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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Monica Iozzi e o preconceito musical


Ontem, 7 de julho de 2015, Cazuza completou 25 anos de falecido. Para lembrar o fato - durante o morto-vivo Vídeo Show - a apresentadora e atriz Monica Iozzi resolveu se expressar:


"Quem não conhece o Cazuza, o pessoal mais novinho, vai lá ouvir Cazuza, gente. Vamos deixar um pouquinho o sertanejo universitário de lado, vamos ouvir um pouquinho mais de Cazuza para a gente ter um mundo melhor".

Aí, Fernanda Lima - a que não tem culpa por ser branquinha - ainda botou uma pilha dizendo que Mônica iria "apanhar na rua", devido à provocação, ao que acrescentou Iozzi:

"Eu gosto de sertanejo, mas não pode ser só isso. Vamos parar de ouvir um pouco de funk, vamos parar de ouvir um pouco de sertanejo. Vamos ouvir Cazuza, vamos ouvir Legião Urbana, vamos ouvir Ellis Regina". E explicou 

Daí, veio a cantora Mônica Guedes e retrucou assim:

Minha filha curto rock anos 80, aliás, iniciei minha carreira no rock! Curto algumas músicas do Cazuza, do Legião, mas tenho orgulho de hoje ser bem sucedida cantando música sertaneja.
Seus heróis morreram de overdose há milhões de anos atrás. Os meus (sertanejos) morreram na estrada trabalhando.
Não me venha falar de 'bons exemplos', pois ninguém é santo. Desculpa escrachar, mas detesto preconceito musical. Oh mania de criticar o gosto dos outros. Cada um ouve o que quiser!
Ridícula".

Mônica Guedes
O que eu acho?

Tô com Mônica e não abro. Er... digo, a Guedes, não a Iozzi. A questão aqui é pura e simplesmente preconceito. Tipo, que coincidência maravilhosa que justamente o que gosta é o que salva o mundo. Mas se você não gosta, então isso é um lixo e as pessoas todas estão erradas ao discordarem de ti? Olha, não é por nada, mas vai ficar difícil criticar alguma torcida organizada ou segmento religioso com essa demonstração de 'o meu é o certo'. Feião isso. O nome disso é etnocentrismo, pelo menos uma forma adaptada dele. É a mania de achar que o que você aprendeu como certo é o certo pro universo (acredite, Jah não se importa) e o resto é resto.

Vamos analisar as palavras de La Iozzi: Ela começa falando pro pessoal mais novinho procurar conhecer Cazuza. Bem, o pessoal mais novinho tem youtube, então não é uma mina de ouro escondida esse gosto musical supremo que ela defende. Vê quem quer. E temos um filme de uns 10 anos onde o poeta é retratado como o poeta espontâneo e carismático que foi, mas também um ser humano como outro qualquer, além de impulsivo rebelde "sem causa" às custas do dinheiro parental até estourar como ídolo da juventude, curtir uns anos de reconhecimento e morrer de AIDS (sério, muita gente que eu conheço resume assim). Mas deixar de lado seu gosto musical? Já parou pra pensar que muita gente que já era adulta nos anos '80 (ao contr´rio de nós, Iozzi) NÃO idolatram a superestimada geração Rock Ploc sei lá? Veja quantos mantiveram o pique quando saíram da mídia.

Depois que Fernanda Hilbert (rá!) provoca, ela explica que é só pra deixar o sertanejo e o funk de lado, pra se ter um mundo melhor, ouvindo Legião, Elis e o já citado Agenor. Se uma coisa anula a outra, ferrou pra mim, porque já defendi o funk como linguagem popular e mantenho 'sambista' no meu avatar aqui do blog. Ela é bem intencionada ao dar suas dicas superiores a quem não sabe de nada ou não tanto quanto ela de música. Parece Rachel fascistinha quando criticou uma tese de doutorado sobre Valesca Popozuda, ou pelo menos tendo a cantora como fio condutor do tema.

Usar música pra se sentir superior e querer um mundo só com isso dominando... Ditadura de música agora? Ah, vá, né... E não satisfeita, como sempre depois de alguma besteira falada, a pessoa tem que se explicar pra remendar a situação. Srta Iozzi disse assim, em seu Twitter: "Amo música caipira, sertaneja de raíz. Amo! Não gosto é do sertanejo unversitário. Sei lá... Só pra deixar claro. ".

Típico 'não sou preconceituosa, até tenho amigos...'. Primeiro, já deveria ser consenso que sertanejo universitário nada tem a ver com sertanejo 'raiz', assim como Zezé di Camargo já não tinha muito a ver com a sua raiz há mais de 20 anos. O que acontece realmente de prejudicial no mundo não é ouvir um gênero musical comercial e superficial, o que prejudica mesmo é essa mania de algumas pessoas se sentirem melhores e as mais espertas do recinto sendo 'do contra'. Sertanejo universitário tá na moda, então surgem os fãs e os odiadores. Pra quê odiadores? Não te obrigam a ouvir nem frequentar. Quantas coisas já ouvimos e que nossos pais achavam lixo e nem nós mesmos ouvimos depois? E eu queria ter certeza de que essa preocupação com o gosto dos outros é legítima, mas nunca se citam outros gêneros que não o da moda. Queria ver sugerir que os mais novinhos ouvissem  Vivaldi, Paulo Flores, Ademir Lemos, Helena Michaelsen e tantos outros pra ter uma noção mais ampla de mundo e música diversificada. Só de sacanagem, citei diferentes representantes de músicas que não estão na mídia e que duvido que La Iozzi tenha procurado pra dar exemplo de que também diversifica para coisas que não conhece e que são boas.

 Ah, e o Bátema tem um recado pra esses prodígios da cultura superior do mundo perfeito dos últimos dias:



Tomou?


Tomou.

Agora vou ouvir Cazuza:


Vamos pedir piedade

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