Dia 26 de abril é dia do goleiro, em homenagem ao dia e mês de nascimento de um goleiro de apelido Manga, que defendera a Seleção em 1966. Mas vou falar sobre um outro goleiro, um que é tremendamente injustiçado no futebol brasileiro: Moacir Barbosa
Nascimento, ou, somente Barbosa (27/3/1921-7/4/2000), como ficou mundialmente conhecido. A história
de Barbosa é extensa em títulos e reconhecimento de talentos notáveis para um
goleiro, sobretudo se pensarmos que em 1950, o futebol ainda engatinhava em
profissionalismo, estrutura e interesses escusos além da bola no pé. Mas
o cara é mais lembrado por um único momento infeliz. Tudo bem, esse único
momento infeliz foi a perda do título da primeira Copa do Mundo depois da
segunda guerra, e no Brasil, mas aconteceram outros inúmeros fatores, sendo o
goleiro apenas o último elo de uma série de desvarios que aconteceram e você
vai entender porque eu considero a Seleção Brasileira de 1950 um Titanic
futebolístico.
Primeiro, vamos falar do goleiro Barbosa, que eu conheci
através de uma entrevista que assisti na TV falando sobre seu mais famoso e
triste momento na carreira. Ele assinalava que já pagava por um crime que não
cometeu há uns 50 anos (Barbosa faleceu em 7 de abril de 2000), quando a pena máxima
no Brasil é de 30 o que já revela aí sua amargura. Barbosa ganhou diversos títulos
por onde passou, fez parte do famoso Expresso da Vitória, ganhou 6 Cariocas
pelo Vasco, Copa Roca pela Seleção, Campeonato Sul-Americano de Campeões (que
você pode deduzir ser um modelo precedente da Libertadores da América), também
pelo Vasco e, pela seleção também teve uma Copa América. Mas, eis que chega a
Copa de ’50, faz-se um oba-oba gigantesco – com políticos já ensaiando suas táticas
de pegar carona no carisma do esporte em troca de popularidade e a cagada era
certa.
Muitos atribuem a derrota a um conjunto de fatores. O clima
de vitória certa, as festas pelas ruas como se o título já estivesse garantido,
a mudança de sede de concentração para um lugar onde o foco era a comemoração
antecipada e não o jogo de 90 minutos, etc. Tá certo, o Brasil entrava com a
vantagem do empata, mas sabemos que só se ganha um jogo em campo e com o placar
favorável ao apito final, coisa que não tinha muita cara de que ia acontecer. Para
Barbosa, além da falta de concentração – literalmente – a Seleção também teve que
lidar com o adversário – sim, alguém lembrou que o jogo era entre DUAS equipes
e não um bate-bola estilo titulares/reservas ? – pois diante de tanta presepada
tupiniquim, o Uruguai, provavelmente, se motivou ainda mais a superar o
desafio, sabe aquela coisa com os brios.
Somando-se ao fato de que era a primeira Copa que o Brasil
disputava – e em casa – o brasileiro criou muita expectativa – ou fora levado a
isso, como estamos vendo atualmente – e se sentiu frustrado, o que é natural, já
dizia Buda. Mas o que o Brasil não poderia fazer era culpar um goleiro por sofrer
um gol como aquele. Até porque o goleiro é tão parte do time quanto o atacante
ou o técnico e o time todo precisou perder a bola até chegar ali na meta
brasileira. Mas o que acontece - e eu sei, porque já joguei na posição em
tempos escolares – é que qualquer um pode culpar o próximo companheiro a perder
a bola, só o goleiro é que não, pois passando dele é quase certo que o destino
da bola seja o fundo da rede. Ou seja, ironicamente, o goleiro é o único que não
tem ‘defesa’. Mas, por Barbosa, e por aquela imagem triste que nunca mais saiu
da minha cabeça, é que eu venho em sua defesa. Uma injustiça culpá-lo e aliviar
outros porque não eram a última esperança de salvação em campo. Veja o que o
cronista esportivo Armando Nogueira (1927-2010) escreveu sobre Barbosa:
“Certamente, a
criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro. Era um goleiro
magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de
Ghiggia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma maldição. E quanto mais vejo
o lance, mais o absolvo. Aquele jogo o Brasil perdeu na véspera”.
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