por meio de agressão ou não está nem aí pra isso mesmo?
Pois bem, quando a pessoa explica que é pra levar na
esportiva, é como quem é pego fazendo m*erda e apela “não conta pra ninguém que
eu to fazendo m*erda”, ou seja, demonstra preconceito, falta de consideração ao
próximo e a falha de caráter em se preocupar se vai ser julgado, mais do que se
vai ofender. Em tempo, sei que Linda é só uma personagem, mas o autismo não é
ficção. Aliás, tremenda babaquice essa de querer escalonar quem merece mais
estar namorando ou casando, já que o que importa na hora H não é beleza, peso,
condição física ou fisionomia. Não existe isso de ‘bonito demais pra estar
solteiro’ ou ‘feio demais pra estar namorando’, e nem suas variantes ‘feia
demais para namorar aquela pessoa bonita’ ou ‘merecia coisa melhor fisicamente’.
Isso nos leva ao próximo tópico: As ‘piadas’ irresponsáveis
quanto a fotos alheias. Já falei várias vezes por aqui que uma piada, como
qualquer peça de comunicação do ser humano com a sociedade, já nasce carregado
de ideologia. Querer empurrar essa falácia de “é só pra rir” é muita ignorância
ou um cinismo nível ninja silencioso no escuro. Dito isso, pense que aquela
pessoa gorda de biquíni poderia ser uma parente ou um amigo seu. Por hora,
tente fazer esse exercício de usar a mente e veja, em vez de uma pessoa ridícula,
apenas um ser humano que cometeu o “pecado” de publicar fotos próprias, como
todo mundo faz, mas não teve a decência de pedir a SUA opinião, se poderia
expor tamanha cara-de-pau de querer agir feito gente normal.
Já pensou? Já tentou ver essas pessoas gordas, desdentadas,
magricelas, cabeludas, mal vestidas, etc, como conhecidas suas? Você gostaria
disso? Você acharia legal meio mundo distribuindo essas imagens para que a
outra metade apontasse apenas pra se sentir superior rindo de que meles fora
programados a acharem ridículos? Isso me faz lembrar de outra “piada” (calma,
uso aspas porque ainda não encontrei a palavra certa pra essa aberração), dessa
vez, sobre Lizzie Velásquez, a “mulher mais feia do mundo”. Frequentemente, há
anos, vejo fotos dela sendo espalhadas internet afora co o único intuito de
ilustrar piadas sobre feiúra.
Isso aí acima é uma piada? Eu acho uma babaquice. Ela é uma pessoa, não um instrumento ou um desenho animado pra fazerem piadas. |
Na boa? Ela, após ter imagens suas publicadas, já leu
receitas de como se matar, de como poupar as pessoas de se cegarem ao ter uma
visão de sua esquisitice e perguntas sobre os motivos de os pais dela não terem
abortado. Pareceu piada ainda? Sentiu necessidade de explicar que você só
reproduziu um pensamento comum da sociedade como se fosse sua opinião e
defendendo como certo por maioria de votos? Bem, Lizzie tem, hoje, 25 anos,
nasceu seis semanas antes do previsto e com uma síndrome genética rara. Contra
todas as previsões pessimistas dos médicos, ela vingou, se formou em Comunicação
(sim, ela é colega minha, Rá! CHUPA!) e já vai para seu terceiro livro, além de
palestras motivacionais.
No frigir dos ovos? Piadas que usem pessoas inocentes como
ferramenta pra arrancar risos de vergonha alheia são babaquice, na minha inútil
opinião, e se as pessoas se colocassem mais no lugar do próximo, muitos metidos
a comediantes já teriam achado um talento verdadeiro pra fazer rir ou, no mínimo,
teriam admitido que não têm graça nenhuma se não podem ofender. Aliás, ofender
e, como todo preconceito, deixando informações de lado que poderiam mudar o
rumo da “piada”. É como se você visse seu irmão sendo alvo de piadas por alguma
coisa que você sabe que lhe dói e tentasse explicar aos outros, que não sabem
disso, apenas querem alguém pra descarregar suas frustrações.
Fique com uma declaração de Lizzie e – por tabela – um resumo
do que eu penso sobre essa cagação de regra do que é bonito, feio, normal,
marciano e social:
"Vocês querem
saber? Eu tive uma vida realmente muito difícil. As coisas foram assustadoras,
foram pesadas. Mas minha vida está nas minhas mãos. Eu posso escolher fazer
disso algo muito ruim ou algo muito bom. Eu decidi ser orgulhosa da pessoa que
sou, de estar na pele em que estou. Me sinto especial. Posso não enxergar de um
olho, mas enxergo do outro. Posso ser magra demais, mas meu cabelo é ótimo. E
pode ser que eu não pareça com a Kim Kardashian ou todas essas pessoas nas
revistas ou as estrelas de cinema. Realmente não me vejo assim. Mas não me
importa. Ninguém tem que parecer como uma esplendorosa celebridade. Seja quem é
e sinta orgulho disso. A melhor forma de se vingar daqueles que julgam e te
menosprezam é contra-atacar com seus méritos e conquistas".
Depois disso, querer escolher onde é o lugar de gente bonita e feia fica meio ridículo, não é? E se você continua a se prender a conceitos que ninguém se enquadra, faça análise, o mundo é muito grande e você se impressiona por uma minoria absoluta na TV, na capa de revista e na internet. Ah, cresça desse pântano de amargura.
Depois disso, querer escolher onde é o lugar de gente bonita e feia fica meio ridículo, não é? E se você continua a se prender a conceitos que ninguém se enquadra, faça análise, o mundo é muito grande e você se impressiona por uma minoria absoluta na TV, na capa de revista e na internet. Ah, cresça desse pântano de amargura.
Fonte: OBVIOUS.
Um comentário:
Sou mãe de autista e não aceita nenhuma piada com autistas! Nenhuma!
E a Linda não poderia se casar porquê?? Não quero saber se é página de humor! Não aceito e pronto!!!
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