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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Sheldon Cooper: Contestador de paradigmas

Seinfeld: O maior mérito foi não ter deixado a (não) temática
da série se perder em nome de mais audiência.

Essa história bem que poderia começar com uma passagem do meu querido seriado Seinfeld. Em diálogo com Elaine, Jerry resmunga que a amiga de Elaine que se aproxima o desagrada por ter o costume de cumprimentar as pessoas beijando no rosto (coisa, que vemos nos filmes e séries, que não é um hábito muito estadunidense, né?). Aí a conversa vai mais ou menos assim:






Jerry: Oh, não, lá vem sua amiga beijadora de rostos.
Elanie: Qual o problema?
Jerry: A obrigação de ter que beijar, e se eu não quiser?
Elanie: Jerry, é só uma saudação.
Jerry: Tocar nos seios seria uma saudação mais legal.
Elanie: Ah, é? Porque não fazer logo sexo pra cumprimentar as pessoas?
Jerry: Elaine, agora você está sendo ridícula.

O divertido – e nonsense – diálogo serve pra demonstrar o que eu gostei de imediato em Sheldon Cooper (The Big Bang Theory - TBBT). A série é auto-proclamada nerd e nem vou – dessa vez – entrar no mérito de como a produção fez o dever de casa de se consultar com cientistas, mas que o bichinho da audiência fez sua espinha dorsal transformar os personagens em caricaturas de Ross (Friends). Enfim, depois eu falo mais disso, o foco aqui é o Sheldon primordial, aquele que iniciou o seriado, um cara tão desapegado das relações sociais que nos fazia – através, principalmente de Penny e Leonard (os seres mais sociais do início da série... tá, mais Penny, Leonard era só na pretensão) vermos como certos hábitos de nossa sociedade não fazem sentido. Talvez por terem se modificado tanto desde a origem desses costumes ou só porque migraram de um local para outro sem ter o mesmo contexto, sei lá.

Sinto falta daquela personalidade ácida e friamente crítica do Dr. Cooper, como quando ele questiona Penny sobre o meio-sanduíche do cardápio da Cheesecake Factory. Seria um sanduíche “usado”? Teria ele a obrigação de esperar que alguém pedisse a outra metade pra seu pedido ser atendido? Se aquele era o tamanho padrão, porque não chamar apenas de pequeno sanduíche? Sacou? Ou coisas como sua pesquisa pra saber que tipo de bebida ou comida oferecer a alguém chateado como forma social de conforto. Quem é fã do estilo stand up de comédia, como eu, certamente adora esse tipo de observação das minúcias do cotidiano (coisa que me fez adorar até hoje séries como Seinfeld e a mais recente Community, por exemplo), coisas que podem começar com o clássico “já notaram...?”.

Antes, Sheldon era praticamente um crianção no trato social – mas com uma lógica quase irrefutável - com os amigos tendo que explicar a ele coisas que já aprendemos desde bebês, como ser gentis mesmo quando não queremos, por convenção social, ir a lugares ou evitar situações pra não magoar ou pra agradar outrem. Mas pegaram o caminho fácil do clichê e rapidamente ele se tornou o amigo chato metido a sabidão, que os outros pareciam apenas aturar (não sei porque, já que ele muitas vezes é tão chato quanto Barry Kripke). E hoje em dia está pior. Quanto mais a série avança, mais ele se torna um quase antagonista, causando transtorno aos próximos e destilando prepotência até ser frequentemente evitado pelos seus, não lembrando mais aquele ser tão fora da realidade que podia ver o quão absurda é a sociedade, o que explicava sua falta de compreensão em ver que seus amigos queriam tanto fazer parte disso. Agora ele é escada para as peripécias de Amy Farah Fowler (Blossom... quer dizer, Mayin Byalik).

Te desafio a não lembrar francamente de Friends e dos
motes "aprontando as maiores confusões no maior clima de azaração". 
Sheldon não contesta mais paradigmas, agora ele tem manias, fobias e TOC (transtorno obsessivo compulsivo). Com tantas deixas-pastelão pra vermos Sheldon gritando, desmaiando ou sendo ridicularizado pelos amigos (que são bullies no seu próprio mundo a essa altura), não faz sentido pra mim que ele não seja uma espécie de antagonista, como Will wheaton foi pra ele até metade da série. Sheldon se tornou seu próprio metalingüístico BAZINGA! Era pra ser uma piada e se tornou outra de outro tipo.

Agora TBBT é só esse Clube do Bolinha X Clube da Luluzinha com lições de amizade no final de cada episódio e uma piadinha rápida pra terminar em clima de comédia. Virou comédia romântica, que assim como o samba-canção, é mais o segundo nome do que o primeiro.

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