Pelé, 'big mouth strikes again', o poeta, falou que o racismo era coisa que ele sorria e deixava pra lá. Comparou xingar um negro de macaco a chamar um japonês de japonês, argentino de argentino... Cara, eu aceito que fale até besteira, mas falar merda não. Ele não é um dos nossos.
Eu sou preto. Desde que nasci. Antes de nascer. Sempre
fui. Mesmo quando aprendi que teria que ser 150% bom em tudo que fizesse, só
pra compensar o fator étnico, que “só” o máximo não seria o suficiente para
nossa sociedade. Mesmo quando ria junto com os piadistas que queriam aparentar
condescendência com minha ‘condição’, mostrando-se em um outdoor como
desencanados com seu racismo por ter um ‘bom crioulo’ ao lado e deixando-os tranqüilos
por evitar aborrecimentos a eles. Mesmo quando percebia os olhares de desprezo,
como quem se alivia por ver que eu era o pequeno Cirillo, querendo adentrar um
mundo que não era meu, em busca de aceitação. ‘Bom crioulo’? Na verdade eu era
um bom bicho de estimação. O Sexta-Feira de Robinson Crusoé. O ajudante, alívio
cômico. Tão sagaz pra tanta coisa, no entanto... Eu era o Pelé, quando poderia
ser o Barbirotto (caso jogasse futebol com Chaves).
Na verdade, não daria pra ser o Pelé, não tenho tanta
poesia nas veias e nem tampouco sua perspicácia de se manifestar em momentos
tão oportunos. “Quem cede a vez não quer vitória” já diz o verdadeiro poeta,
Jorge Aragão em seu hino Identidade. Pelé é um ‘bom crioulo’, um ‘preto de alma
branca’, enfim, não é, nem de longe, representatividade para o combate ao
racismo. Sua conversa é tão vazia que eu até acho que ele deve falar essas
asneiras por puro lazer, só de sacanagem. Como o rei do futebol já demonstrou
gostar mais de dinheiro e influências no alto escalão do que de reconhecimento
de paternidade, acho que ele é um daqueles aspones sociais que fica apostando.
Sem brincadeira, imagino claramente ele apostando com um amigo e, perdendo o
certame, tem que pagar a prenda vindo a público pra abrir o engolidor de
dinheiro dele. Paulo Cézar Caju é que tá certo, disse, recentemente, que ele
teria uma grande representatividade pela fama que ganhou jogando futebol, mas,
o poder corrompe.
Paulo Cézar Caju, tricampeão mundial em 1970 e apoiador dos Panteras Negras. Esse me representa. |
Então, voltando ao início, eu sou preto onde quer que eu
for. Seja no lazer dos pagodes da vida, onde a negritude predomina orgulhosa de
sua identidade, seja nos ambientes caucasianos e privilegiados sociais. Sou
preto indo pro trabalho, sendo perseguido na loja como um tipo suspeito, sou
preto escrevendo isso aqui ou lendo uma HQ de super heróis. Agora, Pelé, muito
mal é preto na cor da pele e, vendo seu círculo social, suas companhias
femininas e tudo mais, nota-se que nem isso ele seria se houvesse opção de
mudança. Enfim, o deus do futebol, novamente, deixou sua santidade poética pra
abrir a boca no momento oportuno, mas com o conteúdo mais nojento do que aquele
cara que tampa uma narina e assoa a outra ao ar livre, na sua frente e contra o
vento.
Ele dizer que no tempo dele apenas sorria e ignorava não
era lidar com o racismo. Vamos convencionar uma coisa? Paremos com essa
palhaçada de que é só parar de falar em racismo que ele some. Isso só satisfaz
o racista qu8e não terá que dar explicações sobre suas atitudes, mas continuará
a exercê-las. Como você resolveria uma fratura exposta? Operando ou cobrindo
com um lençol pra não chocar quem olhar pra ela? É tipo isso, não se recolve
nada apenas deixando de acreditar, como sempre falo. O nome disso é FADA. Fadas
são assim, você deixa de acreditar e elas morrem. Racismo a gente combate
orientando os nossos, debatendo pra que nossa argumentação chegue até o racista
e ele sinta-se constrangido em nos humilhar em nossa negritude pra que seus
brios sejam valorizados. Não estamos aí pra curar carência de superioridade de
ninguém e Pelé, o Poeta, pratica um desserviço tamanho na causa, que merece um
boicote não só da negritude, mas da categoria social jogador de futebol.
Jogadores são tão suscetíveis à ilusão de amor dos fãs
que podem até se distrair, não Aranha, que sabe que muitas vezes é apenas
tolerado porque é jogador e famoso, mas muitos podem acabar olhando pro Pelé e
achando que ele presta pra mais alguma coisa além de figurar em replays ad
eternum de seus jogos de 50 anos atrás. Juro que quando vi que ele tinha se
pronunciado sobre o caso, antes de abrir o link, achei que ele fosse mandar a
máxima: “Aranha, eu já fui preto e sei o que você tá passando, entende”.
Entende? Eu não. Ou seu rei é maluco ou tá danado. E quanto à negritude, vamos
tesouro, não se juntem a essa gentalha.
Percebe o perigo que é deixar um aloprado desses à solta na sociedade. Olha o apelo que ele tem com jogadores iniciantes. |
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