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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Pelé, o poeta, ataca novamente

Pelé, 'big mouth strikes again', o poeta, falou que o racismo era coisa que ele sorria e deixava pra lá. Comparou xingar um negro de macaco a chamar um japonês de japonês, argentino de argentino... Cara, eu aceito que fale até besteira, mas falar merda não. Ele não é um dos nossos.


Eu sou preto. Desde que nasci. Antes de nascer. Sempre fui. Mesmo quando aprendi que teria que ser 150% bom em tudo que fizesse, só pra compensar o fator étnico, que “só” o máximo não seria o suficiente para nossa sociedade. Mesmo quando ria junto com os piadistas que queriam aparentar condescendência com minha ‘condição’, mostrando-se em um outdoor como desencanados com seu racismo por ter um ‘bom crioulo’ ao lado e deixando-os tranqüilos por evitar aborrecimentos a eles. Mesmo quando percebia os olhares de desprezo, como quem se alivia por ver que eu era o pequeno Cirillo, querendo adentrar um mundo que não era meu, em busca de aceitação. ‘Bom crioulo’? Na verdade eu era um bom bicho de estimação. O Sexta-Feira de Robinson Crusoé. O ajudante, alívio cômico. Tão sagaz pra tanta coisa, no entanto... Eu era o Pelé, quando poderia ser o Barbirotto (caso jogasse futebol com Chaves).

Na verdade, não daria pra ser o Pelé, não tenho tanta poesia nas veias e nem tampouco sua perspicácia de se manifestar em momentos tão oportunos. “Quem cede a vez não quer vitória” já diz o verdadeiro poeta, Jorge Aragão em seu hino Identidade. Pelé é um ‘bom crioulo’, um ‘preto de alma branca’, enfim, não é, nem de longe, representatividade para o combate ao racismo. Sua conversa é tão vazia que eu até acho que ele deve falar essas asneiras por puro lazer, só de sacanagem. Como o rei do futebol já demonstrou gostar mais de dinheiro e influências no alto escalão do que de reconhecimento de paternidade, acho que ele é um daqueles aspones sociais que fica apostando. Sem brincadeira, imagino claramente ele apostando com um amigo e, perdendo o certame, tem que pagar a prenda vindo a público pra abrir o engolidor de dinheiro dele. Paulo Cézar Caju é que tá certo, disse, recentemente, que ele teria uma grande representatividade pela fama que ganhou jogando futebol, mas, o poder corrompe.

Paulo Cézar Caju, tricampeão mundial em 1970 e apoiador dos Panteras Negras. Esse
me representa.

Então, voltando ao início, eu sou preto onde quer que eu for. Seja no lazer dos pagodes da vida, onde a negritude predomina orgulhosa de sua identidade, seja nos ambientes caucasianos e privilegiados sociais. Sou preto indo pro trabalho, sendo perseguido na loja como um tipo suspeito, sou preto escrevendo isso aqui ou lendo uma HQ de super heróis. Agora, Pelé, muito mal é preto na cor da pele e, vendo seu círculo social, suas companhias femininas e tudo mais, nota-se que nem isso ele seria se houvesse opção de mudança. Enfim, o deus do futebol, novamente, deixou sua santidade poética pra abrir a boca no momento oportuno, mas com o conteúdo mais nojento do que aquele cara que tampa uma narina e assoa a outra ao ar livre, na sua frente e contra o vento.

Ele dizer que no tempo dele apenas sorria e ignorava não era lidar com o racismo. Vamos convencionar uma coisa? Paremos com essa palhaçada de que é só parar de falar em racismo que ele some. Isso só satisfaz o racista qu8e não terá que dar explicações sobre suas atitudes, mas continuará a exercê-las. Como você resolveria uma fratura exposta? Operando ou cobrindo com um lençol pra não chocar quem olhar pra ela? É tipo isso, não se recolve nada apenas deixando de acreditar, como sempre falo. O nome disso é FADA. Fadas são assim, você deixa de acreditar e elas morrem. Racismo a gente combate orientando os nossos, debatendo pra que nossa argumentação chegue até o racista e ele sinta-se constrangido em nos humilhar em nossa negritude pra que seus brios sejam valorizados. Não estamos aí pra curar carência de superioridade de ninguém e Pelé, o Poeta, pratica um desserviço tamanho na causa, que merece um boicote não só da negritude, mas da categoria social jogador de futebol.


Jogadores são tão suscetíveis à ilusão de amor dos fãs que podem até se distrair, não Aranha, que sabe que muitas vezes é apenas tolerado porque é jogador e famoso, mas muitos podem acabar olhando pro Pelé e achando que ele presta pra mais alguma coisa além de figurar em replays ad eternum de seus jogos de 50 anos atrás. Juro que quando vi que ele tinha se pronunciado sobre o caso, antes de abrir o link, achei que ele fosse mandar a máxima: “Aranha, eu já fui preto e sei o que você tá passando, entende”. Entende? Eu não. Ou seu rei é maluco ou tá danado. E quanto à negritude, vamos tesouro, não se juntem a essa gentalha.    

Percebe o perigo que é deixar um aloprado desses à solta na sociedade. Olha o apelo que ele tem com jogadores iniciantes.

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