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sábado, 26 de abril de 2014

Barbosa: A defesa do goleiro


Dia 26 de abril é dia do goleiro, em homenagem ao dia e mês de nascimento de um goleiro de apelido Manga, que defendera a Seleção em 1966. Mas vou falar sobre um outro goleiro, um que é tremendamente injustiçado no futebol brasileiro: Moacir Barbosa Nascimento, ou, somente Barbosa (27/3/1921-7/4/2000), como ficou mundialmente conhecido. A história de Barbosa é extensa em títulos e reconhecimento de talentos notáveis para um goleiro, sobretudo se pensarmos que em 1950, o futebol ainda engatinhava em profissionalismo, estrutura e interesses escusos além da bola no pé. Mas o cara é mais lembrado por um único momento infeliz. Tudo bem, esse único momento infeliz foi a perda do título da primeira Copa do Mundo depois da segunda guerra, e no Brasil, mas aconteceram outros inúmeros fatores, sendo o goleiro apenas o último elo de uma série de desvarios que aconteceram e você vai entender porque eu considero a Seleção Brasileira de 1950 um Titanic futebolístico.

Primeiro, vamos falar do goleiro Barbosa, que eu conheci através de uma entrevista que assisti na TV falando sobre seu mais famoso e triste momento na carreira. Ele assinalava que já pagava por um crime que não cometeu há uns 50 anos (Barbosa faleceu em 7 de abril de 2000), quando a pena máxima no Brasil é de 30 o que já revela aí sua amargura. Barbosa ganhou diversos títulos por onde passou, fez parte do famoso Expresso da Vitória, ganhou 6 Cariocas pelo Vasco, Copa Roca pela Seleção, Campeonato Sul-Americano de Campeões (que você pode deduzir ser um modelo precedente da Libertadores da América), também pelo Vasco e, pela seleção também teve uma Copa América. Mas, eis que chega a Copa de ’50, faz-se um oba-oba gigantesco – com políticos já ensaiando suas táticas de pegar carona no carisma do esporte em troca de popularidade e a cagada era certa.


Muitos atribuem a derrota a um conjunto de fatores. O clima de vitória certa, as festas pelas ruas como se o título já estivesse garantido, a mudança de sede de concentração para um lugar onde o foco era a comemoração antecipada e não o jogo de 90 minutos, etc. Tá certo, o Brasil entrava com a vantagem do empata, mas sabemos que só se ganha um jogo em campo e com o placar favorável ao apito final, coisa que não tinha muita cara de que ia acontecer. Para Barbosa, além da falta de concentração – literalmente – a Seleção também teve que lidar com o adversário – sim, alguém lembrou que o jogo era entre DUAS equipes e não um bate-bola estilo titulares/reservas ? – pois diante de tanta presepada tupiniquim, o Uruguai, provavelmente, se motivou ainda mais a superar o desafio, sabe aquela coisa com os brios.

Somando-se ao fato de que era a primeira Copa que o Brasil disputava – e em casa – o brasileiro criou muita expectativa – ou fora levado a isso, como estamos vendo atualmente – e se sentiu frustrado, o que é natural, já dizia Buda. Mas o que o Brasil não poderia fazer era culpar um goleiro por sofrer um gol como aquele. Até porque o goleiro é tão parte do time quanto o atacante ou o técnico e o time todo precisou perder a bola até chegar ali na meta brasileira. Mas o que acontece - e eu sei, porque já joguei na posição em tempos escolares – é que qualquer um pode culpar o próximo companheiro a perder a bola, só o goleiro é que não, pois passando dele é quase certo que o destino da bola seja o fundo da rede. Ou seja, ironicamente, o goleiro é o único que não tem ‘defesa’. Mas, por Barbosa, e por aquela imagem triste que nunca mais saiu da minha cabeça, é que eu venho em sua defesa. Uma injustiça culpá-lo e aliviar outros porque não eram a última esperança de salvação em campo. Veja o que o cronista esportivo Armando Nogueira (1927-2010) escreveu sobre Barbosa:

Certamente, a criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro. Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Ghiggia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma maldição. E quanto mais vejo o lance, mais o absolvo. Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera”.   



Barbosa terminou seus dias recluso, em Praia Grande (SP), onde vivia recluso, com uma filha adotiva. Antes, ao encerrar sua carreira, era funcionário da SUDERJ (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro), que administra diversos complexos esportivos aqui no Rio, entre eles, claro, o Maracanã. E, pra acabar, fator semelhante a essa titaniqueada futebolística brasileira foi a copa de 1998, mas aí, entraram fatores políticos e comerciais que eu não vou falar agora, quem sabe, no ‘dia da convulsão’ eu use como gancho. Hoje não. Para terminar, assista a um curta metragem em que Antônio Fagundes volta no tempo para impedir a derrota do Brasil e acaba criando um paradoxo temporal - do tipo que eu adoro, sem começo e fim.



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